O Predador: A Caçada (Prey) é um dos grandes sucessos desta segunda metade de 2022 e promete colocar a franquia do alienígena caçador de volta aos eixos. Voltando 35 anos no passado, nos deparamos com o sucesso do primeiro filme, estrelado pelo austríaco Arnold Schwarzenegger. A produção fez um enorme sucesso surpresa na época e elevou o nome do ator musculoso a um novo patamar em sua carreira. Ainda hoje o longa é enaltecido como um dos melhores filmes de ação, ficção e terror dos anos 80. Tamanho prestígio, é claro, colocou cifrões nos olhos dos executivos da 20th Century Fox na época, que em pouco tempo deram sinal verde para uma sequência começar a sair do papel. Para a empreitada, o primeiro passo foi recrutar novamente os roteiristas irmãos Jim e John Thomas do original, para bolar uma nova história envolvendo o caçador de safari intergaláctico que havia caído no gosto popular.
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No entanto, segundo os próprios irmãos Thomas, originalmente não havia planos para uma continuação e antes de começarem a escrever o tratamento para uma, o estúdio queria esperar para ver como a série de Histórias em Quadrinhos com o personagem iria se sair com seu público-alvo: crianças e adolescentes. Intitulada Predator: Concrete Jungle, a série em quadrinhos foi lançada em 1989 e logo se tornaria um enorme sucesso. É curioso, mas nos anos 80, o sinal verdade para uma produção cinematográfica podia depender da recepção de uma HQ. Desta forma, o mesmo produtor Joel Silver do original pôde finalmente convencer os executivos da Fox a liberarem a tão esperada continuação de O Predador.
Mas não foi apenas esta ligação que Predador 2 teria com os quadrinhos, inúmeros conceitos foram tirados desta HQ, como levar o alienígena da floresta para a cidade grande – no filme a Nova York das tirinhas precisou ser mudada para Los Angeles por motivos orçamentários. Porém, estavam lá a forte onda de calor que assolava a metrópole, o policial que seria o novo protagonista da história e os misteriosos oficiais do governo que tentavam encobrir a existência dos Predadores para adquirir sua tecnologia. A diferença é que o cabeça destes oficiais do governo era o mesmo General Phillips (R.G. Armstrong), responsável por comandar a operação no primeiro filme, e o policial protagonista era o irmão de Dutch, o personagem de Schwarzenegger. Até mesmo a cena do ataque do alienígena dentro do metrô é originária dos quadrinhos. Os roteiristas acharam este um dos momentos mais interessantes da trama nos quadrinhos e incluíram em sua narrativa.
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No tratamento original do roteiro escrito pelos irmãos Thomas, Dutch (Schwarzenegger) retornaria. Ele agora seria o líder de um time que caçaria o Predador em Los Angeles. É dito também que desta vez o personagem não seria o protagonista do filme, dividindo essa vaga com o tal policial durão que terminou ganhando as formas de Danny Glover (saído do sucesso dos dois primeiros Máquina Mortífera). Ou seja, isso significaria que Arnold teria que dividir os créditos principais com Glover para esta sequência – o que pode ter sido o motivo de sua desistência do projeto. Ainda segundo o diretor Stephen Hopkins, escolhido para comandar o segundo filme, Arnold teria recusado um papel coadjuvante no filme não por não ter gostado do roteiro, e sim por causa de conflitos de agenda com Um Tira no Jardim da Infância (também lançado em 1990). Em entrevista em 1991, Hopkins se disse aliviado, já que a entrada de Arnold no projeto significaria uma enorme mudança no roteiro.
Há ainda os que afirmam que a recusa de Schwarzenegger na sequência foi meramente salarial. É a história que o produtor John Davis conta, dizendo que o astro teria pedido mais US$250 mil acima de seu cachê – o que o estúdio se recusou a pagá-lo. Outros ainda dizem que Arnold recusou porque estava ocupado gravando O Vingador do Futuro (outro blockbuster que o ator lançou em 1990). E por fim, alguns relatos apontam que o ator não gostou do caminho que o roteiro seguiu com Dutch, o transformando quase no vilão do filme. Nessa linha narrativa, Dutch teria o papel que depois foi remodelado para abrigar Peter Keys, o personagem vivido por Gary Busey na sequência. O papel seria bem mais substancial com Arnold em cena. Com a saída do austríaco do projeto, o papel foi reduzido.
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Existe ainda outro argumento envolvendo o personagem de Dutch. Trata-se de uma explicação de bastidores sobre seu paradeiro e seu sumiço no segundo filme. Nessa narrativa, Dutch foi hospitalizado após o fatídico encontro com o Predador no primeiro filme. Ele estaria sendo tratado por envenenamento por radiação, como resultado da exposição ao mecanismo de autodestruição do alienígena. Keys o encontra e o interroga no hospital. Depois, o oficial do governo parte com sua equipe para a mesma floresta a fim de investigar evidências da criatura. Nesse meio tempo, Dutch desaparece do hospital. Já o ator Gary Busey conta ainda outra história. Segundo o ator, Keys estava à frente de novas missões para caçar o Predador, e algumas envolvendo Dutch já recuperado. Os dois estariam trabalhando juntos, até que Keyes perde contato com Dutch.
Antes do ótimo Danny Glover ser contratado para viver o policial durão Mike Harrigan em Predador 2, outros atores foram cogitados. Entre eles o saudoso astro Patrick Swayze, então saído do sucesso de Dirty Dancing, e que no mesmo ano estrelaria o fenômeno indicado ao Oscar Ghost – Do Outro Lado da Vida. É possível que com o envolvimento de Swayze o personagem fosse criado como o irmão de Dutch. Porém, o ator terminou machucado durante as filmagens de Matador de Aluguel (1989) e precisou se retirar do projeto. O estúdio, no entanto, tinha outros planos para quem achava que devia protagonizar Predador 2. A Fox estava interessada em fechar acordo com Steven Seagal, astro das artes marciais transformado em ator, que havia estrelado seu primeiro filme com Nico – Acima da Lei (1988). Nessa época Seagal era visto como potencial novo astro da ação e a Fox o queria eu seu filme.
O diretor Stephen Hopkins chegou inclusive a se encontrar com Steven Seagal para discutir o papel. Os dois não conseguiram chegar a um consenso sobre como viam o policial protagonista. Seagal achava que o personagem deveria ser um psiquiatra da CIA que lutava artes marciais – ou seja, um sujeito inteligente e exímio guerreiro. Já Hopkins queria seguir a linha do “homem comum”, fazendo do protagonista um policial dedicado, porém, um homem do povo, que poderia ser qualquer um, sem habilidades especiais. Muito disso é o que vemos de fato em tela com a personificação de Danny Glover. Assim, Seagal e Predador 2 se separariam e seguiriam caminhos diferentes, com o ator partindo para estrelar Marcado para a Morte (lançado também em 1990) para a mesma Fox. Uma curiosidade é que ambos Marcado para a Morte e Predador 2 usam como tema de seus filmes gangues de jamaicanos violentas, controlando o crime na cidade de Los Angeles. O fato foi inspirado na realidade, já que durante os anos 80 e 90, gangues jamaicanas realmente “tocavam o terror” em grandes cidades nos EUA.