Iniciado há mais de oito anos, o Universo DC nos cinemas passou por muitos altos e baixos até chegar aos resultados dos últimos tempos. Por mais que exista uma organização questionável por trás dos projetos e lançamentos da empresa, já faz uns quatro anos que ela mais acerta do que erra em suas produções. No entanto, mesmo assim, público e crítica parecem tratar a DC com uma certa descrença, como se estivesse sempre esperando o pior ainda por conta daquele início conturbado.
Em nível de comparação, basta tomar a Marvel como exemplo. Basta o estúdio lançar um novo filme para pipocarem na internet os mesmos comentários de sempre. “Mais um acerto da Marvel”, “O melhor filme da Marvel até agora” e por aí vai. E veja bem, não é uma crítica à empresa, até porque muitos desses elogios são justíssimos. Inclusive, se você tiver condições, assista Shang-Chi, que é mesmo o melhor filme de origem do estúdio em muitos anos. O ponto é que parece haver uma boa vontade, quase que uma pré-disposição, para gostar dos lançamentos da Marvel sem pesar tanto na crítica, o que beneficia que filmes medianos ou até mesmo não tão bons ganhem uma relevância desmedida.
Do outro lado, a DC tenta lançar pelo menos um filme por ano para seguir expandindo seu universo. E a cada novo lançamento, parte considerável dos comentários acerca deles é feito em tom de surpresa. “Nossa, não é que a DC conseguiu mesmo?”. Já faz uns quatro anos que esse tipo de comentário acompanha os filmes da empresa, mas quando eles emplacam pelo menos três filmes seguidos com esse tipo de avaliação positiva, a qualidade deixa de ser exceção e se vai se tornando padrão. Então, o que falta para que as críticas de “Mais um acerto da DC” tomem os portais e redes sociais?
Como dito antes, o início apressado desse universo parece impor muito peso ainda nas avaliações. No entanto, a DC já afastou grande parte dos envolvidos nas polêmicas e no que deu errado, deixando claro que não trabalha mais com aquelas visões para o futuro de seus filmes no cinema. E isso fica nítido pelas próprias produções que eles lançam anualmente. São poucos os filmes que tentam se enquadrar num padrão da casa. Cada personagem tem sua própria aventura com suas próprias características.
Não dá para dizer que o estúdio segue uma fórmula, uma receita do sucesso. Na verdade, já está nítido que eles estão focados em desenvolver seus novos personagens para eventualmente reuni-los mais pra frente em produções conjuntas. Não é porque eles estão trabalhando de forma diferente da concorrente que eles estão errados. E desde que começou essa nova fase, já tivemos filmes sombrios, coloridos, uns mais adultos, outros mais infantis, pés no chão, completamente surtados… Enfim, são longas de propostas e pegadas distintas que coexistem no mesmo universo e está tudo bem. Eles não precisam ser iguais ou dividir personalidades parecidas para viverem na mesma realidade.
Sem contar o pioneirismo. A DC foi a primeira desse nicho de heróis cinematográficos a colocar dois medalhões da Casa se enfrentando, também foi a primeira a ter um filme solo de uma super-heroína, foi a primeira a ter uma diretora à frente do projeto, foi a primeira a mudar a etnia de um dos seus personagens principais – o Aquaman -, foi a primeira a trazer um grupo feminino para protagonizar um longa e pode não ter sido a primeira a autorizar que metade do elenco do filme morresse, mas com certeza foi a primeira a não trazê-los de volta dos mortos ao final da história. Contou quantos “primeiras” eu usei nesse parágrafo? É um pioneirismo muito interessante que acaba sendo pouco comentado por conta de filmes que quase não influenciam mais nas histórias atuais. E ser pioneiro exige coragem porque toda nova empreitada está sujeita a fracassos. Curiosamente ou não, quando a DC ousou, o resultado foi muito positivo.
E tudo bem que é difícil falar em universo compartilhado sem citar as falhas do começo, mas já pensou se tentassem diminuir Vingadores: Guerra Infinita (2018) por conta das bombas que foram os filmes do Thor? Por conta do filme do Hulk? Não dá. São tropeços que fazem parte dos estúdios que estão tentando emplacar um projeto da magnitude de um Universo Cinematográfico. O importante é que eles aprendam com os erros e corrijam os rumos sem desistir da empreitada, senão quem sai perdendo são os fãs.
Talvez o que falte para a DC conseguir essa boa vontade seja divulgar um calendário de produções anunciando quando cada personagem vai cruzar o caminho de outro herói ou vilão, mas será que isso é realmente necessário? E a magia de ir assistir a um filme e ser surpreendido por um personagem que você não esperava onde fica? Por exemplo, isso aconteceu com muitos em O Esquadrão Suicida (2021) e a sensação de ver aquilo acontecendo sem um aviso prévio foi muito legal. E se o momento da DC nos cinemas não for de planejar grandes crossovers, mas sim de trabalhar melhor seus personagens, que conseguem sustentar filmes sozinhos, para conquistar os fãs? São muitas variáveis que precisam ser aplicadas para que algumas pessoas entendam que duas empresas concorrentes não precisam agir de forma igual para terem sucesso e competirem entre si.
Fato é que os filmes baseados em quadrinhos vêm dominando as bilheterias nos últimos anos, mas já começam a demonstrar sinais de desgaste. É uma época decisiva para os estúdios entenderem como trazer frescor para esse tipo de produção seguir com a mesma relevância pela próxima década. Nesse ponto, a DC vem ousando mais recentemente e parece estar mais aberta a aprender e entregar filmes que possam agradar aos fãs sem cair na mesmice. Tenha boa vontade ou não, o momento agora é de curtir os últimos longas e aguardar ansiosamente por “Mais um acerto da DC”, mesmo que alguns não reconheçam isso.
Os filmes da DC estão disponíveis no HBO Max.