NOAH BAUMBACH E GRETA GERWIG CRIAM UMA DAS PERSONAGENS MAIS ORIGINAIS DO CINEMA ATUAL
De tempos em tempos aparece um filme que serve como parâmetro para definir toda uma geração. O independente Frances Ha se encaixa justamente em tal categoria. Filmes assim são mais do que apenas produções cinematográficas, são verdadeiramente pedaços da vida. Essa é a nova obra do nova yorkino Noah Baumbach, colaborador de Wes Anderson em alguns de seus roteiros, e diretor de obras como A Lula e a Baleia (2005), Margot e o Casamento (2007) e O Solteirão (2010).
Seus filmes são intimistas, sinceros e fazem uso de um humor bem peculiar. Frances Ha, seu novo trabalho, pode ser considero também seu filme mais humano, e de certa forma identificável. Todo filmado em preto e branco, o roteiro foi escrito por Baumbach e sua atual companheira e estrela do filme, a atriz Greta Gerwig (O Solteirão). A história conta as desventuras de uma jovem, na faixa dos 30 anos, vivida por Gerwig.
Ela é bem humorada e com uma visão positiva da vida, apesar de todas as dificuldades. Frances Ha é um filme muito para cima, que fará o público renovar suas energias e sair da sessão com nova perspectiva de cada pequeno evento do cotidiano. Ao sermos apresentados para a protagonista, ela está dividindo um apartamento com sua melhor amiga, Sophie, vivida por Mickey Sumner (CBGB).
As duas se completam como almas gêmeas, possuem muitas piadas internas, e vivem dizendo que se fossem lésbicas seriam o casal perfeito. Mas as coisas precisam seguir em frente quando Sophie abre mão da parceria para viver com outra amiga, em nome de um apartamento melhor. A heroína Frances segue em frente, e arruma lugar na casa de amigos. E assim segue pelos dias, com uma série de encontros e desencontros, que envolvem viagens para Paris, convivência com pessoas agradáveis e outras que não possuem nada em comum com ela.
Como dito, o filme é apenas uma fatia da vida de uma personagem muito original e carismática, que tenta todos os dias, assim como nós, encontrar um significado e um objetivo para a sua existência. Aspirante à dançarina, a protagonista enfrenta os dias tirando sempre o que de melhor ele tem a oferecer, sem nunca deixar que seus sonhos sejam destruídos pela realidade. Os diálogos criados pela dupla Baumbach e Gerwig são daquele tipo espertinho, com milhares de piadinhas e referências embutidas por minuto.
Do tipo que nos faz querer revisitar a obra para descobrirmos novidades a cada investida. Frances Ha é cativante e contagiante. É triste, mas muito alegre. É quase um documentário, que poderia refletir a vida de qualquer jovem vivendo numa grande cidade sem um porto seguro. É humano, sincero e real. É também divertido e engraçado. Gerwig cria uma das personagens mais memoráveis do cinema americano recente, uma personagem com quem desejamos passar mais tempo. Uma continuação para o filme não seria nada mal, material é o que não falta.
Frances Ha é uma das produções mais agradáveis de 2013, e garantida de entrar em listas dos melhores do ano. Fato que só nos deixa mais curiosos em saber o que virá a seguir na carreira dessa dupla promissora. A trilha sonora é igualmente uma atração, e faz uso de grandes hinos para toda uma geração. Afinal, qual filme não lucra em ter a canção Modern Love, de David Bowie.