sexta-feira, maio 3, 2024

‘O Homem da Califórnia’ | Brendan Fraser é homem das cavernas em COMÉDIA que pode ganhar sequência na Disney+

No mesmo ano de sucessos como Esqueceram de Mim 2, Batman – O Retorno, Os Imperdoáveis, Instinto Selvagem, Perfume de Mulher e Cães de Aluguel, estreava uma comédia juvenil despretensiosa com produção da Disney, que fez certo sucesso em sua passagem pelas telonas e mais ainda quando estreou no mercado de vídeo nas locadoras. O Homem da Califórnia é um destes filmes adolescentes que marcaram uma geração, e tentava resgatar o gênero das comédias adolescentes lá dos anos 80 – sem dúvidas emana muitas das mesmas vibrações.

Ao longo dos anos, no entanto, a produção foi perdendo força e ao contrário de muitas obras atemporais falhou em ser passada através das gerações caindo no esquecimento. Em 2023, O Homem da Califórnia completa 31 anos de lançamento e vale a pena dar uma reexaminada no filme, o apresentado para os mais novos. Ainda mais quando no elenco temos protagonizando o revigorado Brendan Fraser, astro redescoberto graças ao sucesso de crítica A Baleia. Relembre ou descubra o filme abaixo.

O ano era 1992 e o mundo havia acabado de sair dos anos 80. No entanto, é dito que cada década só encontra verdadeiramente sua “cara” de meados para o fim de tais dez anos. Ou seja, o início de cada década tem mais cara da década anterior do que a sua de fato. Pensando por esse lado, o início dos anos 90 ainda mantinha muito da década mais fanfarrona e incorreta de todas, os anos 80. Nesta época, o mundo dos jovens e adolescentes ainda era muito guiado pela moda MTV – tudo soava como se saído de um videoclipe.

Assim, em meio a efeitos especiais revolucionários que iriam para sempre mudar a forma como o público veria os blockbusters, como os de O Exterminador do Futuro 2 (lançado no ano anterior, em 1991), encerramentos de franquias de sucesso como Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), De Volta para o Futuro III (1990) e O Poderoso Chefão 3 (1990) e o surgimento de uma segunda e bem-sucedida onda de adaptações de personagens de quadrinhos (Batman, As Tartarugas Ninja e Dick Tracy); os roteiristas George Zaloom (produtores de documentários sobre os bastidores de filmes famosos) e a também atriz Shawn Schepps não queriam saber de nada disso e apostavam numa história que muito bem poderia ter sido feita nos anos 80 – e tem toda a cara das comédias da época.

Preste atenção nesta sinopse: dois adolescentes tipicamente californianos, que não são exatamente os rapazes mais populares do colégio, descobrem na escavação de sua piscina um homem de neandertal congelado – que logo se descongela e sai andando por aí como se nada tivesse acontecido em todos esses milhões de anos. Devido à sua aparência jovem, mais ou menos próximo da idade dos amigos, a dupla tem a brilhante ideia de vesti-lo com as roupas da época, dar uma repaginada nele e matricula-lo em seu colégio com o argumento de que é um estudante de intercâmbio estrangeiro e não fala a língua, para “não levantar suspeitas sobre sua real identidade”, inclusive em casa com seus pais – já que o sujeito a quem eles nomeiam Link (ou “Elo”) precisará ficar hospedado em sua casa. Parece idiota? E é.

De alguma forma esse roteiro fascinou o então presidente da Disney, Jeffrey Katzenberg. Responsável pelo sinal verde de inúmeros sucessos no estúdio, como Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991) e Aladdin (1992), Katzenberg no fim dos anos 90 sairia de seu posto como chefão da Disney, e ao lado de Steven Spielberg e David Geffen criaria o estúdio Dreamworks – que igualmente marcaria época. Katzenberg segue ativo como um dos homens poderosos de Hollywood. Mas voltando 31 anos no passado, seu único objetivo com o projeto de O Homem da Califórnia era fazer um dinheiro rápido, numa comédia adolescente não muito cara, mas com o potencial bastante lucrativo. Mas para isso ele precisaria dos atores certos.

Na direção, Katzenberg escalou o estreante em longas Les Mayfield, que vinha de curtas e documentários de bastidores – onde o produtor o conheceu. Mayfield depois seguiria para trabalhos famosos, como as direções de Milagre na Rua 34 (1994), Flubber – Uma Invenção Desmiolada (1997) e Um Tira Muito Suspeito (1999). No elenco, o primeiro contratado foi o sumido Pauly Shore. O jovem comediante excêntrico era dono de estilo único de se portar e se comunicar – talvez um pouco semelhante a Bobcat Goldthwait, o Zed de Loucademia de Polícia, só para entenderem um pouco melhor. Pauly Shore fazia sucesso entre os jovens na época por falar a língua deles, despejar diversas gags implícitas e suas próprias piadas internas, além disso, à frente de seu tempo tinha um estilo andrógeno e afetado de ser, em que para os padrões da época poderia ser facilmente confundido com um jovem gay, apesar de ser hétero. Esse sucesso fez Shore ganhar seu próprio programa na MTV – um canal que tinha tudo a ver com ele e sua geração – em Totally Pauly o ator andava pelas ruas e shoppings, e entrevistava pessoas com seu jeito particularmente amalucado.

Era de costume de Jeffrey Katzenberg mandar roteiros para o colega Peter Paterno, presidente da divisão de música da Disney, a Hollywood Records, para uma segunda opinião. E após ler o roteiro de O Homem da Califórnia, Paterno disse que Pauly Shore seria perfeito para o filme. Katzenberg, por outro lado, nunca havia ouvido falar no comediante, e Paterno prontamente lhe enviou fitas de Totally Shore. O presidente da Disney gostou do que viu. Chamado para uma reunião no estúdio, foi oferecido para Shore o papel de Link, o homem das cavernas descongelado. Mas Shore desejava logo em seu primeiro papel de destaque no cinema deixar marcado seu estilo particular e excêntrico de ser e se comunicar, já sabendo que o papel do neandertal não guardaria muitos diálogos para ele. O chefão da Disney não apenas concordou como o deixou modificar o personagem de Stoney para se adequar à personalidade do humorista, que escreveu muitos de seus diálogos e também improvisou bastante. Além disso, assinou contrato com ele para mais dois filmes: que virariam O Genro dos Meus Sonhos (1993) e Um Maluco no Exército (1994).

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O segundo a entrar em cena foi justamente Brendan Fraser – que recebeu seu primeiro Oscar com A Baleia, no qual vive um homem com obesidade mórbida. Trinta anos atrás Fraser estava começando na carreira no cinema e só tinha feito o drama Código de Honra (lançado no mesmo ano de O Homem da Califórnia). Ao contrário de Pauly Shore, Brendan Fraser (então com 24 anos) estava relutante sobre assinar para a produção. O ator havia acabado de fazer o filme citado acima, um drama intenso sobre a lealdade de jovens estudantes de um colégio interno, e queria traçar uma carreira mais voltada para papeis sérios neste nível. Fraser estava preocupado com que o filme e o papel de um homem das cavernas fossem bobos demais para ele e terminassem ferindo sua carreira. No entanto, após muitas conversas sobre o verdadeiro significado do filme e sua mensagem, o ator terminou aceitando o divertido personagem, podendo mostrar um lado de sua atuação com muita performance física e sem muitos diálogos para se expressar. Fraser dá um show.

Fechando o trio, Jeffrey Katzenberg estava decidido por um ator para protagonizar, mas que lhe daria muito trabalho para aceitar. Sean Astin havia virado fenômeno em 1985, graças ao sucesso de Os Goonies – produção cultuada ainda nos dias de hoje, onde Astin viveu o protagonista Mikey. No ano anterior a O Homem da Califórnia, havia chamado atenção no thriller dramático sobre terrorismo num colégio, Rebeldes e Heróis (1991). O chefão da Disney estava decidido a ter o jovem astro em seu filme, querendo uma parcela do sucesso conquistado pela Warner. Mas se Pauly Shore aceitou na hora e Brendan Fraser estava relutante, Sean Astin não estava nem um pouco confiante na produção. Muito pelo contrário, ao ler o roteiro o considerou uma boa m*rda, nas palavras do próprio. Katzenberg chegou inclusive a ligar pessoalmente para Astin e oferecer-lhe US$150 mil de cachê inicial e mais US$400 mil ao final das gravações. O ator mesmo assim tentava sair pela tangente, chegando ao ponto de pedir para alterar o roteiro a fim de o tornar mais palatável ao seu gosto.

Katzenberg concordou com as mudanças, mas no fundo só estava interessado realmente na possibilidade de lucro. Ao receber o novo roteiro, Sean Astin percebeu que pouca coisa havia mudado. Porém, ao receber a informação de que Brendan Fraser estaria no elenco principal, Astin começou a reconsiderar, já que era um desejo seu trabalhar com Fraser. Por outro lado, nunca havia ouvido falar de seu outro colega de elenco, Pauly Shore, e ao receber as fitas de seu programa, começou a desejar que tivesse permanecido sem conhecer. Astin começou a titubear novamente, já que Shore não apelava nem um pouco a ele. No fim das contas, a incansável Disney fez uma nova oferta de salário inicial de US$250 mil, além de total controle criativo de seu personagem no filme, a opção de mais três filmes junto ao estúdio e a direção de seu próprio curta-metragem, que se tornaria Kangoroo Court (1994).

Sean Astin, que depois viraria o Sam da trilogia O Senhor dos Anéis e o Bob de Stranger Things, estava contratado para o papel principal de Dave em O Homem da Califórnia, mas de começo não se deu bem, como esperado, com seu coprotagonista Pauly Shore. Seus estilos de atuação eram muito diferentes, e Astin não achava o humor de Shore particularmente engraçado. Eventualmente, os dois acabaram se entrosando mais e garantindo um ambiente de trabalho agradável.

Lançado no dia 22 de maio de 1992 – no aquecimento do verão americano, a época das maiores estreias do ano – a produção da Hollywood Pictures (subsidiária da Disney) chegou ao Brasil em 22 de novembro do mesmo ano. Com um orçamento de US$7 milhões, O Homem da Califórnia estreou em quarto lugar do ranking das maiores bilheterias dos EUA com quase US$10 milhões no primeiro fim de semana. O filme não aguentaria as concorrências pesadas das estreias de Alien³ (a segunda posição) e Um Sonho Distante (o terceiro), com Tom Cruise e Nicole Kidman. Em primeiríssimo, pela segunda semana consecutiva, o blockbuster da Warner Máquina Mortífera 3.

A comédia recuperou para o estúdio US$40.6 milhões somente nos EUA (os números mundiais não são divulgados), garantindo assim o sucesso financeiro do longa tão almejado pelo chefão do estúdio. O interesse pelo filme na época foi elevado graças à descoberta real do corpo de um homem naturalmente mumificado, de 3300 anos antes de Cristo, nos alpes austríacos – fato que guarda certa semelhança com a narrativa de O Homem da Califórnia. Curiosamente, em grande parte do mundo, o título em inglês é bem literal, a não ser pelos EUA. Em seu país de origem o título é Encino Man – que é o nome de uma famosa (para os americanos) cidade da Califórnia, onde se passa o filme. Outra curiosidade é que o sucesso do filme fez surgir quatro anos depois uma espécie de continuação obscura intitulada A Mulher da Califórnia (1996), filme feito para a TV com produção da Disney Television, exibido pelo canal ABC e com direção da roteirista do original, mas sem envolvimento de qualquer membro do elenco do primeiro.

Trinta anos depois de seu lançamento, O Homem da Califórnia pode até estar datado em seus costumes, moda e comportamento, mas de Karatê Kid a De Volta para o Futuro, qual comédia adolescente dos anos 80 e 90 não está? Apesar disso, continua sendo um divertido entretenimento que funciona muito como viagem nostálgica e traz rostos conhecidos de todos que viveram na época, como os de Megan Ward, Robin Tunney, Michael DeLuise, Ke Huy Quan (refazendo a parceria de Goonies com Sean Astin), Richard Masur e Rose McGowan. Infelizmente, O Homem da Califórnia não se encontra em nenhum dos mais populares streamings – mas deveria fazer parte do acervo da Disney ou da Star+. Bem, quem sabe em breve apareça, já que existe falatório de uma sequência para a Disney+, e o melhor: com Brendan Fraser, Sean Astin e Pauly Shore interessados.

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