sábado , 21 dezembro , 2024

‘Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros’ | Há 30 anos, Steven Spielberg revolucionou os blockbusters

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Lançado nos EUA em 11 de junho de 1993, Jurassic Park provou que um raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar. Na década de 1970, Steven Spielberg causou uma revolução no cinema mundial ao lançar Tubarão (1975), filme considerado o primeiro Blockbuster do cinema mundial. E após 18 anos de uma carreira maravilhosa, marcada por aventuras que encantaram gerações, ele revolucionou a tendência iniciada por ele mesmo com a chegada de Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, uma aventura que misturou a ficção científica com o suspense para desenvolver uma história inigualável sobre a arrogância humana ante a natureza, embalada por uma temática que desperta a curiosidade de crianças e adultos até os dias de hoje: os dinossauros.



Inspirado no romance homônimo do ex-médico, autor, roteirista, produtor e diretor cinematográfico, Michael Crichton, o longa nasceu de uma época em que as possibilidades para as descobertas da ciência pareciam infinitas, dados os grandes avanços tecnológicos. Essa temática era tão interessante para o público, que houve uma briga pelos direitos de adaptação da obra desde antes do livro sequer ser lançado. Na época, a premissa do Thriller Tecnológico estava em alta e Crichton era um nome respeitado da ficção, já que inseria seus conhecimentos e termos médicos, aprendidos na universidade de Harvard, em suas obras, passando uma grande sensação de veracidade para o que ele escrevia. Assim, depois de Warner Bros., 20th Century Fox e o diretor James Cameron perderem essa disputa, a Universal Pictures aceitou a pedida altíssima do autor e adquiriu os direitos de adaptação, em 1990, por US$ 1,5 milhão, mais um bônus de US$ 500 mil e uma pequena participação nos lucros do filme.

Além de envolver a temática da moda, dos sonhos visionários de até onde a ciência poderia chegar, a história tinha o diferencial de ser ambientada em meio a criaturas que despertam o fascínio dos seres humanos, principalmente do público infantojuvenil: os dinossauros. Para entender melhor o motivo pelo qual esses animais são tão interessantes para nós, consultamos o professor Luiz Anelli, que é Paleontólogo, Professor do Instituto de Geociências da USP e atual diretor da Estação Ciência da USP. Para ele, esse tema cativa tanto as crianças não apenas por serem criaturas que efetivamente existiram, mas também porque permite que elas explorem e tenha esse primeiro contato com a chance de aprender e ensinar sobre a natureza.

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“[Os dinossauros] são fascinantes paras as pessoas porque eles realmente foram animais fascinantes que viveram no mundo real, não vieram da fantasia. A gente vê os esqueletos deles nas rochas, nós os descobrimos, nós os vemos em museus. Eles também viveram em um mundo a ser descoberto, um mundo desafiador, na Era Mesozoica. Era esse mesmo mundo que vivemos hoje, mas em uma configuração totalmente diferente, com outros continentes, outros oceanos, outra biologia, outra atmosfera, outra astronomia! Um mundo cheio de vulcões, impactos de asteroides, grandes extinções… É um mundo vasto e rico a ser descoberto. E especialmente as crianças gostam disso, dessas descobertas, de ser desafiados no entendimento das coisas. Eu acho que esse mundo fascina mais as crianças porque elas têm a cabeça mais livre, aberta, para receber coisas novas. Conforme a gente vai ficando adulto, vai enchendo a cabeça de questões, responsabilidades… E não temos tanto tempo para os dinossauros. Eles se tornam tão importantes, especialmente para as crianças e para os mais jovens, porque os dinossauros, esse mundo de nomes e idades em que viveram, de tamanhos e geografias diferentes etc., dão às crianças a primeira oportunidade de se tornarem mestres, doutores em um determinado assunto. E impressionar os pais, os colegas, com isso se mostra um mundo estimulador intelectualmente para as crianças também. Catalogar os diferentes tipos de dinossauros, os tempos diferentes em que viveram, traz um conjunto muito fascinante de questões. Eles acertam nas crianças em cheio porque elas estão abertas a esse aprendizado novo, rico e desafiador. E depois, mais tarde, muitos continuam com essa paixão pelos dinossauros, que são seres incríveis e se tornam um assunto muito especial para todas as crianças. Elas têm toda razão de amar esses bichos”, explicou o professor.

Além disso, ele apontou que os dinossauros se tornam um tema interessante para alguns adultos por uma questão em grande parte afetiva.

“No meu caso, fui uma criança interessada em outro tipo de animais. Eu gostava dos insetos e animais que encontrava no quintal e cercavam minha região. Mas acabei me tornando paleontólogo por força do destino. Como professor dessa disciplina que trata dos dinossauros, eu os conheci já como adulto e foi fascinante. Os dinossauros foram meus melhores professores. […] Você vê que os adultos têm muitas lembranças boas desses animais. Nós não temos lembranças ruins dos dinossauros. Como o tempo deles já passou, perdoamos os dinossauros pelas presas que fizeram, pelos animais que mataram, e como foram extintos num evento terrível durante a queda do asteroide, o pior dia do mundo, então se torna uma história incrível”, concluiu o professor Luiz Anelli.

Nos bastidores, a Universal sabia que o nome perfeito para comandar essa aventura de 65 milhões de anos seria ninguém menos que o mago do entretenimento, Steven Spielberg. Inclusive, eles entenderam que o projeto valeria a pena o investimento por conta do interesse na obra manifestado pelo próprio Spielberg, em 1989, quando ele trabalhou com Crichton no roteiro que se transformaria na série televisiva E.R. – Plantão Médico. No entanto, mesmo com o diretor estando por dentro da história e sendo amigo do autor da obra, ele só aceitou comandar o filme depois que o estúdio deu sinal verde para a produção de um projeto que mexia numa questão bastante sensível a ele, o holocausto, que seria peça-chave em A Lista de Schindler. Dessa forma, com esses dois projetos ambiciosos aprovados, o diretor embarcou na jornada mais complicada de sua carreira ao dirigir os dois filmes simultaneamente. Sua rotina era de trabalho 24h por dia, já que iniciou as filmagens de A Lista de Schindler no término das filmagens de Jurassic Park. Então, ele gravava as cenas do filme sobre o holocausto de dia, na Polônia, e editava as aventuras de cientistas presos em uma ilha com dinossauros à noite.

E como toda adaptação cinematográfica, muito do livro se perdeu no desenvolvimento do roteiro. Inicialmente, Spielberg chamou a roteirista de Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991), Malia Scotch Marmo, para adaptar a história. Porém, o diretor não gostou do resultado, que cortava um dos principais personagens do livro, o Dr. Ian Malcolm, da trama. Isso fez com que ele percebesse que não haveria ninguém melhor para adaptar uma história de Michael Crichton do que o próprio Michael Crichton. E foi assim que ele convidou o autor para reescrever sua obra em uma linguagem cinematográfica. E segundo o próprio Crichton, foi usado apenas 30% do material original do romance no roteiro final, que contou ainda com a revisão de David Koepp. Entretanto, o mais importante foi mantido: a essência do livro que conquistou os leitores de todo o mundo.

Mas nenhum desafio foi tão grande quanto o da equipe de efeitos visuais, que precisou não apenas imaginar, mas se inspirar em registros reais para tentar construir animais extintos há milhões de anos, cuja aparência era baseada nas ossadas e outros registros fósseis encontrados pelos paleontólogos. Para isso, eles contaram com a consulta de paleontólogos da época e com a genialidade do lendário Stan Winston, que desenvolveu dinossauros mecatrônicos funcionais, que fizeram história nos cerca de 15 minutos de tela que esses lagartos gigantes ocupam no primeiro filme. O resultado desses efeitos práticos misturados com a tecnologia mais avançada de computação gráfica da época foi praticamente definir a imagem dos dinossauros no imaginário popular. Não é absurdo falar que há um nível de popularidade completamente diferente dos dinos antes e depois de Jurassic Park.

“O primeiro Jurassic Park mudou a história do cinema e trouxe o mundo dos dinossauros para o mundo popular. E acredite: os dinossauros eram muito restritos a pessoas que podiam comprar livros, ou bonecos caríssimos por aqui. Não era todo mundo que podia visitar museus gigantes em Nova York. A gente não tinha museu no Brasil com tanto destaque aos dinossauros. O primeiro Jurassic Park tem a ideia e as reconstruções, que para mim, são como uma sinfonia do Mozart. Aquilo é uma joia, um tesouro dessa arte que é o cinema. Então, um filme desse porte, com um diretor como Steven Spielberg, um drama e uma história daquelas… Aquilo fascinou o mundo. E, na minha opinião, escancarou os dinossauros para todo o mundo. Agora os dinossauros pertencem ao mundo. Então, sim, a gente descobre talentos quando a gente expõe o maior número de pessoas aos assuntos. De lá pra cá, o número de dinossauros no Brasil quintuplicou. No mundo, cresceu enormemente. Os museus ganharam novas configurações, novas salas com dinossauros”, explicou Luiz Anelli.

E mesmo com toda a maestria para recriar esses animais, ainda há uma parte do público que usa do avanço da ciência para tentar apontar falhas no design mais impressionante já feito na mecatrônica cinematográfica. Alguns – poucos – dizem que o filme não é tão crível porque traz dinossauros sem penas e com comportamentos que atualmente não são mais apoiados pela ciência. No entanto, na época, eram teorias em debate. E para o professor Anelli, essa incerteza sobre os dinossauros é justamente um dos pontos mais instigantes do tema.

“Dinossauro nunca é um problema. A falta de entendimento sobre eles sempre vai nos acompanhar. A gente sempre “não sabe” alguma coisa sobre os dinossauros, né? Tanto porque [os dinossauros] trazem questões difíceis e que não se preservaram nas rochas, como o som que eles faziam; as cores dos dinossauros, que hoje, sabemos quais eram as de cinco dinossauros, mas existem 1500 espécies; E as questões de convívio social, por exemplo. Então nós convivemos com um monte de dúvidas. Sobre a aparência deles, se eram todos cobertos de penas ou apenas parcialmente, a gente não sabe sobre todos ainda. Alguns dinossauros eram completamente emplumados, outros nós acreditamos que deveriam ter penas, como o Tyrannosaurus Rex, mas não sabemos como. E acho que essas dúvidas também fazem parte do nosso fascínio por eles. São animais que sempre nos contam histórias, coisas maravilhosas para nós, mas ainda guardam muitos mistérios. Dinossauros são uma receita sensacional para nós, que precisamos aprender a conhecê-los”, disse Anelli.

Já o elenco do filme é recheado de nomes que estavam em alta na época, mas nenhum deles era a primeira opção para os respectivos personagens. O Dr. Alan Grant, por exemplo, foi recusado por Harrison Ford – que alegou ser muito parecido com seu já consagrado Indiana Jones – e Kurt Russell, cujo salário assustou Spielberg, até parar nas mãos do neozelandês Sam Neill. Considerado por Crichton o personagem humano mais especial da história, o Dr. Ian Malcolm precisava ser interpretado por um nome consagrado, então atores como Michael Keaton e Michael J. Fox chegaram a fazer os testes, mas foi mesmo Jeff Goldblum quem conseguiu entender a doce ironia do matemático e conquistou o papel. Já a Dra. Ellie Sattler chegou a ter atrizes em alta tentando conseguir o papel. Só que a decisão final veio após Spielberg assistir o filme As Noites de Rose (1991) e se encantar com o trabalho de Laura Dern. Com o trio definido, eles começaram a trabalhar seus personagens e a se entrosar. E com o elenco escolhido, eles partiram para as filmagens na Ilha Kauai, no Havaí. Em um dos dias, a região foi atingida pelo furacão Iniki, que teoricamente tirou um dia de trabalho com o elenco, mas acabou rendendo as imagens usadas no filme para mostrar os impactos da terrível tempestade que assola a fictícia Ilha Nublar na trama. Também foram gravadas passagens em Oahu, outra ilha havaiana, nos desertos de Montana e nos estúdios da Califórnia.

O resultado desse empenho todo de direção, elenco, estúdio e equipe técnica foi um autêntico fenômeno de crítica e público em 1993. Na época, o filme arrecadou assustadores US$ 914 milhões, fazendo dele a maior bilheteria da história, sendo superado quatro anos depois por Titanic (1997). Em 2013, com o relançamento nos cinemas convertido para o formato 3D, o longa arrecadou mais de US$ 108 milhões mundialmente, se tornando o primeiro da história da Universal e da carreira de Steven Spielberg a superar a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria. Nas premiações, o filme teve um desempenho igualmente fenomenal, sendo indicado ao Oscar nas categorias Melhores Efeitos Especiais, Melhor Som e Melhor Edição de Som, conquistando as três estatuetas. No BAFTA, foram duas indicações e uma vitória, na categoria Melhores Efeitos Especiais.

Diante desse sucesso tão significativo, os estúdios compreenderam que o investimento nas tecnologias revolucionárias, principalmente no avanço da computação gráfica, seria fundamental para o desenvolvimento de mundos mágicos e criaturas impressionantes que marcariam o futuro das grandes aventuras dos anos seguintes. Com isso, Spielberg novamente revolucionou o cinema e marcou novamente gerações, que em muitos casos tiveram seu primeiro contato com os dinossauros por meio das criações fantásticas do diretor, se permitindo sonhar e querendo aprender mais sobre esse mundo tão fascinante. E como era de se esperar, o filme rendeu uma franquia repleta de capítulos que, mesmo sem atingir o nível de excelência do original, segue mexendo com a imaginação de crianças e adultos até os dias de hoje.

Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros está disponível nos catálogos da Netflix, do Amazon Prime Video e do Star+.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Lançado nos EUA em 11 de junho de 1993, Jurassic Park provou que um raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar. Na década de 1970, Steven Spielberg causou uma revolução no cinema mundial ao lançar Tubarão (1975), filme considerado o primeiro Blockbuster do cinema mundial. E após 18 anos de uma carreira maravilhosa, marcada por aventuras que encantaram gerações, ele revolucionou a tendência iniciada por ele mesmo com a chegada de Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, uma aventura que misturou a ficção científica com o suspense para desenvolver uma história inigualável sobre a arrogância humana ante a natureza, embalada por uma temática que desperta a curiosidade de crianças e adultos até os dias de hoje: os dinossauros.

Inspirado no romance homônimo do ex-médico, autor, roteirista, produtor e diretor cinematográfico, Michael Crichton, o longa nasceu de uma época em que as possibilidades para as descobertas da ciência pareciam infinitas, dados os grandes avanços tecnológicos. Essa temática era tão interessante para o público, que houve uma briga pelos direitos de adaptação da obra desde antes do livro sequer ser lançado. Na época, a premissa do Thriller Tecnológico estava em alta e Crichton era um nome respeitado da ficção, já que inseria seus conhecimentos e termos médicos, aprendidos na universidade de Harvard, em suas obras, passando uma grande sensação de veracidade para o que ele escrevia. Assim, depois de Warner Bros., 20th Century Fox e o diretor James Cameron perderem essa disputa, a Universal Pictures aceitou a pedida altíssima do autor e adquiriu os direitos de adaptação, em 1990, por US$ 1,5 milhão, mais um bônus de US$ 500 mil e uma pequena participação nos lucros do filme.

Além de envolver a temática da moda, dos sonhos visionários de até onde a ciência poderia chegar, a história tinha o diferencial de ser ambientada em meio a criaturas que despertam o fascínio dos seres humanos, principalmente do público infantojuvenil: os dinossauros. Para entender melhor o motivo pelo qual esses animais são tão interessantes para nós, consultamos o professor Luiz Anelli, que é Paleontólogo, Professor do Instituto de Geociências da USP e atual diretor da Estação Ciência da USP. Para ele, esse tema cativa tanto as crianças não apenas por serem criaturas que efetivamente existiram, mas também porque permite que elas explorem e tenha esse primeiro contato com a chance de aprender e ensinar sobre a natureza.

“[Os dinossauros] são fascinantes paras as pessoas porque eles realmente foram animais fascinantes que viveram no mundo real, não vieram da fantasia. A gente vê os esqueletos deles nas rochas, nós os descobrimos, nós os vemos em museus. Eles também viveram em um mundo a ser descoberto, um mundo desafiador, na Era Mesozoica. Era esse mesmo mundo que vivemos hoje, mas em uma configuração totalmente diferente, com outros continentes, outros oceanos, outra biologia, outra atmosfera, outra astronomia! Um mundo cheio de vulcões, impactos de asteroides, grandes extinções… É um mundo vasto e rico a ser descoberto. E especialmente as crianças gostam disso, dessas descobertas, de ser desafiados no entendimento das coisas. Eu acho que esse mundo fascina mais as crianças porque elas têm a cabeça mais livre, aberta, para receber coisas novas. Conforme a gente vai ficando adulto, vai enchendo a cabeça de questões, responsabilidades… E não temos tanto tempo para os dinossauros. Eles se tornam tão importantes, especialmente para as crianças e para os mais jovens, porque os dinossauros, esse mundo de nomes e idades em que viveram, de tamanhos e geografias diferentes etc., dão às crianças a primeira oportunidade de se tornarem mestres, doutores em um determinado assunto. E impressionar os pais, os colegas, com isso se mostra um mundo estimulador intelectualmente para as crianças também. Catalogar os diferentes tipos de dinossauros, os tempos diferentes em que viveram, traz um conjunto muito fascinante de questões. Eles acertam nas crianças em cheio porque elas estão abertas a esse aprendizado novo, rico e desafiador. E depois, mais tarde, muitos continuam com essa paixão pelos dinossauros, que são seres incríveis e se tornam um assunto muito especial para todas as crianças. Elas têm toda razão de amar esses bichos”, explicou o professor.

Além disso, ele apontou que os dinossauros se tornam um tema interessante para alguns adultos por uma questão em grande parte afetiva.

“No meu caso, fui uma criança interessada em outro tipo de animais. Eu gostava dos insetos e animais que encontrava no quintal e cercavam minha região. Mas acabei me tornando paleontólogo por força do destino. Como professor dessa disciplina que trata dos dinossauros, eu os conheci já como adulto e foi fascinante. Os dinossauros foram meus melhores professores. […] Você vê que os adultos têm muitas lembranças boas desses animais. Nós não temos lembranças ruins dos dinossauros. Como o tempo deles já passou, perdoamos os dinossauros pelas presas que fizeram, pelos animais que mataram, e como foram extintos num evento terrível durante a queda do asteroide, o pior dia do mundo, então se torna uma história incrível”, concluiu o professor Luiz Anelli.

Nos bastidores, a Universal sabia que o nome perfeito para comandar essa aventura de 65 milhões de anos seria ninguém menos que o mago do entretenimento, Steven Spielberg. Inclusive, eles entenderam que o projeto valeria a pena o investimento por conta do interesse na obra manifestado pelo próprio Spielberg, em 1989, quando ele trabalhou com Crichton no roteiro que se transformaria na série televisiva E.R. – Plantão Médico. No entanto, mesmo com o diretor estando por dentro da história e sendo amigo do autor da obra, ele só aceitou comandar o filme depois que o estúdio deu sinal verde para a produção de um projeto que mexia numa questão bastante sensível a ele, o holocausto, que seria peça-chave em A Lista de Schindler. Dessa forma, com esses dois projetos ambiciosos aprovados, o diretor embarcou na jornada mais complicada de sua carreira ao dirigir os dois filmes simultaneamente. Sua rotina era de trabalho 24h por dia, já que iniciou as filmagens de A Lista de Schindler no término das filmagens de Jurassic Park. Então, ele gravava as cenas do filme sobre o holocausto de dia, na Polônia, e editava as aventuras de cientistas presos em uma ilha com dinossauros à noite.

E como toda adaptação cinematográfica, muito do livro se perdeu no desenvolvimento do roteiro. Inicialmente, Spielberg chamou a roteirista de Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991), Malia Scotch Marmo, para adaptar a história. Porém, o diretor não gostou do resultado, que cortava um dos principais personagens do livro, o Dr. Ian Malcolm, da trama. Isso fez com que ele percebesse que não haveria ninguém melhor para adaptar uma história de Michael Crichton do que o próprio Michael Crichton. E foi assim que ele convidou o autor para reescrever sua obra em uma linguagem cinematográfica. E segundo o próprio Crichton, foi usado apenas 30% do material original do romance no roteiro final, que contou ainda com a revisão de David Koepp. Entretanto, o mais importante foi mantido: a essência do livro que conquistou os leitores de todo o mundo.

Mas nenhum desafio foi tão grande quanto o da equipe de efeitos visuais, que precisou não apenas imaginar, mas se inspirar em registros reais para tentar construir animais extintos há milhões de anos, cuja aparência era baseada nas ossadas e outros registros fósseis encontrados pelos paleontólogos. Para isso, eles contaram com a consulta de paleontólogos da época e com a genialidade do lendário Stan Winston, que desenvolveu dinossauros mecatrônicos funcionais, que fizeram história nos cerca de 15 minutos de tela que esses lagartos gigantes ocupam no primeiro filme. O resultado desses efeitos práticos misturados com a tecnologia mais avançada de computação gráfica da época foi praticamente definir a imagem dos dinossauros no imaginário popular. Não é absurdo falar que há um nível de popularidade completamente diferente dos dinos antes e depois de Jurassic Park.

“O primeiro Jurassic Park mudou a história do cinema e trouxe o mundo dos dinossauros para o mundo popular. E acredite: os dinossauros eram muito restritos a pessoas que podiam comprar livros, ou bonecos caríssimos por aqui. Não era todo mundo que podia visitar museus gigantes em Nova York. A gente não tinha museu no Brasil com tanto destaque aos dinossauros. O primeiro Jurassic Park tem a ideia e as reconstruções, que para mim, são como uma sinfonia do Mozart. Aquilo é uma joia, um tesouro dessa arte que é o cinema. Então, um filme desse porte, com um diretor como Steven Spielberg, um drama e uma história daquelas… Aquilo fascinou o mundo. E, na minha opinião, escancarou os dinossauros para todo o mundo. Agora os dinossauros pertencem ao mundo. Então, sim, a gente descobre talentos quando a gente expõe o maior número de pessoas aos assuntos. De lá pra cá, o número de dinossauros no Brasil quintuplicou. No mundo, cresceu enormemente. Os museus ganharam novas configurações, novas salas com dinossauros”, explicou Luiz Anelli.

E mesmo com toda a maestria para recriar esses animais, ainda há uma parte do público que usa do avanço da ciência para tentar apontar falhas no design mais impressionante já feito na mecatrônica cinematográfica. Alguns – poucos – dizem que o filme não é tão crível porque traz dinossauros sem penas e com comportamentos que atualmente não são mais apoiados pela ciência. No entanto, na época, eram teorias em debate. E para o professor Anelli, essa incerteza sobre os dinossauros é justamente um dos pontos mais instigantes do tema.

“Dinossauro nunca é um problema. A falta de entendimento sobre eles sempre vai nos acompanhar. A gente sempre “não sabe” alguma coisa sobre os dinossauros, né? Tanto porque [os dinossauros] trazem questões difíceis e que não se preservaram nas rochas, como o som que eles faziam; as cores dos dinossauros, que hoje, sabemos quais eram as de cinco dinossauros, mas existem 1500 espécies; E as questões de convívio social, por exemplo. Então nós convivemos com um monte de dúvidas. Sobre a aparência deles, se eram todos cobertos de penas ou apenas parcialmente, a gente não sabe sobre todos ainda. Alguns dinossauros eram completamente emplumados, outros nós acreditamos que deveriam ter penas, como o Tyrannosaurus Rex, mas não sabemos como. E acho que essas dúvidas também fazem parte do nosso fascínio por eles. São animais que sempre nos contam histórias, coisas maravilhosas para nós, mas ainda guardam muitos mistérios. Dinossauros são uma receita sensacional para nós, que precisamos aprender a conhecê-los”, disse Anelli.

Já o elenco do filme é recheado de nomes que estavam em alta na época, mas nenhum deles era a primeira opção para os respectivos personagens. O Dr. Alan Grant, por exemplo, foi recusado por Harrison Ford – que alegou ser muito parecido com seu já consagrado Indiana Jones – e Kurt Russell, cujo salário assustou Spielberg, até parar nas mãos do neozelandês Sam Neill. Considerado por Crichton o personagem humano mais especial da história, o Dr. Ian Malcolm precisava ser interpretado por um nome consagrado, então atores como Michael Keaton e Michael J. Fox chegaram a fazer os testes, mas foi mesmo Jeff Goldblum quem conseguiu entender a doce ironia do matemático e conquistou o papel. Já a Dra. Ellie Sattler chegou a ter atrizes em alta tentando conseguir o papel. Só que a decisão final veio após Spielberg assistir o filme As Noites de Rose (1991) e se encantar com o trabalho de Laura Dern. Com o trio definido, eles começaram a trabalhar seus personagens e a se entrosar. E com o elenco escolhido, eles partiram para as filmagens na Ilha Kauai, no Havaí. Em um dos dias, a região foi atingida pelo furacão Iniki, que teoricamente tirou um dia de trabalho com o elenco, mas acabou rendendo as imagens usadas no filme para mostrar os impactos da terrível tempestade que assola a fictícia Ilha Nublar na trama. Também foram gravadas passagens em Oahu, outra ilha havaiana, nos desertos de Montana e nos estúdios da Califórnia.

O resultado desse empenho todo de direção, elenco, estúdio e equipe técnica foi um autêntico fenômeno de crítica e público em 1993. Na época, o filme arrecadou assustadores US$ 914 milhões, fazendo dele a maior bilheteria da história, sendo superado quatro anos depois por Titanic (1997). Em 2013, com o relançamento nos cinemas convertido para o formato 3D, o longa arrecadou mais de US$ 108 milhões mundialmente, se tornando o primeiro da história da Universal e da carreira de Steven Spielberg a superar a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria. Nas premiações, o filme teve um desempenho igualmente fenomenal, sendo indicado ao Oscar nas categorias Melhores Efeitos Especiais, Melhor Som e Melhor Edição de Som, conquistando as três estatuetas. No BAFTA, foram duas indicações e uma vitória, na categoria Melhores Efeitos Especiais.

Diante desse sucesso tão significativo, os estúdios compreenderam que o investimento nas tecnologias revolucionárias, principalmente no avanço da computação gráfica, seria fundamental para o desenvolvimento de mundos mágicos e criaturas impressionantes que marcariam o futuro das grandes aventuras dos anos seguintes. Com isso, Spielberg novamente revolucionou o cinema e marcou novamente gerações, que em muitos casos tiveram seu primeiro contato com os dinossauros por meio das criações fantásticas do diretor, se permitindo sonhar e querendo aprender mais sobre esse mundo tão fascinante. E como era de se esperar, o filme rendeu uma franquia repleta de capítulos que, mesmo sem atingir o nível de excelência do original, segue mexendo com a imaginação de crianças e adultos até os dias de hoje.

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