APERTEM OS CINTOS… O PILOTO SUMIU… MAS O TESÃO APARECEU
Os Amantes Passageiros é a nova comédia escrachada do cultuado cineasta espanhol, Pedro Almodóvar. Um dos mais prestigiados diretores da atualidade, o autoral Almodóvar tem o total processo criativo de suas obras, e sempre escreve o roteiro de seus filmes ao lado do irmão, Augustín (mesmo que extraoficialmente), o produtor de todos os seus filmes. Sem nunca ter filmado em Hollywood, ou sequer feito um filme falado em inglês, o cineasta possui um forte público nos Estados Unidos.
Diversos críticos por lá fazem questão de avaliar seus filmes, como fazem com diretores de renome, vide Woody Allen. Aliás, Allen é um cineasta a quem Almodóvar é deveras comparado. Seus projetos possuem, no entanto, um teor mais picante. Aqui, o diretor volta ao terreno das comédias escrachadas, que deixou de lado desde Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), para se concentrar em obras mais densas e dramáticas.
Seja qual for o caminho escolhido por Almodóvar (já que suas produções cômicas possuem forte teor de dramaticidade, e seus dramas mais cruciais levam um teor irônico), ele conseguiu cativar uma verdadeira legião de seguidores. Sua volta ao terreno das comédias rasgadas agora acontece com a autoridade de um grande mestre em sua arte. O vencedor do Oscar, pelo roteiro de Fale com Ela, apresenta aqui uma espécie de Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu com forte apelo sexual, e vibração de anos 1970.
Os filmes do diretor não possuem papas na língua, e Almodóvar deixa escapar mais uma vez seu grande lado libertino. A história começa com a participação de velhos colaboradores do cineasta, Antonio Banderas e Penélope Cruz, hoje atores de renome em Hollywood. A dupla vive León e Jessi respectivamente, e seu descuido na primeira cena do filme é o que desencadeia o possível destino trágico da tripulação do voo da companhia Peninsula, para a Cidade do México.
Somos jogados, meio que sem saber, numa crise aérea quando os pilotos e comissários de bordo tentam tranquilizar (a classe econômica literalmente) os passageiros do voo devido a um problema no trem de pouso. Problema esse que não permite que o avião faça a sua aterrissagem normal.
É durante esse momento extremo de aflição e luta por sobrevivência, que Pedro Almodóvar nos pede ao lado de seus passageiros, para relaxar e aproveitar 90 minutos de puro humor para maiores, em sua maioria, obviamente, fazendo uso de grande sexualidade. Três comissários homossexuais comandam o show, e para aliviar a tripulação da primeira classe distribuem bebidas alcoólicas com um “tempero” a mais. Logo todos estão numa literal viagem alucinada, talvez rumo aos últimos momentos de suas vidas. Os Amantes Passageiros é profano, insano, tarado, e acima de tudo hilário.
As situações criadas pelo diretor são bem exploradas e servem igualmente para definir seus personagens principais, e usá-los como motivo de risos. Temos elos com a trama fora da aeronave também, oferecidos através do personagem Ricardo Galán (Guillermo Toledo), um ator mulherengo que levou uma namorada à loucura, vivida por Paz Vega (Espanglês), e outra que está a caminho, papel da belíssima Blanca Suárez (A Pele que Habito).
O timing do diretor é perfeito, e sua trama fica no limite da caricatura, coisa que promete não ofender ou constranger os mais conservadores. Depois de ter ido ao “inferno” buscando inovar em seu chamado primeiro filme de terror, com A Pele que Habito, Almodóvar escolhe uma obra leve e divertida para conduzir, demonstrando que é um artista sem limites e que consegue navegar de forma extremamente eficiente por diversos gêneros, sempre aplicando sua marca.
Ao som de “I´m So Excited” (título do filme para os americanos) das Pointer Sisters, Os Amantes Passageiros é puro Almodóvar, renovado para toda uma outra geração. Assim fazem os grandes diretores, se adaptam aos novos tempos sem perder sua identidade.