Com o sucesso de público e crítica do novo Kong: A Ilha da Caveira, que marca 78% de aprovação da imprensa no site Rotten Tomatoes e soma US$ 260 milhões em bilheteria mundialmente desde sua estreia no início de março, se tornando o nono filme mais visto neste ano e sétimo nos EUA – e isso é apenas o começo de sua carreira – decidimos revisitar a trajetória do gorila mais famoso da sétima arte no cinema. A nova lista do CinePOP apresenta todos os filmes de King Kong comentados para você.
PS. Na lista, decidimos comentar somente os longa-metragens do personagem, deixando de fora os curtas e as séries de TV e animadas do símio estrela. Vem com a gente conhecer por onde o macacão já andou.
King Kong (1933)
Tudo começou aqui, neste verdadeiro marco da sétima arte. O primeiro King Kong deve ser reverenciado pelos avanços técnicos que serviram para cimentar o que conhecemos hoje como blockbuster entretenimento de efeitos especiais. Tudo nasceu de uma ideia das mentes de Merian C. Cooper e Edgar Wallace, adaptado na forma de um roteiro por James Creelman e Ruth Rose (sim, uma mulher com participação ativa nos primórdios da indústria do cinema).
A história clássica todos já conhecem, e apresenta uma equipe de filmagem viajando até uma misteriosa ilha tropical, acidentalmente encontrando um verdadeiro elo perdido. Entre dinossauros ainda vivos, eles se deparam com um gigantesco gorila, tido como rei do local. Eles o capturam e levam para Nova York a fim de exibi-lo ao público como a “oitava maravilha do mundo”. A protagonista é uma atriz loira por quem o gorilão se afeiçoa, interpreta pela estrela da época Fay Wray. A direção do longa ficou a cargo de Ernest B. Schoedsack e do próprio Merian C. Cooper, que não foram creditados, mas ajudaram a implementar a técnica do stop motion na época, tornando o filme um verdadeiro sucesso inesquecível.
O Filho de King Kong (The Son of Kong, 1933)
Se achamos hoje que as sequências de sucessos do cinema chegam correndo a galope, precisamos levar em conta que o cinema comercial sempre trabalhou de tal forma. Com o sucesso de King Kong não foi diferente e uma continuação saiu do papel no mesmo ano – tratava-se de uma época em que as produções eram mais baratas e mais práticas para serem desenvolvidas. Novamente escrito pela roteirista Ruth Rose e dirigido por Ernest B. Schoedsack, o filme mostra os homens que capturaram Kong, de volta para a infame ilha.
Além da roteirista e do diretor, parte do elenco também voltou para a sequência, incluindo Robert Armstrong, no papel de Carl Denham, e Frank Reicher como o Capitão Englehorn. No lugar de Fay Wray e sua Ann Darrow, uma nova heroína: Hilda, papel de Helen Mack, afinal o que seria de um filme de monstro sem uma mocinha. Ao retornarem para a ilha original a fim de mais aventuras com dinossauros, os exploradores se deparam também com o filho de Kong, uma criatura semelhante, porém muito menor em escala e mais dócil. Novamente a técnica do stop motion foi a utilizada na criação do macaco, mas nem precisa ser dito que a obra não obteve ao longo da história a relevância do original e a maioria das pessoas sequer sabe de sua existência.
King Kong vs. Godzilla (Kingu Kongu tai Gojira, 1962)
Um dos objetivos da Warner com o novo Kong: A Ilha da Caveira é finalmente colocar os monstros gigantes do cinema para brigar, em um encontro de King Kong com o lagartão Godizlla – igualmente propriedade do estúdio agora. O que talvez nem todos saibam é que tal encontro megalômano já ocorreu nos cinemas, numa produção 100% japonesa.
Se para os norte-americanos o gorila King Kong é o rei dos monstros, para os japoneses a história é outra, tendo como referência no gênero o escamoso Godzilla. Em 1954, era lançado o primeiro longa estrelado pela criatura no Japão. Criado por Ishirô Honda, o mote era o medo da era nuclear, que deu origem ao terrível lagarto com poderes atômicos. Não demorou para que as mentes criativas decidissem juntar as duas grandes maravilhas do mundo para um combate mortal. A trama do filme, dirigido pelo próprio Honda, traz Kong para o Japão, capturado por uma companhia farmacêutica. É claro que o gorila não permaneceria muito tempo em cativeiro e ao se soltar, se depara com o tesouro nacional, Godzilla.
A Fuga de King Kong (Kingu Kongu no gyakushû, 1967)
Alguns anos depois, Ishirô Honda, dando um tempo de seu monstro principal Godzilla, resolve investir outra vez no famoso símio para estrelar um novo longa-metragem de sua autoria. Obviamente, mais uma vez passado no Japão, este filme se aproxima bastante do que os artistas do país criaram por décadas, personagens de nomes curiosos, vilões caricatos e, é claro, robôs gigantes. Pense nos heróis das décadas de 1970 (Spectreman e Ultrman) e 1980 (Changeman e Jaspion), a estrutura é sempre a mesma e se repete aqui também.
Um ditador cruel, chamado Doctor Who (!?), papel de Hideyo Amamoto, e sua parceira de vilania, Madame Piranha (!!!???) – Madame X na versão norte-americana – papel de Mia Hama, desenvolvem uma réplica robótica de Kong para escavar minérios altamente radioativos, chamados Elemento X. Quando a criatura mecânica falha, eles decidem capturar o verdadeiro Kong para o serviço, de quebra sequestrando também a Tenente Susan Watson (Linda Miller), por quem o monstro se afeiçoou.
King Kong (1976)
Primeiro filme americano do gorila desde 1933, esta nova versão é igualmente uma refilmagem e uma reimaginação. O novo longa pega a ideia e o conceito do original e acrescenta novas guinadas em sua trama. Para começar, esta é uma produção de Dino De Laurentiis, lendário empreendedor do ramo, cujos filmes nem sempre representavam qualidade. A história apresenta não mais uma equipe de filmagem, e sim funcionários de uma companhia petrolífera, viajando até a famosa ilha a fim de encontrar recursos naturais.
O local também está mudado e não contém mais as criaturas pré-históricas, as quais estávamos acostumados. Apenas Kong é mantido (afinal não teríamos um filme sem ele) e precisa se contentar em combater uma enorme cobra ao invés dos temíveis tiranossauros. Os personagens não são mais os mesmos também e a mocinha Ann dá lugar a Dwan, de Jessica Lange, por exemplo. No entanto, a paixão da criatura pela loira permanece intacta. Essa versão traz ainda as participações de Jeff Bridges (o herói) e Charles Grodin. Outra modificação no filme dirigido pelo britânico John Guillermin (Inferno na Torre) é o desfecho. Desta vez, o macaco escala as Torres Gêmeas, ao invés do Empire State, e é abatido não por aviões, mas por um helicóptero. A proposta do filme, passado em seu tempo real (na década de 1970) e não na década de 1930, era uma versão mais séria e menos fantasiosa – o que se torna uma tarefa ingrata já que o tema é um gorila gigante. Por falar em Kong, o stop motion dá lugar a um sujeito fantasiado nesta nova roupagem.
King Kong 2 (King Kong Lives, 1986)
Embora não tenha sido o sucesso esperado, o novo King Kong marcou uma geração – aqui no Brasil, com as reprises no canal SBT. Novamente produzido por De Laurentiis e dirigido por Guillermin, esta continuação chegou de forma tardia, dez anos depois do filme com Bridges e Lange – que, de forma sábia, não podem ser encontrados em lugar algum aqui. A ideia descarada, visando apenas lucrar em cima da marca conhecida de Kong, tenta desfazer o fim do filme de 1976, afirmando que apesar da queda, o gorila sobreviveu.
Além disso, Kong sente o chamado da natureza e parte ao encontro de uma Kong fêmea (sim, você leu certo!), chamada Lady Kong, causando todo tipo de caos e destruição no caminho. O filme se tornou notório por sua falta de qualidade, figurando em muitas listas dos “melhores filmes ruins de todos os tempos”. Até mesmo os envolvidos se pronunciaram sobre o, hoje, status cult da produção. No elenco, Linda Hamilton, recém-saída do sucesso de O Exterminador do Futuro (1984), vive a protagonista feminina Amy Franklin, e Brian Kerwin vive o herói Hank Mitchell – num papel que seria de Peter Weller, o ator (numa igualmente sábia decisão) terminou optando pelo protagonista de Robocop – O Policial do Futuro (1987).
King Kong (2005)
Ao contrário de todas as outras produções que vieram após o original de 1933, esta versão comandada pelo cultuado Peter Jackson (da trilogia Senhor dos Anéis) foi criada como homenagem máxima. Hoje em dia muito se fala sobre o fan service de filmes que existem quase que exclusivamente para reverenciar clássicos do passado. Bem, se a homenagem for bem feita e bem intencionada, a proposta pode fluir muito bem. É o caso com esta roupagem altamente tecnológica, que respeita detalhadamente o clássico, além de adicionar diversos outros elementos, preenchendo as lacunas ausentes ao longo da história.
Não é ousadia afirmar que o longa de Jackson sobressai o filme original, e não é para menos, já que conta com quase uma hora e meia a mais de duração. Os personagens são mais bem desenvolvidos, assim como a trama é mais detalhada e as cenas são exploradas de forma mais satisfatória. Jackson brinca com o estilo e com o gênero, acrescentando mais drama, terror, suspense e afeição à mistura. É como se o diretor escrevesse uma carta de amor apaixonada ao longa original, declarando-se como o maior fã deste marco do cinema. Além disso, os personagens são respeitados, e Naomi Watts rouba a cena no papel de uma Ann Darrow mais humana, uma atriz precisando comer do lixo na trágica época da depressão nos EUA – até a época é respeitada e o filme se passa na década de 1930. O gorilão, através de uma impressionante criação digital, personificado por captura de movimento (interpretado pelo ator Andy Serkis), também recebe características mais humanizadas e seus sentimentos transparecem. A versão de Jackson, indicada a três prêmios no Oscar, permanece como a definitiva estrelada pelo famoso macaco.
Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017)
Bem, vocês já conhecem a minha opinião sobre esta nova aventura envolvendo o gorila mais famoso do cinema – se ainda não viram cliquem na crítica neste link. Mistura de aventura de matinê, com filmes de guerra, A Ilha da Caveira é o mais blockbuster dos filmes de Kong. A versão de Jackson se comporta como homenagem plena, como uma reverência ao cinema clássico e aos filmes mudos, por exemplo. A Ilha da Caveira é cinema adrenalina de ação e o mais próximo dos filmes de super-heróis atuais que um filme do macaco já chegou no cinema.
Saído da Universal para as mãos da Warner, o novo filme traz um elenco renomado de nomes do momento, como Brie Larson (a Capitã Marvel) e Tom Hiddleston (o Loki), para criar um elo com a garotada. A proposta, no entanto, é unicamente preparar um crossover com outro monstro amado do cinema, o citado Godzilla; e em breve veremos um filme com as duas feras se digladiando. Será que nossos corações aguentarão?
Bônus:
Monstro de um Mundo Perdido (Mighty Joe Young, 1949)
Pegando carona no sucesso de King Kong (1933), os envolvidos com o filme foram contratados pela produtora RKO para criar um novo longa nos mesmos moldes. Desta forma, com roteiro de Ruth Rose e Merian C. Cooper, direção de Ernest B. Schoedsack e até mesmo a participação do ator Robert Armstrong, surgia o gorila gigante Joe Young. Na trama, passada na África, a jovem Jill Young (Terry Moore) cria um filhote de gorila. Anos mais tarde, o animal ganha formas gigantescas e desperta atenção de um inescrupuloso empresário, que pretende levá-lo para a cidade a fim de exibi-lo ao público. A obra foi o primeiro filme a contar com os efeitos em stop motion criados pelo lendário Ray Harryhausen (Jasão e o Velo de Ouro e Fúria de Titãs)
Por essa premissa deu para notar bem as semelhanças entre a nova criação e a antiga da trupe de artistas. A afeição do gorila por uma mulher, a ganância do homem, o animal escravizado na cidade, está tudo lá. Para não dizer que são completamente idênticos, Joe Young é levado para Hollywood, Los Angeles, e não Nova York. Os produtores planejavam uma sequência de Joe Young na qual o gorila encontraria Tarzan, a lenda da selva, na época vivido pelo ator Lex Baker – infelizmente a produção da ideia não vingou. Uma refilmagem do clássico foi produzido em 1998, com a musa Charlize Theron no papel de Jill Young, e o saudoso Bill Paxton também no elenco.