Em entrevista EXCLUSIVA ao CinePOP, o diretor Rodrigo Bittencourt (‘Totalmente Inocentes’) contou detalhes sobre ‘Real – O Plano por Trás da História‘ – que chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, dia 25 de Maio.
Crítica | Real: O Plano Por Trás da História – Cinema nacional de qualidade e conteúdo
Confira nossa entrevista EXCLUSIVA:
CinePOP: Como você se envolveu com Real – O Plano por Trás da História?
Rodrigo Bittencourt: Acho que minha trajetória artística é muito plural… Com muita filosofia, que estudei dentro de música e teatro, onde fiz várias peças como ator e com minha banda, e carreira solo musical, além dos livros que lancei. Isso tudo está interligado. Eu amo arte acima de qualquer coisa. Ela me salvou de ser um bandido ou de estar morto hoje com certeza. A paixão (pelo cinema) surgiu lá atrás em Bangu (na Zona Oeste do Rio), onde o padrasto do meu melhor amigo na época tinha uma locadora. Assim que ele fechava as portas, podíamos pegar qualquer filme que quiséssemos, bastando entregar na manhã do dia seguinte, onde já íamos pra escola mesmo, bem cedo. Vi tudo ali, os franceses e americanos, os iranianos que eram bem fortes na época e bem poéticos e os italianos que eu amava… Tô falando de 10 anos de idade até os 16 fazendo isso todos os dias.
Para responder a sua pergunta, preciso contar como cheguei até aqui. Meu envolvimento com cinema aconteceu por acaso, Renato. (E o acaso não é por acaso). Eu era músico e poeta e ator e comecei um projeto no Rio de Janeiro, na casa de cultura Laura Alvim (em Ipanema), o “Te vejo na Laura”. A poeta Maria Rezende e eu apresentávamos e produzíamos e ainda mostrávamos nossos trabalhos ali. Durante três anos fizemos bastante sucesso com esse projeto, onde todo mundo queria participar. Por ali, passaram muitos artistas novos e já consolidados. Caca Diegues, Caetano Veloso, Ruy Guerra, Jorge Manter, Moska, Ana Carolina, todos os poetas que você puder imaginar e músicos e cineastas e artistas plásticos… Juntávamos pessoas consolidadas com artistas em começo de carreira.
Fui chamado para dirigir ‘Real – O Plano por Trás da História‘ por causa da minha pegada ágil.
CinePOP: O filme terá um tom mais político ou histórico?
Rodrigo Bittencourt: O filme é um fato histórico do Brasil. Falo de economia e história. Mas óbvio que esbarra na política que esta ali como pano de fundo. O que importa é o Plano Real, essa ideia maravilhosa que, fato consumado, tirou o Brasil da hiperinflação.
Queria um elenco forte, tinha que ser. Muitos dos atores eu conhecia do teatro e os queria muito. Caso da Mariana Lima (minha musa), Gui Weber, Benvindo Sequeira, Norival Riso e o grande lorde que é o Fernando Eiras. Criei a personagem de Cassia Kis para o filme. Ele era um homem e não tínhamos uma mulher, um personagem forte para brigar de igual para igual com Gustavo Franco (interpretando pelo Emilio Orciollo Netto) ele fez um teste primoroso! Chegou vestido de Gustavo Franco. Foi um deleite trabalhar com ele, viramos amigos e construímos uma personagem rock n roll! O Emilio é um ator incrível!
Ainda temos a Paola Oliveira, que é uma atriz muito dedicada e arrebenta no filme, porque ela se joga. Temos o Tato Gabus Mendes que é um samurai. Chamo ele de Tom Jobim dos atores. Poucas notas e notas muito acertadas. Adoro a maneira como ele interpreta também. Todos foram muito generosos comigo que adoro dirigir atrás por ter me formado em teatro e ter feito peças como ator. Eu conheço a cabecinha deles (risos).
CinePOP: O trailer gerou diversas críticas, como você lida com elas?
Rodrigo Bittencourt: Não acho isso ruim, ao contrário, acho muito bom, o filme já no trailer, causar esse barulho. Eu lido bem com críticas, quando elas são bem colocadas e não desesperadas ou deselegantes ou sem o menor senso de pesquisa. Por exemplo, vi até jornalistas falando sobre a ponte de Brasília que estava errado termos ela ali (risos). Mas no filme ela está no lugar correto em 2003… Então aqui no Brasil infelizmente falamos demais, somos um povo super preconceituoso e agressivo. Geralmente as coisas que escrevem são ressentidas das próprias vidas daquelas pessoas que estão ali postando. Mas eu adoro ler e morro de rir quando são assim. E quando são boas eu respeito, não interessa se são a favor ou contra, eu me interesso. Gosto de debater as coisas, eu vim da filosofia.
CinePOP: Tenho vários amigos de esquerda que já estão pichando o filme. E amigos de direita querendo muito ver e prontos para amar o filme. Você levantará bandeiras políticas com o filme?
Rodrigo Bittencourt: Não acredito em bandeiras. Tenho amigos dos dois lados também, mas a maioria dos meus amigos são equilibrados e pensam mais como eu. Ou seja, estamos numa lavagem de roupa suja dos dois lados, da esquerda e da direita. Os dois lados são uma merda. O que eu não gosto, seja esquerda ou direita, é essa agressividade cega. Soa burra. O Brasil está parecendo uma sala de ginasial. Pessoas sem o menor preparo falando muita besteira e jogando bolinha de papel. O Brasil não pode ser levado na brincadeira como o povo leva, com essas histórias de times de futebol, onde tudo vira uma guerra estúpida entre quem é vermelho e quem é azul. Reduzir o país a isso é arrogante, equivocado, cafona e só nos leva pro buraco.
Existe uma metáfora que uso muito e que criei por causa do futebol que é assim: Seu ponta esquerda cisca e cisca driblando pela ponta esquerda, e o que ele consegue? Nada… Ele quer conseguir algo? Não. Só quer aparecer. Ele não quer marcar o gol. O gol está no centro. Se ele quiser marcar o gol ele vai ter que cruzar a bola pro centro—avante ou vai ter que ir driblando pelo meio pra chutar… E assim do mesmo modo com o ponta direita…
Eu acredito no gol, no centro, no equilíbrio, onde se unem forças pra o bem do Brasil. Eu sou um homem de idéias. E a mim não interessa se são da esquerda ou da direita… O que conto no filme são fatos históricos, bato dos dois lados, PSDB e PT. Mas isso não me interessa, o filme não é sobre políticos, o filme é sobre a ideia genial de economistas pra salvar um país da lama e salvaram, daí depois tudo foi destruído por causa de poder.
Meu filme conta a história do Plano Real e de Gustavo Franco, a personagem principal do filme. Agora, eu não dei minha opinião no filme, posso fazer um filme sobre Hitler e não ser nazista… ou sobre um boxer sem lutar boxe… Eu conto histórias.