domingo , 22 dezembro , 2024

Operação Red Sparrow | Relembre o DECEPCIONANTE thriller de espionagem estrelado por Jennifer Lawrence que completa 5 anos em 2023

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Popularizando-se na década de 1960 com inúmeras narrativas extremamente envolventes, o gênero fílmico de espionagem parte dos diversos romances que povoam o imaginário popular desde o final do século XIX com a criação de personagens que funcionam como pontapé inicial para essa vertente criativa ser endossada como uma das mais versáteis de todos os tempos. É claro que podemos traçar um paralelo com iterações detetivescas que remontam às graças de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, mas sem sombra de dúvida ganham um ar mais nacionalista e heroico com nomes como John Le Carré e Ian Fleming.

É interessante analisar como essas histórias trabalham de forma fluida os maniqueísmos mundiais e refletem de forma burlesca e perscrutada com cenas de ação e sequência extremamente inteligentes o escopo histórico no qual estão fundadas – e como estamos falando da metade do século XX, é óbvio que esse respaldo verossímil conversa diretamente com a Guerra Fria, embate político-ideológico entre URSS e Estados Unidos que nunca chegou a se configurar como uma guerra corpo-a-corpo. Fleming, com seu James Bond, imortalizou a inteligência britânica, aliada dos norte-americanos, e investiu grande parte de seu intelecto para saídas incríveis e bem pensadas para seus protagonistas, até mesmo quando eles chegaram às telonas – e, como se não bastasse, tal gênero também abre margens para inúmeras comédias escrachadas e dignas de nota, vide as franquias Agente 86′ e Austin Powers’. Mas então o que dizer sobre Operação Red Sparrow?



Primeiro, temos Jennifer Lawrence encarnando um personagem que definitivamente não conversa com seus trabalhos anteriores. Afinal, ela havia acabado de sair do thriller psicológico mãe!’, de Darren Aronofsky, e antes disso encarnou a carismática e rebelde Katniss Everdeen na franquia distópica Jogos Vorazes, além de participar de praticamente todos os longas-metragens de David O. Russel. Ao aceitar participar dessa nova iteração, ela mais uma vez resolve demonstrar sua versatilidade ao dar vida à ex-bailarina Dominika Egorova, uma das queridinhas do ballet Bolshoi que sofre um grave acidente e observa impotente seus sonhos e seus desejos se esvaírem pelo ralo – e isso sem falar nas consequências que sua forçada partida trará para a pobre e inválida mãe (Joely Richardson).

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Como já é de esperar, esse evento nem um pouco premeditado é o que permite que outros personagens outrora distantes comecem a se aproximar de seu cotidiano, incluindo o misterioso e charmoso tio Vanya Egorov (Matthias Schoenaerts), cujo background conhecemos apenas por cima. Sabemos, por exemplo, que ele trabalha para o governo russo e que suas reais intenções são mascaradas por um tranquilo e envolvente semblante que eventual e obviamente acabam tomando as rédeas da vida de Dominika. Ela, apesar de toda a hesitação e relutância, acaba cedendo à perspectiva de um futuro melhor para sua escassa família e aceita o trabalho. Podemos pensar que, seguindo o padrão das tramas de espionagem, ela comece o árduo treinamento aí, mas o roteiro assinado por Justin Haythe resolve ir por outro caminho e colocá-la em um segundo arco incidental. Bom, é possível imaginar que isso acaba não funcionando, caindo em repetições que poderiam ser evitadas e fornecendo algo intangível para que a personagem tenha seu arco bem explorado.

É só apenas a compulsória morte de um personagem coadjuvante que Dominika percebe que não sairá tão fácil desse perigoso meio. É então que Vanya a envia para Moscou para que enfim suas “aulas de espionagem” comecem a encargo de duas figuras completamente desperdiçadas e que são tão caricatas quanto às tentativas falhas do sotaque soviético de Lawrence: Matron (Charlotte Rampling) e o General Korchnoi (Jeremy Irons). Ambos são responsáveis por treinar inúmeros jovens militares ou que estão cumprindo certa “sentença” para tornarem-se pardais vermelhos, grupo de agentes secretos sedutores e que conseguem atingir as maiores fraquezas psicológicas de seus alvos e obrigá-los, inconscientemente, a contarem seus mais profundos e temidos segredos.

E é a partir daí que tudo perde seu rumo: primeiramente, Francis Lawrence não obtém sucesso ao conseguir criar uma atmosfera tensa, nem mesmo pelos obrigatórios enquadramentos simétricos e à altura do olhar dos personagens, ou pela montagem excessivamente fragmentada e que segue o convencionalismo do gênero de ação e aventura. Ele preza muito pela ação e reação de cada um dos personagens, tornando os momentos de glória do filme esparsos e sem qualquer sentido. Nem mesmo a tão aguardada cena de tortura está presente no lugar certo, visto que poderia estar presente tanto no complexo militar quanto no bruto interrogatório feito por Vanya a Dominika. Nesses momentos de maior catarse, não podemos, apesar de todos os claros deslizes, tirar a grande performance de Lawrence, a qual segura as emoções em seus olhos e não cede aos encantos do melodrama. Entretanto, como já dito, tudo isso permanece em uma superficialidade engessada e praticamente intransponível.

Segundamente, é risível observar o treinamento pelo qual os alunos passam. As atividades incluem sexo, sedução e um entretenimento nem um pouco ortodoxo e que mostra explicitamente cada um deles assistindo vídeos pornô do gênero BDSM para aprenderem a satisfazer as necessidades de seus alvos. Ainda que tudo isso sirva como crítica para a ideologia socialista-soviética de que o seu corpo pertence ao Estado, pois o Estado lhe permitiu viver, isso não funciona sob nenhuma perspectiva. A certo ponto, parecemos estar assistindo a uma inexpressiva releitura de Cinquenta Tons de Cinza’, com o diferencial de que Anastasia Steele agora é interpretada por uma resiliente e dominadora espiã russa.

Mais uma vez, o confronto de ideais serve como base para que o longa-metragem se estabeleça, e isso é reafirmado inclusive por seu diretor, que entende sua adaptação cinematográfica como um olhar original acerca do que vivemos hoje. É interessante analisarmos por esse ponto de vista – e tal investida seria aplaudível se Lawrence não se rendesse às fórmulas do gênero. Em uma tentativa de resgatar o passado nacionalista, ele mais uma vez transforma um dos lados no vilão – no caso a Rússia – e coloca o espião estadunidense Nate Nash (Joel Edgerton) como o arquétipo do herói que veio para resgatar a protagonista de todo o ceticismo e a opressão que sofre na mão dos que jurou defender.

A trama chega a um nível de absurdez tão grande que nos esquecemos da real missão de Dominika – encontrar o agente infiltrado no sistema de espionagem soviético e que trabalha com o governo dos Estados Unidos fornecendo informações de extrema valia para que sempre estejam um passo à frente. Apesar dessa premissa seja apagada pela quantidade de equívocos cênicos e narrativos, não posso deixar de dizer que a virada do terceiro ato e a conclusão são interessantes, ainda que não apaguem o que veio antes.

Também não posso tirar alguns méritos de Lawrence, principalmente ao trabalhar com a diretora de arte Maria Djukorvic. A paleta de cores opta por uma subjetividade paradoxal, escolhendo tons vermelhos que acompanham a protagonista na delineação de seu arco e reafirmam sem cair em uma ambiguidade visual a força com que os espiões russos trabalham para alcançar seus objetivos, e uma neutralidade proposital quando o escopo muda para a sobriedade excessiva dos Estados Unidos, cujas instalações de inteligência nacional são pautadas em uma paleta mais fria. Esse contraste também está presente na incrível montagem paralela do prólogo, o qual brinca com a fluidez cênica de Dominika em sua última apresentação antes do trágico acidente e a tensão do breve arco de Nate em uma de suas missões. A preocupação estilística é tanta que o diretor consegue enganar o público ao criar a ilusão de que os dois irão se encontrar a qualquer momento.

A originalidade buscada por Francis Lawrence em Operação Red Sparrow infelizmente nunca encontra a luz do dia. O longa-metragem tem seus momentos interessantes e vale mais apenas pelos primeiros dez minutos; entretanto, tal obra serve apenas para indicar que o gênero de espionagem é um território ambicioso e perigoso a ser explorado e que, caso não tratado com a cautela que merece, pode entrar em queda livre exatamente como aconteceu aqui.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Popularizando-se na década de 1960 com inúmeras narrativas extremamente envolventes, o gênero fílmico de espionagem parte dos diversos romances que povoam o imaginário popular desde o final do século XIX com a criação de personagens que funcionam como pontapé inicial para essa vertente criativa ser endossada como uma das mais versáteis de todos os tempos. É claro que podemos traçar um paralelo com iterações detetivescas que remontam às graças de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, mas sem sombra de dúvida ganham um ar mais nacionalista e heroico com nomes como John Le Carré e Ian Fleming.

É interessante analisar como essas histórias trabalham de forma fluida os maniqueísmos mundiais e refletem de forma burlesca e perscrutada com cenas de ação e sequência extremamente inteligentes o escopo histórico no qual estão fundadas – e como estamos falando da metade do século XX, é óbvio que esse respaldo verossímil conversa diretamente com a Guerra Fria, embate político-ideológico entre URSS e Estados Unidos que nunca chegou a se configurar como uma guerra corpo-a-corpo. Fleming, com seu James Bond, imortalizou a inteligência britânica, aliada dos norte-americanos, e investiu grande parte de seu intelecto para saídas incríveis e bem pensadas para seus protagonistas, até mesmo quando eles chegaram às telonas – e, como se não bastasse, tal gênero também abre margens para inúmeras comédias escrachadas e dignas de nota, vide as franquias Agente 86′ e Austin Powers’. Mas então o que dizer sobre Operação Red Sparrow?

Primeiro, temos Jennifer Lawrence encarnando um personagem que definitivamente não conversa com seus trabalhos anteriores. Afinal, ela havia acabado de sair do thriller psicológico mãe!’, de Darren Aronofsky, e antes disso encarnou a carismática e rebelde Katniss Everdeen na franquia distópica Jogos Vorazes, além de participar de praticamente todos os longas-metragens de David O. Russel. Ao aceitar participar dessa nova iteração, ela mais uma vez resolve demonstrar sua versatilidade ao dar vida à ex-bailarina Dominika Egorova, uma das queridinhas do ballet Bolshoi que sofre um grave acidente e observa impotente seus sonhos e seus desejos se esvaírem pelo ralo – e isso sem falar nas consequências que sua forçada partida trará para a pobre e inválida mãe (Joely Richardson).

Como já é de esperar, esse evento nem um pouco premeditado é o que permite que outros personagens outrora distantes comecem a se aproximar de seu cotidiano, incluindo o misterioso e charmoso tio Vanya Egorov (Matthias Schoenaerts), cujo background conhecemos apenas por cima. Sabemos, por exemplo, que ele trabalha para o governo russo e que suas reais intenções são mascaradas por um tranquilo e envolvente semblante que eventual e obviamente acabam tomando as rédeas da vida de Dominika. Ela, apesar de toda a hesitação e relutância, acaba cedendo à perspectiva de um futuro melhor para sua escassa família e aceita o trabalho. Podemos pensar que, seguindo o padrão das tramas de espionagem, ela comece o árduo treinamento aí, mas o roteiro assinado por Justin Haythe resolve ir por outro caminho e colocá-la em um segundo arco incidental. Bom, é possível imaginar que isso acaba não funcionando, caindo em repetições que poderiam ser evitadas e fornecendo algo intangível para que a personagem tenha seu arco bem explorado.

É só apenas a compulsória morte de um personagem coadjuvante que Dominika percebe que não sairá tão fácil desse perigoso meio. É então que Vanya a envia para Moscou para que enfim suas “aulas de espionagem” comecem a encargo de duas figuras completamente desperdiçadas e que são tão caricatas quanto às tentativas falhas do sotaque soviético de Lawrence: Matron (Charlotte Rampling) e o General Korchnoi (Jeremy Irons). Ambos são responsáveis por treinar inúmeros jovens militares ou que estão cumprindo certa “sentença” para tornarem-se pardais vermelhos, grupo de agentes secretos sedutores e que conseguem atingir as maiores fraquezas psicológicas de seus alvos e obrigá-los, inconscientemente, a contarem seus mais profundos e temidos segredos.

E é a partir daí que tudo perde seu rumo: primeiramente, Francis Lawrence não obtém sucesso ao conseguir criar uma atmosfera tensa, nem mesmo pelos obrigatórios enquadramentos simétricos e à altura do olhar dos personagens, ou pela montagem excessivamente fragmentada e que segue o convencionalismo do gênero de ação e aventura. Ele preza muito pela ação e reação de cada um dos personagens, tornando os momentos de glória do filme esparsos e sem qualquer sentido. Nem mesmo a tão aguardada cena de tortura está presente no lugar certo, visto que poderia estar presente tanto no complexo militar quanto no bruto interrogatório feito por Vanya a Dominika. Nesses momentos de maior catarse, não podemos, apesar de todos os claros deslizes, tirar a grande performance de Lawrence, a qual segura as emoções em seus olhos e não cede aos encantos do melodrama. Entretanto, como já dito, tudo isso permanece em uma superficialidade engessada e praticamente intransponível.

Segundamente, é risível observar o treinamento pelo qual os alunos passam. As atividades incluem sexo, sedução e um entretenimento nem um pouco ortodoxo e que mostra explicitamente cada um deles assistindo vídeos pornô do gênero BDSM para aprenderem a satisfazer as necessidades de seus alvos. Ainda que tudo isso sirva como crítica para a ideologia socialista-soviética de que o seu corpo pertence ao Estado, pois o Estado lhe permitiu viver, isso não funciona sob nenhuma perspectiva. A certo ponto, parecemos estar assistindo a uma inexpressiva releitura de Cinquenta Tons de Cinza’, com o diferencial de que Anastasia Steele agora é interpretada por uma resiliente e dominadora espiã russa.

Mais uma vez, o confronto de ideais serve como base para que o longa-metragem se estabeleça, e isso é reafirmado inclusive por seu diretor, que entende sua adaptação cinematográfica como um olhar original acerca do que vivemos hoje. É interessante analisarmos por esse ponto de vista – e tal investida seria aplaudível se Lawrence não se rendesse às fórmulas do gênero. Em uma tentativa de resgatar o passado nacionalista, ele mais uma vez transforma um dos lados no vilão – no caso a Rússia – e coloca o espião estadunidense Nate Nash (Joel Edgerton) como o arquétipo do herói que veio para resgatar a protagonista de todo o ceticismo e a opressão que sofre na mão dos que jurou defender.

A trama chega a um nível de absurdez tão grande que nos esquecemos da real missão de Dominika – encontrar o agente infiltrado no sistema de espionagem soviético e que trabalha com o governo dos Estados Unidos fornecendo informações de extrema valia para que sempre estejam um passo à frente. Apesar dessa premissa seja apagada pela quantidade de equívocos cênicos e narrativos, não posso deixar de dizer que a virada do terceiro ato e a conclusão são interessantes, ainda que não apaguem o que veio antes.

Também não posso tirar alguns méritos de Lawrence, principalmente ao trabalhar com a diretora de arte Maria Djukorvic. A paleta de cores opta por uma subjetividade paradoxal, escolhendo tons vermelhos que acompanham a protagonista na delineação de seu arco e reafirmam sem cair em uma ambiguidade visual a força com que os espiões russos trabalham para alcançar seus objetivos, e uma neutralidade proposital quando o escopo muda para a sobriedade excessiva dos Estados Unidos, cujas instalações de inteligência nacional são pautadas em uma paleta mais fria. Esse contraste também está presente na incrível montagem paralela do prólogo, o qual brinca com a fluidez cênica de Dominika em sua última apresentação antes do trágico acidente e a tensão do breve arco de Nate em uma de suas missões. A preocupação estilística é tanta que o diretor consegue enganar o público ao criar a ilusão de que os dois irão se encontrar a qualquer momento.

A originalidade buscada por Francis Lawrence em Operação Red Sparrow infelizmente nunca encontra a luz do dia. O longa-metragem tem seus momentos interessantes e vale mais apenas pelos primeiros dez minutos; entretanto, tal obra serve apenas para indicar que o gênero de espionagem é um território ambicioso e perigoso a ser explorado e que, caso não tratado com a cautela que merece, pode entrar em queda livre exatamente como aconteceu aqui.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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