O astro Liam Neeson, indicado ao Oscar por A Lista de Schindler (1993), viu sua carreira sofrer uma guinada em popularidade ao ser alçado ao posto de herói de ação aos quase 60 anos de idade no ano de 2008 com o primeiro Busca Implacável. Nesta quinta-feira, o ator lançou nos cinemas brasileiros seu mais recente trabalho no gênero: Legado Explosivo, filme que fez sucesso nos EUA em outubro passado, permanecendo por duas semanas consecutivas no topo das bilheterias por lá. No filme, Neeson interpreta um bem sucedido ladrão de bancos em busca de redenção, cruzando seu caminho com policiais corruptos.
Sim, é verdade, o ator já havia trabalhado no gênero da ação antes de Busca Implacável (2008), mas nunca na capacidade de protagonista, levando um filme inteiro somente com seu nome por chamariz. Foi Taken (no original) que inaugurou a série de filmes (num total de onze até o momento) onde vemos Liam Neeson descendo o pau a torto e a direito, onde o ator é a estrela solitária e motivador da trama. Sendo assim, como forma de homenagem ao ator e a estes trabalhos, pegando como gancho seu mais recente lançamento, resolvemos criar uma lista diferente, ranqueando do pior ao melhor todos as produções da safra “Neeson barra-pesada porradeiro” no cinema. Vem conferir.
Busca Implacável 2 (2012)
É triste ver uma franquia com grande potencial sair tão rápido assim dos trilhos, e logo em sua segunda incursão. Mais ambiciosa, esta continuação dos filmes criados pelo francês Luc Besson aposta ainda mais na ação exagerada. Mas o que deixa a coisa capenga na verdade é o roteiro pouco inspirado, que leva a possível série por um caminho sem muita inventividade, entregando mais do mesmo. Dentre tantas possibilidades para aventuras do ex-agente Bryan Mills, aqui ganhamos a família de um dos bandidos do original buscando vingança. A novidade é que agora são Neeson e sua ex-mulher (papel da holandesa Famke Janssen) os “sequestrados” no lugar da filha (Maggie Grace). Toque de “jênio”.
Busca Implacável 3 (2014)
Aqui a coisa melhora um pouquinho, mas não muito. Ao ponto de muitos ainda preferirem o segundo episódio a este. Porém, se reclamamos da falta de originalidade no roteiro do anterior, aqui ao menos nos deram algo diferente. O problema é que para isso decidiram copiar de forma descarada o roteiro do clássico moderno O Fugitivo (1993), indicado ao Oscar de melhor filme, com Harrison Ford. Sabe aquela história do “copia, mas faz diferente”? Pois é, aqui não rolou. Na trama, Neeson é incriminado por algo que não cometeu, o assassinato de sua ex-mulher. Agora o sujeito precisa fugir e provar sua inocência. Mas as semelhanças não param por aí. Temos também um agente do FBI obstinado em sua caça (papel do vencedor do Oscar Forest Whitaker) e até mesmo duplica a cena famosa com o protagonista nos esgotos. Pera lá né.
Legado Explosivo (2020)
Mal estreou nos cinemas, e o novo trabalho de Neeson encontra um lugar nada favorável em nossa lista. O fato só mostra que este “legado” não é dos que mais irão repercutir. O longa de ação até possui uma boa premissa, mas não faz muito com ela, optando por seguir por um caminho muito seguro e conhecido, sem grandes surpresas. Aqui, o forte teor genérico, daqueles filmes que já vimos muitas vezes no Super Cine, é o que mais joga contra a obra. No filme, Neeson vive um talentoso ladrão de banco decidindo se aposentar após conhecer uma mulher. Ele decide se entregar, mas termina por cair na mira de policiais corruptos. Esse nos desafia a lembrar de termos assistido logo no mês seguinte.
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Caçada Mortal (2014)
A partir de agora, teremos na lista os melhores trabalhos do ator no gênero. Daqui em diante, se torna mais difícil escolher entre os filmes do ator, já que todos exibem grau de qualidade elevado, e ranqueá-los é questão de detalhes e minúcia. Tanto que Caçada Mortal surge como um dos preferidos para muitos. Mas aqui, optamos por elenca-lo como o menos memorável dos bons filmes do ator no gênero. Baseado num livro detetivesco, o longa adota um ar mais realista e sério dos demais produtos do ator voltados a ação, mas termina sem se destacar do que já vimos no cinema no quesito. Na trama, Neeson vive um policial caído em desgraça devido a bebida, trabalhando como detetive particular. Em sua nova missão, ele precisa encontrar para um mafioso os responsáveis pela morte de sua esposa. Até guarda algumas surpresas, mas é um dos menos falados do pacote.
Noite Sem Fim (2015)
Os melhores filmes de ação de Liam Neeson são os dirigidos pelo espanhol Jaume Collet-Serra. E aqui inauguramos a parceria da dupla na lista com seu terceiro trabalho juntos. Voltando ao submundo dos gangsters, o ator interpreta um capanga matador de um grupo de criminosos, cuja vida vira do avesso ao decidir proteger o filho (papel do “RoboCop” Joel Kinnaman). Acontece que no meio de uma desavença, ele termina por matar o desafeto do filho antes que o mesmo desse cabo de sua cria. Para azar de todos, o sujeito que matou era ninguém menos do que o filho do chefão local, papel do quatro vezes indicado ao Oscar Ed Harris. Agora será cachorro come cachorro numa fatídica noite, quando o personagem de Harris coloca a cabeça do protagonista e seu filho à prêmio. Além do ritmo pra lá de nervoso, ainda temos a atuação inspiradíssima de Harris, interpretando como se buscasse prêmio em um filme de Scorsese.
O Passageiro (2018)
Última colaboração entre Neeson e Collet-Serra até o momento, O Passageiro traz um forte elenco de apoio, numa trama de suspense dona de inúmeras reviravoltas. O mais legal das parceiras entre o ator e o diretor é que pertencem tanto ao gênero thriller quanto ao da ação. E não é exagero dizer que as partes de suspense em tais roteiros são dignas de Hitchcock, caso optassem por investir somente nelas. Acontece que a proposta é por entretenimento escapista, repleto de barulho, explosões e ação. E o cineasta espanhol, por mais talentoso que seja, não está no nível do icônico diretor inglês. Mas quantos estão afinal? Aqui Neeson vive um homem comum que se vê no meio de uma intrincada trama de espionagem e corrupção ocorrendo na simples viagem de trem que pega diariamente para o trabalho. Além de todos os outros atrativos, o filme traz a reunião do casal Warren da franquia Invocação do Mal (Vera Farmiga e Patrick Wilson) e os primeiros papeis de destaque no cinema das jovens Letitia Wright (Pantera Negra) e Florence Pugh (Adoráveis Mulheres).
Busca Implacável (2008)
Dez anos antes de O Passageiro, era aqui que tudo começava. Foi aqui que a carreira de Liam Neeson deu uma guinada rumo a uma popularidade jovem. Foi aqui que aos 56 anos, o ator indicado ao Oscar se tornava também um herói de filmes de ação. Isso graças ao diretor e mega produtor francês Luc Besson, especialista neste tipo de filme. Besson não dirige, mas assina o roteiro e produz. Como todos devem saber, aqui Neeson vivia pela primeira vez o ex-agente secreto Bryan Mills, talvez o quinto mais famoso do cinema, atrás de James Bond, Ethan Hunt, Jason Bourne e Jack Ryan. A diferença é que Mills é um pai de família, e quando sua filha adolescente é sequestrada durante uma viagem na França, com fins de trabalho escravo sexual, o sujeito fica com sangue nos olhos e vai até o local resolver tudo por conta própria. As frases já icônicas sobre ‘a particular set of skills’ foram muito repetidas e o filme fez tanto sucesso que gerou duas continuações e uma série de TV.
Sem Escalas (2014)
Segunda parceria entre Neeson e Collet-Serra, podemos dizer que O Passageiro, filme citado acima, é uma continuação espiritual desde filme – parte de uma sequência não intencional com Liam Neeson dentro de um grande veículo de transporte público, no meio de uma intriga de muito suspense e repleta com doses de ação. Troque apenas o trem comunitário por um avião. Além disso, Sem Escalas é também parte do subgênero de filmes do tipo passados dentro de uma aeronave, na qual se encaixam produções dos anos 1990 como Passageiro 57 (1992), Turbulência (1997) e Força Aérea 1 (1997), por exemplo. É claro, todas estritamente proibidas a bordo de qualquer voo real. Aqui, o ator interpreta um air marshal (oficiais designados a proteger voos, disfarçados como um dos passageiros) no pior voo de sua vida. O suspense é bom e mantido até o final. Mas o que chama atenção é a presença da vencedora do Oscar Julianne Moore, além de Lupita Nyong’o (outra atriz Oscarizada) numa pequena participação.
Desconhecido (2011)
Primeira colaboração entre Neeson e o diretor Collet-Serra, Desconhecido é, de seus quatro trabalhos juntos, o que possui o melhor roteiro. Como dito acima, Sem Escalas mantém o suspense e as perguntas de um whodunit até o desfecho, porém, a revelação final e a conclusão podem não agradar a todos. Já em Desconhecido, a trama é tão amarrada e faz tanto sentido dentro da proposta da narrativa, que é impossível não se sentir “enganado” no melhor sentido pelos realizadores. E isso vale para os espertalhões que gostam de esbravejar a obviedade de alguns suspenses. Desconhecido poderia sim muito bem ter feito parte do acervo das obras de Hitchcock (claro, o icônico diretor o faria com bem menos pancadaria). Esse é um daqueles filmes que nos faz querer assistir de novo para encaixar suas peças como num quebra cabeças e ver se tudo de fato bate. No filme, o ator vive um homem em viagem de negócios na Alemanha. Após sofrer um acidente de táxi, ninguém parece lembrar dele, nem mesmo sua própria esposa. E agora? Estaria ele louco, ou são os outros?
Vingança a Sangue-Frio (2019)
O mais legal de Vingança a Sangue-Frio em relação aos demais filmes da lista é o uso de um humor ácido intenso, o que o difere fazendo dele o único do lote a se banhar em tal gênero igualmente. E se as citadas parcerias com o diretor Jaume Collet-Serra possuem um quê ‘Hitchcockiano’, aqui pense em algo no estilo Fargo (1996) dos irmãos Coen. Temos inclusive o cenário gelado como pano de fundo e elemento pulsante dentro da trama. A história é até rotineira, com o cidadão do ano de uma pequena cidade (Neeson) buscando vingança contra traficantes pela morte do filho. Novamente, o que chama atenção e diferença é o ar cômico que a obra assume, dona de tiradas, trocadilhos e muito sarcasmo. Na verdade, trata-se do remake do norueguês O Cidadão do Ano (2014), dirigido pelo mesmo Hans Petter Moland desta versão americana.
A Perseguição (2011)
Assumindo o primeiro lugar no pódio da lista está A Perseguição, longa que igualmente foge da caixinha onde os demais do pacote estão inseridos, conseguindo ir ainda mais longe no diferencial e se tornando ainda mais único. Seria justo inclusive não colocá-lo na mesma categoria por não fazer uso da fórmula vista em todos. Para termos uma ideia, aqui Liam Neeson não dispara um tiro, não temos perseguições de carro e ele não sai no braço com ninguém. Mas aí você pergunta, então este não é um filme de ação? É sim! Acontece que é uma produção eletrizante de sobrevivência, onde a ação se desenrola após a queda de um avião nas montanhas geladas do Alasca contendo funcionários de uma empresa petroleira. Seis trabalhadores sobrevivem, mas o líder que irá guia-los é o segurança do local, contratado para afastar os lobos – sim, você acertou, papel de Neeson, claro. O pior acontece e agora o jogo virou, com justamente as ferozes bestas em seu encalço atrás de uma bela refeição. É homem versus natureza neste thriller de tirar o fôlego literalmente. Além de um filme de ação de Liam Neeson, A Perseguição é simplesmente um dos melhores exemplares do cinema de sobrevivência de todos os tempos.