Nesta segunda-feira (26), morreu aos 77 anos, o diretor italiano Bernardo Bertolucci. Diretor de filmes como “Último Tango Em Paris” (1972), “1900” (1976) e “La Luna” (1979), Bertolucci conseguiu figurar entre os maiores do cinema italiano, como Frederico Fellini e Luchino Visconti. As causas exatas da morte não foram divulgadas, os jornais italianos mencionam apenas uma prolongada doença.
Filho do poeta Attilio Bertolucci e da professora Ninetta Giovanard, Bernardo Bertolucci pretendia seguir a carreira literária, chegando mesmo a frequentar a Faculdade de Literaturas Modernas de Roma. Foi pelo contato com o poeta e diretor italiano Pier Paolo Pasolini, de quem foi assistente de direção aos 21 anos em “Accattone – Desajuste Social”, que Bertolucci optou pelo cinema. O seu primeiro filme como diretor foi “A Morte” (1962), baseado em uma história de Pasolini e com roteiro foi feito por ambos.
Foi na década de 1970 que Bertolucci começou a produzir suas grandes obras, como “O Conformista” (1970), “Último Tango Em Paris” (1972) e “1900” (1976). Sempre polêmico, seus filmes possuíam uma forte carga de crítica política, especialmente focando no embate entre o indivíduo e as forças da história. Em “Antes da Revolução” (1964), o diretor conta a história de um comunista que deixa seu ideário político em segundo plano após se apaixonar por uma tia, escandalizando sua família. Em “Os Sonhadores” (2003), Bertolucci enclausura três jovens em um apartamento no ano 1968; nele, o diretor aborda amor, sexo, arte e revolução. Por ser muito mais explícito nas referências, “Os Sonhadores” foi considerado um retrocesso por parte da crítica. De qualquer forma, foi o último filme de Bertolucci a ter maior repercussão junto ao público.
Seus dois trabalhos de maior sucesso foram “Último Tango Em Paris” e “O Último Imperador” (1987). Com este último, o diretor obteve sua única vitória no Oscar – “O Último Imperador” obteve 9 Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor montagem, melhor figurino, melhor direção de arte, melhor música e melhor som. Em 2007, recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo conjunto da obra, e em 2011 foi agraciado com a Palma de Ouro Honorária no Festival de Cannes. O último trabalho do diretor foi o filme “Eu e Você”, de 2012.
A Última Polêmica
Em uma entrevista de 2013, ao falar sobre o filme “Último Tango em Paris”, Bertolucci reconheceu que a atriz Maria Schneider, então com 19 anos, não sabia exatamente como seria a “cena da manteiga”. Na cena, o personagem de Marlon Brando usa uma manteiga como lubrificante durante o sexo anal. Schneider considerou a cena uma violação, pois ela só soube que haveria tal cena depois de ter aceito o papel e porque não tinha conhecimento de que Brando usaria manteiga como lubrificante.
Na entrevista de 2013, Bertolucci disse que a ideia da manteiga surgiu numa conversa com Brando no dia anterior à filmagem. A atriz não foi informada do uso da manteiga, pois o diretor queria que Schneider reagisse “como uma menina, não como uma atriz”. Bertolucci disse que se sentia culpado, ainda que não arrependido.
No final de 2016, sem maiores razões, uma ONG espanhola republicou trechos da mencionada entrevista. Mesmo extemporâneo, o vídeo respostado gerou uma onda de protesto e indignação. Muitas pessoas na internet chegaram a dizer que não conseguiriam ver mais o filme como antes.