TRÊS HISTÓRIAS ENVOLVENDO A SAGA DE DUAS FAMÍLIAS
O Lugar Onde Tudo Termina marca a reunião do diretor Derek Cianfrance com o talentoso ator Ryan Gosling, dupla do sucesso de crítica Namorados para Sempre. Assim como no filme sobre a morte de um relacionamento de anos, o novo trabalho da dupla é uma obra recheada de fortes sentimentos, que em sua maioria condizem com a tristeza e melancolia. O cineasta se especializou em criar personagens problemáticos e errantes, mas ao mesmo tempo assustadoramente reais e próximos a nós.
O roteiro criado pelo próprio diretor, em parceria com Ben Coccio e Darius Marder, cria uma trama que exige uma produção maior. Essa é uma saga épica envolvendo diversas vidas, em três histórias, ao longo dos 140 minutos de projeção. A estrutura de roteiro criada pelo diretor é em etapas. A primeira nos apresenta o vagante Luke (papel de Ryan Gosling), um sujeito tatuado da cabeça aos pés, que atualmente ganha a vida como motoqueiro no Globo da Morte de um parque de diversões.
A vida do desapegado protagonista muda quando ele se descobre pai de um bebê, de uma relação de uma noite apenas. Romina (papel de Eva Mendes, a namorada do ator na vida real) está em outro relacionamento, mas Luke pretende lutar para manter sua família unida, tentando criar o que nunca teve. O desnorteado personagem começa então a realizar assaltos a bancos, fazendo uso de suas habilidades com a moto, a fim de sustentar sua recém-descoberta família.
Depois, somos apresentados à Avery (papel de Bradley Cooper, em cartaz com Se Beber, Não Case – Parte 3), o policial que persegue Luke durante um de seus assaltos. Num confronto, o homem da lei sai ferido, mas logo é considerado um herói local por ter participado de tamanha ação no início de carreira. O roteiro de Cianfrance passa a acompanhar Avery agora, mas sem abandonar o universo desse pequeno local arbóreo localizado nos arredores de Nova York.
O policial precisa lidar com a corrupção dentro de seu distrito, encabeçada pelo personagem de Ray Liotta (um especialista nesse tipo de personagem). E por fim, avançando 15 anos no futuro, vemos o relacionamento de amizade e desafeto entre os filhos dos personagens de Gosling e Cooper, interpretados por Dane DeHaan (de Poder Sem Limites) e Emory Cohen (do seriado Smash). O Lugar Onde Tudo Termina possui uma trama relativamente simples, mas bem delineada.
É o tipo de cinema autoral raro nos Estados Unidos atualmente, no qual um diretor tem total liberdade para contar uma história de seu jeito. Aqui o que conta são as situações, os personagens e seu desenvolvimento. As cenas representam trechos da realidade. Essas são pessoas, seres humanos que conhecemos em cada esquina, e não personagens num filme. Os relacionamentos mostrados soam genuínos, e criam grande impacto.
Luke, por exemplo, é um sujeito tentando fazer as coisas certas, que sem saber como, acaba enveredando por lugares muito sombrios. Os atores dão conta do recado, em especial Bradley Cooper, que vem se tornando um verdadeiro rouba cenas (tanto aqui, quanto em O Lado Bom da Vida). Sua cena durante uma sessão com a psicóloga do departamento, na qual chegam a conclusão do motivo de seu atual desinteresse no filho recém-nascido é emocionante, e Cooper diz tudo somente com as expressões de seu rosto, sinal de um grande ator.
Já Gosling, começa a se prender e a se repetir no mesmo tipo de personagem: o sujeito monossilábico, e aparentemente pacífico, mas que esconde no interior a feracidade de um animal enjaulado. O ator repete o repertório aqui mais uma vez. Talvez precise se desprender da aura de “sou cool” que leva consigo em todos os seus papéis recentes. Tirando o fato de que nenhum dos personagens envelhece com a passagem de tempo (apenas Eva Mendes, fazendo uso de uma maquiagem ruim), O Lugar Onde Tudo Termina é um drama satisfatório, que consegue igualmente emplacar ação e suspense.