Série fenômeno já passou por outros serviços de streaming no passado
Seguindo a mecânica de rotatividade no catálogo dos serviços de streaming, a Netflix incluiu no seu “cardápio” a presença de Lost – bem a tempo do aniversário de 20 anos da estreia da série. Não é a primeira vez que o título figura em uma empresa do tipo, visto que anteriormente o Prime Video detinha os direitos de exibição.
Esse é aquele tipo de seriado que dispensa maiores introduções e tem um nome automaticamente reconhecível para muitos. Iniciada em setembro de 2004, a série primeiramente introduziu para o público o acidente envolvendo o voo 815 da Oceanic que, durante o percurso Sidney\Los Angeles, sofreu uma queda em uma ilha paradisíaca mas completamente isolada.
Esse acidente, no entanto, foi apenas a primeira de muitas desventuras que os passageiros encontrarão na ilha que é tudo menos vazia. Criada pela dupla até então desconhecida J. J. Abrams e Damon Lindelof, Lost apresenta um leque bastante atrativo de personagens, cada um com personalidades definidas desde o início e que variam entre si; isso acaba tornando cada sobrevivente bastante único e cativante.
Narrativamente falando a série utilizou um esquema de flashbacks intercalados com o presente; ou seja, em momentos chave de algum personagem em certo episódio a cena seguinte levaria a uma situação na vida dele antes de embarcar no avião e que, de alguma forma estaria relacionada com a questão que ele tinha quer resolver no presente. Dessa forma a direção consegue expor mais claramente um crescimento de determinado personagem.
Flashbacks aliás que possuem uma outra função narrativa e apresentaram para o mundo tanto uma característica artística de J. J. Abrams quanto pavimentaram a série para seu polêmico final: mystery box. Esse termo foi exposto pelo próprio Abrams anos depois de Lost como uma representação do estilo dele em fomentar um mistério ou uma questão em aberto para com o público durante todo o filme ou seriado, para que no final seja apresentada uma explicação.
Dessa maneira ele possui um jeito “simples” de manter o interesse do público até o fim. No entanto, o calcanhar de Aquiles dessa estratégia reside justamente na necessidade de elucidar o mistério e o quão tortuoso pode ficar o caminho da história até esse clímax. Lost ainda é, na filmografia do J. J. Abrams, um exemplo do quanto o uso de mystery box pode prejudicar a história que se deseja contar, pois dessa forma o foco maior é a questão em aberto e não os personagens ou seus objetivos. A partir do momento que eles deixam de ser o foco para um mistério, as chances da trama não terminar bem fechada é muito grande.
Todos os problemas e questões levantados ao longo da projeção precisam de uma resposta que pode ou não ser coerente. No caso das desventuras dos sobreviventes na ilha, foi cometido o erro de acumular, ao longo de seis temporadas, inúmeras questões deixadas em aberto até chegar ao ponto que os personagens não mais tinham a trama girando para melhor trabalhá-los, mas havia se tornado o contrário; eles existiam unicamente para manter os mistérios no ar e produzirem novos.
Partindo para um ponto de vista da equipe técnica, é importante lembrar que Lost foi uma grande vitrine para muitos nomes famosos no cinema atual. O compositor Michael Giacchino se tornou muito mais proeminente no período em que esteve à frente das trilhas sonoras da série; em 2010 ele recebeu um Oscar de melhor Trilha Sonora Original por seu em trabalho em UP – Altas Aventuras.
Durante todo seu período de exibição, a série recebeu frequentes indicações ao Emmy e Golden Globe Awards, bem como vencendo diversos prêmios menores. Seu elenco e história instigantes eram constantemente apontados como o motivo do sucesso. Culturalmente, a série foi um fenômeno durante toda sua existência, sendo a primeira a inspirar o surgimento de comunidades inteiras em uma internet que ainda caminhava para algo mais abrangente.
Ao mesmo tempo que Lost é um exemplo sobre o perigo de apoiar toda história em prol de mistérios, ela goza de muito carinho por aqueles que acompanharam todas as paranormalidades que aconteciam na ilha ou o drama pessoal de cada sobrevivente, servindo também como um exemplo positivo de bom desenvolvimento de personagens na televisão.