VALAR MORGHULIS
Sintetizando as qualidades de Game Of Thrones – GoT, produziu-se o melhor final de temporada da séria!
O encontro de Jon Snow (Kit Harington) e Mance Rayder (Ciarán Hinds) foi cercado de suspense. Ele ajudou a vermos que os povos para-lá-da-muralha não são tão selvagens assim. No instante mais tenso, o suspense foi quebrado pela tropa de Stannis Baratheon (Stephen Dillane). Um massacre que recoloca Stannis no jogo. Em GoT, essas soluções inesperadas, que poderiam soar como preguiça dos roteiristas, são sempre eficientes.
Já comentei o quanto gosto de Stannis. Sua ambiguidade, sua oscilação entre a honra e o desejo pelo poder, as tragédias em sua família, o constante sentimento de dúvida que o cerca dão-lhe uma insuspeita dimensão trágica.
Seguindo o conselho de Tormund Giantsbane (Kristofer Hivju), Jon Snow queimou o corpo de Ygritte (Rose Leslie) no verdadeiro norte. Uma síntese visual para uma tortuosa história de amor.
Se numa campanha eleitoral, tudo são flores, na realidade do poder, só resta a desolação da ambiguidade. Enquanto estava libertando os povos, apenas víamos (e ela apenas percebia) o lado heroico de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), da princesa espoliada de seu trono e da libertadora dos escravizados. Agora que governa Meereen, as dificuldades revelam suas fragilidades e limitações.
O diálogo entre Khalessi e o ex-escravo confirmou a capacidade de R. R. Martin e dos roteiristas de usar a fantasia para revelar as mazelas do ser humano diante do poder. O ex-escravo explicou as dificuldades por que passam os mais velhos, e suplicou para voltar a ser escravo. Não haveria lugar para os velhos nesse novo mundo livre. O dialogo foi tão impressionante que poderia ser usado em uma sala de aula para debater as consequências da política atual. Depois, vemos um senhor chorando pela filha de 3 anos!, morta pelos dragões de Daenerys. Enfim, a realidade bate a porta dela, aguardar para ver seu futuro.
Khalessi encerrou sua participação nesta temporada aprisionando dois dos três dragões. Foi uma sequência inusitadamente tocante. Quando sentimos a dor de uma personagem fictícia ao punir criaturas que não existem, percebemos a qualidade de GoT.
Em Porto Real, Cersei (Lena Headey) esfregou o incesto na cara de seu pai, revelando a hipocrisia que cerca os Lannister. Ela também expôs os seus sentimentos mais verdadeiros: o amor pelos filhos e por Jaime (Nikolaj Coster-Waldau). Duas perguntas ficam: Jaime realmente vai voltar a ser o parceiro de Cersei? E o qual será o futuro Gregor Clegane (Hafþór Júlíus Björnsson)?
Bran Stark (Isaac Hempstead Wright) e seus miquinhos amestrados chegaram ao seu destino. Antes, porém, foram atacados por esqueletos saídos da neve. Foi uma briga difícil, que terminou com a morte de Jojen Reed (Thomas Brodei-Sangster). Os demais se salvaram depois que uma garota destruiu os esqueletos e os levou ao encontro de Pai Mei… digo ao encontro do Corvo de Três Olhos. Este revelou que Jojen sabia de sua morte e que Bran não voltará a andar, mas conseguirá voar! Uma boa troca. Considerando as capacidades que Pai Mei demonstrou no treinamento da Noiva, em Kill Bill, não será difícil fazer Bran voar. Brincadeiras à parte, o lado fantasioso da série foi reforçado com essas personagens. Enfim, grandes revelações nós aguardam. Anotar no caderninho para conferir em 2015.
O final do ep. foi de Arya Stark (Maisie Williams) e de Tyrion Lannister (Peter Dinklage).
Brienne (Gwendoline Christie) e Podrick (Daniel Portman) encontram Arya e Sandor (Rory McCann). Brienne tentou cumprir a promessa feita para Catelyn Stark (Michelle Fairley), mas nem Sandor, nem Arya compraram a história. Seguiu-se uma das lutas mais cabulosas da série. De uma tradicional briga de espadas, logo desceu para um mano-a-mano, com socos, chutes, pedradas e dentada estilo Mike Tyson. No fim, Sandor caiu ferido. Brienne ainda tentou achar Arya, mas não conseguiu.
O diálogo seguinte entre Arya e Sandor comprovou mais uma vez a competência dos roteiristas. Sandor foi da raiva à súplica. E Arya permaneceu gélida! Ele chegou a implorar para que ela o matasse. Mas, ela apenas pegou o dinheiro e foi embora. Maisie Williams demonstrou total controle da personagem. Estou, até agora, tentando decodificar aquele olhar, aquela passividade, aquele ressentimento. Pela primeira vez, mais do que admiração, senti medo dela.
Novamente em Porto Real, Jaime e Lord Varys (Conleth Hill) ajudaram Tyrion a fugir. Foi a comprovação de que Varys estava tentando salva a pele no julgamento. Quanto à relação entre Jaime e Tyrion, ela produziu alguns dos momentos mais tocantes da temporada. Realmente, parece haver amor entre os Lannisters.
Antes de encontrar-se com Varys, Tyrion foi ao quarto de seu pai e encontrou Shea (Sibel Kekilli) na cama. A sequência surpreendeu muita gente. A morte Shea foi dolorosa. A de Tywin (Charles Dance) foi humilhante para este e libertadora para Tyrion. A melodia de Rains of Castamere foi a ironia fatal, um fundo musical para o fim vergonhoso do patriarca. As cosequências da morte de Tywin vão ressoar ainda por muitas temporadas. E mais uma vez, R. R. Martin recorre à morte para rearranjar o tabuleiro. E poucos eps. seguiram tão à risca o a expressão Valar Morghulis (“todos os homens devem morrer”)
A sequência final da temporada coube à Maisie Williams. Arya chegou a um porto, onde pediu ao capitão para levá-la à Muralha, que se recusou. Ela implorou, ofereceu dinheiro e trabalho, mas o capitão explicou que estava voltando para casa, a Cidade Livre de Braavos… Então, seguindo as instruções de Jaqen H’ghar (Tom Wlaschiha), Arya entregou ao capitão a moeda de ferro. Atônito, ele esboçava uma pergunta, quando Arya falou “Valar Morghulis”. Positivamente surpreso, responde-lhe “Valar Dohaeris” – que em Alto Valiriano significa “todos os homens devem servir”. E, pronto, ela ganhou a viagem.
Digo e repito, foi o MELHOR final para a melhor temporada de GoT. Muitas perguntas ficam: qual será o futuro da corte? Stannis promoverá nova ofensiva? Qual o papel dos White Walkers na próxima temporada? Como ficará a Patrulha da Noite? Qual o futuro de Tyrion, Arya, Jon e Daenerys? Os produtores têm um material precioso em mãos – e até o ano que vem, R. R. Martin deve lançar mais um livro. As possibilidades de uma nova temporada, no mínimo, igual a esta são imensas!
Agradeço aos leitores que nos acompanharam. E que passemos com tranquilidade por mais um período de abstinência. Que 2015 chegue logo!