Estreia da próxima adaptação relembra longa bibliografia da autora
Morte no Nilo já está em exibição nos cinemas e é uma continuação para Assassinato no Expresso do Oriente na cinessérie comandada por Kenneth Branagh, mesmo que não haja uma ligação direta entre as duas obras no campo literário. O filme sobre o misterioso assassinato a bordo de um trem que fazia a ligação entre Paris e Constantinopla (Turquia) reanimou o olhar de Hollywood sobre o clássico gênero do “quem matou?”.
Não importando se é uma obra clássica como Assassinato por Morte, Os Sete Suspeitos e até a primeira versão de Assassinato no Expresso do Oriente de 1974 ou algo mais recente como Entre Facas e Segredos e Os Homens que não Amavam as Mulheres, essas obras partilham da mesma estrutura narrativa e de possuírem sem exceção verdadeiros elencos galácticos. Já quando saímos do campo do cinema para o da literatura, poucos nomes se tornaram tão intimamente ligados ao gênero quanto o de Agatha Christie.
A autora britânica escreveu 75 obras em sua totalidade; variando entre romances de detetive, contos, peças teatrais e uma auto bibliografia. Com tantos livros, não faltaram personagens icônicos como a enxerida vizinha Mrs. Marple, Parker Pyne e, o mais famoso de todos, o detetive belga Hercule Poirot. A vasta oferta literária também possui diversos clássicos da literatura à disposição como alguns a seguir.
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Os Cinco Porquinhos
Um famoso pintor é assassinado e Poirot é contratado pela filha do falecido para investigar. Partindo de uma premissa bastante simples, a história vai ganhando maior dificuldade conforme as investigações se desdobram. A começar pelo fato do assassinato ter ocorrido anos antes do detetive ter sido contratado e o culpado já ter sido condenado; sendo assim, o que há mais para descobrir?
Nessa história em específico a autora faz um trabalho primoroso ao não se limitar apenas em construir um suspense investigativo mas também em montar de pouco em pouco a personalidade contraditória da vítima, Amyas Crale. Cada pessoa que teve um contato com ele apresenta uma nova faceta do mesmo, sendo ela positiva ou negativa, e o que se desenha acaba sendo um drama familiar tanto encantador quanto trágico que vitimizou todos os envolvidos.
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Cai o Pano
A despedida de Poirot o coloca frente a frente com um inimigo invencível: o tempo. Em idade já avançada o belga é convidado para um encontro no local de seu primeiro caso, a antiga propriedade Styles, e lá é testado por um aspirante a assassino que deseja derrotar o investigador a todo custo.
Não deixe de assistir:
Mais do que isso, o romance é sobre Poirot e o fiel parceiro do protagonista, Hastings, aceitando que o fim da sua vida está próximo. A trama possui um cativante senso de conclusão para a jornada de um icônico personagem, algo feito com bastante dignidade e que é incomum de ocorrer com tamanha qualidade em quaisquer mídias.
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Assassinato na Casa do Pastor
Romance de estreia protagonizado por Mrs Marple faz um grande trabalho em introduzir sua personalidade curiosa através de seu posto como vizinha da vítima da vez. Além disso, a obra se destaca pela construção da atmosfera ao redor da trama. Por se passar em uma pequena cidade interiorana da Inglaterra, a autora buscou mostrar esse ambiente como bastante bucólico e pacato; tornando a única diversão daquela gente como sendo os cochichos e fofocas.
Esse livro em particular não é tanto sobre o assassinato em si, mas sobre o ambiente em que ele ocorreu e, principalmente pelas pessoas que compõe essa cidadezinha (incluindo a protagonista).
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O Assassinato de Roger Ackroyd
Esse em particular figura constantemente em listas sobre obras que verdadeiramente mudaram o gênero policial. Escrito em 1926, esse enredo põe Poirot em mais um caso que lhe cai no colo por acidente, dessa vez para investigar a morte do ricaço local Roger Ackroyd, em um enredo que utiliza todos os elementos que se consagraram em sua bibliografia nos anos seguintes – como a vítima sendo uma figura proeminente (para o bem ou para o mal), o local do crime sendo um cenário mais pomposo e alinhado com a alta sociedade britânica, além de todos os suspeitos tendo algo a esconder sobre o morto.
O que tornou a obra imortal, porém, não foi outra coisa além do seu final. Extremamente polêmico na época da publicação, a resolução do assassinato do senhor Ackroyd foi verdadeiramente inovadora para o período e, portanto, bastante divisora. Não só isso como também o desempenhado pelo “Watson” da vez para Poirot (cargo esse geralmente ocupado por Hastings mas que nesse romance ficou para o Dr. Sheppard) estabeleceu um grau de importância inédito concedido aos ajudantes dos detetives.
Hoje O Assassinato de Roger Ackroyd é considerado um clássico dos romances criminais e até mesmo figura como o melhor de todos os tempos. Já se passaram noventa e quatro anos desde sua publicação, o que torna a possibilidade de receber um spoiler gratuito durante uma pesquisa algo bem real.
No entanto, da mesma forma como ocorre com Assassinato no Expresso do Oriente, é altamente recomendável que o leitor se surpreenda durante a história pois mesmo não sendo algo inovador do ponto de vista atual (principalmente quando a literatura policial há muito assumiu contornos cada vez mais intensos para chocar o leitor) essa é a pedra angular na qual se construiu todo esse gênero literário durante e após o século XX.
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E Não Sobrou Nenhum
Tão polêmico quanto a obra anterior, essa talvez seja a principal que não envolva quaisquer dos protagonistas famosos da autora. Dez pessoas que jamais se viram são convidadas para uma estadia em uma ilha por um famoso casal de milionários, cada uma portando um segredo, e quando elas são confrontadas com esses mesmos segredos uma paranoia generalizada assume o comando da história.
Poucas obras podem ser consideradas genuinamente macabras sem precisar apelar para violência gráfica. Agatha Christie constrói a tensão com cuidado, sutileza e elegância; começando com um ambiente não muito diferente do que figura na maior parte da sua bibliografia (um encontro social bastante formal) mas que assume uma forma assustadora eventualmente.
Aqui não só os personagens se tornam essenciais mas a ilha e a casa onde ocorre tudo se tornam parte da narrativa. Cada corredor pode esconder uma armadilha, em cada fenda da ilha pode estar o assassino. É notável como a dúvida por vezes irracional assola as mentes dos protagonistas e do próprio leitor. Em 2011, Ed Grabianowski escreveu um compilado dos 21 livros mais vendidos de todos os tempos para o site HowStuffWorks e o romance E Não Sobrou Nenhum figurou na décima sexta posição com 100 milhões de cópias vendidas.
Porém, o livro não ficou livre de polêmicas. Diferente do que ocorreu com O Assassinato de Roger Ackroyde em que a insatisfação esteve associada com a conclusão do enredo, nesse caso ela se associou com o nome original da obra: O Caso dos Dez Negrinhos. Esse título que se inspirou no poema que conduz os crimes dentro da obra (Dez Indiozinhos) e foi potencializado pelo contexto do racismo escancarado de 1939 e pré-movimento pelos direitos civis nos EUA. Ao longo do tempo o problemático título acabou sendo alterado. O livro também teve algumas adaptações ao longo do tempo, destacando dentre elas o filme E Não Sobrou Nenhum de 1965 e uma minissérie de mesmo nome lançada pela BBC em 2015, considerada como a melhor adaptação do livro feita até hoje.