Um passeio pela história
Preferências e fanatismos a parte, desde o início da oitava geração, com o caminhar dos lançamentos e das projeções mercadológica, a Sony liderou e deve continuar no pódio de vendas, na área de consoles, por um bom tempo. Essa predominância já havia ocorrido anteriormente com o Playstation 1 e também com o Playstation 2, esse de maneira ainda mais intensa.
Apenas na sétima geração, quando meteram os pés pelas mãos, com o Playstation 3, onde a Microsoft “liderou”, merecidamente, durante um bom tempo, é que eles se deram mal. Mas, ainda assim, no final da carreira do terceiro console, a Sony investiu pesado em exclusivos, em uma máquina mais barata e recuperou o prestígio, tanto que passou o número de vendas do próprio Xbox 360.
E coloquei aspas na liderança momentânea do Xbox 360 porque, obviamente, a Nintendo foi a líder de vendas da 7ª geração com folga por causa do Nintendo Wii, mas que tinha outra proposta em relação aos concorrentes.
Porém, com a Sony estabelecida no mercado de videogames, é fácil a gente pensar que a empresa sempre teve tato para isso… Mas não é bem assim, pois antes de se aventurarem no ramo, como muitos devem saber, eles haviam trabalhado com a Nintendo desenvolvendo componentes e periféricos para eles, e só depois com uma racha entre as empresas que a Sony resolveu lançar o seu próprio console.
Acreditem, muita gente fazia piada na época da chegada do PlayStation, diziam que a Sony era marca de TV e de som, e que eles não entendiam nada de videogames. Porém, contratando os profissionais certos, fazendo parcerias com grandes estúdios e contando com a arrogância da própria Nintendo, a companhia conseguiu chegar no patamar atual.
Logo no Playstation 1, os caras já conseguiram emplacar diversos clássicos que foram exclusivos na plataforma. Aliás, a exclusividade com algumas desenvolvedoras sempre foi um dos grandes trunfos da Sony. Títulos como ‘Metal Gear Solid’, ‘Final Fantasy VII’, ‘Silent Hill’, ‘GTA’ e ‘Gran Turismo’ ficavam restringidos ao Playstation, já que para joga-los, você tinha que ter a máquina. Isso sem contar com os jogos multiplataformas que venderam pra valer só no Playstation, exemplos como ‘Castlevania Symphony of the Night’, ‘Resident Evil 2’, ‘Tomb Raider’ e outros mais falam por si só.
Precisavam de um símbolo
Porém, assim como a Sega e a Nintendo, a empresa precisava de algo que representasse sua marca de maneira tão querida quanto o Sonic e o Mario. Um símbolo em definitivo.
Então, mesmo já entrando em desuso, essa coisa de usar animais antropomórficos bonitinhos em jogos de plataforma, o hoje clássico ‘Crash Bandicoot‘ foi um tremendo sucesso. Vendeu quase 7 milhões de unidades, conquistou o coração dos gamers no mundo todo e ganhou diversas continuações – inclusive mais três no próprio Playstation original, contando com Crash Team Racing.
Ainda assim, Crash era visto como um Sonic e Mario wanna be. Foi exatamente nesse jogo que nasceu a parceria com o também hoje renomadíssimo estúdio, a Nauty Dog, que é sem duvida o carro chefe da empresa atualmente por criar franquias como ‘Uncharted’ e ‘The Last of Us’.
É, mas antes de chegarem nesses jogos tão adorados hoje em dia, no meio do caminho tinha o Kratos; tinha o Kratos no meio do caminho… Pois é, eis que somente no Playstation 2, exatamente em 2005, a Sony teria enfim o jogo, a franquia, o personagem que seria o seu maior símbolo. Diferente de ‘Crash Bandicoot’, ‘God of War’ ainda é o jogo que melhor sintetiza a essência do Playstation.
Não é o melhor game da companhia, quer dizer, até pode ser para alguns, mas indiscutivelmente é nele que vemos as características recorrentes na maioria dos grandes títulos da Sony. É uma produção repleta de cenas cinematográficas; set pieces ambiciosas e momentos megalomaníacos. O gameplay eletrizante utiliza de várias ferramentas audiovisuais para causar um impacto catártico nos jogadores. É instantâneo, você bate o olho em ‘God of War’ e na hora lembra do Playstation!
Como o lançamento de ‘God of War Ragnarok’, que deve continuar a saga de Kratos por Asgard e manter o nível do game anterior que ganhou o prêmio de Jogo do Ano, a gente resolveu relembrar aqui como tudo isso começou, de onde vieram as primeiras ideias do jogo. Quais foram as principais influencias que os desenvolvedores tiveram e como ao longo do tempo esses jogos influenciaram na indústria de maneira geral.
A origem de tudo
Tudo começou a ser planejado ainda em 2002, com a Santa Monica Studios elaborando algumas mecânicas para um jogo de hack and slash com temática mitológica grega. Mesmo naquele tempo várias ideias que seriam recorrentes no produto final já haviam sido pensadas, como as habilidades especiais da cabeça da Medusa, do raio de Zeus e os embates contra criaturas como os ciclopes gigantes.
Mas a coisa só andou mesmo quando um maluco chamado David Jaffe entrou para o time. Ele que na geração anterior foi responsável pelo insano jogo de confronto de carros, ‘Twisted Metal’. E nessa vibe louca ele trouxe vários conceitos que seriam marcas registradas de ‘God of War‘.
A personalidade do Kratos, aquele jeitão sempre emburrado, agressivo e o modo brutal nas lutas sempre foram coisas pensadas por Jaffe. E algo recorrente em entrevistas é como a equipe fala que ele sempre queria todo mundo participando do processo de criação do game.
Algo no mínimo curioso, pois é preciso dizer que, atualmente, David Jaffe é um cara meio relegado na indústria, com seguidos projetos fracassados e tudo mais. O último dele foi ‘Drawn to Death’, aquele multiplayer online todo cartunizado em páginas de caderno, com alguns tubarões atirando uns nos outros. Enfim, é uma maluquice tremenda.
Aliás, as más línguas hoje citam que muito do sucesso de ‘God of War‘ se deu pela equipe segurar as doideiras do camarada. Boatos ou não, David Jaffe é um cara que já tem seu nome marcado na indústria dos games e teve sacadas fantásticas. A própria Santa Monica e ele pensavam em fazer um jogo de ação que reunisse outros elementos como puzzles, navegação ampla pelos cenários e os famosos quick time events.
Claro, tudo isso precisava ser embalado por muitas batalhas cheias de impacto e trazer um clima apoteótico cinematográfico constante. A ideia era mostrar o poder do Playstation 2 e dar ao o público uma experiência épica jamais vista. Algo visceral não apenas pela violência, mas que explorou o sexo até como no design de gameplay, que era algo bem presente nas histórias de mitologia grega.
Cópia ou referência?
Só que seria injusto falar tanto sobre esses pontos e não citar a existência de ‘Rygar – The Legendary Adventure’, uma franquia da geração 8 Bit que ganhou uma reimaginação para o Playstation 2, em 2002 – exatamente o ano em que ‘God of War’ começou a ser feito.
E realmente não há como negar que houve, sim, uma clara influência e o reaproveitamento de inúmeras particularidades desse game. A mais gritante sem dúvidas está nas batalhas e na estética, o personagem possui uma arma praticamente idêntica a famosa blades of chaos do Kratos. Tematicamente, se assemelha por tratar de temas mitológicos ou por trazer criaturas como os benditos ciclopes e harpias.
As lutas contras os chefes seguem a mesma lógica de design com inimigos gigantes. Até a forma como o personagem interage com o cenário se parece. Só que ‘Rygar’ foi um tremendo fracasso em sua época de lançamento, e até depois quando foi relançado no Wii. Então, essa coisa de pegar mecânicas e ideias de jogos menores e reproduzi-las com maior dimensão em outros títulos sempre existiu no mundo dos games.
Tudo em ‘God of War’ é superior em relação a ‘Rygar’, todas essas características foram refinadas. Fora os elementos fundamentais que existem no jogo da Santa Monica, como as cutscenes, o carisma dos personagens e o impacto nas cenas de batalha.
Apesar de não ter vendido tanto quanto ‘Crash Bandicoot’, até pelo jogo de Kratos não ser um jogo para todos os públicos, ‘God of War’ ultrapassou a marca de 4,6 milhões de unidades. Para um exclusivo com classificação indicativa mais alta, era um baita resultado.
Só que o maior feito do jogo foi sobre marcar na indústria e dar a cara definitiva do Playstation. Vieram diversas outras continuações, o segundo título da franquia também saiu ainda no Playstation 2, mesmo que curiosamente o Playstation 3 já existia na época do seu lançamento. Mas quiseram deixar o jogo na sua plataforma de origem.
Até porque, com a chegada de ‘God of War 3’, o mundo parou de novo para conferir como seria a entrada do Deus da Guerra na sétima geração. E sendo sincero, não existiu outro título no Playstation 3 que trouxesse tanta imponência quanto ‘God of War 3’, já em sua abertura. Ah, o PSP também ganhou dois jogaços, os maravilhosos ‘Chains of Olympus’ e ‘Ghost of Spartan’.
É verdade que com o passar dos anos a série foi perdendo força. Começaram as zoeiras de que o jogo podia ser terminado com apenas um botão; que era simplista demais e que o Kratos era uma caricatura ridícula.
O cansaço ficou evidente em ‘God of War Ascession’, que tinha gráficos muito bonitos e algumas cenas espetaculares, mas que repetia as mesmas ideias dos anteriores e com o tempo tudo ficava realmente cansativo. Tanto que depois de todo esse histórico o jogo vendeu menos que o primeiro. Era hora de dar uma pausa e se renovar…
Novos Deuses, Novos Tempos
Surgindo quase que como um reboot, sem nenhuma numeração ou subtítulo, e com um visual absolutamente embasbacante, com o estilo de jogabilidade com elementos das franquias Souls e explorando agora a mitologia nórdica, o novo ‘God of War’ do Playstation 4 chegou do jeito que o Kratos gosta: chutando bundas e arrasando quarteirões.
As críticas foram as melhores possíveis, a experiência dos jogadores extrapolou tudo que se podia imaginar de boa recepção e a franquia ganhou novamente folego. O Deus da Guerra ganhou novamente a indústria dos games, faturou centenas de prêmios e, dentre eles, o The Game of the Year, com toda justiça do mundo.
Assim como lá no comecinho, quase 15 anos depois, Kratos deu a Sony a imponência que faltava para um título da geração do Playstation 4 – ainda que ‘Uncharted 4’ e ‘Horizon Zero Dawn’ tenham ensaiado isso muito bem – ‘The Last of Us 2’ repetiu o feito anos depois. Mas o Bom de Guerra é foi sem dúvidas o divisor de águas nesse sentido.
E parece que o aguardadíssimo ‘God of War Ragnarok’ consegue melhorar tudo que o jogo anterior fez – o que é uma façanha e tanto, conquistando notas ainda maiores. Nos resta então aguardar e ver se o jogo é isso tudo mesmo que falam. E você, sempre curtiu ‘God of War’ ou começou a jogar depois desse refinamento completo? Acha o Kratos um chatão que vive se lamentando ou simplesmente considera ele o maior personagens dos games?