domingo , 22 dezembro , 2024

Opinião | Por que ‘Red: Crescer é uma Fera’ está causando estranhamento em parte do público?

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A mais nova animação da Pixar, Red: Crescer é uma Fera, estreou na última sexta (11) no Disney+ e fez algo um tanto quanto incomum no histórico das animações da Pixar: dividiu opiniões. Enquanto uns amaram a história a ponto de bombardearem as redes sociais com artes e seus momentos favoritos do longa, outros detestaram tudo feito pelo estúdio, desde a trama até o estilo de animação. Um dos comentários negativos mais frequentes é o “nem parece Pixar”. Mas isso não é necessariamente negativo.



Na última década, o estúdio viveu seus anos mais conturbados. Fundada em 1986, a Pixar ganhou o mundo na década seguinte ao lançar o primeiro longa-metragem animado inteiramente em 3D, Toy Story: Um Mundo de Aventuras (1995). O filme que começou tudo ditou o rumo da empresa pelos 15 anos seguintes, que investiu alto em tecnologias revolucionárias de animação, sempre buscando o hiperrealismo dos cenários e composições, enquanto trabalhava histórias de forma criativa e inesperada. Ou seja, foram anos de aventuras memoráveis, cheias de humor inocente e muitas novidades.

Quando foi lançado, “Toy Story” também causou estranhamento no público acostumado com o 2D.

Porém, em 2010, com a chegada de Toy Story 3, o aparente fim do ciclo que começou tudo lá em 1995 trouxe um novo padrão para a empresa.

Assista também:
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A ideia de que os filmes da Pixar tinham que “fazer chorar” parece ter se impregnado na missão do estúdio, o que logo se tornou um grande limitador no leque de possibilidades narrativas das equipes criativas envolvidas nos projetos. Surgiu ali uma nova “fórmula Pixar”.

Não coincidentemente, a década seguinte do estúdio passou longe da unanimidade de crítica do período anterior. Além de investir mais em sequências, como Universidade Monstros, Procurando Dory e Os Incríveis 2, os filmes originais, com exceções como Divertida Mente e Viva – A Vida é uma Festa, não conseguiram impactar tanto no cenário dos longas-animados como seus antecessores. Ou vai me dizer que seu filme favorito da Pixar é Valente? Ou O Bom Dinossauro?

Divertida Mente” foi uma das exceções na década de sequências da Pixar.

Chegava a ser contraditório que quanto mais eles avançavam no realismo assustador de suas animações, menos criativas ou cativantes fossem as novas histórias. A tal “fórmula Pixar” permitiu que filmes fossem feitos de qualquer jeito, contanto que a estrutura narrativa apresentasse um personagem minimamente carismático com um trauma a ser resolvido para que todo o longa fosse desenvolvido em torno da possibilidade de criar um “momento para chorar” no final. Quer dizer, se o público estabeleceu que a Pixar fazia “filmes pra chorar”, a Pixar decidiu atender ao que esperavam dela.

E isso até funcionou em alguns projetos, mas simplesmente limitou muito outros. Por quê? Porque essa necessidade de construir um momento de choro reduziu a liberdade da aventura que tanto marcou filmes como Toy Story, Monstros S.A., Vida de Inseto e por aí vai.

Vida de Inseto” jamais precisou tentar fazer o público chorar para conquistar os fãs. A boa história e os bons personagens bastaram.

No entanto, de uns tempos pra cá, a Pixar parece ter entendido a mensagem passada pela crítica de que ela estava se tornando apenas mais um estúdio qualquer de animação. O próprio mercado passou essa mensagem, basta reparar na rápida evolução tecnológica que os filmes animados dos estúdios concorrentes sofreram. De uma hora pra outra, todo mundo se tornou capaz de fazer animações hiperrealistas.

Então, vendo também o sucesso de seus curtas, que tinham mais liberdade, como os Sparkshorts, a Pixar virou a chave e decidiu se reinventar novamente. Enquanto a concorrência corria atrás do realismo, a Pixar voltou a se preocupar com a originalidade. E isso reflete também em seu estilo de animação.

Com o passar dos anos, o realismo deixou de ser um diferencial da Pixar.

Dessa forma, nos últimos três anos, o estúdio lançou um filme todo baseado no universo dos jogos de RPG, um longa sobre a vida antes e após a morte, uma aventura de amizade sobre monstros marinhos descobrindo a Itália e agora a história de uma menina comum crescendo por meio de uma analogia muito criativa.

Mas o filme que marca essa mudança de vez nos padrões da Pixar é Luca. Ele abandona de vez aquela sede pelo realismo e pelo choro do público, trazendo um estilo de animação mais suave. A inspiração da estética desse filme vem das animações 2D e da aquarela, com cores tipicamente italianas. Isso permitiu mais expressividade aos seus personagens e influenciou ainda mais na personalidade deles. Afinal, agora eles teriam formas e tamanhos diferentes, mesmo com a aparência humana.

Luca” fez uma verdadeira revolução estética na Pixar.

Logo de cara, parte do público reclamou justamente do visual. Alguns diziam que estava feio, mas a predominância era: “não parece Pixar”. A mesmíssima coisa aconteceu com Red: Crescer É Uma Fera. Confesso que assim que vi as primeiras imagens, também não me chamou muita atenção. Tudo parecia redondinho demais, estranho demais.

Só que aí, ao assistir o filme, tudo passa a fazer muito sentido. O estilo de animação escolhido presta uma homenagem à arte oriental, além de se tornar parte fundamental da história. Uma trama sobre os problemas da pré-adolescência e suas mudanças físicas não teria o mesmo impacto se as personagens fossem padronizadas, como a Elsa de Frozen, por exemplo.

Em “Red”, cada personagem tem sua particularidade.

A ideia do filme é retratar crianças normais, suas particularidades e diferenças, assim como é na vida real. E esse estilo de animação foi fundamental para que isso funcionasse.

Ao mesmo tempo, a história não foi construída para fazer o público obrigatoriamente chorar. Não! É uma aventura divertida e revolucionária.

Sim, você pode até não ter gostado do filme, mas não dá para negar que ele deu o primeiro passo para mudar a forma como personagens femininas são construídas. Ele traz uma protagonista que usa desodorante, tem problemas típicos da idade, menstrua e fala palavras que não costumamos ver saindo de mulheres em filmes da Disney.

“Red” deve marcar uma nova fase dos filmes da Pixar.

Pode parecer besteira, mas quando foi a última vez nos cinemas, fora comédias românticas, que você viu uma personagem mulher passar desodorante ou falar sobre absorventes de forma tão natural quanto foi feito em Red?

São esses detalhes que fazem a diferença e levam a Pixar ao nível do que um dia já foi o estúdio. Essas inovações, não apenas tecnológicas, mas narrativas, transformaram a empresa NA referência do mercado, por mais que tenha se perdido recentemente.

Então, é normal que Red: Crescer é uma Fera esteja causando um certo estranhamento em parte do público. Eles se acostumaram com uma Pixar não tão criativa quanto já fora um dia, aceitando produções menos inspiradas e as definindo como um tipo de padrão de qualidade. Essa mudança para algo mais original, mais inspirado, nunca é fácil logo de cara. Por isso, é muito bom ver a Pixar se distanciando das concorrentes novamente, mas agora de um jeito positivo. Que a aventura e a criatividade voltem a ser a principal característica do estúdio, e não apenas “fazer chorar”.

Red: Crescer é uma Fera e todos os outros filmes citados no texto estão disponíveis no Disney+.

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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A mais nova animação da Pixar, Red: Crescer é uma Fera, estreou na última sexta (11) no Disney+ e fez algo um tanto quanto incomum no histórico das animações da Pixar: dividiu opiniões. Enquanto uns amaram a história a ponto de bombardearem as redes sociais com artes e seus momentos favoritos do longa, outros detestaram tudo feito pelo estúdio, desde a trama até o estilo de animação. Um dos comentários negativos mais frequentes é o “nem parece Pixar”. Mas isso não é necessariamente negativo.

Na última década, o estúdio viveu seus anos mais conturbados. Fundada em 1986, a Pixar ganhou o mundo na década seguinte ao lançar o primeiro longa-metragem animado inteiramente em 3D, Toy Story: Um Mundo de Aventuras (1995). O filme que começou tudo ditou o rumo da empresa pelos 15 anos seguintes, que investiu alto em tecnologias revolucionárias de animação, sempre buscando o hiperrealismo dos cenários e composições, enquanto trabalhava histórias de forma criativa e inesperada. Ou seja, foram anos de aventuras memoráveis, cheias de humor inocente e muitas novidades.

Quando foi lançado, “Toy Story” também causou estranhamento no público acostumado com o 2D.

Porém, em 2010, com a chegada de Toy Story 3, o aparente fim do ciclo que começou tudo lá em 1995 trouxe um novo padrão para a empresa.

A ideia de que os filmes da Pixar tinham que “fazer chorar” parece ter se impregnado na missão do estúdio, o que logo se tornou um grande limitador no leque de possibilidades narrativas das equipes criativas envolvidas nos projetos. Surgiu ali uma nova “fórmula Pixar”.

Não coincidentemente, a década seguinte do estúdio passou longe da unanimidade de crítica do período anterior. Além de investir mais em sequências, como Universidade Monstros, Procurando Dory e Os Incríveis 2, os filmes originais, com exceções como Divertida Mente e Viva – A Vida é uma Festa, não conseguiram impactar tanto no cenário dos longas-animados como seus antecessores. Ou vai me dizer que seu filme favorito da Pixar é Valente? Ou O Bom Dinossauro?

Divertida Mente” foi uma das exceções na década de sequências da Pixar.

Chegava a ser contraditório que quanto mais eles avançavam no realismo assustador de suas animações, menos criativas ou cativantes fossem as novas histórias. A tal “fórmula Pixar” permitiu que filmes fossem feitos de qualquer jeito, contanto que a estrutura narrativa apresentasse um personagem minimamente carismático com um trauma a ser resolvido para que todo o longa fosse desenvolvido em torno da possibilidade de criar um “momento para chorar” no final. Quer dizer, se o público estabeleceu que a Pixar fazia “filmes pra chorar”, a Pixar decidiu atender ao que esperavam dela.

E isso até funcionou em alguns projetos, mas simplesmente limitou muito outros. Por quê? Porque essa necessidade de construir um momento de choro reduziu a liberdade da aventura que tanto marcou filmes como Toy Story, Monstros S.A., Vida de Inseto e por aí vai.

Vida de Inseto” jamais precisou tentar fazer o público chorar para conquistar os fãs. A boa história e os bons personagens bastaram.

No entanto, de uns tempos pra cá, a Pixar parece ter entendido a mensagem passada pela crítica de que ela estava se tornando apenas mais um estúdio qualquer de animação. O próprio mercado passou essa mensagem, basta reparar na rápida evolução tecnológica que os filmes animados dos estúdios concorrentes sofreram. De uma hora pra outra, todo mundo se tornou capaz de fazer animações hiperrealistas.

Então, vendo também o sucesso de seus curtas, que tinham mais liberdade, como os Sparkshorts, a Pixar virou a chave e decidiu se reinventar novamente. Enquanto a concorrência corria atrás do realismo, a Pixar voltou a se preocupar com a originalidade. E isso reflete também em seu estilo de animação.

Com o passar dos anos, o realismo deixou de ser um diferencial da Pixar.

Dessa forma, nos últimos três anos, o estúdio lançou um filme todo baseado no universo dos jogos de RPG, um longa sobre a vida antes e após a morte, uma aventura de amizade sobre monstros marinhos descobrindo a Itália e agora a história de uma menina comum crescendo por meio de uma analogia muito criativa.

Mas o filme que marca essa mudança de vez nos padrões da Pixar é Luca. Ele abandona de vez aquela sede pelo realismo e pelo choro do público, trazendo um estilo de animação mais suave. A inspiração da estética desse filme vem das animações 2D e da aquarela, com cores tipicamente italianas. Isso permitiu mais expressividade aos seus personagens e influenciou ainda mais na personalidade deles. Afinal, agora eles teriam formas e tamanhos diferentes, mesmo com a aparência humana.

Luca” fez uma verdadeira revolução estética na Pixar.

Logo de cara, parte do público reclamou justamente do visual. Alguns diziam que estava feio, mas a predominância era: “não parece Pixar”. A mesmíssima coisa aconteceu com Red: Crescer É Uma Fera. Confesso que assim que vi as primeiras imagens, também não me chamou muita atenção. Tudo parecia redondinho demais, estranho demais.

Só que aí, ao assistir o filme, tudo passa a fazer muito sentido. O estilo de animação escolhido presta uma homenagem à arte oriental, além de se tornar parte fundamental da história. Uma trama sobre os problemas da pré-adolescência e suas mudanças físicas não teria o mesmo impacto se as personagens fossem padronizadas, como a Elsa de Frozen, por exemplo.

Em “Red”, cada personagem tem sua particularidade.

A ideia do filme é retratar crianças normais, suas particularidades e diferenças, assim como é na vida real. E esse estilo de animação foi fundamental para que isso funcionasse.

Ao mesmo tempo, a história não foi construída para fazer o público obrigatoriamente chorar. Não! É uma aventura divertida e revolucionária.

Sim, você pode até não ter gostado do filme, mas não dá para negar que ele deu o primeiro passo para mudar a forma como personagens femininas são construídas. Ele traz uma protagonista que usa desodorante, tem problemas típicos da idade, menstrua e fala palavras que não costumamos ver saindo de mulheres em filmes da Disney.

“Red” deve marcar uma nova fase dos filmes da Pixar.

Pode parecer besteira, mas quando foi a última vez nos cinemas, fora comédias românticas, que você viu uma personagem mulher passar desodorante ou falar sobre absorventes de forma tão natural quanto foi feito em Red?

São esses detalhes que fazem a diferença e levam a Pixar ao nível do que um dia já foi o estúdio. Essas inovações, não apenas tecnológicas, mas narrativas, transformaram a empresa NA referência do mercado, por mais que tenha se perdido recentemente.

Então, é normal que Red: Crescer é uma Fera esteja causando um certo estranhamento em parte do público. Eles se acostumaram com uma Pixar não tão criativa quanto já fora um dia, aceitando produções menos inspiradas e as definindo como um tipo de padrão de qualidade. Essa mudança para algo mais original, mais inspirado, nunca é fácil logo de cara. Por isso, é muito bom ver a Pixar se distanciando das concorrentes novamente, mas agora de um jeito positivo. Que a aventura e a criatividade voltem a ser a principal característica do estúdio, e não apenas “fazer chorar”.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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