[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS]
Se você ainda não assistiu ao último episódio de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, evite esta matéria, pois ela contém spoilers
O último episódio da série da Mulher-Hulk é uma das melhores coisas que a Marvel fez nesses últimos anos. Brincando com a metalinguagem e o artifício da quebra da quarta parede, a equipe criativa conseguiu encerrar o arco da protagonista de uma forma muito criativa e satisfatória, deixando Jennifer Walters (Tatiana Maslany) prontinha para brotar aleatoriamente em uma das próximas produções do MCU. Mas se teve algo tão grande quanto esse episódio foi a quantidade absurda de easter eggs e referências que ele trouxe.
A cena inicial já faz uma referência ao seriado do Hulk dos anos 70. Além de tirar sarro dos bordões e do jeitão característico da produção estrelada por Lou Ferrigno, como Jen olhando para a tela e dizendo o clássico: “você não vai gostar quando eu ficar zangada”, essa paródia acaba explorando a metalinguagem da situação, já que a Mulher-Hulk surge nos quadrinhos por pura e espontânea pressão dos executivos, que temiam que, dado o sucesso da série do Hulk, a concorrência criasse uma “Mulher-Hulk” para explorar a popularidade. Então, para garantir os direitos sobre o nome, Stan Lee pegou a missão de criar a “Selvagem Mulher-Hulk”.
O episódio continua e traz algumas referências aos mutantes. Enquanto tenta lidar com uma forma de processar os lerdões por trás da Inteligência, Jen acaba sendo presa e condenada a usar o inibidor de poderes para poder deixar a cela. O interessante é que essa história de inibidor é praticamente um protótipo para as ferramentas de controle de mutantes que a Marvel deve introduzir no futuro junto aos X-Men. De volta ao lar de seus pais, Jen monta um quadro para investigar as pistas que reuniu sobre a organização dos excluídos. E um dos símbolos que aparecem nesse quadro é o do Mandril, um mutante cuja habilidade especial é controlar feromônios, e como vocês devem imaginar, ele não usa seus poderes para o bem. Agindo supostamente como um “macho alfa”, ele não respeita mulheres e adolescentes, sempre tentando controlar suas mentes para que façam suas vontades. Há de se convir que combina bastante com os desejos dos membros dessa comunidade.
Se sentindo sozinha, Jen vai para o retiro do Abominável (Tim Roth), onde a Inteligência está fazendo uma convenção para falar mal da Mulher-Hulk e de outras mulheres do MCU, como a Lady Thor (Natalie Portman), o que provavelmente situa essa série antes do final de Thor: Amor & Trovão (2022). Os amigos de Jen descobrem isso e Pug, por ser homem, acaba se infiltrando no evento, onde ele acaba agindo como um babaca e termina sendo acolhido pelos membros. É nessa sequência que a série revela que o responsável pela organização era aquele playboy metido que tentou sair com a Jen duas vezes na série e não conseguiu por ter um papo mais chato que o filme dO Incrível Hulk. Então, a Mulher-Hulk chega ao galpão e o líder da Inteligência revela que pegou seu sangue para conseguir “merecidos poderes”. Funcionando como um tipo de “Soro do Supersoldado”, o sangue de Jen o transforma num Hulk meio batata das ideias. Para piorar, a Titânia (Jameela Jamil) e o Hulk (Mark Ruffalo) aparecem do nada, tirando completamente o foco da protagonista, que protesta e usa seu melhor superpoder: a quebra da quarta parede.
E isso é uma das coisas mais fantásticas de todo o MCU. Ela assume novamente que está em uma série e simplesmente “quebra” a home do Disney+, procurando uma forma de resolver o problema direto na fonte. Jen buscou o Assembled, que é uma série de bastidores das produções da Marvel, e foi tirar satisfação desse final genérico com a equipe de direção e roteiristas. Esse momento lembra muito o final de Deadpool Massacra o Universo Marvel, em que, após matar os principais heróis daquela linha do tempo, o mercenário tagarela atravessa as páginas da HQ e vai atrás dos quadrinistas que estavam escrevendo suas histórias.
A equipe criativa diz que concorda com as reivindicações de Jen sobre os rumos do final, mas que não pode fazer nada, porque quem decide essas coisas é o Kevin, dando a entender que é o CEO do Marvel Studios, Kevin Feige.
E aí, subvertendo as expectativas, Jen quebra meia dúzia de seguranças no soco e chega até o Kevin (interpretado pelo Kevin Feige), que é um robô ao melhor estilo HAL 9000. Mas o que mais me pegou aqui foi a piada máxima com o chefão da Marvel. Apelidado pelos fãs de “Zé Boné”, Kevin Feige tem a coleção de bonés mais incrível do mundo, já que ele nunca sai de casa sem um deles. Então, a série foi lá e deu um jeito se tacar um bonezão na “cabeça” do robô. Bom demais.
Ele explica que entende como ninguém o algoritmo do entretenimento, fazendo produtos moldados perfeitamente para agradar aos fãs, uma referência nada sutil à Fórmula Marvel. Jen aproveita e diz que algumas pessoas criticam isso, porque deixa todos os filmes iguais – o que quase dá tela azul no robozão.
E antes de começar a fazer suas exigências, Jen recebe um recado maravilhoso: “vá para sua forma humana, é muito caro ter você como Mulher-Hulk”. Essa piada com o CGI da série, que foi constante alvo de críticas, foi ridiculamente bem-feita. Enfim, como Jennifer Walters, a protagonista começa a descer a lenha no roteiro genérico do episódio final e como ele era apressado e ruim, já que socava um monte de personagens, criava um novo Soro do Supersoldado DE NOVO e tirava o foco do desenvolvimento de sua vida. E cansada de tanto ser humilhada, ela faz suas exigências de como resolver esse episódio e conseguir uns refrescos na vida. Com suas demandas praticamente todas atendidas, ela questiona o Kevin do motivo dos personagens do MCU terem tantos problemas paternos e praticamente não fazerem sexo. E o mais importante: ela perguntou quando veríamos os X-Men. Depois de tantas referências aos mutantes nesta série, terminar com a protagonista fazendo essa pergunta para o chefão foi sensacional. Claro que o Kevin desvia do assunto e manda ela de volta para casa.
Com seus problemas resolvidos na base da canetada, Jen retorna, manda o líder da Inteligência para a cadeia e, na frente das câmeras, não agride o zé mané, mas o notifica de que ele será processado. Isso passa uma mensagem de autocontrole para a imprensa. E então, caído literalmente do céu, o Demolidor (Charlie Cox) aparece para participar da porrada. Só que ele chega atrasado, fazendo com que Jen tenha um tempo livre com seu deficiente visual favorito. Assim, ela o apresenta para sua família durante um almoço, quando…
Bruce Banner aparece do espaço com uma surpresa: o Hulk fez um boneco durante seu período em Sakaar. E provando que a calvície é um problema universal, o jovem Skaar aparece, provavelmente garantindo mais um membro para um futuro filme ou série dos Jovens Vingadores. O episódio termina e a cena pós-créditos mostra o Abominável novamente na prisão, até que o Mago Supremo, Wong (Benedict Wong), aparece para buscá-lo para outra missão, com grandes chances de estar garantindo a maior reunião de coadjuvantes da história: Os Thunderbolts.
Foi uma grata surpresa, encerrando perfeitamente a série e garantindo mais um caminhão de produções para o futuro do MCU. Esse último episódio conseguiu o que muitas produções não conseguiram, que foi zoar o público-alvo e ainda assim sair muito por cima. Fica agora a expectativa pela próxima aparição de Jen Walters e seus amigos.
Mulher-Hulk: Defensora de Heróis está disponível no Disney+.