O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (2022) estreou hoje, dia 18 de fevereiro, com lançamento exclusivo na plataforma da Netflix. O novo capítulo tem o nome do prestigiado cineasta uruguaio Fede Alvarez envolvido, nas capacidades de roteirista e produtor. Apesar de ser o nono filme da famosa franquia de horror, a proposta de Alvarez e os produtores foi por um reboot – “apagando” da cronologia todos os filmes depois do originalzão lá de 1974. Ou seja, para todos os efeitos, O Retorno de Leatherface serve como segundo filme desta série. Bem, ao menos em uma de suas muitas linhas narrativas.
A palavra de ordem em Hollywood na atualidade parece ser “reiniciar”. A proposta foi a maneira encontrada por produtores e engravatados dos grandes estúdios darem continuidade a certas histórias que haviam se encerrado, sem a possibilidade de seguirem adiante. É o desafio do empresário homem de negócios versus o lado mais artístico do cinema. Diretores e roteiristas criam seu trabalho para terem um fim, e seguirem em frente para o próximo projeto. Mas o sucesso absoluto de tais obras faz com que os chefes de determinadas empresas exijam mais daquele produto que deu certo, deixando muitos cineastas num dilema. Produto ou Arte? Alguns optam por não continuar, por acharem que seu trabalho ali foi concluído. Outros possuem uma visão mais comercial da coisa, e resolvem embarcar e se desafiar a seguir construindo algo novo – a maioria caindo numa grande armadilha.
O resultado desta “artimanha” da continuidade são as franquias que muitas vezes não possuem muita ligação entre seus filmes. E uma das mais duradouras do gênero terror é um grande exemplo disso. Com o novo episódio da franquia O Massacre da Serra Elétrica estreando hoje na Netflix, muitos fãs – em especial os mais jovens – podem ficar confusos sobre a ordem de assistir a tais filmes e onde este novo capítulo se encaixa na cronologia. Portanto, assim como fizemos com a franquia Halloween (no texto que você confere no link abaixo), resolvemos colocar em pratos limpos todas as linhas narrativas que O Massacre da Serra Elétrica já teve, incluindo refilmagens, pré-sequências, continuações e reboots, para você entender melhor se está chegando nessa com o trem andando. Confira abaixo e não esqueça de comentar.
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Primeira Linha Narrativa: Os Quatro Primeiros Filmes
Voltando para a raiz de tudo, a franquia começou lá atrás em 1974 – quando muitos de vocês sequer sonhavam em nascer – e nesta época O Massacre da Serra Elétrica nem esperava se tornar uma franquia. Era apenas um filme independente, de baixíssimo orçamento, que devido ao seu conteúdo extremamente perturbador e explícito (para a época), tratou de chocar plateias pelo mundo todo, sendo banido por muitos anos de diversos países. Dirigido por Tobe Hooper (que depois viria a dirigir o sucesso Poltergeist), a trama era levemente baseada nos feitos do psicopata da vida real Ed Gein – que também inspirou Alfred Hitchcock em Psicose (1960) -, um assassino em série que decorava sua casa com pele humana retirada de suas vítimas, e profanava cemitérios e cadáveres, os levando para casa, como o da sua própria mãe. Temos um pouco dessa narrativa macabra em ambos Psicose e O Massacre da Serra Elétrica.
Justamente por este leve contato com uma história real, o filme tornou-se ainda mais falado, já que os produtores espertinhos venderam o longa como “UM ACONTECIMENTO REAL”, estampado em todas as peças promocionais. O ar “amador” do longa acrescentava ainda mais em certo realismo – como se tudo fosse quase um documentário. O fato trouxe uma aura cult “proibida” para o longa, e era desta forma que este que vos fala, e meus amigos na infância, tratamos o longa quando o alugamos finalmente na locadora. Era A Bruxa de Blair da época, bem mais sangrento e gráfico. É preciso lembrar também, em especial no lançamento do longa, que não existia nada igual – muitos creditam O Massacre da Serra Elétrica como o primeiro slasher do cinema, e Leatherface como o primeiro grande vilão de tais filmes adolescentes. Halloween e Sexta-Feira 13 viriam depois.
Ao contrário de Psicose, que possuía classe, atores de verdade, e muita arte em sua confecção, O Massacre da Serra Elétrica foi abraçado somente nas rodinhas de aficionados pelo gênero terror. A controvérsia em torno do lançamento na época sem dúvida serviu para vender mais o filme, como a famosa psicologia reversa. Na trama, um grupo de adolescentes viaja até o Texas para visitar a propriedade da família de um deles. Assim como Easy Rider – Sem Destino (1969) é considerado um marco do fim da “inocência” da era hippie e sua contracultura, O Massacre da Serra Elétrica funciona exatamente no mesmo âmbito para o público do cinema de gênero, no caso o horror. Aqui também temos um grupo de hippies saídos de tal década propícia – que só pensam em paz e amor (mais em amor). Eles são confrontados e punidos com a terrível realidade, assim como Easy Rider, de uma turma de caipiras que não os aceita. Neste caso, uma família de canibais assassinos.
Por doze anos, O Massacre da Serra Elétrica esteve no imaginário cult como uma destas obras proibidas, muito pesadas para o grande público, e que poucos se gabavam de ter conseguido assistir. Isso iria mudar em 1986, quando a “picareta” Cannon Films se apossasse dos direitos e lançasse um novo filme. Em meados da década de 1980, tais filmes como O Massacre da Serra Elétrica “valiam ouro”, e já haviam ganhado um subgênero para chamar de seu – os filmes slasher, impulsionados após a estreia de Sexta-Feira 13 em 1980. Assim, todos os estúdios e produtores de Hollywood queriam sua própria franquia, e a Cannon – especializada em ação – comprou os direitos do Massacre e escalou o mesmo diretor Tobe Hooper para tirar o papel uma sequência para o clássico cult. O desfecho daquele filme deixava possibilidade para isso.
Tobe Hopper, por outro lado, não estava interessado em fazer o mesmo filme que já tinha feito. Ou sequer um filme na mesma veia daquele, leia-se: cru, violento e visceral. Nesta altura, o diretor já havia trabalhado em grandes produções, como Poltergeist, com Steven Spielberg. Então, mesmo tendo aceitado comandar a parte 2 do Massacre da Serra Elétrica, o cineasta criou o filme que desejava, e não poderia ser mais diferente do anterior. Esse segundo, possui muito mais humor e o clima das produções dos anos 1980. Para alguns, ele é ainda melhor, possui mais valor de produção, um orçamento mais folgado e parece uma verdadeira produção hollywoodiana e não algo filmado no jardim com amigos. Os que procuram terror sério podem ficar decepcionados. O segundo Massacre é tão cult e icônico quanto o original, porém, bem mais divertido. Esse tom “galhofa” deixou os produtores da Cannon estupefatos e revoltados com Hooper.
O segundo Massacre da Serra Elétrica pode ter ressurgido hoje como cult, mas não fez sucesso em sua época de estreia. Assim, os direitos foram revertidos para a New Line Cinema. Na época, o estúdio fazia muito sucesso com os filmes de Freddy Krueger na Hora do Pesadelo, e garantiam uma segunda franquia icônica para chamar de sua. Em 1990, lançavam Leatherface – O Massacre da Serra Elétrica 3, que conta com o indicado ao Oscar Viggo Mortensen no elenco. Aqui, dividido entre o tom sério e a galhofa, o longa terminou rapidamente varrido para debaixo do tapete. Um quarto filme ainda seria produzido pela New Line, intitulado The Next Generation. Na verdade, esse subtítulo foi adicionado após exibições desastrosas do filme em 1994. O longa foi remontado e relançado em 1995. E como em seu elenco contava com os primeiros trabalhos de gente como Matthew McConaughey e Renée Zellweger antes da fama, os produtores acharam por bem tentar relançar o filme em 1997 – quando a carreira dos astros (hoje vencedores do Oscar) começava a decolar. Ambos processaram os produtores. O curioso desta primeira linha narrativa é que os membros da família mudam constantemente, a não ser por Leatherface – que no quarto filme se transforma até em travesti.
Segunda Linha Narrativa: O Remake
Os quatro filmes da franquia O Massacre da Serra Elétrica, que somam 20 anos entre os longas (de 1974 a 1994), possuem na verdade pouca ligação entre si – a não ser o vilão principal Leatherface. Isso porque os personagens sobreviventes já não se encontram no elenco do filme seguinte e inclusive os membros da família de canibais são praticamente todos renovados a cada filme. Mesmo assim, como termos como “reboot” e “remake” não eram muito populares nestas décadas, os filmes não eram vendidos desta forma. Agora pulamos para 2003, numa década que ficou conhecida por sua extensa lista de refilmagens de produções de terror. E uma das principais a chegar foi justamente a nova roupagem para O Massacre da Serra Elétrica, mais uma vez pelas mãos da New Line Cinema.
Como os dois filmes que havia produzido não se tornaram sucesso (muito pelo contrário), a New Line optou acertadamente por reverenciar o original para os novos tempos – refilmando o longa na forma de uma superprodução. Bancando o filme estava o mega produtor Michael Bay, com sua Platinum Dunes. E impulsionando o elenco, Jessica Biel, jovem nome em ascensão na época em Hollywood. A proposta deu muito certo, até hoje o remake é um dos filmes mais queridos pelos fãs da franquia. O problema aqui é que os realizadores não deixaram muito espaço para uma continuação – matando membros importantes da família e arrancando um dos braços de Leatherface. Essa sinuca de bico deixada ao final do remake fez com que os produtores optassem por uma prequel como sequência. Lançado três anos depois do remake, O Massacre da Serra Elétrica: O Início (2006) é tido pelos fãs como o único filme que faz dobradinha com algum outro – aqui com o remake. O Início serve para mostrar como os eventos de 2003 foram construídos, se passando pouco tempo antes dos acontecimentos do remake, e aproveitando um Leatherface ainda com braço e o desempenho impactante do saudoso R. Lee Ermey. Neste filme, sai Jessica Biel e entra Jordana Brewster, de Velozes e Furiosos.
Terceira Linha Narrativa: O Reboot
Depois de criar alguns dos filmes mais elogiados da franquia pelos fãs (acredite), a New Line e a Platinium Dunes de Michael Bay venderam mais uma vez os direitos de O Massacre da Serra Elétrica. Acontece que após o remake e a pré-sequência dele, os produtores não tinham muito mais para onde levar essa história. Assim, a franquia terminou nas mãos da Lionsgate e da Millenium Films. E a opção dos produtores aqui foi por um reboot. Como um remake já havia sido criado em 2003, dez anos depois os produtores desta vez optavam por uma história que iria descartar todos os filmes e continuar após o primeiro. Diga se isso não é familiar? O Massacre da Serra Elétrica 3D tenta inovar um pouco em sua história, colocando Alexandra Daddario, a mocinha, como uma parente “perdida” da família de canibais, redescobrindo sua herança e fazendo parceria com Leatherface – transformado em anti-herói neste filme.
Quarta Linha Narrativa: 2ª Prequel
Até a chegada deste exemplar em 3D, a franquia havia ficado sete anos inativa. E este filme marcaria o último, até o momento, a receber um lançamento nos cinemas brasileiros. Isso porque quatro anos depois, Massacre no Texas (Leatherface), o primeiro exemplar da franquia que não leva O Massacre da Serra Elétrica no título, era lançado aqui no Brasil direto no mercado de home vídeo, após uma estreia tímida e limitada nos EUA e em outros países do mundo. Em termos de originalidade, Massacre no Texas realmente é o mais diferente da franquia. Ainda nas mãos da Lionsgate e Millenium Films, o oitavo longa também é uma pré-sequência, a segunda da série após O Início (2006). Aqui, porém, a proposta voltava ainda mais no tempo para descortinar a infância do jovem Leatherface. Depois, já na fase adolescente, durante uma fuga do hospital psiquiátrico, o público precisa descobrir qual dentre quatro personagens se tornará o maníaco.
Quinta Linha Narrativa: 2º Reboot
E finalmente, após oito filmes, chegamos à estreia da Netflix deste fim de semana. Os fãs poderão se deliciar com o mais novo exemplar da franquia O Massacre da Serra Elétrica. Como dito acima, esse é o segundo filme da série que não recebeu um lançamento nos cinemas brasileiros, depois de Massacre no Texas (2017), e o primeiro que estreia diretamente numa plataforma de streaming. O vilão Leatherface se junta ao boneco Chucky (em sua série) como os dois primeiros ícones do terror a receberem estreias em plataformas de streamings, abrindo os horizontes para os novos tempos. A ideia por trás de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface é reiniciar a franquia mais uma vez. Assim como o filme em 3D de 2013 havia feito, a proposta é esquecer todas as continuações, e emendar diretamente após o original de 1974.
Com produção e roteiro dos mesmos realizadores de A Morte do Demônio (2013) e O Homem nas Trevas (2016), a trama mostra um grupo de jovens tentando reerguer e modernizar uma cidade abandonada no Texas. No local, eles terminam entrando no território do maníaco Leatherface, cinquenta anos após os eventos do original – toma essa Michael Myers! E assim como Halloween, que trouxe a heroína original Laurie Strode de volta, em O Massacre da Serra Elétrica também temos a mocinha Sally Hardesty retornando de 1974 para se vingar do psicopata de seus pesadelos. Aqui, porém, não temos a mesma atriz interpretando, já que Marilyn Burns (que atuou no reboot de 2013) faleceu em 2014. Burns foi substituída por Olwen Fouéré no filme deste ano.