Inatividade Cerebral
Comédia é difícil. A frase é proferida por todos que a tentam. Sucesso é relativo, o que é engraçado para mim pode não ser para você, e vice versa. Inatividade Paranormal 2 faz uso de três elementos dentro do humor: a escatologia, o humor nonsense ou besteirol e a sátira. Pertence ao subgênero dos filmes-paródia, produções que usam com mote a imitação de forma cômica de outras obras de sucesso. No caso desta série, filmes de terror recentes. Existem casos de filmes bem sucedidos dentro dos três elementos de humor usados aqui.
O que acontece é que nesses casos, os filmes acrescentam mais do que apenas estes elementos de humor. Possuem certo desenvolvimento de personagens, uma trama coerente e o mínimo interesse em ser algo mais do que apenas um amontoado de esquetes editados ao longo de 1 hora e 30 minutos com um fio quase invisível que crie sua conexão. Repito que não existe nada errado com obras que utilizem deste tipo de humor, a não ser que sejam só isso. Por anos associamos produções deste nível ao subgênero dos filmes-paródia e nos tornamos repelidos por eles.
Mas o problema não é o subgênero e sim o que tem sido feito em seu nome. Desde Todo Mundo em Pânico, quando os Wayans entraram no jogo, a coisa começou a se tornar mais ácida, as piadas ficaram de baixo calão e o mau gosto começou a imperar. Coisa que não existia antes, se formos pensar em Corra que a Polícia Vem aí, Apertem os Cintos… e Top Gang. O filme dos Wayans fez sucesso e desde então todos acharam que esta era a fórmula a ser seguida, enterrando de vez o subgênero.
É de se espantar, no entanto, que tais filmes tenham voltado e justamente pelas mãos de um Wayans. O comediante Marlon Wayans escreve e protagoniza a série que pega o gancho deixado por Todo Mundo em Pânico, para continuar satirizando os recentes filmes de terror. O sucesso relativo do primeiro Inatividade Paranormal gerou esta sequência, que tira sarro (ou tenta) de Invocação do Mal, A Entidade e obviamente, Atividade Paranormal. Além de tudo isso, o gênero do terror é por si só obscuro e voltado a um tipo específico de público. O que acaba tirando ainda mais a abrangência destas sátiras.
Na trama, Malcolm (Wayans) se muda para outra casa ao lado de uma nova esposa e seus filhos. Mas não consegue se livrar das assombrações que o perseguem. Por incrível que pareça, o filme até começa bem, com um desempenho mais contido do protagonista. Pensei comigo mesmo, “não é possível”. E realmente não era. Logo depois, Wayans e o filme recaem em seu baixo nível costumeiro, com cenas excedidas em que o protagonista faz sexo (quase explícito), de todas as formas possíveis, com uma boneca. Ver Wayans em tais cenas, realizando tais expressões faciais, é quase a experiência de assistir a um filme pornô no cinema. E garanto que não foi para isso que vocês pagaram o ingresso.
Não poderíamos deixar de ter cenas de uso de fumo entorpecente, num filme com Wayans também. Essa virou a marca registrada do ator, que muito provavelmente é adepto do hábito na vida real. O mínimo esboço de sorriso ocorre pelo reconhecimento dos filmes apresentados e uma ou outra tirada um pouco mais esperta. Quem dera pudessem se esforçar e fazer um filme inteiro com elas. Mas Wayans não respeita a inteligência do público e faz filmes para quem se contenta com pouco. Justamente por isso, não se contentem com pouco. Não deixem que o comediante enriqueça com seu dinheiro, oferecendo quase nada em troca. Procurem preencher seu precioso tempo com filmes melhores.