Nova versão do crossover da DC Comics promete entregar muito material que ficou de fora do filme de 2017
Com a data de estreia marcada para as 5 horas da manhã desse dia 18 de Março nas plataformas de Video on Demand, Liga da Justiça de Zack Snyder sem dúvida conquistou o posto de um dos mais aguardados lançamentos para o início de 2021 sem ter uma previsão de lançamento nos cinemas. O contexto geral, fora do campo de entretenimento, também intensifica a presença de produções como o corte de Zack Snyder; afinal o mundo foi virado de cabeça para baixo pela pandemia de Covid-19, todos os setores foram afetados e uma grande produção de super-heróis pode ser um bom remédio temporário.
É claro que a dúvida sobre o que essa nova versão, apelidada pela internet de Snydercut, pode trazer de novidade; afinal de contas, se está discutindo um filme que já foi para os cinemas em 2017, sofreu diversas críticas e já foi lançado no mercado de home video. A história sobre como o Snyder Cut surgiu começou ainda durante a produção de Liga da Justiça, quando o diretor ao mesmo tempo em que gravava o filme de acordo com as exigências do então chefe da DC para o cinema, Geoff Johns, também produzia materiais relacionados à sua ideia do que era para ser o filme final.
Os boatos de um afastamento do Zack Snyder já não eram novidade àquela altura visto que desde a complicada estreia de Batman vs Superman: A Origem da Justiça muitas pessoas da mídia especializada e do público em geral defendiam abertamente a demissão do diretor e um replanejamento drástico da sua visão para o universo da DC nos cinemas. Tanto por ter um contrato com o cineasta quanto pelo filme da Liga da Justiça já estar em pleno andamento, a Warner segurou a ideia da demissão e aguardou pelo momento certo.
Acontece que ele veio da pior forma imaginável. No final de maio de 2017, Snyder se afastou da produção devido a uma tragédia familiar; sua filha, Autumn Snyder, tirou a própria vida e o diretor precisou se concentrar em amparar a família (uma esposa e sete filhos). Em uma entrevista dada ao Hollywood Reporter no mesmo ano ele disse como a agenda da produção dificultou sua aproximação com a família.
“As demandas desse trabalho são bastante intensas. Te consomem completamente. Nos últimos dois meses, eu tenho percebido… eu decidi me afastar do filme para estar com a minha família, estar com meus filhos, que realmente precisam de mim. Todos eles estão passando por um momento difícil. Eu estou passando por um momento difícil”.
Dessa forma, o diretor anunciou seu afastamento da pós-produção e o estúdio imediatamente contatou Joss Whedon para fazer as devidas modificações que a diretoria desejava. Whedon foi a escolha óbvia, até então, por ter dirigido os dois primeiros Vingadores; para o comando da Warner uma aproximação com o tom narrativo oferecido pelos filmes da Marvel Studios seriam um sucesso garantido com o público e afastaria de vez o formato mais “sombrio e realista” projetado por Snyder e Christopher Nolan ainda em Homem de Aço.
Junto com a mudança na liderança vieram decisões técnicas, como a substituição do compositor Junkie XL por Danny Elfman e diversas refilmagens que retiraram alguns conteúdos e inseriram outros tantos (diminuindo o tempo de exibição para duas horas, copiando o modelo Marvel), justamente para se afastar o máximo possível da concepção original de Zack Snyder.
O que se viu foi um performance insatisfatória nas bilheterias com pouco mais de US$ 657 milhões (o plano original era de que o primeiro crossover com alguns dos maiores nomes da DC Comics atingisse no mínimo US$ 1 bilhão) feitos mundialmente, mediante a um orçamento de US$ 300 milhões. Domesticamente a situação foi bem pior, pois o filme conseguiu fazer apenas US$ 229 milhões, não conseguindo assim cobrir os custos de produção.
Eventualmente todo o pós lançamento de Liga da Justiça foi marcado por críticas negativas, que se apoiaram sobre o péssimo vilão, desenvolvimento insatisfatório dos personagens estreantes e excesso de CGI; com isso marcando o filme com uma avaliação de 40% por parte da crítica especializada. Outro fator bastante negativo que repercutiu após a estreia foram as denúncias feitas pelo ator Ray Fisher (o Ciborgue) sobre como Joss Whedon e Geoff Johns lidavam com a equipe do filme, chamando a atenção para momentos envolvendo abusos de poder feitos por ambos.
Isso eventualmente levou a uma grande investigação interna aberta pela Warner e o surgimento de mais denúncias contra Joss Whedon feitas por atrizes que trabalharam com ele na série Buffy, a Caça-Vampiros. Em meio a todo esse caos, Zack Snyder começou a se movimentar bem mais que o usual na rede social Vero, liberando com certa frequência diversas imagens com CGI inacabado e storyboards de cenas nunca vistas antes em Liga da Justiça.
Não foi até janeiro de 2018 que as primeiras informações sobre o estado avançado com que o material guardado por Snyder estava começaram a repercutir, levantando a possibilidade de que com investimento necessário esses materiais poderiam receber o devido acabamento. Na mesma proporção o movimento Release Snyder Cut foi ganhando força nas redes sociais ao passo que personalidades como Kevin Smith e Jason Momoa (Aquaman) empolgaram os fãs afirmando que essa versão existia e poderia ser liberada algum dia.
Por volta de 2020, Snyder anunciou que sua versão seria finalizada e lançada no serviço de streaming HBO Max. Ainda segundo o diretor, o custo dessa “pós-produção” giraria em torno de US$ 20 a US$ 30 milhões, além da possibilidade do filme ser lançado como um longa de quatro horas (opção que foi escolhida) ou como uma minissérie de seis episódios.
Mas, afinal, qual vai ser a diferença entre essa nova versão e aquela vista em 2017? A primeira é uma participação maior do vilão Darkseid, que já havia sido confirmado em storyboards divulgados no passado mas, conforme visto no último trailer, terá ao menos uma participação rápida, coisa que não ocorreu anteriormente. Um redesign do vilão Lobo da Estepe também já se sabe que irá acontecer, afastando o rejeitado visual de 2017.
Zack Snyder já havia dito anteriormente, além de que o material divulgado nos últimos dias dá a entender isso, que o futuro pós-apocalíptico (apelidado de Knightmare) introduzido em Batman vs Superman vai ter uma parcela de duração importante no corte do diretor; dessa forma trabalhando melhor o Batman esteticamente semelhante a Mad Max, o Superman ditador abertamente inspirado pelos quadrinhos de Injustice, o Ciborgue, cuja participação foi bastante reduzida anteriorment,e e introduzindo uma nova visão do Coringa interpretado por Jared Leto em Esquadrão Suicida.
Em entrevista concedida à Borys Kit para o The Hollywood Reporter em 2020, ele disse que o filme “será uma uma coisa totalmente nova, e, especialmente falando para aqueles que viram a versão do filme lançada, uma nova experiência à parte daquele filme. Você provavelmente assistiu a um quarto do que eu fiz”.
Outras potenciais mudanças que podem surgir são: uma participação, não se de que tamanho, do Caçador de Marte (sua presença no filme havia sido confirmada por Snyder por meio de uma postagem de um storyboard mostrando a composição da cena em que o herói revela quem ele era quando disfarçado; ninguém menos do que General Swanwick presente em ambos Homem de Aço e Batman vs Superman); o famoso traje negro usado pelo Superman nas HQs após voltar à vida também vai fazer uma aparição no corte do diretor – anteriormente ele havia ficado relegado a uma cena excluída presente nos extras do DVD de 2017.
No campo da especulação de possíveis participações aparecem nomes que vão desde o Lanterna Verde de Ryan Reynolds até Jason Todd (Robin morto pelo Coringa) em um flashback mas sem qualquer sinalização positiva do diretor. Sobre a história do filme em si é esperado que a essência ainda seja a mesma: a busca do Lobo da Estepe para reunir as caixas maternas e assim transformar a Terra em uma nova Apokolips, ao mesmo tempo que Batman reúne um grupo de pessoas extraordinárias para impedi-lo.
Ainda assim, o caminho para o fim e o final em si devem diferir do que já se conhece até pelo tempo de exibição que a película terá e o número de personagens envolvidos. Zack Snyder’s Justice League não é o primeiro filme a ter uma reimaginação do diretor (Blade Runner teve sete versões desde a estreia em 1982 e Superman II teve um corte do Richard Donner) mas é primeiro cujo corte foi promovido exclusivamente pelo público e que pode muito bem sinalizar a chegada de novos tempos para Hollywood, em que os estúdios tenderão a ouvir as redes sociais com muito mais atenção.