quarta-feira , 20 novembro , 2024

Once Upon a Time | Há dez anos, série nos levava para a Terra do Nunca e para Oz

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A terceira temporada de Once Upon a Time certamente é uma das divisoras da série e influencia, seja em estrutura, seja em narrativa, nos futuros anos da série até seu reboot no ano retrasado. Diferente das duas primeiras iterações, que mergulharam de cabeça em certas histórias e aproveitaram ao máximo o universo ficcional que criaram, este aqui opta por uma divisão bem mais explícita de arcos, iniciando com a jornada dos nossos heróis e vilões para a Terra do Nunca em busca de Henry (Jared S. Gilmore), raptado por asseclas de uma força poderosíssima que prometeu lhes conceder vida eterna e tudo o que bem entenderem – e talvez essa força seja mais ameaçadora que o próprio Senhor das Trevas, também conhecido como Rumplestiltskin (Robert Carlyle).

Adam Horowitz e Edward Kitsis sempre souberam como criar um mundo instigante e bem-intencionado, além de conseguir envolver um público ávido por boas histórias. Não é à toa que ambos trabalharam em Lost’, uma das séries que revolucionou a televisão contemporânea dando início a um novo jeito de contar histórias – ainda que tenha desagradado seus fãs conforme chegava à sua conclusão. E mesmo com essas incríveis habilidades narrativas, não podemos deixar de sentir uma certa falta de esmero e preocupação com as novas tramas a nos serem contadas – talvez mais pelo excesso de personagens e pela rápida resolução das histórias que pelas premissas.



A chegada à Terra do Nunca é perscrutada por diversos perigos, incluindo tempestades mortais, ataques de criaturas aquáticas e um constante sofrimento que apenas aumenta nossa angústia em relação ao que nos espera nessa mágica ilha. E, como já é de praxe, o time de roteiristas não se contenta em apenas adicionar personagens de contos de fada conhecidos, mas fornecer explicações e motes mais profundos que dialogam com as fábulas originais – e o principal antagonista emerge em Peter Pan (Robbie Kay), que carrega consigo segredos assustadores.

Ao contrário da personalidade rebelde e acolhedora que conhecemos através dos longas da Disney, esta personificação de Pan é, na verdade, a mais cruel e pútrida que existe. Por detrás do jovem rosto, ele sequestra garotos infelizes com suas famílias, levando-os para um lugar onde nunca envelhecem e que, na verdade, servirão como fonte de poder para o eterno menino, nutrindo-se de seus choros de angústia e de seu infeliz saudosismo. E tudo isso parece muito bem pensado, ou ao menos era o que pensávamos até o roteiro perder-se em múltiplas cronologias e tentativas de unir o presente ao passado, criando camadas e mais camadas que, eventualmente, morrem na praia.

É sempre bom vermos personagens adorados ganharem vida no mundo do entretenimento, e alguns rostos são bastante inesquecíveis. Enquanto Rose McIver se entrega a uma amargurada versão de Sininho, que deseja se vingar mais que tudo em sua vida como ex-fada, tendo perdido suas asas e condenada a passar o resto de seus dias enclausurada nas densas e perigosas florestas da ilha, JoAnna Garcia Swisher encarna a adorável Ariel, cujo final feliz é destruído em prol de uma reviravolta incrível. E adivinhem quem se encontra no centro de todo esse sofrimento? A própria Regina Mills (Lana Parrilla roubando a cena novamente em uma performance incrivelmente teatral e recheada de nuances), que agora tenta se reconciliar com os heróis, salvar seu filho e encontrar redenção.

Todavia, a série se perde em meio a indícios de presunção que, na verdade, nos deixam menos intrigados e mais entediados. Nessa primeira parte, são poucos os episódios que realmente conseguem causar o espanto característico das duas temporadas anteriores, mas dois deles despontam em cliffhangers incríveis, à medida que se aproximam do midseason finale. Uma nova maldição os manda de volta para a Floresta Encantada e já dá o tom para um novo e tenebroso encontro, que coloca em voga uma das personagens mais poderosas do panteão OUAT’ em confronto com Regina: Zelena, ou a Bruxa Má do Oeste (Rebecca Mader).

Com o retorno para a segunda metade, os episódios sofrem uma melhora significativa, mas ainda não se entregam totalmente ao potencial que têm ou àquilo que prometem. Personagens vêm e voltam, tramas tornam-se desnecessariamente complexas e, caso não fosse por alguns nomes que se salvam devido a atuações bastante interessantes, a temporada poderia se perderia por completo. Entretanto, é bem interessante ver como os criadores contornam certos problemas e unem narrativas clássicas em um mesmo mundo – e mesmo assim Oz, em toda sua maravilhosa fabulosidade, também não recebe o carinho necessário, deixando várias pontas soltas.

De qualquer forma, a equipe de diretores retorna para um drama novelesco que funciona, ainda mais perscrutado pelos despontes fantásticos e pelo constante uso da magia. Apesar dessa coesão cênica, algumas cenas se mostram falsas demais para adicionarem qualquer coisa à trama, incluindo as batalhas – se é que podemos chamar as sequências disso – entre Regina e Zelena. É um fato dizer que o brilho de originalidade retorna apenas com a dupla de episódios finais, durante os quais Emma (Jennifer Morrison) e Hook (Colin O’Donoghue) caem na maldição da Bruxa Má e voltam para o passado, revivendo os dias de glória de suas famílias.

Once Upon a Time, em um escopo generalizado, continua a agradar os fãs, mas pode ter encontrado problemas em conquistar um novo público que estava acostumado às histórias que contavam. E, ainda que a necessidade de repaginar a fórmula apareça com expressividade considerável aqui, a estrutura divisória se repetiria até o fim dessa saga.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Adam Horowitz e Edward Kitsis sempre souberam como criar um mundo instigante e bem-intencionado, além de conseguir envolver um público ávido por boas histórias. Não é à toa que ambos trabalharam em Lost’, uma das séries que revolucionou a televisão contemporânea dando início a um novo jeito de contar histórias – ainda que tenha desagradado seus fãs conforme chegava à sua conclusão. E mesmo com essas incríveis habilidades narrativas, não podemos deixar de sentir uma certa falta de esmero e preocupação com as novas tramas a nos serem contadas – talvez mais pelo excesso de personagens e pela rápida resolução das histórias que pelas premissas.

A chegada à Terra do Nunca é perscrutada por diversos perigos, incluindo tempestades mortais, ataques de criaturas aquáticas e um constante sofrimento que apenas aumenta nossa angústia em relação ao que nos espera nessa mágica ilha. E, como já é de praxe, o time de roteiristas não se contenta em apenas adicionar personagens de contos de fada conhecidos, mas fornecer explicações e motes mais profundos que dialogam com as fábulas originais – e o principal antagonista emerge em Peter Pan (Robbie Kay), que carrega consigo segredos assustadores.

Ao contrário da personalidade rebelde e acolhedora que conhecemos através dos longas da Disney, esta personificação de Pan é, na verdade, a mais cruel e pútrida que existe. Por detrás do jovem rosto, ele sequestra garotos infelizes com suas famílias, levando-os para um lugar onde nunca envelhecem e que, na verdade, servirão como fonte de poder para o eterno menino, nutrindo-se de seus choros de angústia e de seu infeliz saudosismo. E tudo isso parece muito bem pensado, ou ao menos era o que pensávamos até o roteiro perder-se em múltiplas cronologias e tentativas de unir o presente ao passado, criando camadas e mais camadas que, eventualmente, morrem na praia.

É sempre bom vermos personagens adorados ganharem vida no mundo do entretenimento, e alguns rostos são bastante inesquecíveis. Enquanto Rose McIver se entrega a uma amargurada versão de Sininho, que deseja se vingar mais que tudo em sua vida como ex-fada, tendo perdido suas asas e condenada a passar o resto de seus dias enclausurada nas densas e perigosas florestas da ilha, JoAnna Garcia Swisher encarna a adorável Ariel, cujo final feliz é destruído em prol de uma reviravolta incrível. E adivinhem quem se encontra no centro de todo esse sofrimento? A própria Regina Mills (Lana Parrilla roubando a cena novamente em uma performance incrivelmente teatral e recheada de nuances), que agora tenta se reconciliar com os heróis, salvar seu filho e encontrar redenção.

Todavia, a série se perde em meio a indícios de presunção que, na verdade, nos deixam menos intrigados e mais entediados. Nessa primeira parte, são poucos os episódios que realmente conseguem causar o espanto característico das duas temporadas anteriores, mas dois deles despontam em cliffhangers incríveis, à medida que se aproximam do midseason finale. Uma nova maldição os manda de volta para a Floresta Encantada e já dá o tom para um novo e tenebroso encontro, que coloca em voga uma das personagens mais poderosas do panteão OUAT’ em confronto com Regina: Zelena, ou a Bruxa Má do Oeste (Rebecca Mader).

Com o retorno para a segunda metade, os episódios sofrem uma melhora significativa, mas ainda não se entregam totalmente ao potencial que têm ou àquilo que prometem. Personagens vêm e voltam, tramas tornam-se desnecessariamente complexas e, caso não fosse por alguns nomes que se salvam devido a atuações bastante interessantes, a temporada poderia se perderia por completo. Entretanto, é bem interessante ver como os criadores contornam certos problemas e unem narrativas clássicas em um mesmo mundo – e mesmo assim Oz, em toda sua maravilhosa fabulosidade, também não recebe o carinho necessário, deixando várias pontas soltas.

De qualquer forma, a equipe de diretores retorna para um drama novelesco que funciona, ainda mais perscrutado pelos despontes fantásticos e pelo constante uso da magia. Apesar dessa coesão cênica, algumas cenas se mostram falsas demais para adicionarem qualquer coisa à trama, incluindo as batalhas – se é que podemos chamar as sequências disso – entre Regina e Zelena. É um fato dizer que o brilho de originalidade retorna apenas com a dupla de episódios finais, durante os quais Emma (Jennifer Morrison) e Hook (Colin O’Donoghue) caem na maldição da Bruxa Má e voltam para o passado, revivendo os dias de glória de suas famílias.

Once Upon a Time, em um escopo generalizado, continua a agradar os fãs, mas pode ter encontrado problemas em conquistar um novo público que estava acostumado às histórias que contavam. E, ainda que a necessidade de repaginar a fórmula apareça com expressividade considerável aqui, a estrutura divisória se repetiria até o fim dessa saga.

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