domingo , 22 dezembro , 2024

Opinião | DCEU chega ao fim com gosto amargo e lições de como não fazer um universo compartilhado

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Esta quarta-feira (20) marca o fim do Universo Estendido DC, o DCEU, que teve início em 2013, quando os filmes com super-heróis viviam um momento dourado. Na época, o Universo Cinematográfico Marvel tinha acabado de reunir Os Vingadores em tela e o público havia se despedido do universo mais pé no chão do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Nesse contexto, o DCEU veio com a proposta de misturar as conexões da concorrente com o estilo sombrio e ‘adulto’ do Batman, mas sem precisar abordar eles com tanto realismo. O primeiro longa foi O Homem de Aço (2013), que trouxe um Superman mais controverso e cheio de dúvidas a seu posicionamento moral. Dali para frente, foram lançados mais 14 projetos nos cinemas, incluindo Aquaman 2: O Reino Perdido, que estreia hoje nos cinemas.



Ao longo dessa última década, o DCEU sofreu com uma inconstância muito grande em seus lançamentos. O que parecia ser promissor, logo se tornou um pesadelo, quando a visão do diretor e produtor Zack Snyder passou a ser amplamente repudiada por parte considerável dos fãs e pela crítica especializada. Seu estilo mais sombrio, de heróis com uniformes sem tanta cor e apelando para violência mais forte, parecia não combinar com os personagens que estavam em tela.

Na verdade, esse estilão do diretor parecia ser perfeito para um filme do Batman, não do Superman, por exemplo. Curiosamente, dentre a trindade da Liga da Justiça, o único herói que Zack acabou não se envolvendo, seja com direção ou produção, foi o Homem-Morcego. E essa combinação parecia ter realmente tudo para dar certo, porque dentre todas as críticas desferidas ao controverso Batman vs. Superman: A Origem da Justiça (2016), o Batman de Ben Affleck conseguiu se salvar, conquistando diversos elogios.

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Muito se debate sobre qual foi o momento em que a derrocada do DCEU começou. Alguns podem dizer que foi em BVS, mas é complicado definir a queda de um universo compartilhado ainda em sua segunda produção. Afinal, ame ou odeie, o longa tinha a personalidade e a visão de seu diretor, além de estar de acordo com a ideia inicial aprovada pela Warner para esse mundo. E cá entre nós, os executivos pegaram pesado demais com o desempenho do longa. Veja bem, eu não gosto do filme, mas é surreal pensar que ele foi considerado um fracasso comercial pelos executivos por não ter atingido a marca de um bilhão de dólares em bilheteria. No fim de sua passagem pelas salas de cinema do mundo, o embate dos heróis arrecadou mais de US$ 872 milhões, um valor excelente. Some a isso mais de US$ 314 milhões em vendas de mídias físicas e fica ainda mais grotesco pensar que os investidores tenham achado que era hora de abandonar o projeto inicial.

Para mim, a derrocada do DCEU começa mesmo com Esquadrão Suicida (2016). Aquela quimera é uma representação tenebrosa da falência moral desse universo. O filme foi feito em grande parte ainda com a visão antiga do estúdio. Seria uma aventura mais pé no chão, recheada de violência e uma trama mais séria. Então, vendo a Disney, por meio da Marvel, empilhar bilhão atrás de bilhão, a Warner já tinha na mente que qualquer produção que lançasse com seus super-heróis DC deveria repetir e até superar o sucesso da concorrente. Afinal, historicamente falando, os personagens da DC são mais populares dentre o grande público. Para piorar as coisas, a FOX, também em parceria com a Marvel, tinha acabado de ver Deadpool (2016) fazer uma bilheteria espetacular (US$ 782,6 milhões), mesmo sendo um filme para maiores de 18 anos e tendo um orçamento de duas coxinhas e um guaraná natural.

Movida pela ganância e o olho grande, a Warner decidiu que não queria mais ‘suportar o processo para viver o propósito’. Dessa forma, no meio da produção, eles mandaram o diretor David Ayer refilmar uma boa parte de Esquadrão Suicida, praticamente apagando qualquer traço de personalidade do projeto, para fazer com que ele se enquadrasse na ‘Fórmula Marvel, usando mais cores e apostando num humor mais bobinho. A mudança no tom do longa foi tão drástica, que era possível notar a diferença entre os trailers. O resultado desse filme foi tão bizarro quanto essa decisão de ‘trocar o pneu com o carro em movimento’.

Em termos de bilheteria, o filme teve uma resposta muito acima do esperado, arrecadando mais de US$ 747 milhões. Mais do que isso, surpreendendo a todos, o longa ainda conquistou um Oscar de Melhor Maquiagem. Só que aí entra o funcionamento das bilheterias. Em grandes franquias, a arrecadação de um filme costuma ser inflada pelo sucesso do anterior. Por exemplo, se o público e a crítica gostarem de Batman Begins (2005), as projeções indicam uma bilheteria ainda maior na sequência. Porém, se ele não tiver boa resposta, é prevista uma queda nas arrecadações. É claro que a explicação completa é bem mais complexa do que isso, mas a grosso modo dá para entender. Tomando como exemplo a própria franquia Cavaleiro das Trevas, é possível ver bem essa projeção de crescimento nas bilheterias.

Então, não dá para falar da bilheteria de Esquadrão Suicida sem levar em consideração o grande interesse do público que curtiu a estética de BVS e proporcionou uma bilheteria muito boa. O problema é que as críticas ao filme foram ainda piores que as de BVS. Todos perceberam que o longa de Ayer estava genérico e tinha dois tons completamente diferentes conflitando por conta das refilmagens. Para piorar, o grande trunfo da história, que era o Coringa de Jared Leto, virou piada com uma atuação deplorável do vocalista de Thirty Seconds to Mars.

Neste filme, a Warner teve todos os sinais do que fazer ou não no Universo Estendido DC, mas por conta de uma boa resposta na bilheteria, decidiu apostar num caminho mais genérico para tentar agradar o grande público, ignorando a fanbase fiel que já havia mostrado estar disposta a embarcar na visão original do universo.

O projeto seguinte foi Mulher-Maravilha (2017), que começou a ser feito ainda sob a visão original do DCEU, mas teve seu terceiro ato completamente alterado, dando um final mais ‘meloso’ e apelando para o velho cliché da protagonista resolvendo o problema por meio do amor. Entretanto, a aventura estrelada por Gal Gadot – e dirigida por Patty Jenkins – conseguiu fazer mais de US$ 820 milhões em bilheteria, conquistando tanto a crítica quanto o público, mesmo que tenha recebido reclamações justamente sobre o terceiro ato, que foi quando abriram mão de sua personalidade e apelaram para o genérico.

Isso causou um grande mal-estar na cúpula do estúdio, que já estava decidida a chutar Zack Snyder para fora do DCEU por conta de divergências criativas. No meio das gravações de Liga da Justiça, o diretor sofreu uma tragédia pessoal e se afastou do filme, que foi para as mãos de Joss Whedon, diretor dos filmes dos Vingadores, que recebeu a seguinte missão: “Faça o seu ‘Vingadores’ da DC”. E assim o fez. Ele pegou o esqueleto do longa de Snyder e fez um remendo com as situações e piadas que haviam dado certo com os Vingadores. Foi feio demais. E aí sim foi um fracasso, tanto de crítica quanto bilheteria.

E a pá de cal sobre a visão original do universo veio com o sucesso de Aquaman (2018). Com uma visão completamente oposta ao que foi iniciado por Zack Snyder em 2013, o ‘Midas de Hollywood’ trouxe sua estética própria para o universo, enchendo o filme do Rei de Atlântida de cores, elementos de terror, um humor canalha irresistível e uma inspiração narrativa nada sutil nas obras de Júlio Verne. Os acionistas soltaram fogos quando viram um personagem que era motivo de piada na Cultura Pop conquistar os fãs, os críticos e enfim romper a marca do bilhão de dólares nas bilheterias. A partir daquele momento, até os executivos que gostavam do estilo de Snyder se convenceram de que não havia mais espaço para ele no DCEU.

Em meio a tantos processos de mudanças no comando da Warner, com direito a novos CEO e vendas, o caos só aumentou. Foram anunciando uma série de projetos que nunca saíram do papel e perderam o rumo de suas produções. Antes, por mais que fosse polêmica, a visão de Snyder dava um direcionamento para o DCEU. Com sua saída, eles se perderam. E foi assim que surgiram projetos que pareciam isolados uns dos outros, enquanto o futuro da Liga da Justiça parecia ser não ganhar uma continuação tão cedo. Oras, como se constrói um universo compartilhado em que o principal grupo de heróis não está nos planos? Ainda assim, por contar com muitos personagens fascinantes em seu panteão, algumas pérolas surgiram, como Shazam! (2019) e O Esquadrão Suicida (2021).

O problema é que mesmo com as boas críticas, os filmes não estavam refletindo na bilheteria. Com a pandemia, a situação piorou ainda mais. Enquanto os longas saíam sem um norte para seguir, com projetos cada vez mais isolados um do outro, as mudanças no comando da Warner seguiam e pareciam só complicar mais as coisas. Então, houve um embate de narrativas que definiria de uma vez por todas o fim do DCEU. Diz o ator Dwayne Johnson que prometeram para ele o controle criativo de uma retomada do DCEU, que seria centrada no embate entre o Superman (Henry Cavill) e o seu Adão Negro. Do outro lado, rumores indicavam que a Warner queria o excêntrico James Gunn no comando.

Mais uma vez a desorganização do estúdio veio a público e o tempo deu razão aos rumores, com Gunn sendo o escolhido para recomeçar a jornada dos heróis da DC nos cinemas. Com o fim do DCEU, consumado agora com o lançamento de Aquaman 2: O Reino Perdido, resta ao público torcer para que o homem responsável por formular todo o núcleo cósmico da Marvel consiga repetir o sucesso criando o Universo DC, tendo como ponto de partida Superman: Legacy, em 2025.

No fim das contas, o próprio Aquaman 2 deixa um gosto amargo na boca porque fica a sensação de que tinha muita coisa boa a ser aproveitada e desenvolvida no falecido DCEU. E a grande lição que se tira dessa ‘década perdida’ da DC nos cinemas é que não adianta querer apressar as coisas. Criar um universo compartilhado demanda tempo e planejamento. Quando foi lançado, esse projeto tinha um potencial colossal não só de fazer frente à Marvel, mas de superá-la. Quando se tem heróis como Batman, Superman e Mulher-Maravilha nas mãos, as chances de acertar com eles são muito maiores do que as de errar.

Ao tentar correr para chegar aos números da Marvel que já tinha cinco anos de trabalho e sete filmes nos cinemas – tendo lançado apenas dois filmes, os executivos da DC deram um tiro no pé e jogaram fora todas aquelas promessas feitas em Comic Cons pelo mundo. Ao longo dos anos, visando apenas os números, ele confrontaram fãs e compraram brigas infundadas com os principais financiadores desse universo. Afinal, como você espera vender um universo compartilhado para um público se menospreza todas as suas demandas, sugestões e reclamações?

É triste ver que o DCEU chegou ao fim como um case do que não se fazer nos cinemas, mas fica de lição para as próximas empreitadas. Para os fãs, só resta chorar sobre o leite derramado e abrir a mente para o vindouro DCU.

Aquaman 2: O Reino Perdido está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Esta quarta-feira (20) marca o fim do Universo Estendido DC, o DCEU, que teve início em 2013, quando os filmes com super-heróis viviam um momento dourado. Na época, o Universo Cinematográfico Marvel tinha acabado de reunir Os Vingadores em tela e o público havia se despedido do universo mais pé no chão do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Nesse contexto, o DCEU veio com a proposta de misturar as conexões da concorrente com o estilo sombrio e ‘adulto’ do Batman, mas sem precisar abordar eles com tanto realismo. O primeiro longa foi O Homem de Aço (2013), que trouxe um Superman mais controverso e cheio de dúvidas a seu posicionamento moral. Dali para frente, foram lançados mais 14 projetos nos cinemas, incluindo Aquaman 2: O Reino Perdido, que estreia hoje nos cinemas.

Ao longo dessa última década, o DCEU sofreu com uma inconstância muito grande em seus lançamentos. O que parecia ser promissor, logo se tornou um pesadelo, quando a visão do diretor e produtor Zack Snyder passou a ser amplamente repudiada por parte considerável dos fãs e pela crítica especializada. Seu estilo mais sombrio, de heróis com uniformes sem tanta cor e apelando para violência mais forte, parecia não combinar com os personagens que estavam em tela.

Na verdade, esse estilão do diretor parecia ser perfeito para um filme do Batman, não do Superman, por exemplo. Curiosamente, dentre a trindade da Liga da Justiça, o único herói que Zack acabou não se envolvendo, seja com direção ou produção, foi o Homem-Morcego. E essa combinação parecia ter realmente tudo para dar certo, porque dentre todas as críticas desferidas ao controverso Batman vs. Superman: A Origem da Justiça (2016), o Batman de Ben Affleck conseguiu se salvar, conquistando diversos elogios.

Muito se debate sobre qual foi o momento em que a derrocada do DCEU começou. Alguns podem dizer que foi em BVS, mas é complicado definir a queda de um universo compartilhado ainda em sua segunda produção. Afinal, ame ou odeie, o longa tinha a personalidade e a visão de seu diretor, além de estar de acordo com a ideia inicial aprovada pela Warner para esse mundo. E cá entre nós, os executivos pegaram pesado demais com o desempenho do longa. Veja bem, eu não gosto do filme, mas é surreal pensar que ele foi considerado um fracasso comercial pelos executivos por não ter atingido a marca de um bilhão de dólares em bilheteria. No fim de sua passagem pelas salas de cinema do mundo, o embate dos heróis arrecadou mais de US$ 872 milhões, um valor excelente. Some a isso mais de US$ 314 milhões em vendas de mídias físicas e fica ainda mais grotesco pensar que os investidores tenham achado que era hora de abandonar o projeto inicial.

Para mim, a derrocada do DCEU começa mesmo com Esquadrão Suicida (2016). Aquela quimera é uma representação tenebrosa da falência moral desse universo. O filme foi feito em grande parte ainda com a visão antiga do estúdio. Seria uma aventura mais pé no chão, recheada de violência e uma trama mais séria. Então, vendo a Disney, por meio da Marvel, empilhar bilhão atrás de bilhão, a Warner já tinha na mente que qualquer produção que lançasse com seus super-heróis DC deveria repetir e até superar o sucesso da concorrente. Afinal, historicamente falando, os personagens da DC são mais populares dentre o grande público. Para piorar as coisas, a FOX, também em parceria com a Marvel, tinha acabado de ver Deadpool (2016) fazer uma bilheteria espetacular (US$ 782,6 milhões), mesmo sendo um filme para maiores de 18 anos e tendo um orçamento de duas coxinhas e um guaraná natural.

Movida pela ganância e o olho grande, a Warner decidiu que não queria mais ‘suportar o processo para viver o propósito’. Dessa forma, no meio da produção, eles mandaram o diretor David Ayer refilmar uma boa parte de Esquadrão Suicida, praticamente apagando qualquer traço de personalidade do projeto, para fazer com que ele se enquadrasse na ‘Fórmula Marvel, usando mais cores e apostando num humor mais bobinho. A mudança no tom do longa foi tão drástica, que era possível notar a diferença entre os trailers. O resultado desse filme foi tão bizarro quanto essa decisão de ‘trocar o pneu com o carro em movimento’.

Em termos de bilheteria, o filme teve uma resposta muito acima do esperado, arrecadando mais de US$ 747 milhões. Mais do que isso, surpreendendo a todos, o longa ainda conquistou um Oscar de Melhor Maquiagem. Só que aí entra o funcionamento das bilheterias. Em grandes franquias, a arrecadação de um filme costuma ser inflada pelo sucesso do anterior. Por exemplo, se o público e a crítica gostarem de Batman Begins (2005), as projeções indicam uma bilheteria ainda maior na sequência. Porém, se ele não tiver boa resposta, é prevista uma queda nas arrecadações. É claro que a explicação completa é bem mais complexa do que isso, mas a grosso modo dá para entender. Tomando como exemplo a própria franquia Cavaleiro das Trevas, é possível ver bem essa projeção de crescimento nas bilheterias.

Então, não dá para falar da bilheteria de Esquadrão Suicida sem levar em consideração o grande interesse do público que curtiu a estética de BVS e proporcionou uma bilheteria muito boa. O problema é que as críticas ao filme foram ainda piores que as de BVS. Todos perceberam que o longa de Ayer estava genérico e tinha dois tons completamente diferentes conflitando por conta das refilmagens. Para piorar, o grande trunfo da história, que era o Coringa de Jared Leto, virou piada com uma atuação deplorável do vocalista de Thirty Seconds to Mars.

Neste filme, a Warner teve todos os sinais do que fazer ou não no Universo Estendido DC, mas por conta de uma boa resposta na bilheteria, decidiu apostar num caminho mais genérico para tentar agradar o grande público, ignorando a fanbase fiel que já havia mostrado estar disposta a embarcar na visão original do universo.

O projeto seguinte foi Mulher-Maravilha (2017), que começou a ser feito ainda sob a visão original do DCEU, mas teve seu terceiro ato completamente alterado, dando um final mais ‘meloso’ e apelando para o velho cliché da protagonista resolvendo o problema por meio do amor. Entretanto, a aventura estrelada por Gal Gadot – e dirigida por Patty Jenkins – conseguiu fazer mais de US$ 820 milhões em bilheteria, conquistando tanto a crítica quanto o público, mesmo que tenha recebido reclamações justamente sobre o terceiro ato, que foi quando abriram mão de sua personalidade e apelaram para o genérico.

Isso causou um grande mal-estar na cúpula do estúdio, que já estava decidida a chutar Zack Snyder para fora do DCEU por conta de divergências criativas. No meio das gravações de Liga da Justiça, o diretor sofreu uma tragédia pessoal e se afastou do filme, que foi para as mãos de Joss Whedon, diretor dos filmes dos Vingadores, que recebeu a seguinte missão: “Faça o seu ‘Vingadores’ da DC”. E assim o fez. Ele pegou o esqueleto do longa de Snyder e fez um remendo com as situações e piadas que haviam dado certo com os Vingadores. Foi feio demais. E aí sim foi um fracasso, tanto de crítica quanto bilheteria.

E a pá de cal sobre a visão original do universo veio com o sucesso de Aquaman (2018). Com uma visão completamente oposta ao que foi iniciado por Zack Snyder em 2013, o ‘Midas de Hollywood’ trouxe sua estética própria para o universo, enchendo o filme do Rei de Atlântida de cores, elementos de terror, um humor canalha irresistível e uma inspiração narrativa nada sutil nas obras de Júlio Verne. Os acionistas soltaram fogos quando viram um personagem que era motivo de piada na Cultura Pop conquistar os fãs, os críticos e enfim romper a marca do bilhão de dólares nas bilheterias. A partir daquele momento, até os executivos que gostavam do estilo de Snyder se convenceram de que não havia mais espaço para ele no DCEU.

Em meio a tantos processos de mudanças no comando da Warner, com direito a novos CEO e vendas, o caos só aumentou. Foram anunciando uma série de projetos que nunca saíram do papel e perderam o rumo de suas produções. Antes, por mais que fosse polêmica, a visão de Snyder dava um direcionamento para o DCEU. Com sua saída, eles se perderam. E foi assim que surgiram projetos que pareciam isolados uns dos outros, enquanto o futuro da Liga da Justiça parecia ser não ganhar uma continuação tão cedo. Oras, como se constrói um universo compartilhado em que o principal grupo de heróis não está nos planos? Ainda assim, por contar com muitos personagens fascinantes em seu panteão, algumas pérolas surgiram, como Shazam! (2019) e O Esquadrão Suicida (2021).

O problema é que mesmo com as boas críticas, os filmes não estavam refletindo na bilheteria. Com a pandemia, a situação piorou ainda mais. Enquanto os longas saíam sem um norte para seguir, com projetos cada vez mais isolados um do outro, as mudanças no comando da Warner seguiam e pareciam só complicar mais as coisas. Então, houve um embate de narrativas que definiria de uma vez por todas o fim do DCEU. Diz o ator Dwayne Johnson que prometeram para ele o controle criativo de uma retomada do DCEU, que seria centrada no embate entre o Superman (Henry Cavill) e o seu Adão Negro. Do outro lado, rumores indicavam que a Warner queria o excêntrico James Gunn no comando.

Mais uma vez a desorganização do estúdio veio a público e o tempo deu razão aos rumores, com Gunn sendo o escolhido para recomeçar a jornada dos heróis da DC nos cinemas. Com o fim do DCEU, consumado agora com o lançamento de Aquaman 2: O Reino Perdido, resta ao público torcer para que o homem responsável por formular todo o núcleo cósmico da Marvel consiga repetir o sucesso criando o Universo DC, tendo como ponto de partida Superman: Legacy, em 2025.

No fim das contas, o próprio Aquaman 2 deixa um gosto amargo na boca porque fica a sensação de que tinha muita coisa boa a ser aproveitada e desenvolvida no falecido DCEU. E a grande lição que se tira dessa ‘década perdida’ da DC nos cinemas é que não adianta querer apressar as coisas. Criar um universo compartilhado demanda tempo e planejamento. Quando foi lançado, esse projeto tinha um potencial colossal não só de fazer frente à Marvel, mas de superá-la. Quando se tem heróis como Batman, Superman e Mulher-Maravilha nas mãos, as chances de acertar com eles são muito maiores do que as de errar.

Ao tentar correr para chegar aos números da Marvel que já tinha cinco anos de trabalho e sete filmes nos cinemas – tendo lançado apenas dois filmes, os executivos da DC deram um tiro no pé e jogaram fora todas aquelas promessas feitas em Comic Cons pelo mundo. Ao longo dos anos, visando apenas os números, ele confrontaram fãs e compraram brigas infundadas com os principais financiadores desse universo. Afinal, como você espera vender um universo compartilhado para um público se menospreza todas as suas demandas, sugestões e reclamações?

É triste ver que o DCEU chegou ao fim como um case do que não se fazer nos cinemas, mas fica de lição para as próximas empreitadas. Para os fãs, só resta chorar sobre o leite derramado e abrir a mente para o vindouro DCU.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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