Poucos filmes em 2024 deram tanto o que falar quanto A Substância. Primeiro filme de lançamento mundial da MUBI , o elogiadíssimo Body Horror entrou nesta quinta-feira (31) no catálogo do streaming, data mais do que adequada, já que marca a celebração do Halloween, uma data que pede por um grande filme de terror.
Louvado pela crítica internacional, A Substância é o grande terror do ano, mas quase foi lançado nos cinemas por outra empresa: a Universal Pictures. Durante o painel de abertura do IV Encontro de Ideias Audiovisuais, o evento voltado para debates sobre os bastidores das grandes produções, promovido pela 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o empresário e cinéfilo turco Efe Cakarel, fundador e CEO da MUBI, contou um pouco sobre o processo de criação do streaming e abordou sobre o exaustivo processo de adquirir os direitos do longa que vem sendo definido como “o papel da carreira de Demi Moore“.
No painel, Efe comentou que o divisor de águas para a MUBI foi o filme Parasita. Ele chegou a costurar um acordo para que o filme saísse dos cinemas diretamente para seu streaming, mas uma ‘oferta irrecusável’ da Amazon fez com ele perdesse o filme para a rival. Foi aí que ele entendeu que se quisesse ter os melhores filmes, teria de dar um passo adiante e entrar no ramo de distribuição, adquirindo os direitos completos. “Isso nunca poderia acontecer novamente”, disse.
Nesse contexto, e com o crescimento exponencial de inscritos que houve durante a pandemia, Cakarel teve um contato inicial com o roteiro de A Substância ainda em 2021 e ficou fascinado com o que leu.
“O produtor Eric Fellner, que trabalha com a nata das produções britânicas, falou que estava apaixonado por um projeto da diretora Coralie Fargeat, e então li o roteiro há cerca de três anos. Eu não conseguia acreditar que a Universal Pictures tinha topado produzir esse filme. Se você ainda não assistiu ‘A Substância’ nos cinemas, os 30 minutos finais do filme… Sério, vocês não estão preparados para isso. É o longa mais inteligente, glorioso e insano que eu vi em anos. E deu para perceber só de ler o roteiro. E, sério, aquilo não tinha nada a ver com o tipo de projeto que grandes estúdios fariam”, comentou.
Ele prosseguiu e contou que foi justamente esse aumento de inscritos e a paixão pelo projeto que o fez abrir o bolso e dar um passo adiante.
“Desde que li o roteiro, fui acompanhando o projeto bem de perto e enchia a paciência do Eric, pedindo para lançar o filme em territórios de menor distribuição, como a Turquia ou a Índia, e ele dizia que era complicado, porque a Universal tinha gasto 20 milhões de dólares no filme. Então, em abril deste ano, fui passar a Páscoa no Vietnã e vi o anúncio da lista de filmes selecionados para Cannes. E ‘A Substância’ estava no meio. Na mesma hora, liguei para o Eric e implorei para ele me mostrar o filme. Três dias depois, voei para Londres direto para uma sala de exibição. Eu saí da sessão dando soquinhos no ar, pulando de alegria. Não teve outra. Liguei para o Eric e disse: ‘Estou pronto para comprar os direitos da Universal para a distribuição mundial desse filme’. Ele achou uma insanidade, mas eu disse que era um filme brilhante e que conhecia minha audiência. Mesmo que os críticos não gostassem, o público do MUBI iria amar”, afirmou.
Mas entre comprar os direitos e lançar o filme, existe um caminho muito longo. E a expectativa para saber a reação do público é angustiante, ainda mais quando o longa fará sua estreia “apenas” no Festival de Cannes.
“A Universal podia ter vendido os direitos para outras empresas de mais experiência na distribuição nos EUA, mas nos encontramos no domingo, uma semana antes do Festival de Cannes, e viramos a noite conversando. Na segunda-feira, às três da manhã, o filme era meu. Então eu apaguei e dormi umas 36 horas seguidas. Só fui acordar na estreia em Cannes. Eu estava muito nervoso, porque era nosso projeto de maior investimento, mas tinha uma sensação boa. Porque nós sabíamos que [o filme] era brilhante, mas como seria a reação do público? Da crítica?. Então, na première do filme, o ‘Le Palais’ foi abaixo. Mais de mil e duzentas pessoas aplaudiam, suspiravam. Acho que ninguém sabia como reagir direito. Assim que saí da sessão, vi as críticas definindo o longa como um ‘clássico instantâneo do terror’. Foi aí que entendi que esse seria apenas o começo de uma empreitada muito interessante”, contou.
Por fim, Efe Cakarel contou que o sucesso de A Substância foi o sinal que ele precisava para seguir com a proposta de distribuir os projetos que ele acha interessante. “Eu jamais compraria os direitos de um filme que eu não gosto. Ponto final”, ele chegou a afirmar.
“Nós vamos continuar fazendo isso, encontrando histórias originais, sejam de nomes consagrados do cinema, como um Paul Thomas Anderson, sejam de novos talentos, como Coralie Fargeat. Por conta de ‘A Substância’, vamos passar das cinco milhões de inscrições. É inexplicável para nós esse retorno. E isso nos deu confiança para investir nesse ramo”, concluiu.