O astro Sylvester Stallone está atualmente em cartaz nos cinemas com ‘Os Mercenários 4’, no auge de seus gloriosos 77 anos. O astro é um dos grandes imortais do cinema e seu brilho jamais será apagado. Mesmo assim, todos temos nossos dias de glória e dias de luta, mesmo os maiores colossos de Hollywood. Esse é o caso com Stallone e o quarto ‘Mercenários’, quem vem desagradando mais do que agradando os fãs e críticos. Bem, Stallone talvez não tenha sua imagem tão manchada assim, já que apesar de ter criado a franquia, tem apenas uma participação no novo filme, que tinha como objetivo passar a tocha para Jason Statham.
Por outro lado, se você quiser presenciar os verdadeiros dias de glória de Sylvester Stallone (ao invés de seus dias de luta nos cinemas atualmente), nem precisa sair de casa, basta acessar o streaming da Amazon Prime Video e conferir um dos maiores sucessos de sua carreira: ‘Risco Total’ – que está completando 30 anos de lançamento em 2023.
Em 1988, ‘Duro de Matar’ revolucionaria o cinema de ação para sempre. Como todos sabem, a trama do filme colocava o herói para enfrentar terroristas em um local específico e restrito, um arranha-céu de Los Angeles. A continuação de 1990, repetiu a dose com muita qualidade, mudando o cenário para um aeroporto de Washington. Não demorou para que Hollywood abraçasse a tendência de colocar um herói de ação enfrentando criminosos nos mais diversos cenários.
Assim, ‘A Força em Alerta’ era considerado um “Duro de Matar no navio” e ‘Passageiro 57’ foi apelidado de “Duro de Matar em um avião”. Não demorou para que ‘Risco Total’ fosse considerado um “Duro de Matar nas montanhas geladas”. E para a tarefa da direção, tínhamos o próprio diretor de ‘Duro de Matar 2’, o finlandês Renny Harlin.
Mas para contar a história de como surgiu ‘Risco Total’, precisamos começar do início. E tudo começou, é claro, com a extinta produtora Carolco, responsável pela trilogia original do Rambo dos anos 80 e também por ‘O Exterminador do Futuro 2’, que financiou ‘Risco Total’. O estúdio tinha planos iniciais para uma comédia com Stallone, na qual o ator atuaria ao lado do saudoso John Candy, com direção de outro artista saudoso, o cineasta John Hughes. ‘Bartholomew vs. Neff’ seria uma história cômica de uma disputa entre dois vizinhos. Lembrando que as tentativas de comédias de Stallone no início dos anos 90 não deram nada certo, vide os fracassos de ‘Oscar – Minha Filha que Casar’ (1991) e principalmente ‘Pare! Senão Mamãe Atira’ (1992).
Quando ‘Bartholomew vs. Neff’ foi engavetado para sempre, a Carolco continuou insistindo em fazer negócios com Stallone, desta vez em uma ficção científica de ação intitulada ‘Isobar’ que, como sabemos, também nunca veria a luz do dia. Mistura de ação, terror e ficção científica, a trama de ‘Isobar’ traria um monstro criado geneticamente que se soltaria em um trem de alta velocidade, a apenas Stallone poderia salvar o dia (já queremos ver esse filme). O longa seria dirigido por Roland Emmerich, e produzido por Joel Silver. Mas quando os dois não se acertaram sobre os caminhos que o filme deveria seguir, Emmerich partiu para comandar ‘Soldado Universal’ para a mesma Carolco, e ‘Isobar’ foi cancelado.
Assim, quando esse segundo projeto também não vingou, aí sim entrava em cena Renny Harlin. Porém, a entrada de Harlin ainda não seria para ‘Risco Total’, e sim para ‘Gale Force’ – acredite! Nesse novo projeto, Harlin dirigiria Stallone combatendo piratas modernos em meio a um terrível furacão – numa espécie de misto de filme de ação com filme catástrofe. Os envolvidos trabalharam no projeto por três anos, no entanto, no fim das contas a Carolco considerou que ‘Gale Force’ teria sido um filme muito caro para produzir. Mas não desistiriam da dupla Stallone / Harlin, rapidamente encontrando um novo projeto para chamarem de seu.
Assim finalmente nascia ‘Risco Total’, que contou com premissa de John Long e roteiro de Michael France e do próprio Sylvester Stallone, um roteirista indicado ao Oscar. A trama pensada para o longa mostraria o protagonista Gabe Walker, um talentoso escalador de montanhas geladas, parte de uma equipe de resgate nas neves. Em um momento recreativo, ele termina no centro de uma grande tragédia, quando a namorada de seu amigo cai para a morte devido a um defeito no equipamento, em uma queda gigantesca. Traumatizado e se culpando pelo ocorrido, Gabe se afasta por uns anos, até que finalmente decide retornar para curar seus medos.
Na mesma época de seu retorno, terroristas decidem pôr em prática um plano de assalto ousado em pleno ar – quando usam um agente infiltrado para roubar um avião que estava transportando uma grande quantia de dinheiro. O sequestro no ar é uma das cenas mais incríveis do longa, e guarda o recorde de cena mais cara jamais realizada por um dublê no cinema, entrando para o livro dos recordes. O dublê Simon Crane recebeu US$1 milhão para realizar a cena sem o uso de cabos ou qualquer segurança. Tudo que precisaria fazer era atravessar de um avião para outro em pleno ar. No filme, o roubo dá certo, mas o avião cai na neve e o dinheiro fica perdido por lá. Assim, os terroristas pedem ajuda à equipe de resgate, mas os obrigam a encontrar o dinheiro para eles, os sequestrando. Dando início assim à dita trama de “Duro de Matar nas montanhas”.
Foi justamente essa similaridade entre os filmes que fez o diretor Renny Harlin inicialmente desistir do projeto, por não querer fazer outro ‘Duro de Matar’ de novo. Mas ainda bem que o diretor permaneceu, pois somou mais pontos em seu currículo com o sucesso deste longa. Para o papel do vilão principal Eric Qualen, interpretado magistralmente por John Lithgow, a primeira escolha de Harlin era David Bowie. E depois Christopher Walken chegou a ser contratado, mas abandonou a produção antes do início das filmagens, sendo substituído por Lithgow.
Sylvester Stallone constantemente cita que seu físico em ‘Risco Total’ foi o melhor que já atingiu na vida, equiparado somente por sua forma física em Rocky IV (1985) e Rambo III (1988). ‘Risco Total’ foi lançado no dia 28 de maio de 1993 nos EUA, e chegaria ao Brasil no dia 17 de setembro do mesmo ano. Com orçamento de US$70 milhões, o longa arrecadaria apenas nos EUA US$84 milhões, obtendo uma abertura de US$16 milhões em seu primeiro fim de semana. Mundialmente, ‘Risco Total’ embolsaria US$255 milhões garantindo assim seu sucesso. De fato, esse filme marcaria o primeiro sucesso de bilheteria nos anos 90 para Stallone, após uma fase ruim com ‘Rocky V’ (1990) e os citados ‘Oscar’ (1991) e ‘Pare! Senão Mamãe Atira’ (1992).
Além do sucesso de bilheteria, ‘Risco Total’ também teria prestígio ao receber nada menos que 3 indicações ao Oscar: melhores efeitos especiais, edição de som e som. O filme, porém, perderia os três prêmios para o fenômeno ‘Jurassic Park’.
Tamanho sucesso, é claro, despertou o interesse das produtoras Carolco e TriStar Pictures em tirar uma continuação do papel. E ela ocorreria logo no ano seguinte, em 1994. A sequência teria o título ‘A Represa’, e novamente era vendido como “Duro de Matar… em uma represa”. Na trama pensada originalmente, o personagem de Stallone dessa vez enfrentaria terroristas que haviam tomado a represa Hoover, um dos pontos turísticos mais famosos nos EUA, localizada na divisa dos estados de Nevada e Arizona. A ideia, porém, não passou da fase de desenvolvimento. Dizem que Stallone tentou tirar o filme do papel novamente em 2008, sem sucesso é claro. Quem sabe o astro não tente mais uma vez, afinal esta é a oportunidade ideal – com esta sendo a chamada era dos revivais. A esta altura, no entanto, seria mais prudente Stallone coadjuvar como nos filmes de ‘Creed’.