Nova adaptação do romance de Walter Tevis para o formato de série vai ganhando forma e clássico filme volta à memória
There’s A Starman waiting in the Sky\ he’d like to come and meet us\ but he think he’d blow our minds. Talvez poucas músicas consigam casar tão bem com a premissa de determinado filme, sem terem sido produzidas para ele, do que Starman de David Bowie lançada em 1972, principalmente quando esta é posta ao lado da trama de O Homem que caiu na Terra de 1976 (e que por sinal teve em Bowie seu protagonista também).
Recentemente a Paramount Plus (serviço de streaming do estúdio) escalou o ator Chiwetel Ejiofor para protagonizar o seriado baseado no romance homônimo assinado por Walter Tevis em 1963. O autor também foi responsável pelo livro que deu origem à série de sucesso da Netflix, O Gambito da Rainha (2020). A princípio seu personagem será inteiramente novo mas a tendência é que as discussões e reflexões levantadas pelo livro permaneçam nessa nova versão, uma vez que elas são atemporais.
A premissa do romance de Tevis é bem direta; um alienígena chega ao planeta Terra disfarçado de humano, sob o nome de Thomas Newton, com a missão emergencial de construir uma máquina que traga seus conterrâneos para esse novo mundo uma vez que seu planeta natal enfrenta uma seca apocalíptica causada por sucessivas guerras.
Para construir tal maquinário ele busca por recursos e dessa forma cria um império empresarial com base em patentes de suas invenções. Inevitavelmente seus interesses e os dos humanos que cobiçam as criações e riquezas acumuladas por Newton vão acabar se chocando, resultando em uma análise da irracionalidade que o comportamento humano pode assumir.
À sua época a obra foi bastante elogiada por ser uma ficção científica que representava muito bem alegorias à Guerra Fria, cristianismo e até mesmo ao alcoolismo. O caminho narrativo tomado pela obra eventualmente, sobre como Newton vai absorvendo costumes humanos e assim desenvolvendo hábitos bem ruins como o vício em bebida, também remete ao conceito estabelecido por Rousseau sobre como o homem nasce naturalmente bom mas é corrompido pela sociedade.
De qualquer forma, em 1976 o livro ganhou uma adaptação dirigida por Nicolas Roeg e com o músico David Bowie no papel de Thomas Newton. Como qualquer produção que se preze, essa também teve seus problemas; começando pelo próprio ator principal. Alguns anos após o lançamento do filme, em uma entrevista para o artigo Straight Time de Kurt Loder em 1983, Bowie admitiu que passou a maior parte das gravações sob o efeito de cocaína e que se lembra bem pouco do filme em si. Além disso o cantor confessou que a falta de experiência prévia na ponta de um grande filme foi um fator negativo.
“Eu apenas atirei meu eu verdadeiro, como era na época, dentro desse filme. Foi a primeira coisa que havia feito. Eu era virtualmente ignorante quanto ao procedimento estabelecido [de se fazer filmes], portanto eu estava indo muito pelo instinto, e meu instinto era bem dissipado. Eu apenas aprendia as falas para aquele dia e as representava do jeito que eu estava sentindo… eu realmente estava me sentindo tão alienado quanto o personagem”.
O custo do orçamento foi considerado baixo, até para a época de produção; algo por volta de US$ 1,5 milhão. Ainda assim, o desempenho global nas bilheterias foi considerado negativo com apenas US$ 100 mil arrecadados. Ainda que fosse um filme sem pretensão de iniciar uma franquia, o baixo orçamento e a baixa arrecadação foram notados no período. Criticamente ele gerou um misto de opiniões, algumas elogiaram a escalação de Bowie para o papel e a criatividade questionadora presente no enredo. No entanto, outros apontaram para problemas técnicos visíveis no filme, principalmente quanto à continuidade desconexa entre algumas cenas.
O filme também veio a ser indicado para o Urso de Ouro de Berlim, porém não ganhou. Já Bowie recebeu um Saturn Awards (prêmio referência nos gêneros de ficção científica, terror e fantasia) por sua atuação. Atualmente a obra goza de um status cult que lhe rendeu inclusive um lugar na Criterion Collection, que é uma empresa famosa por selecionar a dedo determinadas obras clássicas para restauração e distribuição.