O cineasta, ator e produtor Kenneth Brannagh (‘Morte no Nilo‘) fala em uma entrevista exclusiva sobre a importância de seu novo filme autobiográfico, ‘Belfast’, indicado a sete estatuetas no Oscar 2022.
“’Belfast’ é a minha história pessoal em tela. Belfast é uma cidade repleta de histórias, sobretudo no final dos anos de 1960, onde o lugar passou por um período bastante tumultuado na sua história. Era dramático e, às vezes, violento”, confessa Brannagh.
“Eu e minha família fazemos parte daquela época. Para mim, o filme sempre foi a história da nossa época. Essa coisa sempre vinha à tona quando eu pensava em escrever algo sobre a Irlanda e nosso período em Belfast”, completa o diretor.
O período tumultuado e violento que Kenneth Brannagh se refere, marcou a história recente da Irlanda do Norte. Para entender os problemas políticos e sociais que aparecem no filme, é preciso detalhar um pouco mais a respeito.
Entenda o começo do conflito
Observando o panorama, vemos que de um lado estava o povo da Igreja Protestante, estes que controlavam o Governo. Já do outro estava os fiéis da Igreja católica, que eram minoria e se sentiam oprimidos no lugar.
Tudo começou durante uma campanha organizada pela Associação dos Direitos Humanos da Irlanda do Norte afim de encerrar a discriminação contra o povo católico.
Em meio a isso, aconteceram vários confrontos violentos pelo país, com um deles sendo tratado como o principal mote do conflite. Trata-se de uma marcha que aconteceu no dia 5 de outubro de 1968, na cidade de Irish Derby, Irlanda.
O dia do luto
O dia 30 de janeiro de 1972, uma espécie de massacre covarde, ficou conhecido como O Domingo Sangrento, onde 13 pessoas foram mortas a tiros pelo Exército Republicano Irlandês, com outras 15 saindo feridas.
No fim das contas, cerca de 15 mil pessoas haviam se reunido para marchar contra a discriminação do bairro de Londonderry. O conflito durou cerca de 30 anos, se iniciando na década de 1960 e chegando ao em 1998.
Na resolução, desavenças chegaram ao fim com um acordo que determinou um cessar-fogo, onde aconteceu a entrega das armas do Exército Republicano Irlandês, diversas reformas políticas e a retirada do Exército Britânico.
O saldo da guerra
Durante essas três décadas de conflito, foi computado que cerca de quase 4 mil pessoas morreram, entre elas se tem a margem que 52% desse número eram civis inocentes.
Para entender a geografia dos países, a Irlanda é localizada em uma ilha dividida entre a República da Irlanda. Oficialmente chamada apenas de Irlanda, o lugar ocupa quase todo território. Com a parte restante sendo chamada de Irlanda do Norte, fazendo assim parte do Reino Unido.
Kenneth Brannagh diz que: “Essa sempre foi uma história algo muito importante na vida de todos nós, seja homem ou mulher, quando enfim acontece a passagem para a vida adulta. Quando se perde a inocência e surgem novas responsabilidades. Às vezes novas preocupações são descobertas. Procuramos entender quando acontece esse momento, neste caso específico foi em Belfast no ano de 1969, com tudo sendo acelerado a nossa volta”.
“O filme destaca um pequeno grupo familiar, bem definido, numa situação bastante ameaçadora e estressante. A família, o tempo todo, precisa tomar uma grande decisão que mudará suas vidas. Não é um filme épico no sentido histórico ou biográfico, mas, sim, a vida de pessoas indiretamente envolvidas naquele conflito”, complementa o cineasta britânico.
Principais influências
Kenneth Brannagh também disse que teve como a maior fonte de inspiração os antigos filmes de western, dos quais usou para construir a estrutura estética do roteiro.
“Veja só, a história é contada através dos olhos de um menino de 9 anos de idade. Ele é um garoto que assistia muita televisão e vários filmes. E desde àquela época, ele já começava a ligar várias dessas suas experiências com outros encontros e histórias imaginárias”, informou o diretor.
“Uma das coisas que nós exploramos foi quantos westerns eram exibidos na TV durante aquela época, e como a cidade de Belfast poderia parecer o Velho Oeste. Quando escrevi o roteiro, realmente imaginei que estava escrevendo um faroeste. Um western que foi construído na memória do garoto Buddy”, fala Brannagh emocionado.
Na trama, um menino experimenta o amor, a alegria e a dor da perda. Em meio a conflitos políticos e sociais, o garoto tenta encontrar um lugar seguro para sonhar, enquanto sua família busca uma vida melhor para todos. ‘Belfast’ estreou nos cinemas do Brasil nesta última quinta-feira (10) e considerado um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme, ao lado de ‘Ataque de Cães’, de Jane Campion.
Texto realizado em parceria com Jânio Nazareth.