quinta-feira , 14 novembro , 2024

Incêndio na Cinemateca Brasileira: Entenda como essa tragédia foi anunciada!

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No início da noite dessa quinta-feira, 29 de julho, por volta das 17hs, os brasileiros foram surpreendidos com a terrível notícia de um incêndio na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Cerca de três horas depois, o fogo foi confinado (o que significa que o prédio seguia queimando, mas o fogo não estava mais se espalhando para os lados). Neste momento, ainda não é possível saber a extensão do que se perdeu nesse enorme incêndio, mas uma coisa é fato: esta tragédia vinha sendo anunciada há tempos. Entenda:

A história

A Cinemateca Brasileira foi fundada em 1940 com o intuito de ser um lugar para estudar o cinema como arte independente, através de cursos, debates, projeções, etc. Na época, chamou-se Clube de Cinema de São Paulo. No ano seguinte, foi fechada pelos órgãos de repressão da ditadura militar do Estado Novo. Em 1946, foi aberto o segundo clube, e, três anos depois, se tornou a Filmoteca do MASP. Em 1956 desligou-se do MASP e se tornou a Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.



Incêndios

No ano de 1957 – um ano após tornar-se uma fundação – a Cinemateca sofreu seu primeiro incêndio, por causa da autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose, que destruiu as instalações. Em 1969 ocorreu o segundo incêndio, já nas instalações do Parque Ibirapuera. Em 1982 houve o terceiro incêndio sofrido pela Cinemateca, o que agravou as dificuldades financeiras da instituição. Depois de ser incorporada em 2003 à Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura, passou por um período de grande difusão do audiovisual brasileiro, entre 2008 e 2013. No início de 2016, porém, houve o quarto incêndio no local, o maior até então, que resultou na perda de mais de mil rolos de filmes em nitrato de celulose. Na noite de 29 de julho de 2021, porém, a Cinemateca sofreu o seu pior e mais devastador incêndio de sua história.



Acervo

O acervo da Cinemateca é enorme e inclui cartazes de filmes, acervo não fílmico (documentações, coleções, catalogações, arquivos e bibliotecas relacionadas), além de rolos de filmes originais de ficção e documentário. Há material fílmico do exército brasileiro, da Fundação Roquette Pinto, roteiro de longa-metragens, teses, dissertações e cerca de 245 mil rolos de filmes, referentes a mais de 30 mil títulos.

Dificuldades financeiras

Assista também:
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Em junho de 2020, os amigos da Cinemateca, funcionários e cineastas fizeram um grande protesto na porta da fundação, denunciando a falta de pagamento de salários aos trabalhadores, que estavam há três meses sem receber. Além disso, o protesto também denunciou o estrangulamento financeiro que a Cinemateca vinha sofrendo nos últimos três anos, com corte de verbas e congelamento de contratos, além dos já mencionados atrasos nos pagamentos de salários e materiais básicos para o funcionamento do prédio.

Demissão em massa

Em 7 de agosto, a Fundação Roquette Pinto, que estava administrando a Cinemateca, entregou as chaves do prédio, impossibilitada de continuar seu trabalho sem o repasse da verba federal. Menos de uma semana depois, o governo federal assumiu a administração da Cinemateca, e, como sua primeira medida, simplesmente demitiu todos os 52 funcionários do prédio. A partir daí, todas as atividades do prédio foram interrompidas (o prédio estava até então fechado para público por conta da pandemia), incluindo as pesquisas e conservações que ocorriam internamente. Nenhum novo funcionário foi contratado, apenas seguranças e bombeiros terceirizados.

Regina Duarte

Após rápida passagem no comando Secretaria Especial da Cultura do governo federal, a atriz Regina Duarte recebeu a promessa do presidente Jair Bolsonaro de se tornar a nova diretora da Cinemateca Brasileira. Entretanto, mais de um ano depois do anúncio, feito em maio de 2020, a ex-secretária de cultura ainda não tinha sido nomeada oficialmente para o cargo. Ou seja, a Cinemateca Brasileira passou um ano inteiro sem ter ninguém na gerência de suas atividades.

Mário Frias

O atual secretário de Cultura do governo federal, o ator Mário Frias, que solicitou a entrega das chaves da Roquette Pinto, não priorizou a Cinemateca Brasileira em sua gestão. Além de pedir as chaves, fechar as portas, congelar verbas e demitir todo mundo, não empossou a Regina Duarte (nem nenhuma outra pessoa) no comando da instituição. Hoje, após o incêndio, o secretário – que está em Roma neste momento – declarou que cogita a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso e diz ter solicitado perícia à PF.

Manifesto dos trabalhadores

Em abril de 2021, os trabalhadores da Cinemateca se manifestaram publicamente nas redes sociais em defesa da memória cultural do local e alertando para os inúmeros perigos de incêndio que o acervo sofria, especialmente por falta de profissionais técnicos para lidar com os filmes.

 

O incêndio de 29 de julho de 2021

No fim da tarde dessa quinta-feira – sessenta anos após ser fechada pela ditadura militar – o prédio da Cinemateca Brasileira sofreu um novo incêndio, de maior proporção que os anteriores. Até o momento não é possível saber o que foi perdido de material intelectual e histórico da cultura brasileira, porém, nenhuma vida foi perdida. Sabe-se também que um governo que prioriza a cultura, a memória e a história de seu povo não permite que seu patrimônio seja queimado.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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A história

A Cinemateca Brasileira foi fundada em 1940 com o intuito de ser um lugar para estudar o cinema como arte independente, através de cursos, debates, projeções, etc. Na época, chamou-se Clube de Cinema de São Paulo. No ano seguinte, foi fechada pelos órgãos de repressão da ditadura militar do Estado Novo. Em 1946, foi aberto o segundo clube, e, três anos depois, se tornou a Filmoteca do MASP. Em 1956 desligou-se do MASP e se tornou a Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.

Incêndios

No ano de 1957 – um ano após tornar-se uma fundação – a Cinemateca sofreu seu primeiro incêndio, por causa da autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose, que destruiu as instalações. Em 1969 ocorreu o segundo incêndio, já nas instalações do Parque Ibirapuera. Em 1982 houve o terceiro incêndio sofrido pela Cinemateca, o que agravou as dificuldades financeiras da instituição. Depois de ser incorporada em 2003 à Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura, passou por um período de grande difusão do audiovisual brasileiro, entre 2008 e 2013. No início de 2016, porém, houve o quarto incêndio no local, o maior até então, que resultou na perda de mais de mil rolos de filmes em nitrato de celulose. Na noite de 29 de julho de 2021, porém, a Cinemateca sofreu o seu pior e mais devastador incêndio de sua história.

Acervo

O acervo da Cinemateca é enorme e inclui cartazes de filmes, acervo não fílmico (documentações, coleções, catalogações, arquivos e bibliotecas relacionadas), além de rolos de filmes originais de ficção e documentário. Há material fílmico do exército brasileiro, da Fundação Roquette Pinto, roteiro de longa-metragens, teses, dissertações e cerca de 245 mil rolos de filmes, referentes a mais de 30 mil títulos.

Dificuldades financeiras

Em junho de 2020, os amigos da Cinemateca, funcionários e cineastas fizeram um grande protesto na porta da fundação, denunciando a falta de pagamento de salários aos trabalhadores, que estavam há três meses sem receber. Além disso, o protesto também denunciou o estrangulamento financeiro que a Cinemateca vinha sofrendo nos últimos três anos, com corte de verbas e congelamento de contratos, além dos já mencionados atrasos nos pagamentos de salários e materiais básicos para o funcionamento do prédio.

Demissão em massa

Em 7 de agosto, a Fundação Roquette Pinto, que estava administrando a Cinemateca, entregou as chaves do prédio, impossibilitada de continuar seu trabalho sem o repasse da verba federal. Menos de uma semana depois, o governo federal assumiu a administração da Cinemateca, e, como sua primeira medida, simplesmente demitiu todos os 52 funcionários do prédio. A partir daí, todas as atividades do prédio foram interrompidas (o prédio estava até então fechado para público por conta da pandemia), incluindo as pesquisas e conservações que ocorriam internamente. Nenhum novo funcionário foi contratado, apenas seguranças e bombeiros terceirizados.

Regina Duarte

Após rápida passagem no comando Secretaria Especial da Cultura do governo federal, a atriz Regina Duarte recebeu a promessa do presidente Jair Bolsonaro de se tornar a nova diretora da Cinemateca Brasileira. Entretanto, mais de um ano depois do anúncio, feito em maio de 2020, a ex-secretária de cultura ainda não tinha sido nomeada oficialmente para o cargo. Ou seja, a Cinemateca Brasileira passou um ano inteiro sem ter ninguém na gerência de suas atividades.

Mário Frias

O atual secretário de Cultura do governo federal, o ator Mário Frias, que solicitou a entrega das chaves da Roquette Pinto, não priorizou a Cinemateca Brasileira em sua gestão. Além de pedir as chaves, fechar as portas, congelar verbas e demitir todo mundo, não empossou a Regina Duarte (nem nenhuma outra pessoa) no comando da instituição. Hoje, após o incêndio, o secretário – que está em Roma neste momento – declarou que cogita a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso e diz ter solicitado perícia à PF.

Manifesto dos trabalhadores

Em abril de 2021, os trabalhadores da Cinemateca se manifestaram publicamente nas redes sociais em defesa da memória cultural do local e alertando para os inúmeros perigos de incêndio que o acervo sofria, especialmente por falta de profissionais técnicos para lidar com os filmes.

 

O incêndio de 29 de julho de 2021

No fim da tarde dessa quinta-feira – sessenta anos após ser fechada pela ditadura militar – o prédio da Cinemateca Brasileira sofreu um novo incêndio, de maior proporção que os anteriores. Até o momento não é possível saber o que foi perdido de material intelectual e histórico da cultura brasileira, porém, nenhuma vida foi perdida. Sabe-se também que um governo que prioriza a cultura, a memória e a história de seu povo não permite que seu patrimônio seja queimado.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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