Hoje é dia 31 de outubro. O famoso dia das bruxas. Ou Halloween. E nesta data, ele está de volta! 2021 marcou o retorno de um dos maiores vilões da história do cinema, o maníaco da máscara branca de William Shatner, Michael Myers. Quem gosta do gênero conhece bem Halloween – A Noite do Terror (1978), clássico do mestre John Carpenter, e as inúmeras continuações que esta obra-prima deu origem. Muito influente, pode ser dito que Halloween e Myers iniciaram o que temos até hoje dentro do subgênero slasher, no qual um psicopata mascarado massacra adolescentes com objetos cortantes. Os produtores de Sexta-Feira 13 (1980), por exemplo, não escondem de ninguém até hoje em entrevistas que o filme foi criado para pegar carona no sucesso da obra de Carpenter.
Atualmente, as homenagens seguem para este lendário terror, e filmes como Corrente do Mal (It Follows, 2014), de David Robert Mitchell, se mostram fortes discípulos do clima, estética e, em especial, trilha sonora do que foi orquestrado por Carpenter. Depois de um retorno triunfal (ao menos em questão de bilheterias) em 2018 com a sequência/ reboot Halloween, este ano os fãs foram novamente brindados com um exemplar da franquia, com Halloween Kills: O Terror Continua, novamente contando com um grande estúdio (Universal), de uma produtora do momento (Blumhouse) por trás. Antes de Halloween (2018), houve um hiato de 9 anos na franquia e 15 anos sem termos um filme destes nos cinemas.
Como forma de celebrar esta emblemática e clássica franquia, que é sinônimo do gênero terror e que completa 43 anos em 2021 – ou seja, mais velha que a maioria de vocês, nossos queridos leitores, e do que todos nós aqui no CinePOP também – criamos esta nova lista com os 11 filmes da franquia para que você fique por dentro de toda a saga de Michael e da família Myers. Vem com a gente.
PS. Muitos destes filmes estão presentes em plataformas de streaming, como a Amazon e a Netflix, portanto procure e garanta sua diversão.
Halloween – A Noite do Terror (1978)
Tudo começou aqui. Numa fatídica noite de Halloween, o dia das bruxas, uma criança mata a irmã mais velha. Levando em conta que o filme tem 40 anos, isto não é um spoiler atualmente. Mas o lance é que não vemos quem comete o crime em um primeiro momento, já que a cena é gravada em primeira pessoa, com a câmera servindo de olhos para o algoz. Mais um sinal da maestria de John Carpenter, em um de seus primeiros filmes. De fato, Halloween foi por muitos anos o filme independente mais rentável da história do cinema. Até o lançamento de A Bruxa de Blair (1999).
O menino era Michael Myers, que é internado em um sanatório até os 21 anos, tratado por um médico que diz não ver nada em seus olhos negros a não ser o puro mal. Em uma noite próxima a um novo Halloween, o maníaco escapa e volta para seu velho bairro, agora usando um macacão de mecânico e uma máscara branca. Em seu caminho, jovens indefesas trabalhando como babás em um bairro tranquilo. Entre elas, Laurie Strode, papel de uma Jamie Lee Curtis de vinte aninhos. Seu médico, o Doutor Loomis (o veterano Donald Pleasence) decide ir atrás do paciente com seu calibre 38, mas pode ser tarde demais.
Não deixe de assistir:
A graça e qualidade de Halloween está em criar o suspense. Está no que não mostra, muito mais do que mostra. É a preparação. É o que espreita nas sombras. É o perfeito uso das dimensões do escuro. No uso de lugares inofensivos para representar o perigo, como um pacato bairro, uma casa de subúrbio, o quarto de uma criança ou um simples armário. Todos se transformam nos locais mais assustadores que podemos imaginar nas mãos de John Carpenter. Ah, e o que falar da fabulosa trilha sonora, composta pelo próprio diretor, que se tornou inesquecível e inconfundível.
Halloween II – O Pesadelo Continua (1981)
Como dito, Halloween se tornava o filme independente mais lucrativo da história. Então, com a concorrência alta, todos queriam lucrar uma fatia deste bolo. O terror era um gênero fácil de fazer e que se caso atingisse o sucesso, poderia se mostrar muito rentável para seus criadores. Assim, não demorou muito para que uma continuação da Noite do Terror fosse planejada. E nela, quase todos os envolvidos originais retornariam.
John Carpenter e Debra Hill, os criadores do original, retornavam no roteiro e produção. Mas Carpenter abria espaço para Rick Rosenthal assumir a direção. O lendário produtor Dino De Laurentiis também entrava na festa, adentrando na produção da franquia aqui neste segundo. Os protagonistas Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence igualmente retornavam para mais um round.
A história segue imediatamente após o desfecho do original, continuando a mesma noite – embora fora do filme tenha se passado três anos. Após ser baleado, Michael Myers some nas sombras, somente para continuar circundando a vizinhança. Ao saber que Laurie foi levada para o hospital, ele parte para terminar o serviço começado há algumas horas. Em seu encalço está novamente o Dr. Loomis. A palavra de ordem agora era mais e maior. Nada de sutileza. Para adentrar de vez o terreno dos slasher, em sua segunda investida, com mais dinheiro, o psicopata deixa mais corpos pelo chão, as mortes são mais violentas e ele se torna ainda mais invencível. Seu final igualmente é apoteótico.
Halloween III – A Noite das Bruxas (1982)
Com o psicopata finalmente dado como morto ao final do segundo filme, a ideia dos produtores John Carpenter, Debra Hill, Moustapha Akkad e Dino De Laurentiis agora era por uma subversão do que havia sido apresentado. Michael Myers foi muito bem utilizado nos primeiros filmes, mas agora a ideia era por uma reformulação e nova utilidade para o título Halloween. A ideia dos envolvidos era a de uma antologia – muito comum atualmente em séries de TV – na qual a cada novo capítulo, uma nova história com temática do dia das bruxas seria contada.
A primeira (e que se mostraria a única) nova trama foi escrita e dirigida por Tommy Lee Wallace, em parceria com Carpenter (que não foi creditado). A opção foi por um conto envolvendo uma empresa maligna fabricante de máscaras de Halloween para crianças. O plano bizarro e macabro da companhia era fazer com que todas as crianças que usassem a fantasia na data, fossem mortas quando um comercial de seu fabricante desse a deixa. Nada faz muito sentido e o filme não deu certo. O fracasso da terceira parte impediu que a ideia de novas histórias fosse introduzida.
Hoje, grande parte da graça do filme está mesmo em sua aura cult. Halloween III se tornou um destes filmes que possuem uma legião de fãs, apreciadores de seu enorme valor de prazer culposo e momentos pra lá de nonsense. Aqui temos, por exemplo, robôs que se passam por humanos, dentre os elementos desta farofa típica da década de 1980. Justamente por isso, o terceiro longa da franquia é o mais ambicioso e único, além de ser, obviamente, o que mais difere e destoa de todo o resto.
Halloween 4 – O Retorno de Michael Myers (1988)
Autoexplicativo em seu subtítulo, o quarto filme da franquia viu seu menino de ouro precisar voltar às pressas depois que a nova abordagem naufragou. Os fãs queriam era ver o psicopata na máscara branca, isso ficou claro. Halloween foi criado como filme slasher, e mudar seu subgênero para um tipo mais alucinado envolvendo ficção científica e fantasia deixou os espectadores a ver navios. Assim, tudo estava bem de novo na série, com a volta do querido assassino.
Era aqui também que John Carpenter, Debra Hill e Dino De Laurentiis diziam adeus. Os três estiveram ao longo desta jornada, mas quando sua ideia anterior não funcionou, eles não quiseram saber de voltar para um quarto filme de Myers. Só Akkad permaneceu. Bem, ele e o veterano Donald Pleasence na pele do médico Dr. Loomis. Jamie Lee Curtis igualmente se manteve bem longe, desde o desfecho do segundo filme. O grande problema aqui foi que já haviam se passado seis anos desde o último Halloween e sete desde que Myers havia dado as caras. Neste meio tempo, além do personagem ter ficado adormecido para o público, o filme em si chegava tarde, deixando passar o bonde dos slasher quase por completo, tentando pegá-lo de forma atrasada já no fim da década.
Para termos uma ideia, Sexta-Feira 13 lançava um filme a cada ano durante os anos 1980, e A Hora do Pesadelo idem desde 1984. Halloween ficava adormecido num hiato, assim como seu vilão. Na trama, como num passe de mágica, o assassino acorda de seu coma para mais um round de matança. Na falta de vítimas para serem perseguidas, os roteiristas decidem criar uma filha para Laurie (papel de Danielle Harris) e explicar a saída de Curtis da franquia, matando sua personagem num acidente de carro no intervalo dos filmes.
Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers (1989)
Continuação direta do quarto filme, gravado de forma contínua e lançado logo no ano seguinte, Halloween 5 seguiu exatamente os passos do anterior. Akkad voltava na produção e Pleasence marcava presença mais uma vez na pele do médico implacável na busca pelo maníaco. A menina Danielle Harris, sobrinha do psicopata no filme e heroína da vez após a saída de Curtis, também estava presente.
Se a intenção era transformar Halloween em um puro produto de entretenimento slasher planejado pelos produtores ao trazerem Michael Myers de volta para a franquia, podemos dizer que foi exatamente o que conseguiram. Halloween 4 e 5 são produções extremamente genéricas, sem qualquer originalidade ou sequer um décimo do brilhantismo do primeiro filme. Como forma de homenagem para a estrela da franquia, a personagem de Harris recebeu o nome Jamie.
Halloween 6 – A Última Vingança (1995)
Apesar de um desfecho enigmático, que deixou a porta não apenas aberta, mas escancarada, para uma sequência, ela só viria de fato seis anos depois. Isso que é falta de planejamento. Por mais que os dois episódios anteriores tenham sido extremamente rotineiros e sem fôlego algum, ao menos não foram obras inacabadas, como viria a se mostrar este sexto longa da franquia.
Primeiro filme protagonizado por Paul ‘Homem-Fomiga’ Rudd, Halloween 6 trouxe o ator na pele do herói que desbanca o psicopata imortal. Infelizmente, o filme guarda a última performance do veterano Donald Pleasence, que faleceu durante as filmagens sem conseguir completar sua participação. É notória a fragilidade do ator durante suas cenas. O fato se tornou um problema, já que a produção precisou ser reescrita e refilmada para se adequar à ausência do Dr. Loomis em trechos essenciais. Durante anos como parte de uma lenda urbana no submundo, uma edição do diretor foi lançada, mais de acordo com que o cineasta Joe Chappelle havia planejado.
Halloween H20 (1998)
Halloween surgiu como obra influente para todo um gênero e seus subgêneros. Depois de uma boa ideia que não vingou, no terceiro filme, viu as vindouras produções de sua franquia caírem no lugar comum de produções B repetitivas e perderem qualquer prestígio anteriormente adquirido. Era hora de voltar aos holofotes e nada melhor para isso do que aproveitar o recém-renovado sopro que os filmes de terror slasher ganhavam no fim da década de 1990, gerado por Pânico (1996).
Com produção de Moustapha Akkad e dos irmãos Weinstein (gulp!), Halloween H20 chegava, como diz o título, vinte anos depois do original, esquecendo todas as continuações depois do segundo episódio. É claro que nenhum retorno em grande estilo para a franquia estaria completo sem sua musa original, assim, Jamie Lee Curtis voltava a dar o ar de sua graça no combate definitivo com maníaco mascarado. Uma grande homenagem, Halloween H20 não conseguiu escapar, no entanto, do sentimento da época – provido, dizem as más línguas, pelas pinceladas de Kevin Williamson no roteiro (não creditada).
Assim, certo humor autoconsciente era adicionado, com personagens espertinhos e outros tipos de tiradas. E funcionou. H20 se mostrou extremamente bem sucedido em sua proposta, um retorno digno a todos os envolvidos e um final perfeito para o vilão. Bom, ao menos pensava-se. Como o dinheiro sempre fala mais alto…
Halloween Ressurreição (2002)
Era para Halloween H20 ter colocado um ponto final na franquia. Mas o filme foi elogiado e deu lucro, logo os produtores queriam mais. Porém, como continuar um desfecho perfeito, de uma obra que funcionou como pura homenagem e celebração. Bem, estragando tudo novamente! E se H20 era fruto de sua era mais metalinguística e recheada de humor, Ressurreição, quatro anos depois, foi fruto da sua. A opção aqui foi inserir a moda do momento, os Reality Shows, em sua trama.
Desta forma, saída de uma “ideia brilhante”, Michael Myers, involuntariamente, se torna astro de seu próprio programa, quando competidores tentam sobreviver a uma noite em sua antiga casa. O único ponto positivo aqui é a volta para Haddonfield, cidadezinha original, e a protagonista Bianca Kajlich, que já demonstrava carisma no início de carreira. De resto, são vergonhosas as participações de Tyra Banks e Busta Rhymes, além de uma explicação pra lá de estapafúrdia sobre o que de fato ocorreu no desfecho de H20. Ah, nem me faça falar da participação de Curtis aqui…
O diretor Rick Rosenthal, do segundo filme, é quem assume as rédeas deste que é considerado um dos piores (senão o pior) filmes da franquia.
Halloween: O Início (2007)
O resultado bem menos que satisfatório de Ressurreição, mesmo com uma porta escancarada para uma sequência, fez os produtores desistirem de continuar a história a partir dali. Ainda mais se formos pensar no sucesso de H20. O caminho a seguir, cinco anos depois, foi por um remake do original. Mais uma vez, Halloween se tornava produto de seu meio e nesta época as refilmagens de clássicas obras de terror estavam em voga.
O escolhido para tal faça, no entanto, foi nada menos do que equivocado. O açougueiro Rob Zombie ganhou carta branca do estúdio para fazer Halloween à sua maneira. Então, o “cineasta” escreveu e dirigiu uma espécie de reimaginação, repetindo grande parte do original lá de 1978, acrescentando apenas mais violência, baixo calão e um prelúdio tão ruim e dispensável que termina se tornando o calcanhar de Aquiles do longa. Basicamente, Zombie resolve explicar o motivo de Michael Myers ser como é, sendo que a falta de uma explicação sempre foi mais assustador. Será que ninguém ensinou isso a ele?
H2: Halloween 2 (2009)
Como tudo que é ruim ainda pode piorar, Zombie voltaria para a sequência do remake – esta foi uma das poucas refilmagens de uma obra clássica que teve continuação. Este Halloween 2, no entanto, não é uma reedição do Halloween II de 1981. O diretor até brinca com tal premissa, levando Laurie (interpretada pela atriz Scout Taylor-Compton) rapidamente para um hospital, somente para depois frisar que o filme não irá seguir por este caminho.
Dentre as novas bizarrices de Zombie, a pretensão de fazer de Halloween uma obra de arte, inserindo imagens abstratas, como um cavalo branco e a mãe de Michael como uma espécie de anjo (vivida pela esposa do cineasta, Sheri Moon Zombie). Fora isso, este é o filme mais violento da franquia, uma violência pesada e realista. E também o mais desagradável e sombrio. Malcolm McDowell reprisa o papel de Sam Loomis (imortalizado por Donald Pleasence), transformando o personagem num salafrário. No elenco, dois veteranos de filmes do gênero, Brad Douriff, a voz do boneco Chucky, é o Xerife, e Danielle Harris, que viveu Jamie nos filmes dos anos 1980, é Annie, amiga de Laurie.
Fora tudo isso, Zombie resolve que seu gigante Michael Myers (Tyler Mane) não usará a icônica máscara aqui, deixando o vilão caracterizado como um mendigo barbudo psicótico. O assassino chega inclusive a falar pela primeira vez na história da franquia. Isso que é bagunçar o coreto.
Halloween (2018)
Chegamos ao recente exemplar da franquia, que se propôs a iniciar uma nova trilogia para Halloween, Michael Myers e Laurie Strode. Quase dez anos depois da investida malfadada de Rob Zombie pelo universo do assassino mascarado, esta produção prometia colocar o nome da marca tão importante para o terror nos holofotes outra vez. E de fato conseguiu!
Produzida pela Blumhouse, de Jason Blum, e bancado pela Universal (primeira vez que um filme da franquia tem lançamento de um grande estúdio), este filme, intitulado simplesmente Halloween, foi escrito por Danny McBride e dirigido por David Gordon Green. Se os nomes causam estranheza, o motivo se justifica por estarem mais acostumados a realizar comédias – apesar disso não trouxeram qualquer bom humor à proposta – ainda muito banhada num teor sombrio. Além disso, o lendário John Carpenter retornou a um filme da franquia na produção e trilha sonora. A ideia aqui foi esquecer todas as continuações e seguir do primeiro, se passando 40 anos depois.