As superproduções atuais, ou blockbusters (como são conhecidas internacionalmente), buscam como principal matéria prima os personagens de quadrinhos. Quem diria. Há algumas décadas, adaptar para as telonas heróis de gibis era considerado sacrilégio e um tiro no pé financeiramente. Tal fonte era considerada imprópria para o grande público que lotava os cinemas, carente da sofisticação necessária.
Quanto a isso, Superman – O Filme (1978) e Batman (1989) foram importantes precursores para demonstrar que se bem trabalhados, tais filmes podiam ser levados a sério. A intenção era trazer este universo para o nosso, vislumbrando como seria se tais figuras existissem verdadeiramente. Com os profissionais certos por trás das câmeras, trabalhando como se estivessem almejando o grande prêmio por um drama, e intérpretes do nível de Marlon Brando e Jack Nicholson (os maiores astros das décadas de 1970 e 1980, respectivamente) dando enorme prestígio aos filmes, a coisa não poderia ter funcionado melhor.
Hoje, tais filmes são comuns. Tão comuns ao ponto de não ser surpresa o domínio das bilheterias por eles. Todos querem uma fatia. E personagens B ganham as telas trajando status de estrela. Maior prova disso é o sucesso de Doutor Estanho (quem?). Assim como no início, filmes de super-heróis – sim, já virou um subgênero – continuam atraindo talentos inacreditáveis aos projetos, tanto na frente quanto atrás das câmeras. Diabos, Robert Redford esteve no filme do Capitão América!
Obviamente, existem aqueles que continuam torcendo o nariz para tais produções, pela massificação da vendagem. Ok, não estão de todo errados. No entanto, cinismo demasiado nunca é bom. Assim como a alienação de achar que isso é cinema, ou apenas isso. Seja como for, o grande público permanece esperando os filmes de super-herói a cada ano. Em 2016, tivemos seis grandes filmes, alguns esperados por décadas, e o CinePOP resolveu ranqueá-los para o seu deleite. Aqui vai uma pequena lista – do pior para o melhor – dos filmes de super-heróis do ano. Boa diversão.
6. X-Men: Apocalypse
É um fato muito sabido que os filmes da franquia X-Men na Fox são uma bagunça só. Os fãs inclusive gritam para que os personagens sejam revertidos para a Marvel/Disney, ou um acordo seja feito como foi o caso com o Homem-Aranha e a Sony. A cronologia não faz sentido e se formos pesar na balança, existem mais filmes insatisfatórios do que o contrário. De qualquer maneira, arrisco-me a afirmar que esta “nova trilogia” (Primeira Classe, Dias de um Futuro Esquecido e este) não é boa.
Os dois primeiros longas, dirigidos por Bryan Singer e datando de 2000 e 2003, seguem como os melhores (em especial o segundo filme). Primeira Classe (2011) e Dias de um Futuro Esquecido (2014) passaram longe de me impressionar, prometendo mais do que puderam cumprir. Justamente por isso, minha vontade era mínima de conferir Apocalypse nos cinemas, e não o fiz.
Em casa, o estrago foi menor e pude inclusive aproveitar de forma mais descompromissada, sendo surpreendido positivamente por certos elementos na obra – como o nível de violência (e sangue!) para um filme de censura baixa, certa criatividade ao mostrar a trajetória do vilão, papel de Oscar Isaac (mal aproveitado) e uma Sophie Turner (Game of Thrones) ladra de cenas como Jean Grey – sim, do elenco ela foi quem sobressaiu. O resto, em especial Jennifer Lawrence, se encontra desmotivado, e o desligamento da franquia foi propício.
5. Esquadrão Suicida
Dentre todos os filmes de heróis (ou anti-heróis) do ano, Esquadrão Suicida foi o que mais decepcionou. O trailer vendia a produção como algo único, divertido, enérgico e subversivo. Mas o que vimos na tela foi a monotonia imperando, num filme seguro, preso a uma estrutura, na qual nem ao menos dentro dela o longa soube brincar o suficiente. Vilões que não eram vilões, mudanças bruscas de tom, piadas sem pegada, e um terceiro ato genérico o suficiente para não lembrarmos na semana seguinte.
A modelo transformada em atriz Cara Delevingne, que até havia se saído razoavelmente bem em Cidades de Papel (2015), passa vergonha rebolando no clímax, mas nada perto do que Jared Leto deve estar sentindo com seu Coringa deletado. O ator vencedor do Oscar passou meses de preparação metódica, criando uma mitologia por trás de sua performance – com direito a psicólogo no set – para fazer jus aos sapatos usados (e Oscarizados) por Heather Ledger no mesmo papel. Bem, o resultado você já sabe.
Entre mortos e feridos, salvaram-se Viola Davis (sempre ótima) na pele da verdadeira vilã do longa (que deixa qualquer desses criminosos bunda-mole no chinelo) e a musa Margot Robbie como Arlequina, que poderia ser muito, mas muito, melhor. Ah, sim. Will Smith estava nesse filme. Estava sim, eu juro.
4. Batman Vs. Superman
Não tiro a razão de quem disser que este foi o pior filme do subgênero no ano. Talvez por ser também o mais aguardado. Batman VS. Superman foi tirado da disputa do verão norte-americano de 2015, no qual bateria de frente com Vingadores 2: A Era de Ultron (outro longa decepcionante), e adiado por quase um ano. Mau sinal.
O maior problema da obra foi cobiçar demais ser o alicerce para um universo cinematográfico, como a Marvel construiu de forma propícia ao longo de quatro produções (e não de uma vez só), e esquecer de funcionar como filme. Na tela, temos uma amálgama de situações incompreensíveis para os não escolados, e uma trama com mais buracos do que as estradas brasileiras. Zack Snyder cria um filme sombrio demais (o que poderia ser uma qualidade), sem qualquer diversão redentora (até os mais desconcertantes suspenses utilizam certo humor, mesmo que sarcástico) e elementos humanos. O resultado soa apenas como bonecos digitais brigando.
No terreno das atuações, surpreendentemente, o que os nerds mais chiaram, a presença do ator Ben Affleck como Batman, foi o elemento mais satisfatório desta grande escorregada da Warner. Gal Gadot mostrou presença como Mulher Maravilha, mas Jesse Eisenberg errou a mão em seu retrato de Lex Luthor. No que estavam pensando?
3. Doutor Estranho
O último filme do subgênero a chegar em 2016 foi uma agradável surpresa. Um herói desconhecido, permeando um universo arriscado de ser transposto ao cinema. E não é que a coisa funcionou bem, mesmo os detratores precisam admitir. Poderia ser mais ousado? Sim. A Marvel permitiria? Não. Dentro do possível, este é o melhor que poderia ser feito.
Benedict Cumberbatch está bem e caiu como uma luva. Mas imagine o que Joaquin Phoenix (o intérprete planejado originalmente) poderia fazer. Scott Derrickson, especialista em filmes de terror, se sai bem na direção e cria bons momentos, como a cena do hospital envolvendo Rachel McAdams, e os planos interdimensionais.
As imagens abstratas contidas no longa são o diferencial aqui, trazendo o universo místico à vida. Além disso, o elenco é um dos melhores que a empresa já escalou, com Tilda Swinton, Chiwetel Ejiofor e Mads Mikkelsen, completando os atores principais. Doutor Estranho é o anti-Esquadrão Suicida. Fez bem o que sabe e o que pôde.
2. Capitão América – Guerra Civil
O interessante do terceiro filme do Capitão América, que funciona como um Vingadores 2.5, ou Vingadores 3, já que é superior ao segundo filme da equipe superpoderosa, é permear a obra com mais dez personagens importantes, e dar espaço para cada um deles ter o seu momento de destaque dentro da trama. E não me refiro a cenas onde possam ter destaque visual (o que também ocorre), mas sim a seu desenvolvimento na história.
O roteiro pode ter suas escorregadas, porém, funciona mais do que erra. Isso é importante frisar. Além do mais, o foco, como dito, está nestas figuras maiores que a vida e na importância que possuem no filme. Imagine fazer malabarismo com todos estes personagens. Os esperados e recorrentes, como Robert Downey Jr., Chris Evans e Scarlett Johansson, retornam, e outros tantos ganham sobrevida, como Paul Rudd, Elizabeth Olsen e Paul Bettany.
As presenças ilustres e debutantes, que roubaram muitas das cenas, porém, são as de Chadwick Boseman como Pantera Negra e Tom Holland como Homem-Aranha. Guerra Civil segue colocando mais lenha na fogueira dos planos de conquista mundial da Marvel. Cale-se e pegue meu dinheiro.
1. Deadpool
Deadpool é o melhor filme de super-herói do ano. Sabe por quê? Porque é o que mais se solta das amarras estruturais do formato que consiste um filme do gênero. Tudo bem que conta uma história de origem muito semelhante a diversas outras, que a fórmula de roteiro é seguida à risca e que os antagonistas são deveras esquecíveis. O que conta são as entrelinhas, a não convenção e a subversão. O Deadpool de Ryan Reynolds é um personagem único, que brinca de Ferris Bueller e fala com a câmera, ou seja, fala com o público, reconhecendo estar num filme e quebrando a quarta parede.
Deadpool, o personagem, é depravado, sabe as gírias do momento e tem o nível de sarcasmo no máximo. Deadpool, o filme, tem a censura máxima, incomum para o subgênero, e entrega a violência e o teor sexual necessários para os adolescentes e os nerds de plantão se autoafirmarem, garantindo terem visto um filme com tais elementos sem precisarem assistir a um filme adulto chato.
O longa é engraçado e, ao contrário de Esquadrão Suicida, não usa humor seguro, apostando no mais baixo denominador comum. Deadpool se arrisca, cria itens específicos, como a interação com o motorista de taxi indiano Dopinder (Karan Soi) e sua subtrama hilária e chocante; as trocas com a idosa cega Al (a veterana Leslie Uggams), o melhor amigo Weasel (T.J. Miller) ou a mutante Míssil (Brianna Hildebrand). Deadpool é um show de tiradas stand up. Ah, sim. Também é um filme de super-heróis. Ponto para a Fox.