segunda-feira, março 18, 2024

Christine – O Carro Assassino (1983) | Relembre o clássico de John Carpenter e Stephen King

Recentemente foi divulgado que o clássico cult dos anos 80, Christine – O Carro Assassino, ganhará novo fôlego numa versão produzida pela Blumhouse, produtora responsável por sucessos de terror como Fragmentado (2017), Corra! (2017), Nós (2019) e Halloween (2018). Para irmos aquecendo os motores (com o perdão do trocadilho sem-vergonha), vamos relembrar ou quem sabe conhecer (para os mais novos) essa produção querida para a geração 80’s e da época das vídeo locadoras que tem dois dos maiores nomes do terror envolvidos em sua confecção.

A história tenra de um adolescente tímido e seu primeiro carro se transforma num pesadelo diabólico quando os mestres do terror John Carpenter e Stephen King resolvem narrar esta trama. Tudo começou, é claro, na forma de um livro do muito badalado autor citado. Em sua essência, Christine tem muito de Carrie – A Estranha, primeiro livro de King e a primeira adaptação de uma obra sua ao audiovisual (pelas mãos de outro mestre, Brian De Palma). Ambos Carrie e Christine falam sobre bullying, sobre como a constante hostilização e as torturas tanto mentais quanto físicas podem causar danos muitas vezes irreversíveis e fazer até mesmo o ser humano mais doce se transformar em algoz. Foi assim como Carrie White e aqui acontece o mesmo com o jovem Arnie Cunningham.

christine cinepop4
“Christine”, de John Carpenter, ganhará refilmagem pela Blumhouse.

A ideia para a história de Stephen King em partes surgiu enquanto o autor trabalhava em Creepshow: Arrepio do Medo (1982) lado a lado com outro mestre do gênero e colega pessoal, o saudoso George Romero. A relação profissional ainda incluía a então esposa do cineasta, Christine Romero, e a amizade do trio foi o que King almejou homenagear ao bolar seu próximo conto o batizando com o nome da atriz e produtora. Com título pronto, King tinha a ideia de sua nova história assustadora, usando como mote para o terror um clássico automóvel americano que, segundo o escritor, se encontrava esquecido: um Plymouth Fury 1958 vermelho!

Muito mais do que uma obra sobre um carro demoníaco, que serve apenas de metáfora no conto, Christine, como dito, fala sobre o abuso constante a que os adolescentes muitas vezes são submetidos, numa época em que não se falava muito sobre isso e que o bullying não possuía a repercussão de hoje. Obras como o texto de King anteviram os famosos e trágicos massacres em escolas dos EUA (e agora do mundo) motivados pelo sofrimento causado a jovens tímidos e pouco populares. O protagonista aqui, Arnie Cunningham, se encaixa justamente em tal perfil. O personagem, sem muitos atrativos, “se apaixona” à primeira vista quando bate os olhos em Christine, um carrão clássico vermelho à venda no jardim de uma casa. Bem, ou quase um carro, já que o automóvel se encontra tão velho e danificado pelo tempo que só tem a oferecer basicamente a carcaça. Mas isso não é empecilho para a atração de Arnie e este amor é o que move a trama da história.

christine cinepop2
Mestre trabalhando. John Carpenter dirige Keith Gordon em “Christine”.

Arnie gasta seu tempo livre se tornando um mecânico expert e aos poucos, de todas formas que pode, vai montando Christine de volta ao que era, a seus tempos áureos. Christine é o nome dado ao veículo por seu antigo dono, mantido de muito bom grado pelo novo proprietário. O paralelo aqui é muito interessante, pois a cada nova peça colocada, a cada novo passo que Arnie dá em revigorar seu automóvel, ele vai igualmente se tornando novo, se remodelando. A restauração serve de via de mão dupla e ao final do conserto de Christine, Arnie também é um novo homem, mais atraente, firme e decidido. Mais forte e potente. Começa a usar novas roupas e se torna dono de um novo estilo. Assim conquista uma “outra garota” além de Christine, a estudante transferida para seu colégio, Leigh. O que cria uma espécie de triângulo amoroso com a máquina.

Porém, essa não é uma história bonitinha ou um romance. É uma trágica história de obsessão, mortes e horror. Christine é um objeto amaldiçoado pela cobiça, pela compulsão, por atos irracionais e pela possessão. É uma máquina que desperta o pior que temos dentro de nós, fazendo aflorar nosso lado mais sombrio. Aqui é onde divergem livro e filme. E só podemos esperar para ver qual abordagem será tomada na nova produção da Blumhouse. Enquanto no texto de King foi o primeiro dono do carro, Roland LeBay, o responsável por depositar o “espírito ruim” no carro, devido a seus próprios sentimentos negativos que negligenciavam a esposa e filha em função da máquina; no longa de 1983, a opção foi por descrever Christine como uma entidade consciente logo na sua fabricação, onde após ser montada já demonstra sua ferocidade.

christine cinepop1
Relação sufocante. Leigh (Alexandra Paul) sente o quão competitiva Christine é por seu dono Arnie.

A atmosfera sutil e mística, que fala muito mais de sentimentos de forma quase abstrata planejada por King dá lugar para matança explícita e sobrenaturalidade na hora de vender o filme. De fato, é o espírito do antigo dono que está por trás do feito do carro, e inclusive chega a possuir Arnie no desfecho da história. Esses elementos igualmente foram deixados de lado na hora de levar a trama para as telonas.

O nome de Stephen King já era tão forte na época, que Columbia Pictures (hoje Sony), um dos maiores estúdios de Hollywood, deu sinal verde para a produção antes mesmo do autor lançar o livro. O filme começava a ser produzido com os manuscritos ainda não finalizados de King. Para os realizadores, foram oferecidos dois manuscritos do escritor para ganharem forma do próximo longa do estúdio: Christine e Cujo – este segundo viria a se tornar um lançamento nos cinemas no mesmo ano de 1983.

christine cinepop
Amor à primeira vista. O adolescente Arnie (Keith Gordon) se apaixona pelo Plymouth Fury 58 totalmente ferrado.

Na direção, outro verdadeiro mestre do gênero entrava em cena. John Carpenter se tornou um nome a ser lembrado na indústria após entregar o que foi para a época (e guardou o recorde por muitos anos) o filme independente mais rentável do cinema: Halloween – A Noite do Terror (1978). A altura de Christine, Carpenter tinha no currículo produções cult que geravam muito burburinho e angariavam uma legião de fãs, vide Fog – A Bruma Assassina (1980), Fuga de Nova York (1981) e O Enigma de Outro Mundo (1982). Curiosamente, antes de ser contratado para a direção de Christine, o cineasta visava levar às telas outro texto de Stephen King: Chamas da Vingança (Firestarter), sobre experiências científicas gerando uma menininha com dons pirocinéticos. A obra ganharia filme no ano seguinte, em 1984, tendo uma então pequenina Drew Barrymore como protagonista. Coincidentemente, Chamas da Vingança igualmente ganhará nova versão pelas mãos da mesma Blumhouse.

Não deixe de assistir:

Para o papel principal foram testados alguns jovens atores muito promissores da época, entre eles Kevin Bacon, John Cusack e Scott Baio, mas o personagem terminou nas mãos de Keith Gordon, figura conhecida do período por ter estrelado obras famosas como Tubarão 2 (1978), All That Jazz (1979), Vestida para Matar (1980), A Lenda de Billie Jean (1985) e De Volta às Aulas (1986). Atualmente, Gordon dedica-se à função de diretor e assinou episódios de séries famosos como Dexter, Fargo, Legião e Homeland.

christine cinepop5
Keith Gordon ficou com o papel complexo e trágico de Arnie, derrotando atores como John Cusack e Kevin Bacon.

Para o papel da protagonista feminina Leigh, foi testada a estrela Brooke Shields, saída do sucesso A Lagoa Azul (1980). Mas quem acabou abocanhando o papel foi Alexandra Paul, que anos mais tarde ficaria conhecida como Stephanie Holden no seriado S.O.S. Malibu (Baywatch, 1992-1997). Paul possui uma irmã gêmea, Caroline, e durante as gravações pregou uma peça em seus companheiros de cena e até mesmo no diretor John Carpenter. Preparada com o figurino, a maquiagem e o penteado da personagem, Caroline, a irmã, realizou uma das cenas do clímax do longa, somente para Alexandra revelar a armação depois, sem que ninguém percebesse que não era ela.

É reportado ainda que um então desconhecido Nicolas Cage teria testado para o papel de Buddy Repperton, o principal antagonista de Arnie, líder da gangue de valentões que atormenta o protagonista.

christine cinepop3
Temperatura máxima. Nada pode separar Arnie e Christine em sua relação obsessiva.

Completando o elenco principal os veteranos Harry Dean Stanton e Robert Prosky, e os então novatos John Stockwell (que também viria a tornar-se um diretor conhecido), Stu Charno (Sexta-Feira 13 – Parte 2) e a saudosa Kelly Preston (uma das musas dos anos 80).

Apesar da aura cult que carrega hoje e de ser guardado com carinho por todas “as crias” da época, Christine – O Carro Assassino foi recebido com indiferença do grande público da época e após críticas no mínimo desanimadoras, se mostrou um relativo fracasso de bilheteira. Com os talentos envolvidos esperava-se bem mais e o resultado foi considerado no máximo medíocre. Mesmo os fãs de Stephen King e os de John Carpenter consideraram o resultado abaixo da expectativa. Torçamos para que a empreitada da Blumhouse tenha melhor sorte com o material suculento do autor.

christine cinepop6

Mais notícias...

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
370,000SeguidoresSeguir
1,500,000SeguidoresSeguir
183,000SeguidoresSeguir
158,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS