Nostalgia tem sido a lei máxima que guia produções de Hollywood em tempos recentes
Após lançar seu primeiro trailer, o futuro Matrix: Ressurreição deixou no ar mais perguntas do que respostas. Obviamente, com tudo o que envolve a mitologia da consagrada franquia isso já era algo de se esperar. Dentre as principais dúvidas que serão respondidas está: o que será o enredo e como ele continuará com o que foi mostrado na trilogia.
A dupla Neo e Trinity (Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss) aparentemente está de volta, porém, com a ausência do ator Laurence Fishburne no papel do icônico Morpheus. Esse pode ser um indicativo de que a problemática envolvendo a realidade virtual criada pelas máquinas ainda não foi resolvida ou que um novo ciclo irá começar.
Tendo isso em mente, começa a surgir o risco de que tudo que apresentado (desenvolvido e concluído nos filmes anteriores) pode ser reapresentado ao público; dessa forma abandonando qualquer sensação de evolução em prol de resgatar a nostalgia proveniente das obras anteriores – principalmente do primeiro capítulo.
A mencionada palavra (Nostalgia) tem sido uma fonte de combustível para Hollywood por décadas, não se limitando a tempos recentes. Algumas das obras que surgiram ao final da década de 70 eram, conforme apontado por seus criadores, homenagens às produções mais antigas que, de alguma maneira, os influenciaram quando ainda eram pequenos.
O diretor George Lucas com Star Wars de 1977 é um exemplo, uma vez que ele jamais negou que a obra foi fortemente inspirada pelas histórias em quadrinho de Flash Gordon. Já Indiana Jones tinha suas raízes muito ligadas aos antigos filmes de aventura também da primeira metade do século XX.
No artigo Backward glances: The cultural and industrial uses of nostalgia in 2010s Hollywood cinema, assinado por Matthew Cooper, é definido que os filmes mencionados anteriormente são representações muito particulares do período em que foram feitos.
“Para Davis e Jameson, esses filmes correspondem às ansiedades culturais da era predecessora (os levantes sociais dos anos 60) e da severa crise pós-moderna de historicidade e mudanças nas formas de representatividade. Nas décadas desde então, as assim chamadas ondas de nostalgia podem ter fluído e refluído…”
Ainda assim, até a virada do século, o uso de nostalgia na produção de filmes era tratado muito mais como uma forma de homenagem à alguma obra importante do passado (como Scarface em 1983) do que uma ferramenta, no sentido mais direto, para atrair o maior número possível de espectadores.
Foi somente com os anos 2010 que algo mudou na percepção do público, mudança significativa o suficiente para que a presença de elementos nostálgicos em lançamentos se tornasse algo negativo para alguns. É importante separar os diferentes tratamentos nostálgicos que surgiram nesse período, uma vez que nem todos foram elaborados com fins de reviver uma marca valiosa.
O musical fenômeno La La Land nada mais é do que um tributo à nostálgica fase dos musicais dos anos 50 (como Cantando na Chuva) e às performances de Fred Astaire nos anos 30; O Artista, lançado em 2011, propôs uma revisita ao período final do cinema mudo e à complicada transição dos artistas para o sonoro; A Forma da Água foi, em parte, uma homenagem às ficções científicas dos anos 50 envolvendo monstros.
Todas as três obras compartilham uma ligação sentimental que seus idealizadores tinham para com uma época anterior, além de terem sido destaques nas suas respectivas temporadas de premiação. Entretanto, junto a eles veio outra forma de nostalgia simbolizada no resgate de marcas extremamente populares do passado.
Nesse sentido, a estratégia utilizada pela Disney após a compra da Lucasfilm, e por consequente da marca Star Wars, foi de pronto resgate do sentimento nostálgico envolvendo a trilogia original (1977-1983) e enfático distanciamento da trilogia prequel (1999-2005). O que se seguiu foi a trama em O Despertar da Força e seu evidente esforço de se assemelhar o máximo possível com o filme original.
Financeiramente a abordagem funcionou e serviu de ponta de lança para que outra franquia famosa, Jurassic Park, produzisse tentativas de sequência do filme original dirigido por Steven Spielberg. O que se constatou pelo público, bem rapidamente, foram que tais propriedades não estavam sendo resgatadas ou continuadas mas sim requentadas; cobertas com um novo verniz sob a desculpa de atrair um novo público.
O que se provou foi uma resposta negativa do público na mesma proporção dos números positivos de bilheteria. O último capítulo da mencionada nova trilogia de Star Wars, citando como exemplo, tem a menor porcentagem de aprovação do público dentre todos os nove filmes, porém, teve o saldo final ultrapassando a marca do bilhão.
Resta à Matrix: Ressurreição declarar a qual tipo de nostalgia ele pertence; um tributo pessoal e sentimental a uma trilogia que marcou época no cinema ou uma tentativa de entregar a mesma história já conhecida pelo público com sutis diferenças para que se passe por um novo capítulo.