sábado , 22 fevereiro , 2025

Operação Red Sparrow | Relembre o DECEPCIONANTE thriller de espionagem estrelado por Jennifer Lawrence que completa 5 anos em 2023


Popularizando-se na década de 1960 com inúmeras narrativas extremamente envolventes, o gênero fílmico de espionagem parte dos diversos romances que povoam o imaginário popular desde o final do século XIX com a criação de personagens que funcionam como pontapé inicial para essa vertente criativa ser endossada como uma das mais versáteis de todos os tempos. É claro que podemos traçar um paralelo com iterações detetivescas que remontam às graças de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, mas sem sombra de dúvida ganham um ar mais nacionalista e heroico com nomes como John Le Carré e Ian Fleming.

É interessante analisar como essas histórias trabalham de forma fluida os maniqueísmos mundiais e refletem de forma burlesca e perscrutada com cenas de ação e sequência extremamente inteligentes o escopo histórico no qual estão fundadas – e como estamos falando da metade do século XX, é óbvio que esse respaldo verossímil conversa diretamente com a Guerra Fria, embate político-ideológico entre URSS e Estados Unidos que nunca chegou a se configurar como uma guerra corpo-a-corpo. Fleming, com seu James Bond, imortalizou a inteligência britânica, aliada dos norte-americanos, e investiu grande parte de seu intelecto para saídas incríveis e bem pensadas para seus protagonistas, até mesmo quando eles chegaram às telonas – e, como se não bastasse, tal gênero também abre margens para inúmeras comédias escrachadas e dignas de nota, vide as franquias Agente 86′ e Austin Powers’. Mas então o que dizer sobre Operação Red Sparrow?



operacao red sparrow 2

Primeiro, temos Jennifer Lawrence encarnando um personagem que definitivamente não conversa com seus trabalhos anteriores. Afinal, ela havia acabado de sair do thriller psicológico mãe!’, de Darren Aronofsky, e antes disso encarnou a carismática e rebelde Katniss Everdeen na franquia distópica Jogos Vorazes, além de participar de praticamente todos os longas-metragens de David O. Russel. Ao aceitar participar dessa nova iteração, ela mais uma vez resolve demonstrar sua versatilidade ao dar vida à ex-bailarina Dominika Egorova, uma das queridinhas do ballet Bolshoi que sofre um grave acidente e observa impotente seus sonhos e seus desejos se esvaírem pelo ralo – e isso sem falar nas consequências que sua forçada partida trará para a pobre e inválida mãe (Joely Richardson).

Como já é de esperar, esse evento nem um pouco premeditado é o que permite que outros personagens outrora distantes comecem a se aproximar de seu cotidiano, incluindo o misterioso e charmoso tio Vanya Egorov (Matthias Schoenaerts), cujo background conhecemos apenas por cima. Sabemos, por exemplo, que ele trabalha para o governo russo e que suas reais intenções são mascaradas por um tranquilo e envolvente semblante que eventual e obviamente acabam tomando as rédeas da vida de Dominika. Ela, apesar de toda a hesitação e relutância, acaba cedendo à perspectiva de um futuro melhor para sua escassa família e aceita o trabalho. Podemos pensar que, seguindo o padrão das tramas de espionagem, ela comece o árduo treinamento aí, mas o roteiro assinado por Justin Haythe resolve ir por outro caminho e colocá-la em um segundo arco incidental. Bom, é possível imaginar que isso acaba não funcionando, caindo em repetições que poderiam ser evitadas e fornecendo algo intangível para que a personagem tenha seu arco bem explorado.


É só apenas a compulsória morte de um personagem coadjuvante que Dominika percebe que não sairá tão fácil desse perigoso meio. É então que Vanya a envia para Moscou para que enfim suas “aulas de espionagem” comecem a encargo de duas figuras completamente desperdiçadas e que são tão caricatas quanto às tentativas falhas do sotaque soviético de Lawrence: Matron (Charlotte Rampling) e o General Korchnoi (Jeremy Irons). Ambos são responsáveis por treinar inúmeros jovens militares ou que estão cumprindo certa “sentença” para tornarem-se pardais vermelhos, grupo de agentes secretos sedutores e que conseguem atingir as maiores fraquezas psicológicas de seus alvos e obrigá-los, inconscientemente, a contarem seus mais profundos e temidos segredos.

operacao red sparrow 5

E é a partir daí que tudo perde seu rumo: primeiramente, Francis Lawrence não obtém sucesso ao conseguir criar uma atmosfera tensa, nem mesmo pelos obrigatórios enquadramentos simétricos e à altura do olhar dos personagens, ou pela montagem excessivamente fragmentada e que segue o convencionalismo do gênero de ação e aventura. Ele preza muito pela ação e reação de cada um dos personagens, tornando os momentos de glória do filme esparsos e sem qualquer sentido. Nem mesmo a tão aguardada cena de tortura está presente no lugar certo, visto que poderia estar presente tanto no complexo militar quanto no bruto interrogatório feito por Vanya a Dominika. Nesses momentos de maior catarse, não podemos, apesar de todos os claros deslizes, tirar a grande performance de Lawrence, a qual segura as emoções em seus olhos e não cede aos encantos do melodrama. Entretanto, como já dito, tudo isso permanece em uma superficialidade engessada e praticamente intransponível.

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Segundamente, é risível observar o treinamento pelo qual os alunos passam. As atividades incluem sexo, sedução e um entretenimento nem um pouco ortodoxo e que mostra explicitamente cada um deles assistindo vídeos pornô do gênero BDSM para aprenderem a satisfazer as necessidades de seus alvos. Ainda que tudo isso sirva como crítica para a ideologia socialista-soviética de que o seu corpo pertence ao Estado, pois o Estado lhe permitiu viver, isso não funciona sob nenhuma perspectiva. A certo ponto, parecemos estar assistindo a uma inexpressiva releitura de Cinquenta Tons de Cinza’, com o diferencial de que Anastasia Steele agora é interpretada por uma resiliente e dominadora espiã russa.

Mais uma vez, o confronto de ideais serve como base para que o longa-metragem se estabeleça, e isso é reafirmado inclusive por seu diretor, que entende sua adaptação cinematográfica como um olhar original acerca do que vivemos hoje. É interessante analisarmos por esse ponto de vista – e tal investida seria aplaudível se Lawrence não se rendesse às fórmulas do gênero. Em uma tentativa de resgatar o passado nacionalista, ele mais uma vez transforma um dos lados no vilão – no caso a Rússia – e coloca o espião estadunidense Nate Nash (Joel Edgerton) como o arquétipo do herói que veio para resgatar a protagonista de todo o ceticismo e a opressão que sofre na mão dos que jurou defender.

operacao red sparrow 3

A trama chega a um nível de absurdez tão grande que nos esquecemos da real missão de Dominika – encontrar o agente infiltrado no sistema de espionagem soviético e que trabalha com o governo dos Estados Unidos fornecendo informações de extrema valia para que sempre estejam um passo à frente. Apesar dessa premissa seja apagada pela quantidade de equívocos cênicos e narrativos, não posso deixar de dizer que a virada do terceiro ato e a conclusão são interessantes, ainda que não apaguem o que veio antes.

Também não posso tirar alguns méritos de Lawrence, principalmente ao trabalhar com a diretora de arte Maria Djukorvic. A paleta de cores opta por uma subjetividade paradoxal, escolhendo tons vermelhos que acompanham a protagonista na delineação de seu arco e reafirmam sem cair em uma ambiguidade visual a força com que os espiões russos trabalham para alcançar seus objetivos, e uma neutralidade proposital quando o escopo muda para a sobriedade excessiva dos Estados Unidos, cujas instalações de inteligência nacional são pautadas em uma paleta mais fria. Esse contraste também está presente na incrível montagem paralela do prólogo, o qual brinca com a fluidez cênica de Dominika em sua última apresentação antes do trágico acidente e a tensão do breve arco de Nate em uma de suas missões. A preocupação estilística é tanta que o diretor consegue enganar o público ao criar a ilusão de que os dois irão se encontrar a qualquer momento.

A originalidade buscada por Francis Lawrence em Operação Red Sparrow infelizmente nunca encontra a luz do dia. O longa-metragem tem seus momentos interessantes e vale mais apenas pelos primeiros dez minutos; entretanto, tal obra serve apenas para indicar que o gênero de espionagem é um território ambicioso e perigoso a ser explorado e que, caso não tratado com a cautela que merece, pode entrar em queda livre exatamente como aconteceu aqui.

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IMPERDÍVEL! Você vai VICIAR nessa história de Vingança à moda antiga....

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Popularizando-se na década de 1960 com inúmeras narrativas extremamente envolventes, o gênero fílmico de espionagem parte dos diversos romances que povoam o imaginário popular desde o final do século XIX com a criação de personagens que funcionam como pontapé inicial para essa vertente criativa ser endossada como uma das mais versáteis de todos os tempos. É claro que podemos traçar um paralelo com iterações detetivescas que remontam às graças de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, mas sem sombra de dúvida ganham um ar mais nacionalista e heroico com nomes como John Le Carré e Ian Fleming.

É interessante analisar como essas histórias trabalham de forma fluida os maniqueísmos mundiais e refletem de forma burlesca e perscrutada com cenas de ação e sequência extremamente inteligentes o escopo histórico no qual estão fundadas – e como estamos falando da metade do século XX, é óbvio que esse respaldo verossímil conversa diretamente com a Guerra Fria, embate político-ideológico entre URSS e Estados Unidos que nunca chegou a se configurar como uma guerra corpo-a-corpo. Fleming, com seu James Bond, imortalizou a inteligência britânica, aliada dos norte-americanos, e investiu grande parte de seu intelecto para saídas incríveis e bem pensadas para seus protagonistas, até mesmo quando eles chegaram às telonas – e, como se não bastasse, tal gênero também abre margens para inúmeras comédias escrachadas e dignas de nota, vide as franquias Agente 86′ e Austin Powers’. Mas então o que dizer sobre Operação Red Sparrow?

operacao red sparrow 2

Primeiro, temos Jennifer Lawrence encarnando um personagem que definitivamente não conversa com seus trabalhos anteriores. Afinal, ela havia acabado de sair do thriller psicológico mãe!’, de Darren Aronofsky, e antes disso encarnou a carismática e rebelde Katniss Everdeen na franquia distópica Jogos Vorazes, além de participar de praticamente todos os longas-metragens de David O. Russel. Ao aceitar participar dessa nova iteração, ela mais uma vez resolve demonstrar sua versatilidade ao dar vida à ex-bailarina Dominika Egorova, uma das queridinhas do ballet Bolshoi que sofre um grave acidente e observa impotente seus sonhos e seus desejos se esvaírem pelo ralo – e isso sem falar nas consequências que sua forçada partida trará para a pobre e inválida mãe (Joely Richardson).

Como já é de esperar, esse evento nem um pouco premeditado é o que permite que outros personagens outrora distantes comecem a se aproximar de seu cotidiano, incluindo o misterioso e charmoso tio Vanya Egorov (Matthias Schoenaerts), cujo background conhecemos apenas por cima. Sabemos, por exemplo, que ele trabalha para o governo russo e que suas reais intenções são mascaradas por um tranquilo e envolvente semblante que eventual e obviamente acabam tomando as rédeas da vida de Dominika. Ela, apesar de toda a hesitação e relutância, acaba cedendo à perspectiva de um futuro melhor para sua escassa família e aceita o trabalho. Podemos pensar que, seguindo o padrão das tramas de espionagem, ela comece o árduo treinamento aí, mas o roteiro assinado por Justin Haythe resolve ir por outro caminho e colocá-la em um segundo arco incidental. Bom, é possível imaginar que isso acaba não funcionando, caindo em repetições que poderiam ser evitadas e fornecendo algo intangível para que a personagem tenha seu arco bem explorado.

É só apenas a compulsória morte de um personagem coadjuvante que Dominika percebe que não sairá tão fácil desse perigoso meio. É então que Vanya a envia para Moscou para que enfim suas “aulas de espionagem” comecem a encargo de duas figuras completamente desperdiçadas e que são tão caricatas quanto às tentativas falhas do sotaque soviético de Lawrence: Matron (Charlotte Rampling) e o General Korchnoi (Jeremy Irons). Ambos são responsáveis por treinar inúmeros jovens militares ou que estão cumprindo certa “sentença” para tornarem-se pardais vermelhos, grupo de agentes secretos sedutores e que conseguem atingir as maiores fraquezas psicológicas de seus alvos e obrigá-los, inconscientemente, a contarem seus mais profundos e temidos segredos.

operacao red sparrow 5

E é a partir daí que tudo perde seu rumo: primeiramente, Francis Lawrence não obtém sucesso ao conseguir criar uma atmosfera tensa, nem mesmo pelos obrigatórios enquadramentos simétricos e à altura do olhar dos personagens, ou pela montagem excessivamente fragmentada e que segue o convencionalismo do gênero de ação e aventura. Ele preza muito pela ação e reação de cada um dos personagens, tornando os momentos de glória do filme esparsos e sem qualquer sentido. Nem mesmo a tão aguardada cena de tortura está presente no lugar certo, visto que poderia estar presente tanto no complexo militar quanto no bruto interrogatório feito por Vanya a Dominika. Nesses momentos de maior catarse, não podemos, apesar de todos os claros deslizes, tirar a grande performance de Lawrence, a qual segura as emoções em seus olhos e não cede aos encantos do melodrama. Entretanto, como já dito, tudo isso permanece em uma superficialidade engessada e praticamente intransponível.

Segundamente, é risível observar o treinamento pelo qual os alunos passam. As atividades incluem sexo, sedução e um entretenimento nem um pouco ortodoxo e que mostra explicitamente cada um deles assistindo vídeos pornô do gênero BDSM para aprenderem a satisfazer as necessidades de seus alvos. Ainda que tudo isso sirva como crítica para a ideologia socialista-soviética de que o seu corpo pertence ao Estado, pois o Estado lhe permitiu viver, isso não funciona sob nenhuma perspectiva. A certo ponto, parecemos estar assistindo a uma inexpressiva releitura de Cinquenta Tons de Cinza’, com o diferencial de que Anastasia Steele agora é interpretada por uma resiliente e dominadora espiã russa.

Mais uma vez, o confronto de ideais serve como base para que o longa-metragem se estabeleça, e isso é reafirmado inclusive por seu diretor, que entende sua adaptação cinematográfica como um olhar original acerca do que vivemos hoje. É interessante analisarmos por esse ponto de vista – e tal investida seria aplaudível se Lawrence não se rendesse às fórmulas do gênero. Em uma tentativa de resgatar o passado nacionalista, ele mais uma vez transforma um dos lados no vilão – no caso a Rússia – e coloca o espião estadunidense Nate Nash (Joel Edgerton) como o arquétipo do herói que veio para resgatar a protagonista de todo o ceticismo e a opressão que sofre na mão dos que jurou defender.

operacao red sparrow 3

A trama chega a um nível de absurdez tão grande que nos esquecemos da real missão de Dominika – encontrar o agente infiltrado no sistema de espionagem soviético e que trabalha com o governo dos Estados Unidos fornecendo informações de extrema valia para que sempre estejam um passo à frente. Apesar dessa premissa seja apagada pela quantidade de equívocos cênicos e narrativos, não posso deixar de dizer que a virada do terceiro ato e a conclusão são interessantes, ainda que não apaguem o que veio antes.

Também não posso tirar alguns méritos de Lawrence, principalmente ao trabalhar com a diretora de arte Maria Djukorvic. A paleta de cores opta por uma subjetividade paradoxal, escolhendo tons vermelhos que acompanham a protagonista na delineação de seu arco e reafirmam sem cair em uma ambiguidade visual a força com que os espiões russos trabalham para alcançar seus objetivos, e uma neutralidade proposital quando o escopo muda para a sobriedade excessiva dos Estados Unidos, cujas instalações de inteligência nacional são pautadas em uma paleta mais fria. Esse contraste também está presente na incrível montagem paralela do prólogo, o qual brinca com a fluidez cênica de Dominika em sua última apresentação antes do trágico acidente e a tensão do breve arco de Nate em uma de suas missões. A preocupação estilística é tanta que o diretor consegue enganar o público ao criar a ilusão de que os dois irão se encontrar a qualquer momento.

A originalidade buscada por Francis Lawrence em Operação Red Sparrow infelizmente nunca encontra a luz do dia. O longa-metragem tem seus momentos interessantes e vale mais apenas pelos primeiros dez minutos; entretanto, tal obra serve apenas para indicar que o gênero de espionagem é um território ambicioso e perigoso a ser explorado e que, caso não tratado com a cautela que merece, pode entrar em queda livre exatamente como aconteceu aqui.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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