O Predador: A Caçada já é um dos grandes sucessos de 2022. O filme marca mais de 90% de aprovação da imprensa especializada no agregador Rotten Tomatoes e os fãs igualmente continuam a se derreter de elogios para o thriller. O filme se tornou o maior sucesso de todos os tempos nas plataformas Hulu (nos EUA) e Star+ (Brasil e América Latina), da Disney. Passada há 300 anos, a trama do filme traz uma das primeiras visitas do caçador interplanetário à Terra. Tal abordagem criativa de voltar no tempo nunca havia sido dada à franquia, e o filme que coloca o Predador contra uma tribo de caçadores Comanches, em especial a jovem Naru (Amber Midthunder), que possui o desejo de mostrar todo o seu potencial e que pode ser tão eficiente na arte da caça quanto os homens de sua tribo. O sucesso é tanto que podemos dizer oficialmente que A Caçada colocou a franquia O Predador de volta aos eixos – é só não deixar a bola cair numa eventual continuação.
O Predador é sem dúvida uma das grandes criações do cinema, tanto na forma de seu design (criado pelo mestre Stan Winston), quanto no conceito da trama: uma criatura alienígena que é um exímio caçador, chegando para colocar o animal mais perigoso de todos, o homem, no lugar da presa. O Predador talvez fosse o alienígena mais assustador e feroz da sétima arte, não fosse pela existência de outra criatura extraterreste igualmente voraz e bastante famosa: o xenomorfo Alien. Os dois definitivamente ocupam o topo como as criaturas alienígenas mais assustadoras do cinema. Fica difícil dizer qual é a mais interessante ou perigosa. De fato, a criação do filme O Predador (1987) teve muito a ver com o sucesso de Aliens – O Resgate (1986), sequência do filme do alienígena cabeçudo. Os roteiristas do filme original com Arnold Schwarzenegger inclusive admitiram ter se inspirado em Aliens para criar sua história.
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Sendo assim, é claro que estas duas franquias sempre estiveram ligadas. E para a sorte dos fãs, as duas pertenciam ao mesmo estúdio: a 20th Century Fox. O encontro dos titãs nas telonas era apenas questão de tempo. Voltando para 1990, quando a continuação Predador 2 foi lançada, podemos notar um elemento curioso em sua origem. Apesar do primeiro O Predador (1987) ter sido um baita sucesso, os executivos da Fox só deram sinal verde para a continuação depois que a HQ do Predador se mostrou bem-sucedida igualmente. Assim, os mesmos roteiristas puderam utilizar muitas das ideias contidas nos quadrinhos para a sua sequência – como mover a trama para uma grande metrópole. No entanto, um elemento contido em Predador 2 aguçaria a curiosidade dos fãs como nenhum outro em todo o filme: a crânio do xenomorfo Alien dentro da espaçonave do Predador guardada como troféu ao final do filme. No estilo piscou perdeu, o momento é o que os fãs chamariam hoje de um “easter egg”. É claro que todo adolescente que viveu os anos 90, numa era pré-internet, conhecia muito bem essa cena e ninguém perdeu esse momento, usando a tecla pause para mostrar aos amigos incansavelmente. E por mais que não existisse a internet ainda, o momento foi propagado da forma old school: no boca a boca.
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Com a sequência Predador 2, o mestre em efeitos práticos e maquiagem Stan Winston pôde ousar mais na hora de criar, por exemplo, os armamentos do caçador espacial. Assim, para o segundo filme além da garra retrátil e o canhão de plasma no ombro, o alienígena ganharia ainda uma lança retrátil, um disco teleguiado e a infame rede que esmaga. Porém, o grande trunfo de Winston viria ao desfecho do filme. Nos momentos finais de Predador 2, Mike Harrigan (Danny Glover) consegue adentrar a espaçonave da criatura e notar a sala de troféus contida nela, com os crânios de diversos seres que o Predador matou em suas caçadas pelo universo. Nesse trecho também, o protagonista é cercado por outros Predadores, que o reconhecem como adversário à altura e o premiam. Essa cena é dita ter sido a mais cara de Predador 2, já que em cena vemos diversas criaturas ao mesmo tempo e a equipe de Winston precisou criar nove novas roupas detalhadas e diferenciadas para os Predadores – que no fim das contas terminam com poucos minutos de tela. Outra curiosidade é que esses Predadores foram interpretados por jogadores de basquete do time Lakers, de Los Angeles, a pedido de Danny Glover, um fã torcedor.
Para a continuação Predador 2, o mesmo diretor do original John McTiernan foi cogitado para comandar. Acontece que após o sucesso de Duro de Matar (1988), o salário do cineasta havia subido para US$2 milhões e o estúdio foi incapaz de oferecer um cachê tão alto. Assim, entrava em cena Stephen Hopkins, diretor que havia impressionado os produtores com o terror A Hora do Pesadelo 5 (1989), responsável por lhe garantir a vaga nesta sequência.
Voltando a crânio do Alien, o criador Stan Winston revelou que a ideia foi mesmo uma brincadeira no estilo de uma provocação, já que não seriam processados pelo mesmo estúdio. Pronto, daí foi apenas um passo para os fãs começarem a especular sobre o encontro destes dois titãs das galáxias e sonhar em ver tal momento glorioso em tela. Como sempre ocorre em histórias lendárias, muitos indivíduos acabam clamando crédito por certos feitos. Assim, uma versão é que a ideia teria vindo de John Rosengrant e Shane Mahan, técnicos de efeitos especiais do time de Winston. Já outra versão aponta para o diretor Stephen Hopkins como dono da ideia, que tinha a intenção de enfatizar que Alien e Predador de fato pertenciam ao mesmo universo cinematográfico.
O que precisa ser levado em conta, no entanto, é que a esta altura, os fãs já haviam podido conferir o encontro dos monstruosos extraterrestres nas páginas de uma HQ. Lançada pela mesma editora das séries solo de ambas as criaturas, a Dark Horse Comics, os quadrinhos Alien vs. Predador estrearam em fevereiro de 1990, nove meses antes do lançamento de Predador 2 nos cinemas. Assim, a ideia tendo partido de quem quer que seja, o que todas as versões concordam é que foi uma clara menção às HQs igualmente, que eram extremamente populares na época. Desta forma, Predador 2 ajudava na construção do mito das histórias de Alien vs. Predador, que após o filme ganharam todo tido de merchandising e produtos licenciados como vídeo games, livros, brinquedos, bonecos e mais quadrinhos. Só faltava mesmo um filme para acompanhar.
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Como nem tudo é fácil em Hollywood, ou melhor dizendo nada é fácil, a produção do filme Alien vs. Predador terminou caindo no limbo do desenvolvimento dos infernos e só veria a luz do dia longos 14 anos depois. Como ocorre muitas vezes também, à altura do lançamento do crossover em 2004, o hype do encontro havia quase todo passado – sendo o seu auge mesmo durante os anos 90. Caso o filme tivesse sido lançado em meados dos anos 90, sua aceitação talvez fosse outra.
A verdade é que antes da ideia de levar o crossover Alien vs. Predador aos cinemas, a intenção dos produtores da franquia O Predador na Fox era mesmo por um terceiro filme solo do caçador espacial. Para onde essa história iria seguir num eventual terceiro filme pode ser assunto para uma nova matéria. Seja como for, Predador 2 teve ainda mais problemas na hora de ser lançado, em especial no que diz respeito à sua censura, já que a continuação eleva o nível da violência. Segundo o próprio diretor Stephen Hopkins, o filme precisou ser remontado nada menos que 20 vezes para finalmente receber uma censura que agradasse o estúdio, eliminando as cenas mais gráficas das matanças do alienígena. No fim das contas, Predador 2 terminou guardando um recorde, graças a ter se tornado o primeiro filme a receber uma censura então recém-criada, a NC-17 (que enfatiza que nenhum jovem de 17 anos ou abaixo disso poderá ser admitido na sessão – levando em conta que nos EUA aos 16 anos os adolescentes já podem inclusive dirigir).
O que terminou mudando a ideia dos produtores sobre um possível terceiro filme de O Predador ainda nos anos 1990 foi a aceitação do público e dos críticos em relação a Predador 2. Com críticas em sua grande maioria negativas e uma bilheteria de US$30 milhões nos EUA (não conseguindo sequer pagar seu orçamento de US$35 milhões), os planos para seguir em novas produções foi colocado na gaveta. Predador 2 ainda faria mais US$27 milhões mundialmente para somar à sua bilheteria total, e se tornaria um sucesso moderado nas videolocadoras e exibições na TV. Nada disso, no entanto, faria a Fox se animar para um filme 3. Uma curiosidade é que no mundo em que vivemos hoje, em que o público vira e mexe exige versões do diretor para seus filmes queridos, quem sabe ainda ressurja ao público a versão de Predador 2 com pelo menos mais meia hora de cenas inéditas – é o que os fãs afirmam que exista nos cofres do estúdio, que podem ser abertos agora pela Disney e disponibilizados no seu streaming.
Essa recepção fria que Predador 2 recebeu em sua época de lançamento voltou as atenções dos produtores do estúdio para o tão badalado crossover com o Alien. Mas a franquia do alienígena xenomorfo cabeçudo e babão ainda ganharia mais dois filmes solo (Alien³ e Alien – A Ressurreição) antes disso acontecer. E quanto ao Predador, demoraria nada menos do que 20 anos até o caçador espacial ter um filme solo novamente com Predadores (2010), que tampouco ajudou o personagem a recuperar seu prestígio junto ao público. Antes, é claro, o público pôde presenciar dois filmes contendo o duelo de Alien vs. Predador. Tudo isso é passado agora, e com O Predador: A Caçada – que se tornou o maior sucesso da plataforma Hulu e Star+ até hoje no mundo inteiro – o tão querido personagem monstruoso ganhou seu tão esperado retorno aos corações cinéfilos.