Lilly Wachowski, codiretora da aclamada franquia ‘Matrix’, falou recentemente sobre como o filme foi assumido pela direita como uma representação de “liberdade da lacração” ou como metáfora para suas próprias narrativas ideológicas.
Em entrevista ao ComicBookMovie, a cineasta, que é uma mulher trans, afirmou que, ao criar arte, busca um propósito pessoal:
“Eu sei que, quando escrevo hoje em dia, tento escrever a partir de um lugar muito consciente. Tipo, eu procuro especificamente que minha escrita me sirva de alguma forma, entende? E, especificamente, busco maneiras de curar buracos no meu coração. E você pode fazer isso sem vergonha por meio de personagens fictícios. Dá para recorrer a várias coisas”, afirmou.
Wachowski explicou que, embora coloque muito de si em sua arte, ela reconhece que não tem controle sobre como o público irá interpretá-la:
“Quero que meu trabalho tenha um nível de catarse para mim. E, para isso, preciso me colocar nele. E, se as pessoas quiserem interpretar do jeito delas, você só pode dizer: ‘Bom, façam o que quiserem…’ Você também precisa deixar sua obra ir. As pessoas vão interpretar da maneira que quiserem. Eu olho para todas as teorias malucas e distorcidas sobre os filmes de Matrix, e as ideologias loucas que eles ajudaram a criar, e fico tipo: ‘O que vocês estão fazendo? Não! Está errado!’ Mas preciso deixar ir até certo ponto, porque… você nunca vai conseguir fazer absolutamente todo mundo acreditar no que você pretendia no início”, acrescentou.
Ao ser questionada pelo entrevistador sobre como lida com indivíduos de direita que estão “cooptando” a mensagem de ‘Matrix’, a cineasta detalhou a estratégia do fascismo:
“A ideologia de direita apropria absolutamente tudo. Eles apropriam pontos de vista da esquerda e os distorcem para sua própria propaganda, para obscurecer a mensagem real. Isso é o que o fascismo faz. Então, é claro que isso vai acontecer. Eles fazem isso com absolutamente tudo. […] Ele pega ideias que geralmente são reconhecidas como questões, investigações ou verdades sobre a humanidade e a vida, e as transforma em outra coisa, removendo o peso do que elas realmente representam”, concluiu.
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Vale lembrar que um dos momentos mais famosos do filme ocorre quando Morpheus diz a Neo que ele “nasceu em cativeiro” e oferece a escolha entre aceitar a pílula azul (voltar a dormir na ilusão) ou a pílula vermelha (acordar e descobrir a verdade).
Este conceito foi apropriado por movimentos de extrema-direita e, ao longo dos anos, se tornou uma parte significativa de sua retórica, simbolizando o despertar para uma “verdade” supostamente oculta por um sistema opressor (a “lacração”).
‘Matrix’ está disponível na HBO Max.