O diretor Jonathan Glazer, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional por ‘A Zona de Interesse’, está sendo duramente criticado pela comunidade judaica por seu discurso ao receber o prêmio.
No discurso, Glazer, que é judeu, comparou o genocídio dos judeus no Holocausto ao conflito entre Israel e a Palestina.
“Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e nos confrontar no presente, não para dizer olhem o que eles fizeram naquela época, mas sim olhem o que fazemos agora. Nosso filme mostra como a desumanização leva ao pior cenário, moldando nosso passado e presente. Neste momento, estamos aqui como pessoas que refutam que o seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou muitas pessoas inocentes ao conflito, sejam os israelenses vítimas do 7 de outubro ou [os palestinos] do ataque em Gaza”.
A Fundação dos Sobreviventes do Holocausto dos Estados Unidos condenou as declarações de Glazer. Em carta publicada nas redes sociais, o presidente da fundação, David Schaecter, escreveu que as palavras do diretor foram “factualmente imprecisas e moralmente indefensáveis”.
“Tenho 94 anos e sou o único membro de 105 almas em minha família a sobreviver ao Holocausto. Milagrosamente, sobrevivi a quase três anos no inferno de Auschwitz e um ano no inferno de Buchenwald”.
“Assisti com angústia na noite de domingo quando ouvi você usar a plataforma da cerimônia do Oscar para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra os israelenses inocentes com a autodefesa difícil, mas necessária, de Israel diante da barbárie contínua do Hamas. Seus comentários foram factualmente imprecisos e moralmente indefensáveis”.
Schaecter argumenta que a “ocupação” da qual Glazer fala não tem nada a ver com o Holocausto.
“A ‘ocupação’ da qual você fala não tem nada a ver com o Holocausto. A existência do povo judeu e o direito de viver na terra de Israel antecede o Holocausto por centenas de anos. A paisagem política e geográfica de hoje é o resultado direto de guerras iniciadas por líderes árabes do passado que se recusaram a aceitar o povo judeu como seus vizinhos em nossa pátria histórica. Agora que vários países árabes estão fazendo as pazes com Israel porque a segurança e a prosperidade são melhores para todas as pessoas, o Irã e seus procuradores terroristas começaram outra guerra, incentivados por muitos que, por ingenuidade ou malícia, culpam ‘a ocupação'”.
O presidente da fundação também critica Glazer por ter usado o Holocausto para validar sua opinião pessoal.
“Pior ainda é você ter escolhido usar o Holocausto para validar sua opinião pessoal. Você fez um filme sobre o Holocausto e ganhou um Oscar. E você é judeu. Parabéns para você. Mas é vergonhoso que você presumisse falar pelos seis milhões de judeus, incluindo um milhão e meio de crianças, que foram assassinados exclusivamente por sua identidade judaica.”
Ele termina afirmando que foi “vergonhoso” o que o diretor fez.
“E é vergonhoso que você presumisse falar por aqueles de nós que viram pessoalmente o mundo permanecer em silêncio enquanto nossas mães, pais, irmãos, irmãs, avós, tios, tias e primos foram assassinados. Na verdade, não tínhamos para onde ir, nenhum lugar possível de refúgio. Nenhum país nos aceitaria, embora os líderes mundiais soubessem muito bem que milhares de judeus estavam sendo assassinados todos os dias. Não havia uma nação judaica para a qual pudéssemos fugir. Você deveria se envergonhar de si mesmo por usar Auschwitz para criticar Israel”.
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Lembrando que ‘A Zona de Interesse’ (‘The Zone of Interest’), aclamado drama histórico que acompanha um oficial nazista que comanda um campo de concentração em Auschwitz.
O longa-metragem chega ao Prime Video no dia 31 de março.
Lembrando que a produção, dirigida por Jonathan Glazer, foi condecorada com duas estatuetas do Oscar: a de Melhor Filme Internacional e a de Melhor Som.
O filme, baseado livremente no romance homônimo de Martin Amis, é escrito e dirigido por Jonathan Glazer (‘Sob a Pele’).
Na trama, Rudolf Höss e sua esposa, Hedwig, se esforçam para construir uma vida idílica para sua família em uma casa localizada próxima a um campo de concentração em Auschwitz que está sob seu comando.
Christian Friedel, Sandra Hüller, Johann Karthaus, Nele Ahrensmeier, Lilli Falk e Medusa Knopf estrelam.