Pois é, querido leitor, adentramos agora na época preferida dos cinéfilos: a temporada de premiações do cinema. O início do ano pode não conter grandes lançamentos, mas é sempre sacudido pela celebração do que de melhor o ano anterior nos mostrou. Tudo, é claro, culminando na maior festa do cinema: o Oscar. Antes, no entanto, ficamos com a segunda maior, o Globo de Ouro, prêmio organizado e concedido pela Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. O anúncio dos indicados da edição 2021 já foi feito (e você encontra a lista completa no CinePOP). A cerimônia ocorre daqui a dez dias, em 28 de fevereiro. Pensando nisso, resolvemos relembrar o passado, já que a história é muito importante, e revisitar os longas lembrados para nomeações de 40 anos atrás. Vem com a gente por esta verdadeira estrada da memória – tendo em mente que muito (ou quase tudo) que aparece no Globo de Ouro, se repete no Oscar.
Gente como a Gente
Aqui a dobradinha Globo de Ouro / Oscar se repetiu. O drama dirigido por Robert Redford, que olha de forma honesta e escancarada nos bastidores de uma família da classe média norte-americana tentando se reconstruir após a tragédia da perda acidental de um de seus filhos, venceu na categoria de filme drama e seguiu para arrebatar o Oscar de melhor filme igualmente – além de outras 4 estatuetas do careca dourado. Voltando ao Globo de Ouro, Gente como a Gente foi o grande vencedor da noite, com vitórias de melhor diretor para Redford, melhor atriz em filme de drama (Mary Tyler Moore), ator coadjuvante (Timothy Hutton) e ator revelação (categoria extinta) igualmente para Hutton. Além disso, recebeu indicações de melhor ator (Donald Sutherland), um segundo coadjuvante (Judd Hirsch) e roteiro.
O Destino Mudou Sua Vida
Biografia musical da cantora Loretta Lynn, saída de uma origem humilde como “filha de carvoeiro de mina” (daí o título original da obra) até ascender para se tornar a Rainha da Música Country, título pelo qual ficaria conhecida. Quem interpreta Lynn é Sissy Spacek numa performance tomada, quatro anos após ter dado vida à Carrie – A Estranha. O filme levou para casa o prêmio de melhor longa de comédia ou musical, além de um prêmio de melhor atriz na mesma categoria para a protagonista Spacek, e nomeações para Tommy Lee Jones e Beverly D’Angelo como ator e coadjuvante respectivamente. No Oscar, Spacek também levou uma estatueta, e o filme foi indicado na categoria principal arrastando outras cinco nomeações.
Touro Indomável
Nenhum outro indicado do ano, seja no Globo de Ouro ou Oscar, resistiria tanto ao teste do tempo e ficaria tão famoso quanto Touro Indomável, considerado uma das grandes obras-primas da filmografia do mestre Martin Scorsese (para vermos que a justiça pode ser feita com o passar dos anos). Todo produzido em preto e branco esta é uma biografia, mas uma de esporte, focada na vida pessoal e carreira do pugilista destemperado Jake LaMotta, um verdadeiro animal dentro e fora dos ringues. Quem dá vida ao sujeito é Robert De Niro, concretizando uma das melhores parcerias da história da sétima arte entre um ator e um diretor. Ainda um dos filmes preferidos do grande público de todos os tempos, Touro Indomável foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme drama, roteiro, diretor (Scorsese), ator coadjuvante (Joe Pesci), atriz coadjuvante e revelação (ambos para a então novata Cathy Moriarthy), mas só levou o de ator principal para De Niro. Prêmio de atuação que viria a se repetir no Oscar somado ao de edição. O filme, é claro, foi nomeado igualmente pela Academia e obteve outras cinco indicações por lá também.
O Homem Elefante
Seguindo pela categoria de Drama, este é o único filme de 40 anos atrás que chega a altura de rivalizar um pouco com o item acima em termos de manter a popularidade até hoje. Igualmente em preto e branco, e igualmente uma biografia, o filme do cultuado David Lynch aborda a vida de John Merrick, um homem extremamente deformado, tratado como aberração e atração de circo, que encontra em um médico a bondade que nunca teve, pela primeira vez sendo considerado um ser humano. John Hurt e Anthony Hopkins interpretam respectivamente o monstro e o médico. O Homem Elefante recebeu indicações de melhor filme drama, diretor (Lynch), ator (Hurt) e roteiro, mas saiu de mãos abanando. No Oscar, o “prejuízo” foi maior, com um total de 8 indicações, incluindo melhor filme, e nenhuma vitória. Seu maior prêmio foi a ressonância.
Tess – Uma Lição de Vida
Curiosamente, o quinto longa a ser indicado ao Oscar de melhor filme, no Globo de Ouro não emplacou na categoria principal, sendo nomeado para o prêmio de produção estrangeira, o qual venceu. Na mesma categoria ainda se encontravam indicadas produções de prestígio, vide Kagemusha: A Sombra de um Samurai (de Akira Kurosawa), O Último Metrô (de François Truffaut) e Breaker Morant (de Bruce Beresford). Dirigido por Roman Polanski, Tess é uma coprodução entre França e Reino Unido, falada em inglês, que narra as desventuras românticas e dramáticas de uma jovem camponesa na Inglaterra da Era Vitoriana (baseada num romance de Thomas Hardy). Além de filme estrangeiro, o longa levou o prêmio de revelação para a protagonista Nastassja Kinski (então com 17 aninhos) e foi indicado para diretor (Polanski) e atriz de drama (Kinski).
Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu
Sim, meus amigos, a comédia icônica da década de 1980 que deu origem ao subgênero dos filmes-paródia emplacou no Globo de Ouro de 40 anos atrás sendo indicado ao prêmio de melhor filme de comédia ou musical. O longa, é claro, é uma grande sátira dos filmes catástrofe que dominaram Hollywood na década de 1970, o mais óbvio sendo Aeroporto. Sucesso de crítica e público, Apertem os Cintos… foi lembrado apenas na categoria citada, o que não deixa de ser um grande feito para um filme escapista.
Fama
Na mesma categoria de comédia ou musical, temos agora um drama… bem… musical, é claro. Dirigido por Alan Parker, Fama é igualmente icônico, ecoando na cultura pop até hoje. Por ter gerado uma série de TV (1982-1987), um musical nos palcos (iniciado em 1988) e um remake (2009), muitos confundem sua verdadeira origem, mas tudo começou aqui, nesta produção cinematográfica. A trama é uma crônica das vidas de jovens estudantes colegiais de Nova York donos de talentos nas artes performáticas. No elenco, a cantora Irena Cara. Fama levou o Globo de Ouro de melhor canção (com a música tema Fame) e foi indicado para melhor filme de comédia ou musical, atriz na mesma categoria (Cara) e trilha sonora. O longa também chegou até o Oscar.
O Substituto
Aqui, pulamos de volta para a categoria de filme drama. The Stunt Man no original (ou O Dublê) traz o saudoso Peter O’Toole como um fugitivo adentrando um set de filmagens e aceitando o emprego como dublê em uma produção. O Substituto levou o prêmio de melhor trilha sonora, e foi nomeado aos prêmios de melhor filme drama, ator em drama (O’Toole), diretor (Richard Rush), roteiro e revelação (Steve Railsback). O filme é outro que chegou até o Oscar em algumas categorias.
A Nona Configuração
Fechando os filmes da categoria de drama, temos… um terror! Tido por muitos como a continuação não oficial de O Exorcista (1973), tudo porque aqui temos o mesmo autor responsável por trás de tudo, William Peter Blatty. O filme é baseado em seu próprio livro, e Blatty adapta o roteiro e assume a direção. Isso que é mão na massa. A trama mostra um ex-militar chegando para administrar um hospital psiquiátrico localizado em um castelo. Lá, o sujeito irá utilizar de métodos pouco convencionais com seus pacientes. A Nona Configuração levou o Globo de Ouro de melhor roteiro, e foi indicado para melhor drama e ator coadjuvante (Scott Wilson).
Melvin e Howard
Dirigido pelo saudoso Jonathan Demme, que viria a marcar seu nome em 1991 ao comandar o suspense máximo O Silêncio dos Inocentes, Melvin e Howard é baseado numa curiosa história real, levada aqui num tom cômico. No filme, Paul Le Mat é Melvin Dummar, um sujeito que ganhou muita notoriedade nos EUA, ao afirmar ter salvado a vida do milionário recluso Howard Hughes em 1967 e como recompensa teria herdado parte de sua fortuna. Mary Steenburgen (a professora Clara Clayton – De Volta para o Futuro III) saiu vitoriosa na categoria de atriz coadjuvante, prêmio que voltou a receber no Oscar daquele ano. O filme ainda foi indicado para ator em comédia ou musical (Le Mat), ator coadjuvante (Jason Robards – que vive Hughes no longa) e, claro, filme de comédia ou musical.
A Sombra de um Ídolo
Fechando os dez filmes principais, chega o quinto item da categoria de comédia ou musical. Dirigido por Taylor Hackford (Ray e Advogado do Diabo), esta é ainda outra biografia musical que fez sucesso com os votantes há 40 anos. Aqui, temos a vida de Bob Marcucci em foco, um famoso produtor/promotor musical de rock, responsável por descobrir talentos da época como Frankie Avalon e Fabian. Além da indicação a filme de comédia ou musical, A Sombra de um Ídolo saiu vitorioso do prêmio de melhor ator na mesma categoria para Ray Sharkey, que vive o protagonista. O ator viria a falecer aos 40 anos de idade, em 1993.
Outros filmes populares de 40 anos atrás que marcaram a edição foram: A Recruta Benjamin (que rendeu indicação para a protagonista Goldie Hawn), Como Eliminar Seu Chefe (indicação para Dolly Parton e canção), Cowboy do Asfalto (Debra Winger), O Império Contra-Ataca (trilha sonora), Gigolô Americano (Trilha Sonora e canção) e Em Algum Lugar do Passado (Trilha Sonora).
Séries de TV
Voltando 40 anos no passado, dentre as séries de comédia mais populares a emplacar no Globo de Ouro, a grande vitoriosa foi Táxi (1978-1983), sobre o dia a dia de uma equipe de motoristas de táxi de uma companhia de Nova York e seus administradores. O programa cômico muito influente serviu para revelar atores como Danny DeVito, Tony Danza, Christopher Lloyd e o humorista excêntrico Andy Kaufman.
M*A*S*H*, outra comédia a emplacar na premiação da época, é a adaptação para a TV do filme homônimo de Robert Altman sobre a equipe de um hospital na Guerra da Coreia lidando através de muito humor com a situação traumática. O seriado, sem qualquer envolvimento do diretor, fez enorme sucesso e durou nada menos que 11 temporadas.
Ainda falando de versões televisivas para obras cinematográficas presentes no Globo de Ouro de 40 anos atrás, Alice adapta um dos primeiros longas da carreira do diretor Martin Scorsese, Alice Não Mora Mais Aqui (1974), filme que trazia Ellen Burstyn na pele da personagem título, uma mulher viúva recente lutando para dar uma vida melhor à filha, com sonhos de se tornar cantora, enquanto trabalha como garçonete num restaurante. Na série, com uma pegada mais cômica, Alice é vivida por Linda Lavin. O programa durou nada menos que 9 temporadas (de 1976 a 1985). Curiosamente, Alice gerou um spin-off intitulado Flo (que durou apenas 2 temporadas), sobre uma das funcionárias montando seu próprio restaurante – este programa também foi indicado no mesmo ano em algumas categorias.
Na categoria de séries de drama, a grande vitoriosa foi Shogun que, com apenas 5 episódios, hoje é considerada uma minissérie (na época tais categorias não eram divididas). Na trama, Richard Chamberlain é um navegador britânico que se torna igualmente um jogador e um peão no complexo jogo político do Japão feudal. Fora Shogun, dois programas pra lá de emblemáticos também marcaram presença na cerimônia de 40 anos atrás do Globo de Ouro. Séries estas que fizeram parte da infância de muitos devido à suas constantes reprises na TV aberta brasileira.
A primeira é Dallas (1978-1991), sobre o barão do petróleo texano J.R. Ewing (Larry Hagman), seu clã, desafetos profissionais e pessoais. Dallas quase virou filme há um tempo atrás com John Travolta no papel de J.R. e Jennifer Lopez como sua esposa sofredora Sue Ellen.
A outra, igualmente famosa, é Casal 20 (Hart to Hart), que durou 5 temporadas, de 1979 a 1984. A trama traz as desventuras da dupla de detetives amadores, o casal de milionários Jonathan e Jennifer Hart (vividos respectivamente por Robert Wagner e Stefanie Powers). O programa foi criado pelo icônico autor Sidney Sheldon.