Obra biográfica completa 40 anos
Poucos nomes, principalmente atores, podem se gabar de ter tido papel profundo em grandes mudanças ocorridas no cinema. Ao final dos anos 60 e início dos 70, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos atravessava um momento de transformação.
A fase conhecida como Nova Hollywood estabeleceu uma nova forma em que filmes dialogavam com questões reais da sociedade, tais como violência e sexualidade. Costumeiramente, é conferido à Bonnie & Clyde uma importância na implantação do estilo.
Estrelado pela dupla Warren Beatty e Faye Dunaway, a obra misturou abertamente a imprevisibilidade do casal título, pautando-a entre a incendiária atração fisica compartilhada e a onda de roubos a bancos perpetrados pelos mesmo; como a violência utilizada por eles vai aumentando até eclodir em um fim sanguinário.
Dessa maneira, o nome de Beatty se tornou um dos principais da nova geração artística que mudava o cenário do cinema, o que lhe concedeu prestígio suficiente para arriscar novos níveis na indústria. Ainda nos anos 60, o artista viu seu caminho cruzar com o do livro de John Reed, Os Dez Dias que Abalaram o Mundo, que foi publicado em 1919.
Na obra, o jornalista norte-americano relata em primeira mão todo o processo, testemunhado por ele, da queda do regime czarista russo e a ascensão do movimento bolchevique em 1917. Sua proximidade com personalidades da organização lhe valeu um acesso raro aos bastidores do acontecimento histórico; isso, somado à tendência socialista abertamente assumida do próprio Reed, concederam ao seu livro uma recepção polêmica à época da publicação.
Ainda por cima, é interessante citar que o livro gerou reações inesperadas de locais ainda mais inesperados, com dois deles vindos de Stalin e George Kennan. Enquanto o ditador russo desaprovou a retratação positiva que Leon Trotsky recebeu no livro, o ex diplomata norte americano, bem como anticomunista ferrenho, foi bem enfático em seu manuscrito (Russia Leaves the War: Soviet-American Relations, 1917-1920) sobre como o relato de John Reed se eleva sobre todos os demais trabalhos sobre o tema produzidos no período.
Portanto, Warren Beatty tinha em suas mãos um material rico, ainda que não livre de polêmicas, com o qual poderia consolidar seu nome como o de um grande cineasta. Em 1928, o grande nome do cinema russo em todos os tempos, Sergei Eisenstein, também havia se aventurado em uma adaptação da obra com o nome October: Ten Days That Shook the World.
A produção começou ainda em meados dos anos 70, quando o diretor começou a conduzir dezenas de entrevistas com testemunhas que poderiam afastar qualquer resquício de uma visão romanceada concedida por Reed, bem como finalizando o roteiro com a ajuda de nomes como Robert Towne (Chinatown) e Elaine May (Mickey and Nicky).
Já no quesito elenco, Beatty comandou uma equipe bastante sólida a começar por Diane Keaton que já era um nome mais do que estabelecido por suas atuações em Annie Hall e O Poderoso Chefão; Jack Nicholson encarnando o escritor Eugene O’Neill; além de ter no próprio Warren Beatty o responsável por dar vida ao protagonista John Reed.
Após seu lançamento, Reds alcançou um instantâneo status de reconhecimento, principalmente após o Oscar de 1982. Nessa ocasião o filme levou três estatuetas, dentre elas a de melhor diretor, e foi indicado para muitas das principais categorias da noite. Após Reds, Warren Beatty só voltaria para a direção de algum projeto em Dick Tracy de 1990.