Fase mais recente da DC Comics trouxe histórias que inevitavelmente mudaram a percepção sobre os personagens
Com o lançamento de Liga da Justiça de Zack Snyder, é inevitável teorizar a remota probabilidade do sucesso do filme dar uma sobrevida à visão do diretor para o DCEU; visão essa muito atrelada ao formato de narrativa adotado pela editora durante a fase dos Novos 52. Entre 2011 e 2016 o universo da DC Comics foi reiniciado e dessa forma os seus principais personagens tiveram suas origens e conceitos reimaginados para um novo público.
Consequentemente isso permitiu a criação de linhas narrativas novas e interessantes sobre tais personagens famosos, não só conseguindo entreter leitores mas como também adicionando novas ideias à mitologias consolidadas. Abaixo, veja cinco arcos que capturaram a atenção do público na fase dos Novos 52.
5) Action Comics de Grant Morrison
Umas das joias editoriais da DC Comics não é outra senão a Action Comics; uma das revistas em quadrinhos mais antigas e importantes (junto com a Detective Comics) da indústria, ela é mundialmente conhecida por ter apresentado o Superman para o mundo na sua primeira edição em 1937. No entanto, o Clark em seus primeiros dias não era exatamente o símbolo de esperança famoso atualmente e nem tinha como inimigos forças alienígenas apocalípticas.
Seus primeiros confrontos quase sempre envolviam políticos ou empresários corruptos que, de uma forma ou de outra, estavam prejudicando a população e seus métodos eram muito mais brutos e ameaçadores. Pode parecer superficial atualmente mas a ideia de um poderoso defensor do povo que enfrentava a classe privilegiada no contexto de uma economia em reconstrução pós Grande Depressão funcionou muito bem.
Dessa forma, quando o aclamado autor Grant Morrison assumiu a responsabilidade de mostrar Clark Kent em seus primeiros anos antes de ser o guardião de Metrópolis ele optou por resgatar essa visão mais clássica do Superman só que atualizada ao mesmo tempo aonde Clark é um blogueiro que denuncia casos de corrupção em Metrópolis e revida contra esses criminosos do colarinho branco de uma maneira que não chega à brutalidade (por razões obvias) mas é bem mais intimidadora que o normal. Foi um bom tributo atualizado para um mundo mais digital.
4) Liga da Justiça
A edição que iniciou os Novos 52 não poderia ter sido outra senão Liga da Justiça #1, lançada basicamente ao mesmo tempo que a última edição de Flashpoint (que foi a última saga da DC pré Novos 52) em 2011. A história juntou uma dupla bastante badalada na época, sendo escrita por Geoff Johns (que aquela altura era o principal autor da editora com os sucessos da já mencionada aventura do Flash e da saga A Noite mais Densa) e ilustrada por Jim Lee (amplamente considerado um dos melhores ilustradores a trabalhar no Batman como visto anteriormente em Grandes Astros: Batman e Robin e Silêncio).
Logo, quando lançada a edição a dupla precisou mostrar que era uma nova realidade que estava começando e que esses personagens ao mesmo tempo que seriam aqueles heróis culturalmente reconhecidos também teriam elementos diferentes. A melhor forma de alcançar esse objetivo foi apresentar todos de uma vez em um crossover de embate com as forças de Darkseid (uma ameaça maior para o grupo do que Starro certo?).
3) Morte da Família
A partir desse ponto não estranhe se o top três for tomado por histórias do Batman, afinal ele certamente foi quem recebeu maior carga de atenção por parte da DC durante a fase dos Novos 52. Toda a fase em que Scott Snyder (sem ligações com o diretor) foi responsável pelo Homem Morcego se tornou memorável, positiva ou negativamente, para os leitores pois ao mesmo tempo que o autor era capaz de entregar histórias mais fracas, ao acertar ele realmente conseguiu impactar o microuniverso de Gotham City.
Com Morte da Família não foi diferente, aqui o autor entrega uma ameaça mais crescente e, mais importante, crível vinda do Coringa do que qualquer outro momento. Tudo se inicia com a exposição de que o Palhaço Príncipe do Crime ainda estava à solta após realizar uma cirurgia no qual removeu o próprio rosto ao fugir de Arkham. Não demora até que ele retorna a Gotham em um quadro referência à sua contraparte na HQ Batman #251 nos anos 70.
De volta à cidade, o Coringa iniciar uma série de ataques planejados que eventualmente chamam a atenção do Batman e de seus aliados; isso se revela como sendo uma isca e o vilão passa a mirar cada membro da Batfamília individualmente, expondo-os a situações que refletem seus traumas ou medos dando a entender que ele conhece a identidade de todos eles; inclusive a do próprio Batman.
2) Mulher Maravilha de Brian Azzarello
A persona da poderosa guerreira amazona, apesar de mundialmente famosa como a maior heroína dos quadrinhos, nem sempre conseguiu transmitir para o público muito de sua origem ou do tom de suas aventuras. Apesar de algumas histórias de origem como a do Superman e principalmente do Batman já terem sido contadas tantas vezes que acabaram se tornando conhecimento comum, com a Mulher Maravilha é um pouco diferente.
Antes do filme de Patty Jenkins uma pequena parcela do grande público estava realmente cientes da ligação entre Diana e o panteão de divindades gregas. Foi justamente relacionado a isso que o autor Brian Azzarello deu sua visão da dinâmica conflituosa entre as amazonas de Themyscira em geral e os deuses gregos. A Mulher Maravilha dos Novos 52, portanto, segue um perfil similar ao do Superman: ela é bastante autoconfiante, impulsiva e possui plena confiança em suas habilidades de combate.
A opção de explorar o lado mitológico de Diana também concede a Azzarello a chance produzir situações de drama bastante eficazes; como após Hipólita revelar a Diana que ela é filha de Zeus a heroína acaba por repensar toda a sua vida, não mais se considerando uma amazona e ao mesmo tempo sem ter um lugar no mundo. Essa acaba sendo, como a maioria das tramas solo dos grandes nomes da editora durante essa fase, uma atualização eficaz de um ícone bem estabelecido.
1) Corte das Corujas
Indiscutivelmente o grande trabalho de Scott Snyder com o Batman e que já a curto prazo se revelou muito significativo na mitologia geral do mesmo. É nessa história que tanto o roteiro instigante de Snyder quanto o traço de Greg Capullo, que confere grande personalidade a lugares acinzentados, se complementam de tal maneira que o resultado acaba sendo uma verdadeira trama detetivesca do morcego.
Após anunciar um plano ousado de recuperar os bairros mais pobres de Gotham durante uma festa em sua mansão, Bruce Wayne percebe que o Comissário Gordon recebeu um chamado sobre um homicídio. Trajado de Batman ele vai até o local do crime e durante a investigação preliminar ele vê navalhas com emblemas de corujas que foram usados no ato, além disso é descoberto que o próximo alvo do assassino é ninguém menos do que o próprio Bruce Wayne.
Corte das Corujas poderia facilmente se tornar mais um enredo sobre uma enorme conspiração em Gotham envolvendo suas famílias mais poderosas e de alguma forma eles iriam colidir com o Batman. Porém, a história acaba sendo inteligentemente conduzida como um enorme e complexo exercício investigativo para o Homem-Morcego, ressaltando talvez a habilidade mais interessante do personagem que é a de ser o maior detetive do mundo; além de expandir a história do segundo personagem mais importante de suas histórias que é a própria Gotham City.