Com uma admirável trajetória ao longo de 2023, Puan chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 7, após passar pelo lineup oficial do Festival de Cinema do Rio. Dirigido e coroteirizado pelo casal argentino Benjamín Naishtat e María Alché, o longa é uma comédia sobre o universo acadêmico e acompanha a disputa entre dois professores pelo tão sonhado cargo de chefia no departamento de Filosofia de uma universidade pública.
E após sua vitória no Festival San Sebastian nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Ator (para Marcelo Subiotto), Naishtat veio ao Brasil para o lançamento de seu longa e conversou com o CinePOP, em uma entrevista exclusiva.
Na ocasião, o cineasta refletiu sobre a famigerada questão a respeito do limite do humor e foi categórico ao afirmar que ser politicamente incorreto faz parte da construção de uma comédia de qualidade:
“Em geral, eu particularmente acho que você tem que ser incorreto para fazer humor. Tem que haver uma certa tolerância coerente em relação a isso, não podemos tornar o humor ultraconservador, pois ele também é rebelde. Mas no caso de Puan, nós temos um respeito tão grande pela instituição educacional e pelos professores, que mesmo fazendo comédia, é inconcebível desrespeitá-los! Então levamos isso muito a sério, sempre mantendo o respeito a eles, sem fugir da nossa proposta”.
Se aventurando em uma temática mais filosófica, Naishtat e Alché fazem de Puan uma experiência múltipla, onde reflexões existenciais e o fator cômico se unem de maneira harmônica. Convidando a audiência para uma profunda aula, o casal criativo faz de seu roteiro uma oportunidade diferente de explorar o universo acadêmico de humanas, conforme ponderou o diretor:
“Nós fizemos diversos encontros privados com professores, para explorar quais seriam os temas das aulas. Para nós era fundamental que as cenas em classe fossem bem sólidas e realistas. Queríamos que esses takes também fossem momentos de aprendizagem para a audiência. Trabalhams muito, reescrevemos essas cenas diversas vezes, para que conseguissemos chegar em um ponto que não fosse um assunto chato e nem pesado, mas que ainda assim fosse profundo”.
E para que a comédia argentina – coproduzida pela produtora brasileira Bubble Project -, chegasse a um resultado fluído e ideal, o casal de diretores teve que aprender uma nova dinâmica operacional. Segundo Benjamín, trabalhar em dupla não era uma prática comum e ambos tiveram que desbravar um novo território, onde carreira e vida familiar se misturavam frequentemente.
“Eu e María temos experiência em dirigir sozinhos e nos lançamos na codireção sem pensar muito. Foi difícil, pois às vezes tínhamos ideias distintas que poderiam ter gerado conflitos e discussões. Mas hoje posso dizer que é maravilhoso trabalhar assim, onde ideias e conceitos diversos acabam circulando. Porque ao final do dia, o resultado depende da nossa dinâmica juntos, de um escutar as ideias do outro. É bem diferente quando um decide ser o tirano do set e diz como tudo tem que ser. Esse trabalho em conjunto foi uma grande aprendizagem pra mim. E era impossível distinguir os papéis. Tudo estava misturado! Nós temos um filho pequeno e não temos como separar as coisas. Tudo ficava meio misturado. Às vezes era um desafio grande, mas é também algo bonito da vida…essa multiplicidade relacional que construímos ao longo dos anos”, concluiu.
Confira o trailer do filme:
Em Puan, um professor de filosofia está prestes a conquistar o cargo que almeja há anos, mas um concorrente pela vaga acaba afetando seus planos. Após a morte repentina de seu mentor, Marcelo Pena (Marcelo Subiotto) está pronto para preencher a cadeira de professor titular de Filosofia da Universidade de Buenos Aires. Mesmo sendo a aparente escolha certeira para a função, seus esforços de anos podem ser em vão, porque tudo muda com o retorno de Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), seu colega mais atraente e carismático.