Nos últimos anos, trailers ‘alterados’ vêm tomando conta das redes sociais e salas de cinemas. E não estamos falando dos famosos ‘fan-made’, mas de versões oficiais dos estúdios que trazem cenas alteradas digitalmente ou removidas dos cortes finais dos respectivos filmes. O caso recente mais emblemático é o de Vingadores: Guerra Infinita (2018), que prometeu o Hulk (Mark Ruffalo) junto aos outros heróis durante a Batalha de Wakanda.
O caso repercutiu mundialmente, já que muitos fãs esperaram a tal cena e se depararam com a ausência do Golias Esmeralda na pancadaria final. A situação foi tão ‘chata’ que os próprios diretores do filme, os Irmãos Russo, confirmaram em evento que a tal cena foi inserida no trailer exclusivamente ‘para despistar os fãs’.
Outro caso emblemático envolvendo o Marvel Studios foi o material promocional de Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). Nesta situação, não apenas o trailer prometeu algo que não se concretizou, como alguns dos pôsteres também. Ao fim do primeiro trailer do filme, era possível ver o Homem-Aranha (Tom Holland) e o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) lutando juntos por Nova York, sequência essa que sequer existiu no filme. Mais do que isso, a armadura mostrada no vídeo nem aparece no longa, já que eles optaram por outro modelo.
Mas vale destacar que o mesmo ocorreu com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022), Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021) e muitos outros. Esses casos foram lembrados ao longo das últimas semanas, quando o tão aguardado trailer de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos foi lançado. Na ocasião, os fãs do filme repararam uma possível nova alteração da Marvel no vídeo divulgado. Segundo a teoria, Victor Von Doom (Robert Downey Jr.) pode ter sido apagado do trailer para surpreender o público. No momento em que é mostrado Reed Richards (Pedro Pascal) fazendo os cálculos sobre o Multiverso em um quadro, eles notaram que há um espaço relativamente grande desocupado e que se assemelha muito a um momento clássico das histórias em quadrinhos do grupo de heróis.
Apagaram Robert Downey Jr. nessa cena aqui do trailer de Quarteto Fantástico. ANOTA pic.twitter.com/Tnecl1ok6X
— Alexandre Almeida (@acmalmeida2) February 4, 2025
![YouTube video](https://i.ytimg.com/vi/L_VNGisqMa4/hqdefault.jpg)
Essa questão se é certo ou não os estúdios fazerem esse tipo de coisa vem rendendo muito debate na internet, mas já atravessou a esfera virtual, chegando aos tribunais dos Estados Unidos. Lançado em 2019, o filme Yesterday conta a história de um músico frustrado que sofre um acidente. Ao despertar do coma, ele descobre que foi parar em um mundo no qual os Beatles nunca existiram. E aí, por algum motivo do destino, somente esse rapaz se lembra das músicas do Quarteto de Liverpool.
Com esse poder nas mãos, o jovem começa a se destacar no cenário da música britânica, virando uma celebridade do dia para a noite ao usurpar os sucessos dos Beatles. Pois bem, o que parecia um filme simples e criativo acabou virando um longo processo na Justiça norte-americana. Isso porque o trailer do longa prometia a participação da atriz Ana de Armas, que acabou tendo sua aparição removida do corte final lançado nos cinemas.
![YouTube video](https://i.ytimg.com/vi/6uqvgPm8U4c/hqdefault.jpg)
Em 2022, dois fãs da atriz assistiram o trailer e decidiram alugar o filme no Amazon Prime Video para vê-la em cena. Porém, ao fim das duas horas da história, eles perceberam que ela não estava ali, conforme prometia o vídeo. Sentindo-se lesados pela propaganda enganosa, eles ingressaram com uma ação na Justiça contra a Universal. Como o caso ganhou repercussão, não demorou para que outros fãs ingressassem contra o estúdio em uma ação coletiva. Apesar do juiz responsável ter concordado que não era correto eximir estúdios de cinema de possíveis casos de propaganda enganosa, ele argumentou que seria necessário comprovar que os outros reclamantes teriam assistido o filme exclusivamente por conta da participação da atriz.
Como não conseguiram provar, a ação coletiva foi extinta e eles julgaram exclusivamente o pedido dos dois acusadores iniciais. No entanto, eles se frustraram ao saber que o máximo que conseguiriam era o reembolso do valor pago no aluguel do filme no streaming (cerca de quatro dólares para cada um). Além disso, a Justiça alegou que não poderia responsabilizar os diretores e produtores, porque o processo de lançamento de um filme prevê cortes e edições de última hora. Ou seja, o estúdio saiu vencedor. Diante do caso, a defesa da Universal recorreu e virou o jogo. Eles solicitaram que os acusadores bancassem os honorários de seus advogados, que superavam os US$ 600 mil. O juiz, entretanto, reduziu drasticamente o valor pedido, condenando a dupla a pagar “apenas” 126.705 mil dólares. Obviamente, eles recorreram. O caso foi concluído em 2024. Após dois anos de dor de cabeça, não se sabe o valor que foi pago, mas foi divulgado que estúdio e ‘fãs’ chegaram a um acordo.
Apesar do caso ter repercutido, a participação de Ana de Armas não era um elemento que alteraria a trama ou os rumos do filme. Seria até complexo de enquadrar o caso em ‘propaganda enganosa’. Curiosamente, voltando para o início da década passada, tivemos um caso que conseguiu ser ainda mais incômodo com promessas não cumpridas, mas acabou passando batido: Carros 2. Lançado em 2011, a sequência do sucesso da Pixar divulgou todos os seus materiais promocionais dando a entender que o filme traria Relâmpago McQueen e Mate em uma trama internacional de espionagem.
Além dos trailers trazerem cenas como a de McQueen e Mate enfrentando lasers ao melhor estilo Missão: Impossível, que não acontece em momento algum do filme, a montagens dos vídeos promocionais dá a entender que Relâmpago estaria envolvido na trama de espionagem, atuando ao lado do amigo enquanto disputava o Grand Prix Mundial. Só que, na realidade, Carros 2 é um filme centrado no guincho caipira atuando como espião, enquanto o carro de corrida não faz a menor ideia do que está acontecendo, se concentrando apenas na corrida.
![YouTube video](https://i.ytimg.com/vi/GC-gtaH2_JY/hqdefault.jpg)
Não bastasse o trailer, as imagens disponibilizadas oficialmente para uso em críticas ou matérias traziam momentos que não entraram no corte final do filme – ou foram criadas exclusivamente com viés promocional. Só que também davam a entender que o longa seria protagonizado pela dupla, sendo que apenas o Mate é conscientemente participativo dessa trama de espiões.
É claro que não dá para acusar o estúdio de propaganda enganosa, porque realmente faz ‘parte do jogo’ ter cortes em cima da hora se assim for o desejo dos produtores ou diretores, que podem regravar filmes inteiros se acharem necessário, mas é meio frustrante ver algumas produções alimentando a expectativa dos fãs para algo que não consta na versão exibida para eles.
![Opinião | Chegou a hora dos estúdios refletirem sobre os trailers 'modificados'](https://cinepop.com.br/wp-content/uploads/2025/02/carros-na-estrada.jpg)
Em tempos de internet, essas situações acabam repercutindo cada vez mais, já que os fãs podem ver e rever seus trailers favoritos. Seria interessante que os estúdios refletissem um pouco sobre isso, porque na maioria dos casos em que isso acontece, os filmes em questão são grandes o bastante para conseguirem atrair o interesse do público sem apelar para expectativas que podem não ser cumpridas.
O que você acha? Diga nos comentários!