Por Octavio Caruso
Antes de abordar o filme, acho válido comentar brevemente sobre a polêmica do cinema nacional atual. Considero um equívoco comparar as comédias da Globo Filmes com o trabalho que era realizado por Oscarito, Grande Otelo, Ankito e Zé Trindade, entre outros nomes das chanchadas da Atlântida e da Herbert Richers, forçando um discurso simplista que coloca os profissionais da crítica como adeptos de dois pesos e duas medidas. As obras precisam ser analisadas no contexto de sua época. O popular não é sinônimo de popularesco. Qualquer filmagem amadora que receba divulgação excessiva em todos os programas da empresa acabará levando público ao cinema. A qualidade é o elemento que menos importa nessa equação.
Na época das chanchadas, sem muita divulgação, o público lotava as sessões. Mazzaropi, sem divulgação alguma, levando pedrada dos críticos, lotava as sessões. Os astros da Globo Filmes, sem a máquina de divulgação da empresa, presos aos roteiros fracos de suas produções, com diretores pouco inspirados, seriam impactados por um choque de realidade. Leandro Hassum, com todo seu inegável carisma, numa produção da Record ou do SBT, não ficaria sequer uma semana em cartaz. Cinema não pode ser subproduto de qualquer empresa, é uma Arte que precisa ser levada a sério. O monopólio impede a necessária competitividade, que é essencial na formação de uma indústria.
‘Loucas pra Casar’ não é das piores, já que uma reviravolta no terceiro ato, mérito do roteiro de Marcelo Saback e Julia Spadaccini, muda a perspectiva sobre o tema, mas nenhum pássaro consegue voar com asas quebradas. Um plot twist interessante, que foge do raso usual nas produções da empresa, melhorar a análise de uma obra, por si só, já demonstra a fragilidade de uma produção. Desesperado, busco me agarrar a algo que modifique a sensação amarga de ter, mais uma vez, assistido na tela grande uma trama, e um desenvolvimento, que caberiam perfeitamente na grade televisiva, com todos os vícios do formato. Há também um problema de sincronização com o áudio, algo que sempre atormentou o cinema nacional, mas que, levando em conta a verba do projeto, poderia ter sido amenizado.
É um humor escrito para ser lido em teleprompter, falado como num palco de teatro, com ritmo de sitcom, dirigido por alguém que parece saber exatamente a hora das inserções dos intervalos comerciais. Na dúvida, apela para o pastelão pouco inspirado, conduzindo a cenas patéticas. A tolice nas mãos de um visionário como Blake Edwards podia se tornar algo brilhante, mas nas mãos de Roberto Santucci soa apenas tolo, com execução descuidada. Com subtramas que formam uma colcha de retalhos de comédias americanas, emolduradas por alguns diálogos que se alongam além das punchlines, o que evita o desconforto é a atuação do trio principal: Ingrid Guimarães, Suzana Pires e Tatá Werneck. Os conflitos entre as três, mesmo que seja um artifício utilizado ad nauseam, em detrimento da evolução narrativa das personagens, ganha pontos pelo carisma das atrizes, exercitando ótimo timing cômico. Já Márcio Garcia, que provou ser um bom diretor, continua sendo um ator muito limitado.
É o sexto filme de Santucci em quatro anos, todos no mesmo gênero e reutilizando a mesma fórmula, uma estatística que pode explicar a falta de fôlego perceptível em vários momentos. O mesmo roteiro, nas mãos de um cineasta jovem, com sangue nos olhos e maior ousadia, poderia ter resultado em um entretenimento mais satisfatório.