domingo , 22 dezembro , 2024

Opinião | ‘Late Night’ é uma honesta e divertida comédia que você precisa assistir antes do ano acabar

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Mindy Kaling é uma mulher multifacetada e extremamente talentosa por diversas razões: além de ter despontado na premiada série The Office’ (não apenas por sua atuação, mas também por suas aplaudíveis habilidades narrativas), ela vem se tornando um nome expoente da indústria do entretenimento, tendo marcado presença na literatura, nos palcos e também nas telonas – trabalhando ao lado de nomes como Judd Apatow, Sandra Bullock e Cate Blanchett nos últimos anos.

Em 2019, Kaling retornou com uma deliciosa dramédia intitulada Late Night, que também marcou sua volta para a cadeira de roteirista. No longa-metragem, ela colabora com outro nome emergente: Nisha Ganatra, conhecida por seu trabalho na produção televisiva Transparent’. E o que poderia se tornar mais um coming-of-age vazio e convencional, na verdade, funciona como um belíssimo e satírico conto de fadas desconstruído que arranca o melhor de seu elenco de ponta e aproveita o espaço para inserir críticas sociais sem cair nas fórmulas do panfletarismo documentário. É claro que nada disso poderia funcionar sem alguém que encabeçasse essa jornada cinematográfica e tão contemporânea aos dias de hoje – e quem melhor para esse cargo que Emma Thompson?



A trama principal, num escopo bem simplificado, já foi explorado com exaustão em outras obras: nesse caso, Thompson encarna Katherine Newbury, a única apresentadora mulher do horário nobre da televisão americana que enfrenta a dura realidade do sexismo no show business. Entretanto, Kaling constrói uma história que cultiva a protagonista em duas extremidades completamente diferentes; enquanto na frente das câmeras Katherine é a queridinha da América e um símbolo de superação, nos bastidores ela é uma calculista mulher de negócios que é vista com medo por uma equipe majoritariamente masculina – refletindo, na visão dos funcionários homens, uma construção extremamente estereotipada que inclusive é utilizada como argumento para o que sucede em seu arco narrativo.

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As coisas mudam, como mencionado acima, quando ela percebe que a audiência de seu programa vem caindo há alguns anos e só questão de tempo até que ela seja substituída pela presidente da emissora. É por essa razão egoísta (a priori) que resolve contratar a sonhadora Molly (Kaling mais uma vez), uma jovem que se demitiu do emprego numa indústria química e resolveu perseguir seu sonho de trabalhar com a mulher que sempre a inspirou. Todavia, como é clássico de contos desse gênero específico, as aparências são mais enganosas que verdadeiras – e ela descobre do pior que jeito que Katherine é uma pessoa problemática demais para conviver com outras pessoas.

O longa se desenrola em uma espécie de O Diabo Veste Prada’ às avessas, numa versão em que Andrea decide não se submeter em humilhação aos desejos insanos de Miranda Priestly. Katherine, aqui, é uma versão abrandada da icônica editora da Runway, percebendo que ela precisa mudar sua atitude se quiser continuar com seu programa – começando por mudar seu time esteticamente idêntico de homens brancos que não tem um pingo de empatia. A chegada de Molly é, sem sombra de dúvida, o ponto de virada central que permite que a protagonista e todos ao seu redor caiam em si e tomem como mote a necessidade de transformar o talk show em algo mais acessível para a geração millenial.

De fato, percebemos que a base de todo o escopo fílmico é o confronto quase saudável entre gerações e a aceitação de que, às vezes, é mister engolir alguns sapos em prol de um benfazejo sucesso. No meio do caminho, como também já era de se esperar, ambas as fortes personagens femininas partem para caminhos diferentes apenas para se reencontrarem em um desfecho à la “final feliz”, onde todas as pontas soltas convergem para uma conclusão crível o suficiente para um público que espera por uma mensagem positiva, porém não explorada o bastante para que realmente acreditemos que aquilo pôde acontecer. Mesmo assim, Thompson consegue fluidamente tomar conta dos holofotes em um discurso final empolgante, dramático e bastante reflexivo.

Ganatra pode não explorar para além das fechadas estruturas cênicas das tragicomédias atuais, optando por clichês estéticos que, eventualmente, funcionam da forma que prometem. Há um ou outro foreshadowing, uma ou outra quebra de expectativa que talvez mereça nossa atenção – mas não tanto quanto o caminho pavimentado pelas brilhantes performances de Thompson, Kaling e nomes como John Lithgow, Denis O’Hare, Hugh Dancy, Reid Scott e outros.

No final das contas, Late Night serve como um memorando para sempre irmos em busca de nossos sonhos, por mais perdidos que eles pareçam. É claro que toda essa bela e repetitiva mensagem não nos é apresentada com tanta obviedade assim; porém, é o que a obra realmente significa. Afinal, até mesmo Katherine consegue redescobrir a paixão que primeiro a lançou na carreira de apresentadora e comediante – sendo obrigada a retornar para suas raízes para entender como ela se perdeu nessa longa jornada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Mindy Kaling é uma mulher multifacetada e extremamente talentosa por diversas razões: além de ter despontado na premiada série The Office’ (não apenas por sua atuação, mas também por suas aplaudíveis habilidades narrativas), ela vem se tornando um nome expoente da indústria do entretenimento, tendo marcado presença na literatura, nos palcos e também nas telonas – trabalhando ao lado de nomes como Judd Apatow, Sandra Bullock e Cate Blanchett nos últimos anos.

Em 2019, Kaling retornou com uma deliciosa dramédia intitulada Late Night, que também marcou sua volta para a cadeira de roteirista. No longa-metragem, ela colabora com outro nome emergente: Nisha Ganatra, conhecida por seu trabalho na produção televisiva Transparent’. E o que poderia se tornar mais um coming-of-age vazio e convencional, na verdade, funciona como um belíssimo e satírico conto de fadas desconstruído que arranca o melhor de seu elenco de ponta e aproveita o espaço para inserir críticas sociais sem cair nas fórmulas do panfletarismo documentário. É claro que nada disso poderia funcionar sem alguém que encabeçasse essa jornada cinematográfica e tão contemporânea aos dias de hoje – e quem melhor para esse cargo que Emma Thompson?

A trama principal, num escopo bem simplificado, já foi explorado com exaustão em outras obras: nesse caso, Thompson encarna Katherine Newbury, a única apresentadora mulher do horário nobre da televisão americana que enfrenta a dura realidade do sexismo no show business. Entretanto, Kaling constrói uma história que cultiva a protagonista em duas extremidades completamente diferentes; enquanto na frente das câmeras Katherine é a queridinha da América e um símbolo de superação, nos bastidores ela é uma calculista mulher de negócios que é vista com medo por uma equipe majoritariamente masculina – refletindo, na visão dos funcionários homens, uma construção extremamente estereotipada que inclusive é utilizada como argumento para o que sucede em seu arco narrativo.

As coisas mudam, como mencionado acima, quando ela percebe que a audiência de seu programa vem caindo há alguns anos e só questão de tempo até que ela seja substituída pela presidente da emissora. É por essa razão egoísta (a priori) que resolve contratar a sonhadora Molly (Kaling mais uma vez), uma jovem que se demitiu do emprego numa indústria química e resolveu perseguir seu sonho de trabalhar com a mulher que sempre a inspirou. Todavia, como é clássico de contos desse gênero específico, as aparências são mais enganosas que verdadeiras – e ela descobre do pior que jeito que Katherine é uma pessoa problemática demais para conviver com outras pessoas.

O longa se desenrola em uma espécie de O Diabo Veste Prada’ às avessas, numa versão em que Andrea decide não se submeter em humilhação aos desejos insanos de Miranda Priestly. Katherine, aqui, é uma versão abrandada da icônica editora da Runway, percebendo que ela precisa mudar sua atitude se quiser continuar com seu programa – começando por mudar seu time esteticamente idêntico de homens brancos que não tem um pingo de empatia. A chegada de Molly é, sem sombra de dúvida, o ponto de virada central que permite que a protagonista e todos ao seu redor caiam em si e tomem como mote a necessidade de transformar o talk show em algo mais acessível para a geração millenial.

De fato, percebemos que a base de todo o escopo fílmico é o confronto quase saudável entre gerações e a aceitação de que, às vezes, é mister engolir alguns sapos em prol de um benfazejo sucesso. No meio do caminho, como também já era de se esperar, ambas as fortes personagens femininas partem para caminhos diferentes apenas para se reencontrarem em um desfecho à la “final feliz”, onde todas as pontas soltas convergem para uma conclusão crível o suficiente para um público que espera por uma mensagem positiva, porém não explorada o bastante para que realmente acreditemos que aquilo pôde acontecer. Mesmo assim, Thompson consegue fluidamente tomar conta dos holofotes em um discurso final empolgante, dramático e bastante reflexivo.

Ganatra pode não explorar para além das fechadas estruturas cênicas das tragicomédias atuais, optando por clichês estéticos que, eventualmente, funcionam da forma que prometem. Há um ou outro foreshadowing, uma ou outra quebra de expectativa que talvez mereça nossa atenção – mas não tanto quanto o caminho pavimentado pelas brilhantes performances de Thompson, Kaling e nomes como John Lithgow, Denis O’Hare, Hugh Dancy, Reid Scott e outros.

No final das contas, Late Night serve como um memorando para sempre irmos em busca de nossos sonhos, por mais perdidos que eles pareçam. É claro que toda essa bela e repetitiva mensagem não nos é apresentada com tanta obviedade assim; porém, é o que a obra realmente significa. Afinal, até mesmo Katherine consegue redescobrir a paixão que primeiro a lançou na carreira de apresentadora e comediante – sendo obrigada a retornar para suas raízes para entender como ela se perdeu nessa longa jornada.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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