Guerra entre facções da casa Targaryen causou cicatrizes que jamais se recuperaram em Westeros
A HBO finalmente anunciou quando ‘House of the Dragon‘, série derivada de ‘Game of Thones‘, será lançada: domingo, dia 21 de agosto.
Aos poucos a série foi revelando seu elenco principal; este formado por membros da casa real Targaryen principalmente. Dessa forma, apenas a confirmação de tais nomes é o suficiente para apontar o que deve ser o enredo. Para tanto, nenhum nome é mais importante do que a personagem de Emma D’Arcy: a Princesa Rhaenyra Targaryen.
No mundo de As Crônicas de Gelo e Fogo, nome da saga literária base de Game of Thrones, muito da história e personagens principais tem como palco principal o reino de Westeros. É lá que vivem não só indivíduos como Jon Snow, Cersei Lannister e Ned Stark como também é onde muitas das intrigas políticas entre as grandes casas e a ameaça dos Outros ao norte ajudam a empurrar a história para frente.
Ao início do primeiro livro é apresentado que o Rei atual é o velho amigo de Ned Stark, Robert Baratheon; este que conquistou o Trono de Ferro após liderar uma rebelião bem sucedida contra o então monarca Aerys “o Rei louco” Targaryen décadas antes. Com isso a vitória de Robert pôs fim a uma dinastia que remonta a trezentos anos antes do primeiro livro e que fora responsável pela unificação de Westeros em um único reino com uma única coroa.
Por séculos os Targaryen mantiveram a continuidade de seu domínio realizando o casamento entre parentes, de modo que a “pureza” de seu sangue se mantivesse intacta. Assim, dificilmente o poder sairia do âmbito familiar. No entanto, nenhuma ferramenta foi mais essencial para eles do que os dragões; sendo os Targaryen os únicos detentores dessas que são, para todos os efeitos, os seres mais poderosos do mundo; nenhuma casa nobre, grande ou pequena, ousou se levantar contra eles.
Os dragões simbolizam em Westeros o conceito do Hard Power que, no âmbito das Relações Internacionais, é o emprego ou coerção de uma superioridade militar ou econômica de um Estado sobre outro (nesse caso de uma casa sobre todas as outras). Ainda assim, a família real não passou longe de problemas; pelo contrário, muitas das maiores dores de cabeça que eles iriam vir a ter se originaria no próprio âmago interno.
Tudo começou quando o reinado do Rei Jaehaerys I e da Rainha Alysanne chegou ao fim após cinquenta e cinco anos, deixando uma Westeros no auge como nunca. Pela primeira vez havia mais ouro em caixa do que em dívida, a comida era abundante para ricos e plebeus, havia uma estabilidade política entre as grandes casas que conteve quaisquer conflitos e nunca antes haviam nascido tantos dragões e membros da casa Targaryen em Westeros. Após morrer com o título de Rei que mais tempo governou, seu neto Viserys I foi então coroado.
A estabilidade, a princípio, foi mantida pelo novo Rei bem como a continuidade da linhagem. O reinado de Viserys teve como maior contratempo a postura do irmão do rei, Daemon Targaryen (que na vindoura série será interpretado por Matt Smith); este sendo um indivíduo de temperamento imprevisível cujo pequeno grupo de espadas leais reunidas por ele causava imenso desconforto nos grandes senhores de Westeros, o suficiente para que a paz criada por Jaehaerys quase fosse desfeita.
Eventualmente foi confiado a Daemon a segurança da capital do reino, Porto Real. Dessa forma ele criou os assim chamados mantos dourados como uma força policial que teve rápido efeito na diminuição da criminalidade mesmo que para isso tenham apelado para ações violentas. Já no palácio o Rei Viserys enfrentava um problema; dos três filhos que tivera com sua esposa, Aemma, apenas uma havia chegado à idade adulta, sendo esta Rhaenyra. Como única herdeira ela foi treinada por seu pai nos caminhos da política, sendo incluída nas reuniões do conselho e, em determinado momento, tendo voz ativa para opinar.
Não tardou para que seu pai oficializasse Rhaenyra como a herdeira da coroa, principalmente após a morte da Rainha Aemma. O problema é que, por lei, mulheres não tinham direito à hereditariedade do trono, sendo este um direito apenas dos filhos homens. Ao mesmo tempo, o Rei Viserys havia se casado novamente, dessa vez com Alicent Hightower (a ser interpretada por Olivia Cooke). A jovem não era estranha aos Targaryen, não só por ser membro de uma grande casa como também por ter sido a leal cuidadora do antigo Rei Jaehaerys nos momentos finais da sua vida.
Dessa nova união nasceram quatro herdeiros sendo o Príncipe Aegon o mais velho deles; não tardou para que a relação entre Rhaenyra e sua madrasta rapidamente se degradasse, com uma tentando se sobrepor a outra aos olhos do Rei. À essa altura a Princesa estava casada com Laenor Velaryon e tinha dado a luz a três filhos homens; eventualmente seu marido acabou assassinado por um de seus amigos, o que abriu caminho para que a agora viúva Rhaenyra contraísse matrimônio com seu tio Daemon (mantendo a continuidade da pureza do sangue real).
Os sintomas de instabilidade (as divergências entre a Princesa e a nova Rainha, a má fama de Daemon e a inimizade declarada entre o conselheiro real, Otto Hightower, e Daemon Targaryen) tiveram suas explosões após a morte do Rei Viserys I. Não tardou após a despedida para que a Rainha Alicent convocasse o conselho real para definir o novo soberano. Rhaenyra tinha sido escolhida pelo pai anos antes, mas não possuía respaldo legal para assumir nem apoio da Rainha viúva.
A segunda, por sua vez, advogou a favor de seu filho mais velho como sendo o verdadeiro herdeiro, bem como apelou para os conselheiros sobre o perigo que ela e os filhos correriam caso Rhaenyra, e por tabela Daemon, fossem coroados. A noção de que um conflito em larga escala fosse bem possível não passou despercebida, visto que ambos os ramos da família real tinham dragões à sua disposição. Imediatamente após a reunião corvos foram enviados por toda a Westeros anunciando Aegon II, primogênito de Viserys e Alicent, como novo Rei ao mesmo tempo que partidários de Rhaenyra eram presos ou mortos na capital.
Nesse meio tempo, a Princesa estava alheia às decisões feitas em Porto Real e até mesmo à morte de seu pai. Ao ser informada é apontado que a mesma irrompeu em fúria e jurou vingança contra aqueles que usurparam seu direito. Enquanto seu meio-irmão era coroado Rei na capital, Rhaenyra era coroada Rainha em Pedra do Dragão (a ilha pertencente a sua família há gerações) bem como nomeando seu filho mais velho, Jacaerys, o herdeiro do trono.
De Pedra do Dragão também voaram corvos anunciando-a como a nova soberana e declarando tanto Alicent quanto seu pai, o conselheiro Otto Hightower, como sendo traidores. Como resposta o recém coroado Aegon II classificou sua meia irmã como sendo uma traidora também. A questão é que essa coroação dupla foi o ponto de partida para o conflito que viria a ser chamado “Dança dos Dragões”, quando essas duas facções da família real inevitavelmente arrastaram o reino para uma guerra em larga escala.
Ao longo dos livros é perceptível que esse confronto ganhou uma aura agourenta que, surpreendentemente, não está ligada a um elevado número de soldados e civis mortos ou as lutas no ar protagonizadas pelos dragões, bem como a vasta destruição em terra que essas armas causavam. O que torna esse episódio tão pesado para aquele mundo fictício é sobre como parentes se mataram sem pensar duas vezes e como a sanidade dos que sobreviveram foi se tornando cada vez mais desgastada. A religião oficial de Westeros, O Deus de Muitas Faces, é especialmente severa com assassinato de familiares.
Politicamente, essa Guerra Civil também foi determinante para rachar profundamente o domínio da casa Targaryen pela primeira vez. Isso porque, ao final dela, a maior parte dos dragões havia morrido em combate junto com muitos dos membros do clã; inevitavelmente o resultado gerou um enfraquecimento do Hard Power, mencionado previamente, exercido por eles desde o início da dinastia.
A Dança dos Dragões, dessa maneira, moldou o futuro dos Targaryen que desaguaria na queda de Aerys por Robert, muito depois e nos eventos vistos em Game of Thrones. Uma tragédia familiar quase que Shakespeariana que começou com intrigas políticas e terminou com fogo e sangue. Ainda que House of the Dragon venha a fazer adaptações necessárias na transição de narrativa é bem provável que o tom trágico desse episódio seja mantido e até potencializado.
Confira o cartaz e as novas imagens oficiais:
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Recentemente, sete novos membros foram confirmados no elenco: Graham McTavish (‘O Hobbit’, ‘Aquaman’), Gavin Spokes (‘Brexit’), Matthew Needham (‘Chernobyl’), Bill Paterson (‘Fleabag’), Ryan Corr (‘Holding the Man’), Jefferson Hall (‘Devs’) e David Horovitch (‘A Freira’).
O elenco também conta com Olivia Cooke, que interpretará Alicent Hightower, a bela filha da Mão do Rei; Emma D’Arcy será Princesa Rhaenyra Targaryen, a filha mais velha de Viserys; Matt Smith será o Príncipe Daemon Targaryen, irmão mais novo do Rei; Paddy Considine será o Rei Viserys; Fabien Frankel será Ser Criston Cole, membro da guarda do Rei Viserys I Targaryen; Rhys Ifans será Otto Hightower, a Mão do Rei; Steve Toussaint será Lorde Corlys Velaryon, a Serpente do Mar; Eve Best será a princesa Rhaenys Velaryon; Sonoya Mizuno será Mysaria, uma das aliadas mais confiáveis (e mais improváveis) do Príncipe Daemon Targaryen, herdeiro ao trono; e Graham McTavish num papel não revelado; e Milly Alcock e Emily Carey serão as jovens Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower, respectivamente.