Fazer ciência é, em qualquer contexto, uma tarefa que demanda anos de dedicação em uma busca incessante por respostas. Respostas muitas vezes capazes de fazer com que toda uma comunidade (e muitas vezes a humanidade) dê um salto rumo ao melhor entendimento da natureza, do universo e de tudo que é construído socialmente. Para além da polarização vivenciada no país nos últimos anos, certas agendas transcendem questões de descontinuidades políticas e/ou mudanças de diretrizes de governo.
A semana de estreia do longa-metragem Antártica Por Um Ano, de Júlia Martins, foi também a semana na qual teve início um movimento popular amplo em defesa da educação pública de qualidade no país BR. O documentário em questão narra a experiência de um grupo de 15 militares (14 homens e 1 mulher) na base militar da Ilha de Rei George, território situado próximo ao sul do Chile, no círculo polar Antártico. Área Considerada politicamente neutra e, devido ao Tratado Antártico, toda área é mantida para fins de cooperação científica internacional. O documentário mostra, além das relações e abdicações dos militares que dão vida à narrativa, a relevância do país ser um signatário do Tratado.
Mostra também que nesse, como em muitos outros contextos, não existe lógica em separar a soberania nacional (neste caso representada pela Marinha do Brasil) do desenvolvimento científico, tão necessário para a solução de problemas atuais nas mais diferentes áreas (saúde, meio ambiente, dentre outras).
O esforço no sentido de desenvolver soluções para problemas atuais constitui uma relevante plataforma de colaboração institucional em diversos níveis. Passa pelo âmbito das universidades que produzem as pesquisas (uma ponta do processo), mas também envolve a relação entre lideranças, podendo criar pontes de cooperação para aperfeiçoamento profissional e técnico, que retornam para o país em forma de mão de obra qualificada, atração de investimentos, realização de colaborações de interesse estratégico… todos esses aspectos citados se mostram (no âmbito internacional) fundamentais para uma nação respeitada, economicamente forte e com potencial para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos.
Com base em um levantamento realizado pela Clarivate Analytics (empresa estadunidense vinculada à Thomson Reuters) sobre a produção científica entre os anos de 2011 e 2016, a produção nacional estava concentrada nas universidades públicas (com destaque para a USP – com maior quantidade de publicações no geral e nos periódicos mais importantes; e para a UERJ – que era a 10ª em número de trabalhos na Web of Science, mas as publicações possuem o maior impacto e termos de citação). Essa informação reforça a seriedade do trabalho desenvolvido em instituições de nível superior no país, que com o devido incentivo pode trazer resultados cada vez mais significativos.
Os investimentos na educação, seja ela de base ou de nível superior, devem ser entendidos como parte de um projeto de valorização do cidadão que contribui com o funcionamento de todo sistema público por meio de seus impostos e deve, portanto, ser valorizado. Deve, portanto, usufruir do estado de bem-estar social ao qual deveria qualquer gestão (independente de polarização política) estar comprometida.
E onde entra o cinema no meio de tudo isso? As produções cinematográficas talvez sejam a forma mais interessante de levar o conhecimento produzido até o grande público. O impacto das pesquisas e da formação de profissionais qualificados chega ao dia-a-dia da população em forma de vacinas, tratamentos, smartphones, apps, tecnologias assistivas, propostas de planejamento urbano e de mobilidade menos nocivas, etc (e põe etc nisso, pois essa lista vai muito longe). Mas nem sempre é tão simples a associação dos avanços que são sentidos na rotina com todo o trabalho que existe até que tais avanços cheguem até nossas casas.
E é nesse momento que os filmes têm o poder de levar essa informação, que não só comunicam os feitos, mas inspiram outras mentes criativas. Seja em forma de documentários, como o caso do Antártica Por Um Ano, seja como romances que contam a história de gênios mostrando dentro da narrativa de suas vidas seus impactos para a ciência. Um dos exemplos mais doces e de grande sucesso de público e crítica foi o premiado A Teoria de Tudo (2014), que rendeu à brilhante atuação de Eddie Redmayne a estatueta de melhor ator.
O gênero documental explora diferentes abordagens, tratando de questões antropológicas, biológicas, jornalísticas, das áreas de saúde, nutrição, desenvolvimento humano, tecnológica etc, e estão disponíveis não só nos cinemas, como também em diversas outras plataformas: no streaming como a Netflix, na TV em canais como a TV Cultura e a rede Nat Geo, e, talvez no local de acesso mais democrático, no Youtube, onde é possível encontrar diferentes playlists contendo documentários das mais diversas áreas. Considerando o tema desta matéria, no Youtube vale o destaque ao documentário educativo A Ciência e a Humanidade (que esteticamente é ruim, mas em termos de conteúdo traça uma breve evolução do pensamento humano).
E antes do fim, parece importante aproveitar o espaço para apresentar algumas das muitas questões que são tratadas no universo acadêmico. Assim, talvez, se facilite o entendimento sobre a seriedade do trabalho que se desenvolve e, mais do que isso, sobre a importância desse trabalho para a população de forma geral. Em uma busca rápida podem ser encontrados diversos projetos relevantes que contam com o apoio de órgãos de fomento federais, dentre os quais aqui se destacam o estudo do Vírus Zika no Pré-natal, e a descoberta da migração de um vírus parecido com a Chicungunha, que pode ser transmitido pelo Aedes e outros pernilongos, o Mayaro.
Outra chamada interessante realizada com o apoio da CAPES é o denominado IODP, que viabiliza a participação de cientistas brasileiros em expedições (a plataforma de difusão conta com um mapa interativo que permite conhecer a expedição, os cientistas brasileiros envolvidos e escopo da pesquisa). Para conhecer melhor os projetos em desenvolvimento vale dar uma conferida nos sites dos órgãos de fomento. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aproveitou seu espaço nas mídias sociais para divulgar alguns projetos desenvolvidos, valendo dar aquele like de respeito.
A busca por melhor entender a própria história e a forma como é possível se apropriar dela em busca de um melhor futuro compete a todos dentro de uma sociedade e o apoio à educação é a forma mais efetiva de garantir um país mais desenvolvido internamente e potente internacionalmente. E a arte audiovisual segue sendo um canal fundamental para a difusão desse universo tão rico.
Fontes de consulta:
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES-SN
Academia Brasileira de Ciências
A Ciência e a Humanidade (Documentário)