quinta-feira, maio 2, 2024

Opinião | Oppenheimer: O NOVO filme de Nolan retoma seu interesse pela história

Cineasta volta à se apoiar em elementos históricos na elaboração de uma história

O diretor Christopher Nolan é o tipo de nome que chegou a um patamar elevado o suficiente na indústria que cada anúncio de um novo projeto gera, praticamente de maneira automática, um interesse generalizado por cinéfilos e espectadores ocasionais que, não raramente, tendem a discutir como essa ideia irá se desenvolver.

As raízes desse status podem ser encontradas pelo caminho com que o próprio conduziu sua carreira desde o início dos anos 2000. Não raramente, Nolan sempre afirma em suas entrevistas o quão apreciador da história do cinema ele é bem como tenta, sempre que possível, inserir em seus filmes elementos técnicos que muito fizeram sucesso no passado.

Tal postura o aproxima da comunidade apreciadora de cinema em geral, que aprova seus esforços de unir técnicas modernas com retrô. Todavia, Nolan jamais se limitou a ser um cineasta de nicho ou operando exclusivamente no cenário independente. 

A noção técnica de Nolan é bastante ampla

O que se tem desde o início é uma inclinação para entregar produções de orçamento considerável, inicialmente não focados em efeitos especiais refinados ou locações variadas porém destinados a contar com nomes conhecidos do grande público tais como Guy Pearce em Amnésia e Al Pacino em Insônia. Ambas as obras da primeira fase de carreira carregam a semelhança de serem thrillers criminais realizados com elementos incomuns para o circuito mainstream.

Enquanto que o primeiro foi inspirado em um conceito anteriormente produzido pelo diretor e seu irmão, Jonathan Nolan, o segundo é uma refilmagem norte-americana da obra sueca homônima lançada em 1997. Ambos possuem narrativas que não são consideradas usual, tendo Amnésia como exemplo de um enredo que se desenvolve de trás para frente e Insônia utilizar o efeito da privação de sono para desenvolver seu protagonista.

Não muito depois o cineasta teria seu unido ao da franquia Batman que, consequentemente, catapultaria sua carreira muitos níveis acima. Ainda que Batman Begins tenha sido uma experiência cinematográfica muito mais contida que seu primeiro longa, ela foi importante para impactar o grande cenário de adaptações de quadrinhos.

O reboot do cavaleiro das trevas foi um divisor de águas em sua carreira

Todavia, é em 2006 que Nolan lança uma obra curiosa que dialoga bastante com sua fase pré Batman: O Grande Truque. Ambientada no século XIX, a trama segue dois ilusionistas (interpretados por Christian Bale e Hugh Jackman) que vão de melhores amigos a inimigos mortais conforme a fama de um deles vai se sobrepondo a do outro.

Quando um deles desenvolve um novo truque que o outro não consegue compreender, bem como teme que esse em particular pode custar-lhe tudo, é que a disputa entre ambos se intensifica. Obcecado em superar o desafio proposto pelo rival, ele viaja ao encontro famoso inventor Nikola Tesla (interpretado por David Bowie) por acreditar que o mesmo estava ajudando seu rival.

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A contra gosto o inventor lhe entrega uma máquina que duplica qualquer coisa, ao passo que ele eventualmente sai de cena após encontrar com agentes de Thomas Edison, seu competidor. Este é o ponto que o cineasta, mesmo que de maneira breve, puxa para sua obra uma situação histórica.

Bowie deu vida ao inventor Nikola Tesla

O relacionamento dos dois inventores se desenvolveu no século XIX, quando Tesla chegou em Nova York vindo da Sérvia e passou a trabalhar para Thomas Edison, já estabelecido como o aperfeiçoador do telégrafo, em sua empresa. Eventualmente, o jovem sérvio pediu demissão para criar sua própria companhia elétrica. 

Não só isso, mas sua nova empresa tinha a proposta de apresentar um novo padrão de energia para os EUA, a corrente alternativa, que ia de encontro com aquela estabelecida, bem como lucrativa, por Edison: a corrente direta. O veterano inventor conduziu sua própria campanha publicitária, advogando a favor da corrente direta, sem conseguir estabelecer como ela seria melhor que a alternada. Ao final, a linha proposta por Tesla se tornou a padrão nos EUA.

Logo a lendária disputa entre as duas personalidades de fato ocorreu, ainda que não nas mesmas proporções com que passou a ser alardeada em tempos recentes. Com a vindoura biografia de Oppenheimer, o diretor terá em mãos um material biográfico e histórico tão rico quanto, bem como tem enorme potencial para dramatização.

“O Grande Truque” pode vir a ser uma fonte de inspiração para o diretor

Figura central durante a Segunda Guerra Mundial, J. Robert Oppenheimer era considerado desde os tempos de Harvard como um prodígio no ainda tímido campo de estudos da energia atômica. Seu primeiro envolvimento com a política, que mais tarde seria fatal para sua carreira, ocorreu durante a Guerra Civil espanhola, quando ele utilizou a fortuna da família para financiar movimentos antifascistas.

Apesar de nunca se declarar comunista, os crimes cada vez mais noticiados de Stalin o fizeram parar de municiar os grupos de esquerda que enfrentaram o avanço fascista na Europa. Após a invasão alemã à Polônia, Oppenheimer foi convidado pelo governo norte-americano a conduzir o projeto Manhattan, a fim de garantir que os EUA teriam a bomba atômica antes dos nazistas.

Após a guerra, o cientista se veria em volta de diversas audiências e investigações acerca de sua lealdade para com o país, principalmente após os soviéticos deixarem claro que estavam conduzindo testes atômicos em 1949 e a paranoia desencadeada pela prisão dos Rosenbergs no qual se acreditava que havia espiões russos infiltrados em todos os cantos.

Mesmo que a abordagem de Nolan ainda não esteja clara, é perceptível que o diretor ensaia um retorno a dramatização de eventos, ou pessoas, reais. No que tange a jornada do físico nuclear, pode ocorrer uma priorização pelo capítulo mais turbulento da sua vida, as audiências no congresso e perseguição do Macarthismo, de modo a produzir um terreno fértil para um longa.

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