Recordar é viver. Embora alguns filmes dos anos 1980 tenham ficado imortalizados em nossos corações, frequentemente revisitados por cinéfilos de todas as gerações, outros tantos não são tão comentados atualmente quanto deveriam.
Sendo assim, para cada De Volta para o Futuro (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986), temos tantos outros exemplares que o tempo lentamente trata de apagar para os mais novos.
Quem viveu o período muitas vezes também sente dificuldade de lembrar de certas produções queridas e que fizeram muito sucesso nas intermináveis reprises diurnas dos canais da TV aberta brasileira.
Como Os Goonies (1985) será exibido na Sessão da Tarde nesta quinta-feira, dia 1º de Julho (às 15 horas, no horário de Brasília), resolvemos criar uma matéria bem nostálgica, relembrando com você 10 Comédias Clássicas dos Anos 1980.
Vem com a gente nesta onda pelo passado de mais de 30 anos.
Te Pego Lá Fora
Começamos com um clássico absoluto da Sessão da Tarde – e um que tem produção de ninguém menos que o Todo Poderoso Steven Spielberg, fato que muitos devem desconhecer. Além do famoso cineasta, quem também produz o longa é Aaron Spelling, famoso executivo por trás de programas como Barrados no Baile, por exemplo. E o pedigree não para por aí, assinando a cinematografia (ou fotografia) está Barry Sonnenfeld, diretor de Homens de Preto (1997).
Nesta época muitas comédias juvenis eram centradas no ambiente da escola, as famosas high school norte-americanas, mas este é um dos mais criativos. Considerado uma versão moderna e adolescente do icônico faroeste Matar ou Morrer (1952), a trama mostra um típico estudante colegial vivendo o pior dia de sua vida quando se torna alvo de um aluno psicótico recém chegado, dono a pior fama imaginável.
Namorada de Aluguel
Pode até ser considerado incorreto nos dias de hoje, e revendo talvez não desça tão redonda, mas nos anos 1980 a trama sobre um rapaz pagando para uma menina fingir ser sua namorada era o tema desta comédia romântica que se tornou cult. Considerado um perdedor e desejando mudar sua imagem, Ronald (papel de Patrick Dempsey) propõe um pacto a Cindy, a menina mais popular do colégio. Em troca do dinheiro que ela estava precisando, precisará fingir estar apaixonada pelo rapaz por tempo suficiente até que sua vida se transforme, nesta espécie de Cinderela às avessas. A triste notícia em relação ao filme para os fãs foi o falecimento precoce da protagonista Amanda Peterson, que vive Cindy, aos 43 anos. Namorada de Aluguel foi refilmado em 2003, com elenco de jovens atores negros e o título Amor de Aluguel.
Admiradora Secreta
Outro grande representante das comédias juvenis da época, o longa fazia uso de um artifício de roteiro muito comum em diversas produções do gênero: o triângulo amoroso. Variavelmente, tínhamos um rapaz ou uma menina tímida apaixonado(a) por um colega (quase sempre seu melhor amigo/a) sem que ele(a) soubesse, enquanto o mesmo só tinha olhos para o terceiro elemento, geralmente um estudante de muita popularidade ou beleza.
Esta é a fórmula de Admiradora Secreta, comédia adolescente de erros e desencontros. Aqui, uma carta anônima é o ponto de partida, indo parar nas mãos de diversos personagens, criando confusão quanto a seu autor e destinatário. Em resumo, temos um triângulo amoroso entre o protagonista C. Thomas Howell, a beldade popular loiríssima Kelly Preston, e a melhor amiga do sujeito Lori Loughlin.
O Rei da Paquera
Sim, o mega astro Robert Downey Jr. começou a carreira em comédias juvenis ainda na década de 1980. E aqui temos um dos exemplares mais sem-vergonha dos quais participou – mas que não deixa de ser um título muito reconhecível do período. Fora isso não falta pedigree, já que temos produção de ninguém menos que o astro Warren Beatty, e a participação de grandes atores como Dennis Hopper, Danny Aiello e Harvey Keitel no elenco.
Ah, e claro, fazendo par com Downey temos a musa teen da época, a ruivinha Molly Ringwald (cujo nome aqui tinha até mais peso que o do Homem de Ferro). Ringwald ficou conhecida pelos filmes de John Hughes, como Gatinhas e Gatões (1984) e Clube dos Cinco (1985). Na trama, Downey vive um conquistador “de quinta categoria”, aplicando seus golpes a esmo em mulheres incautas. Tudo muda quando ele encontra resistência, num desafio à altura nas formas de Ringwald – uma jovem com seus próprios problemas envolvendo as dívidas do pai com criminosos.
Três Solteirões e um Bebê
Muitos podem não saber ou lembrar, mas antes dos filmes da Marvel e das franquias multimilionárias do cinema, Três Solteirões e um Bebê foi o filme de maior bilheteria nos EUA em 1987. Refilmagem americana de uma produção francesa, a história mostra três homens, solteiros convictos e mulherengos (como dizia a cartilha dos anos 1980), dividindo um badalado apartamento em Nova York. O trio foi vivido por Tom Selleck (sucesso na série Magnum), Steve Guttenberg (sucesso nas franquias Loucademia de Polícia e Cocoon) e Ted Danson (sucesso na série Cheers).
Tudo muda na equação deles quando em sua porta aparece um bebê, deixado ao cuidado deles. A ideia era “homens machões precisam trocar fraldas e dar mamadeira a um recém-nascido”, coisa impensável na época. A direção é de Leonard Nimoy, o Spock da série clássica de Star Trek. Este longa de sucesso gerou a continuação Três Solteirões e uma Pequena Dama (1990). Ah sim, o tal fantasma muito comentado, que apareceu numa cena do filme, nada mais era que um display com a imagem de Danson – mas serviu para virar uma das lendas urbanas mais lembradas dos anos 80.
De Volta às Aulas
Por falar em comédias sucesso de bilheteria nos anos 1980, De Volta às Aulas foi o sexto maior filme de 1986 nos EUA. O lendário Rodney Dangerfield, falecido em 2004, foi um dos humoristas mais conhecidos do país, e protagonizou algumas produções cômicas famosas. Aqui, ele interpreta um sujeito simples que conquistou fortuna com seu próprio suor, criando uma bem sucedida loja para homens acima do peso. Para ajudar seu filho, ele decide ingressar na mesma universidade, e começa a mudar as coisas por lá com seu jeito irreverente.
A ideia para o roteiro foi do próprio Dangerfield, e o texto foi assinado por Harold Ramis (Os Caça-Fantasmas). Fora isso, a trilha sonora é de Danny Elfman (dos filmes de Tim Burton). No elenco, temos novamente Downey Jr., no papel de uma espécie de punk, que é o melhor amigo do filho do protagonista.
Quase Igual aos Outros
Por falar em tramas incorretas e surreais, que podem não descer bem atualmente, temos este longa cuja intenção de empoderamento feminino é boa. Para começar, temos a direção de uma mulher, coisa rara no gênero e na época – Lisa Gottlieb é quem comanda, estreando na função. A trama gira em torno de Terry, uma jovem que deseja se tornar uma jornalista respeitada, mas percebe que não terá chance acadêmica de mostrar seu valor sendo mulher – já tratando da disparidade de oportunidade de gênero.
Assim, ela decide se fingir de homem para a tarefa, e começa a estudar em outro colégio, matriculada na forma do sexo oposto – seu disfarce é quase tão fajuto quanto o de Clark Kent, e se resume a um corte de cabelo e uma mudança forçada de voz e roupas. No elenco, Joyce Hyser vive a protagonista e não ficou muito famosa. Mas temos também William Zabka, o Johnny da franquia Karatê Kid e Cobra Kai, Sherilyn Fenn (Twin Peaks) e a dupla Clayton Rohner e Deborah Goodrich – que fariam dobradinha no ano seguinte com o ótimo slasher A Noite das Brincadeiras Mortais (1986).
A Primeira Transa de Jonathan
Não se deixe enganar pelo título em português, este é na verdade um filme bem afetuoso, dono uma interessante carga dramática, e levado num tom que consegue destacá-lo dos demais do gênero. Tudo bem que o protagonista é um jovem virgem em busca de conquistar a garota de seus sonhos – papel de Kelly Preston, novamente figurando na lista. Até aí podemos pensar que esta é a típica comédia de coito, nas quais jovens buscam apenas a primeira noite de sexo.
O primeiro diferencial aqui é a década escolhida como cenário: os anos 1950. O verdadeiro chamariz do filme, no entanto, é a história secundária de Gene (Chris Nash), um jovem rebelde e motoqueiro no melhor estilo James Dean. Ele se muda para a casa ao lado do protagonista e logo desperta atenção da pequena cidade. Ao mesmo tempo em que ensina Jonathan a ser mais descolado com as meninas, e trava batalhas diárias com o pai e os playboys locais, ele desenvolve uma relação com a comprometida Bunny (papel de Catherine Mary Stewart – um dos nomes quentes dos 80’s). A história deste casal e seu desfecho no filme fazem do longa um dos melhores exemplares do gênero.
Alguém Muito Especial
Aqui voltamos ao terreno dos triângulos amorosos adolescentes. De fato, este longa guarda certas semelhanças com Admiradora Secreta, lançado dois anos antes – tirando, é claro, o MacGuffin da carta em si. Esse, no entanto, é um filme do acervo de John Hughes, que só não é mais seu porque não teve o cineasta na direção. Porém, Hughes produziu e escreveu o roteiro. A trama é simples, e mostra as desventuras de um rapaz de origem humilde, apaixonado e correndo atrás do seu sonho de viver ao lado da princesinha do colégio. Isso tudo, é claro, sem saber que sua melhor amiga, a alternativa Watts, tem nele um grande crush.
Apesar da simplicidade, Alguém Muito Especial é um dos filmes mais citados e adorados pelos fãs da época, em partes devido ao seu tom mais puxado para o drama e o romance de um chamado “coming of age”. Aqui, por exemplo, como de costume nos filmes de Hughes, as mulheres ganham destaque e desenvolvimento, passando longe de acessórios sem vontades como era muito comum.
De fato, elas são personagens bem melhor explorados do que o protagonista de Eric Stoltz. A patricinha vivida por Lea Thompson (De Volta para o Futuro) possui mais profundidade, questões e é mais humana do que a maioria em filmes assim. Uma curiosidade é que Stoltz quase foi o protagonista do filme de viagem no tempo citado acima. E a Watts de Mary Stuart Masterson ainda é lembrada como um dos expoentes femininos do gênero por não se enquadrar em estereótipos.
Curso de Verão
Terminando a lista temos outro filme com trilha de Danny Elfman. Aqui, temos a mistura de três subgêneros muito emblemáticos para a década de 1980. Primeiro, os filmes colegiais. Segundo, os filmes de professores e suas turmas disfuncionais. E terceiro, filmes com uma gama de personagens amalucados, cada um com suas características únicas, nos quais todos ganham a devida importância. O melhor exemplo disso seria Loucademia de Polícia (1984) e suas continuações. Passe isso para o universo colegial e temos Curso de Verão.
Numa escola californiana de frente para a praia, o professor substituto Shoop (Mark Harmon) se vê incumbido da missão de dar aula nas férias para os rebeldes alunos que ficaram em recuperação e não querem saber dos estudos. Dentes eles: dois fanáticos por filmes de terror, uma jovem grávida, um nerd, um esportista, uma disléxica, uma italiana de intercâmbio, uma surfista com déficit de atenção e um gogo boy num clube noturno. No elenco, Kirstie Alley (que viria a fazer sucesso dois anos depois com Olha Quem Está Falando) vive uma professora.