O cinema é arte. Mas também é um negócio. E um levado muito a sério. Desde seus primórdios na era do cinema mudo, ainda na década de 1920, realizadores costumam promover suas obras através da quantia gasta em sua produção. Dizeres como “o filme mais caro da história” eram chamarizes em cartazes e peças publicitárias para atrair a audiência. Afinal, cinema também sempre foi espetáculo, uma mágica para encantar o espectador, e quanto mais grandiosa for, maior deleite causará.
Esposas Ingênuas (1922), Ben-Hur (1925) e Anjos do Inferno (1930), do excêntrico milionário Howard Huhes, foram algumas produções que clamavam ter rompido a barreira orçamentária de US$1 milhão – numa época em que tal quantia era uma fortuna inestimável -, embora exista dúvida sobre a veracidade do valor gasto filme de Hughes.
Com o passar dos anos tais orçamentos só cresceram, e a partir da década de 1950, quando o cinema precisou enfrentar uma de suas maiores lutas contra um adversário de peso, a Televisão (que chegava em massa aos lares), uma nova guinada nos valores de produção visava entregar um espetáculo que não cabia nas telinhas. Assim, alguns filmes chegavam a ultrapassar a quantia dos US$10 milhões para serem produzidos. Quo Vadis (US$7.6 milhões), Os Dez Mandamentos (US$13.2 milhões) e um novo Ben-Hur (1959, US$15.1 milhões) foram alguns dos longas mais caros da década. E no caso dos três podemos sentir em tela cada centavo no valor de produção.
É claro que tamanho investimento nem sempre se mostrava equivalente ao retorno, medido nas bilheterias. Assim, se …E o Vento Levou (1939) com um orçamento de algo por volta de US$4 milhões rendia uma bilheteria astronômica (que com ajuste de inflação teria arrecadado quase US$4 bilhões hoje – ainda o filme mais rentável da história), Cleópatra (1963), por outro lado, deixava um rombo de prejuízo com seu orçamento inacreditável de US$31 milhões, mesmo se tornando o mais lucrativo de seu respectivo ano.
Hoje, numa era tomada por blockbusters mirados ao público jovem, que muitas vezes podem ser considerados mais “simuladores” ou idas a parques temáticos do que histórias tradicionais e adultas sobre questões humanas, obviamente, o investimento precisa ser colossal. E esta introdução nos traz a este novo texto, cujo assunto é justamente os filmes mais caros da história do cinema. Confira abaixo.
10 | Enrolados (2010)
Se alguém perguntasse, jamais diríamos que a animação mais cara do cânone Disney é esta adaptação do conto de Rapunzel. Reportadamente, Walt Disney em pessoa queria levar às telas a história de Rapunzel ainda na década de 1940. No entanto, esta história só sairia dos planos do estúdio e ganharia vida nas telonas 70 anos depois. Visando atrair um público mais amplo (incluindo os meninos) após a bilheteria abaixo do esperado de A Princesa e o Sapo (2009), o título mudou para Enrolados (ao invés de Rapunzel), e a ênfase a um personagem masculino também foi dada.
Este é o 50º filme em animação da Disney e primeiro sobre uma princesa na forma de animação computadorizada. Mesmo consciente de todos os detalhes dados a sua confecção, o orçamento de US$260 milhões soa absurdo – ainda mais levando em conta que não temos nomes de muito peso no elenco de dubladores. O que sabemos é que Reese Witherspoon estava contratada para dublar Rapunzel, papel que terminou com Mandy Moore. Será que a Disney precisou pagar o salário da Legalmente Loira?
09 | Star Wars: Os Últimos Jedi (2017)
No início da saga Star Wars nos cinemas, lá em 1977 e 1980, por incrível que pareça, os filmes não tinham orçamentos astronômicos ao ponto de serem considerados alguns dos mais caros sequer de seus respectivos anos de lançamento. O Império Contra-Ataca, para termos uma ideia, custou menos que outras grandes estreias de 40 anos atrás, vide Flash Gordon, Popeye e Os Irmãos Cara de Pau.
Com o passar dos anos, a franquia foi engordando e crescendo, ao ponto de se tornar uma das mais lucrativas não apenas da sétima arte, como também do entretenimento de uma forma geral – ou seja, agregando inúmeras outras indústrias, seja na literatura, games, action figures e até mesmo parques temáticos. Assim encontramos as histórias de Star Wars atualmente, donas do que de melhor Hollywood tem a oferecer. Rogue One (2016) custou US$220 milhões e O Despertar da Força (2015) ficou em 11ª colocação dentre os mais caros de todos os tempos, com US$259 milhões de orçamento. Em nono lugar temos este que foi o mais ousado filme da franquia, e também o primeiro grande divisor de águas entre os fãs, com o orçamento de US$262 milhões.
08 | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)
Esse produto da Warner/DC tinha tudo para ser um dos maiores sucessos da história recente do entretenimento. O estúdio tinha em mãos dois personagens icônicos, que são verdadeiras peças de marketing para fazer dinheiro, e cuja trajetória em filmes solo no cinema se mostrou justamente isso. Esse era o primeiro grande encontro destes titãs lucrativos nas telonas, o resultado deveria transcender uma longa-metragem e se tornar um verdadeiro fenômeno da cultura pop.
Bem, como sabemos, o que ocorreu não foi bem isso. Muitos apontam a responsabilidade do “fracasso” para o diretor Zack Snyder. Outros para a ansiedade do estúdio em querer costurar um universo cinematográfico como o da rival Marvel, sem ter passado pelas etapas anteriores. Quando a ganância atropela as ideias, mesmo com tanto dinheiro investido – o orçamento foi de US$263 milhões -, o resultado nunca é o esperado.
07 | John Carter: Entre Dois Mundos (2012)
Você lembra deste filme? É um evento curioso quando um dos filmes mais caros da história é também um filme altamente esquecível, que quase ninguém mais comenta, sendo apagado por completo para gerações mais novas. A verdade é que esta investida ambiciosa da Disney para uma superprodução em live-action é baseada no conto clássico do escritor Edgar Rice Burroughs, que esteve por trás da criação do personagem Tarzan, por exemplo, fonte de inúmeras produções cinematográficas de sucesso – datando igualmente dos primórdios da sétima arte.
O conto de Burroughs “A Princesa de Marte”, o qual a Disney transformou em John Carter na realidade inspirou de tudo no terreno cultural, inclusive George Lucas na criação da saga Star Wars. Acontece que chegando muito atrasado no jogo, John Carter ficou parecendo a cópia, e não o copiado. Quando o roteiro falha em criatividade e emoção, a coisa fica ainda mais complicada. John Carter custou “singelos” US$264 milhões para ser produzido.
06 | Han Solo (2018) /
A Ascensão Skywalker (2019)
Voltando para a franquia Star Wars, agora pulamos direto aumentando a “brincadeira” em US$10 milhões. Tá bom para você? Agora nos encontramos no topo, com os filmes mais caros da franquia. E sim, você leu certo, eu disse filmes no plural. Já que se for para arrebentar a porta, que seja feito em dose dupla. Os dois últimos filmes de Star Wars no cinema foram também os mais custosos. E bem, recaem na categoria dos filmes que não atingiram o esperado.
Com o fato, esperamos que os grandes estúdios repensem suas estratégias, e invistam menos dinheiro em um produto que pode lhes devolver apenas dor de cabeça e prejuízo. Em especial os executivos encarregados em cuidar de um universo tão querido e rico quanto o de Star Wars. Com esta última trilogia, por exemplo, ficou claro que os responsáveis não tinham um plano delineado, deixando diretores ousarem em seus filmes somente para depois negarem seus conceitos apagando-os na continuação. Este é o resumo de A Ascensão Skywalker, um filme que tentou agradar todo mundo e terminou não agradando ninguém.
Já Han Solo se mostrou uma produção problemática desde o início, a começar por ser um projeto que ninguém havia pedido, e terminando com a patacoada da demissão dos diretores originais, as mentes mais que criativas de Phil Lord e Christopher Miller, optando assim pela segurança de Ron Howard. Resultado: uma aventura sem muita vida. Ambos A Ascensão Skywalker e Han Solo foram produzidos pela “bagatela” de US$275 milhões.
05 | Liga da Justiça (2017) /
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007)
Voltamos ao item 8 aqui, e a problemática acerca de Zack Snyder, a Warner e o universo DC no cinema. E se Batman vs Superman já havia sido considerado um atropelo de ideias, com muitos personagens e tramas conflitando ao mesmo tempo, ao invés da concentração de uma única narrativa para introduzir melhor o público neste admirável novo mundo, com Liga da Justiça – o próximo passo nesta linha evolutiva -, a coisa fica ainda mais complicada.
O filme marca o primeiro grande encontro nas telonas, agora não mais apenas de Batman e Super-Homem, mas também do Flash, Aquaman e Cyborg (a Mulher-Maravilha já havia aparecido anteriormente e estrelado seu filme próprio alguns meses antes). Junte a isso a saída de Snyder do projeto devido a problemas pessoais, a entrada de Joss Whedon, e temos um filme cujo tom parece em conflito consigo o tempo todo. O resultado desestimulou o estúdio de seu plano inicial, que era lançar o encontro dos heróis em duas partes – algo como o último Vingadores fez.
Ah sim, em se tratando de Piratas do Caribe, o que surgiu como um “tiro no escuro” da Disney, se mostrou uma franquia extremamente lucrativa e uma das mais adoradas do cinema entretenimento – grande parte devido ao apelo infantil que possui. O plano do estúdio foi se espelhar no que a Warner havia feito com Matrix, e antes com Senhor dos Anéis, e gravar dois filmes de uma só vez, lançando-os no intervalo de um ano. E se a primeira parte, O Baú da Morte teve um orçamento de US$225 milhões para continuar as aventuras de Jack Sparrow, o “encerramento” da então trilogia fechava com chave de ouro pelo “trocado” de US$300 milhões – o mesmo valor gasto pela Warner em Liga da Justiça.
04 | Vingadores: Guerra Infinita (2018)
A razão do sucesso dos filmes da Marvel (bem, de quase todos) é trabalhar tão bem seus personagens e enredos ao ponto de se tornarem não apenas parte de uma obra cinematográfica, mas verdadeiros movimentos sociais. Mesmo em tramas fantasiosas, personagens usando uniformes coloridos, existe uma grande humanidade, que resulta em identificação imediata, em suas narrativas.
Assim, compreendemos as motivações de um tirano como Thanos (Josh Brolin), que acredita verdadeiramente no altruísmo de suas ações: apagar da existência metade do universo para que a outra metade não careça de recursos por motivo de superpopulação. Extremismo? Certamente. No entanto, aqui na Terra passamos pelo mesmo problema. Guerra Infinita é uma aula de como entregar uma produção tão grande quanto possa existir, retirando dela o melhor que ela poderia oferecer. Para isso, é claro, era necessário um valor orçamentário “digno”, e ele custou US$316 milhões. Neste caso, um investimento válido.
03 | Vingadores: Ultimato (2019)
Como dito, o plano para o terceiro Vingadores era dividi-lo em duas partes – trajeto pelo qual a Warner queria ter seguido também. A proposta de um universo costurado e episódico (como eram criados os antigos seriados das matinês a cada sessão fazendo o público ansiar pela próxima semana onde tal aventura seria concluída) inteiramente confeccionado em produções de centenas de milhões de dólares é algo sem precedentes. A Marvel Studios transformou seu cinema na estrutura de quadrinhos. E se antes esta arte não era respeitada ou tratada de forma correta por estúdios e executivos, agora o MCU dá o troco fazendo a indústria do cinema cair de joelhos perante sua fórmula de sucesso, ditando tendências e regras do novo jogo.
Afinal, para que ser dono de uma franquia que se torna febre mundial, quando se pode ter várias e ainda interliga-las. Com Guerra Infinita, a Marvel Studios deixou o mundo sofrendo, à espera de uma conclusão para os acontecimentos aterrorizadores, e um ano depois entregava finalmente tais respostas. É claro que para a conclusão todas as apostas seriam aumentadas, inclusive o orçamento, que pulou para US$356 milhões.
02 | Vingadores: Era de Ultron (2015)
O filme mais caro da Marvel e o segundo mais caro do cinema em geral é um Vingadores, porém, se engana quem achava que seriam os rolos compressores Guerra Infinita ou Ultimato. A produção mais custosa do MCU é Era de Ultron, igualmente um dos mais irregulares. O primeiro Vingadores (2012), com um orçamento de US$220 milhões se mostrou um sucesso estrondoso, mostrando o que poderia ser feito, ultrapassando a marca do bilhão e ainda por cima se tornando a terceira maior bilheteria do mundo na época, ficando atrás somente da dobradinha de James Cameron: Titanic (1997) e Avatar (2009).
Grande parte dos louros foram para o comandante da obra, o diretor Joss Whedon. Assim, imaginem a expectativa pela sequência deste verdadeiro marco para os filmes do gênero. Três anos depois, Era de Ultron saía do papel e… bem, digamos que não foi tão bom quanto o original. De fato, a obra terminou custando parte da “sanidade” de Whedon, que logo após se desligou da franquia, dando um tempo no comando de mega blockbusters. No entanto, uma coisa foi melhor em relação ao original, o orçamento separado para a produção, que chegava a absurdos US$365 milhões.
01 | Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (2011)
O filme mais caro da história do cinema é uma produção da Disney, mas esta não tem nada a ver com a Marvel Studios. Talvez não seja tão difícil de acreditar, já que tais produções são extremamente megalômanas, mas o quarto Piratas do Caribe é o filme com o maior orçamento de todos os tempos. Como dito, No Fim do Mundo é um dos recordistas de orçamento mais inflado, e tinha a proposta de encerrar a franquia. Mas numa era de reciclagens, reimaginações, refilmagens e reinícios, a Disney não pretendia encerrar verdadeiramente uma de suas maiores “galinhas dos ovos de ouro”. Assim, quatro anos após o “término”, foi confeccionado um novo capítulo, desta vez sem o time original.
Assim, saía o diretor Gore Verbinski (da trilogia original) e entrava Rob Marshall (Chicago). Saía também os coprotagonistas Orlando Bloom e Keira Knightley para a entrada da estrela espanhola Penélope Cruz. Mas como quem manda na franquia é mesmo o produtor Jerry Bruckheimer, uma vez tendo Johnny Depp fazendo de novo suas maluquices no papel de Jack Sparrow, não sentimos realmente que algo havia mudado. Nada se diferencia dos anteriores, seja o visual ou qualquer conceito. Até mesmo a direção soa idêntica. O que mudou foi mesmo o orçamento astronômico, elevado para US$379 milhões. Em matéria de arrecadação, no entanto, Navegando em Águas Misteriosas chega abaixo de seu predecessor, com US$20 milhões a menos em bilheteria.