NOUVELLE VA
Com certo atraso, venho falar sobre Frances Ha. A demora é porque o novo trabalho de Noah Baumbach não me conquistou logo de cara – sabem como é, o hype foi grande; é o tipo de filme que revela suas qualidade a medida que vai se acomodando na nossa cabeça. E como ele fica melhor à medida que mais penso nele!
Muito se falou sobre as homenagens à Nouvelle Vague, o movimento francês da década de 1960 que revolucionou a cinematografia mundial. A coisa vai além do belo e plácido preto-e-branco. A movimentação de câmera leve, as locações reais, o ar de improviso, as sequências de rua, nas quais Frances anda e anda ou corre mesmo. Mais perceptível é a proximidade com a obra de François Truffaut. Frances Ha possui uma narrativa leve, com suas desventuras profissionais e amorosas, mas, acima de tudo, a leveza da vida, que também pode ser encontrada em Truffaut, mesmo em seus trabalhos mais dramáticos. Essa leveza está em Frances Ha.
Outra coisa que o aproxima da vanguarda francesa é o desapego à narrativa clássica. No fundo, o filme de Noah Baumbach poderia ser resumido como o retrato de um período na vida de Frances Ha (Greta Gerwing). Vemos sua relação com a amiga Sophie (Mickey Sumner), sua temporada vivendo na casa de amigos, suas brigas, suas tentativas de tornar-se bailarina profissional, seus empregos, etc. Não há um problema central para resolver. Temos apenas o fluxo na vida de uma pessoa comum.
Comum nem tanto. A protagonista se aproxima da personagem disfuncional. Mas, o filme não pretende se travestir de comédia rasgada. Ele busca um meio tom. Frances passa por bons e maus momentos. Em ambos, Frances nunca perde sua confiança na vida, mesmo quando levada para rumos não desejados.
Não temos nenhum instante de tragédia, nem de comédia absurda. Temos um cotidiano, movimentado, mas cotidiano. A força está em Frances. Mesmo triste, jamais perde a alegria de viver e de buscar uma saída melhor. O trifundo do filme está na capacidade do diretor Baumbach e da atriz Greta Gerwing (ambos roteiristas) de construir uma personagem incapaz de desistir da vida. Pode parecer artificial para alguns – quem seria tão otimista assim? – mas, Frances é uma figura real – ou a realidade do nosso lado otimista: alguém que resiste a entregar os pontos. Novamente, o filme expõe isso de forma leve. Enfim, Frances é a pessoa com quem costumamos conversas sobre a vida.