O ano de 2020 finalmente chegou ao fim. E já vai tarde. O ano que não aconteceu, entre outras coisas, deixou os cinéfilos de molho em casa, sem poder pisar em seu templo: as salas de cinema. Tivemos míseros três meses de estreias nos cinemas e depois disso a reclusão, com filmes em casa nos streamings. Graças à essa nova potência do audiovisual pudemos conferir algumas produções de qualidade. Depois disso, a reabertura foi ensaiada algumas vezes, onde alguns puderam arriscar assistir a longas como Tenet, de Christopher Nolan, Os Novos Mutantes e Mulher-Maravilha 1984 (mais recentemente), por exemplo.
Mas o que importa é erguer a cabeça e seguir em frente, na esperança de um 2021 melhor e repleto de possibilidades. Apesar de tudo, aqui no CinePOP fomos capazes de reunir forças para elencar as 10 melhores produções cinematográficas de 2020. De forma democrática, sete corajosos membros da equipe de nossa redação escolheram os melhores filmes que assistiram neste fatídico ano, entre cinemas e streamings.
Para a tarefa, este fiel amigo que vos fala tirou uma média das escolhas de meus colegas para o famoso ranking anual. Em nossa regra, os filmes que empataram na pontuação, foram decididos primeiro pelo número de pessoas que votaram neles (quanto mais pessoas votaram, mais bem posicionado). Mas no caso do número de votantes igual, o desempate foi feito através da posição do filme nas listas pessoais (ou seja, qual filme mais bem posicionado na lista individual). Confira abaixo, sem mais delongas, e ao final, as listas individuais de nossa equipe.
10 | Mulher-Maravilha 1984
Mal estreou nos cinemas e o novo filme da Amazona poderosa já ocupa lugar na nossa lista dos melhores do ano. Depois do sucesso do original, era esperado ao menos um filme tão bom quanto. Ganhamos um melhor. O grande destaque está nas atuações de Kristen Wiig e Pedro Pascal, que interpretam Barbara Minerva e Maxwell Lord, respectivamente. Suas motivações são bastante claras e bem definidas, ambos sendo vilões humanizados, perigosos e que geram empatia e ódio nos espectadores na medida certa. Gal Gadot continua brilhante no papel principal. O carisma da atriz é o que faz o filme funcionar e, dessa vez, ela está ainda mais à vontade e imponente, já que a história se aprofunda em sua origem e cria uma heroína multifacetada e realista, com seus acertos e erros. Sua química em tela com Chris Pine é invejável e se torna um dos pontos altos da produção.
09 | O Que Ficou para Trás
O filme de terror mais elogiado de 2020 é essa produção da Netflix que, de forma muito inteligente, insere a problemática da questão dos refugiados na Europa: uma discussão cada vez mais em pauta no mundo. Premiado em Sundance no início de 2020, O Que Ficou Para Trás (His House) ganhou distribuição mundial pela Netflix em 30 de outubro. Lançado às vésperas do Dia das Bruxas, a ambientação macabra combina com o tom da época e evoca uma analogia ainda pouco usual no gênero terror, a realidade sombria dos refugiados africanos na Europa. A simbologia e o processo de adaptação são os pontos fortes da narrativa do estreante diretor britânico Remi Weekes.
08 | Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Escrito e dirigido pela cineasta Eliza Hittman, este drama sobre meninas adolescentes buscando ajuda em Nova York para gravidez indesejada, fez sua estreia no Festival de Sundance, e marca o segundo longa da carreira da diretora. Sucesso absoluto de crítica (com impressionantes 99% de aprovação da imprensa especializada), o longa é uma potência na direção e atuações, reafirmando o talento de Hittman como realizadora de graça e sensibilidade incomuns.
07 | Hamilton
Famoso musical da Broadway que consolida o artista Lin-Manuel Miranda como um dos maiores nomes do gênero na atualidade. Aqui, não temos exatamente uma produção cinematográfica, mas um registro do espetáculo em vídeo, lançado como presente no acervo do streaming Disney+. Tido como um dos maiores musicais da história, esse é biografia de Alexander Hamilton, um controverso e complexo personagem que perdeu a mãe, viu sua cidade ser destruída por um furacão e decidiu, eventualmente, que precisava entrar para a história e mudar o status quo imperialista que a monarquia britânica transportava de suas geladas terras para o novo mundo. Entretanto, aqui está a reviravolta: o criador, diretor, letrista, roteirista, compositor, ator e cantor resolveu deixar de lado a supremacia branca e trouxe representatividade como nunca vista para o cenário mainstream, contratando atores latinos, negros e asiáticos para recontarem eventos verdadeiros.
06 | A Voz Suprema do Blues
Último trabalho nas telas do saudoso Chadwick Boseman (Pantera Negra), jovem ator que se encontrava em seu auge profissional. Ele é parte essencial desta biografia da “mãe do Blues” Ma Rainey, vivida de forma espetacular por Viola Davis. A Voz Suprema do Blues é uma adaptação da aclamada peça teatral da Broadway de autoria de August Wilson e traz os anseios com os quais ele, como filho de um imigrante alemão e de uma empregada doméstica negra, viveu ao longo de sua infância. E dando voz aos testemunhos de sua própria infância, ele faz da aclamada obra, originalmente intitulada Ma Rainey’s Black Bottom, um manifesto da culturalidade afro-americana.
05 | Estou Pensando em Acabar com Tudo
Nova produção do diretor Charlie Kaufman, e sua primeira parceria com a Netflix. Kaufman é um artista único, dono de estranhas peculiaridades e singular no que diz respeito à criatividade. Em seu repertório, obras como Quero Ser John Malkovich (1999), Adaptação (2002) e Anomalisa (2015). Estou Pensando em Acabar com Tudo vai longe em sua argumentação sobre a causalidade e o existencialismo para falar de relacionamentos e entrelaça-la à cultura pop. Ainda na primeira parte, o longa apresenta cortes da viagem de carro ao cotidiano de um zelador a rodar pelos corredores de uma escola… O que Charlie Kaufman quer nos dizer com este deslocamento? Enquanto as perguntas transbordam, Kaufman nos lembra que tudo isso é poesia, assim como sua protagonista diz: “cores são ações e sofrimentos”.
04 | Black is King
Espécie de vídeo clipe gigante, com 1h 25min de projeção, Black is King é definido como um “álbum visual” da cantora Beyoncé, inspirado pelo filme O Rei Leão (2019), a versão em “live-action”, na qual a cantora dublou uma das personagens e realizou a trilha sonora. Em uma comovente jornada sinestésica e coming-of-age, a artista não se retém em nenhum momento: cada cena que constrói é uma joia audiovisual, seja para nos presentear com os diversificados panoramas do continente africano fora do espectro panfletário, seja para nos chocar com irreverências cênicas e reviravoltas que fogem do convencionalismo, arrancando metáforas de um âmago marcado pela amargura e pela necessidade de gritar. O traslado imagético que transpõe para breves 85 minutos retrai-se e expande-se com naturalidade aplaudível, dando um significado único ao que entendemos como “multiculturalismo”. Mas não se engane: apesar da bonança promovida pela atmosfera do longa-metragem, suas sequências são carregadas com críticas veladas e ironias mascaradas que denunciam o que precisa ser denunciado – e o que já deveria ter entrado como pauta de discussão há muito tempo.
03 | Destacamento Blood
Com esta produção original da Netflix, o diretor Spike Lee põe os dois pés de volta na popularidade que teve um dia com Faça a Coisa Certa (1989). O primeiro movimento de força nesta direção foi com o indicado ao Oscar (e incrivelmente popular) Infiltrado na Klan. Seguindo de perto, Destacamento Blood confirma esta nova onda de culto do artista. Destacamento Blood é um soco na boca do estômago que, assim como tantas atrocidades que vemos com constância mais assustadora que o normal na mídia, não nos dá tempo para respirar antes do próximo golpe. Lee novamente prova que é um realizador com urgência imprescindível para os dias de hoje com uma joia deliberada e necessariamente violenta.
02 | 1917
Lançado no início do ano em nosso país, este drama de guerra foi um dos grandes destaques do Oscar 2020. O filme do diretor Sam Mendes foi indicado para 10 prêmios, e levou três estatuetas técnicas, incluindo melhor fotografia. Fora isso, figura como um dos preferidos do grande público de todos os tempos. Na trama, dois jovens soldados na Primeira Guerra Mundial são incumbidos de uma missão quase suicida: encontrar, em meio ao monstruoso conflito, um oficial e transmitir-lhe uma carta com ordens de cessar um ataque – uma armadilha inimiga. De forma episódica, a dupla vai pulando de evento em evento, passando por uma mina escura repleta de ratos explosivos, uma ponte caída, quedas de corredeiras, trincheiras, aviões despencando e quase os acertando, encontros com aliados e por aí vai. Um exercício virtuoso que nos imerge na experiência, nos fazendo experimentar esta jornada repleta de adrenalina.
01 | O Homem Invisível
Em 2020 não tivemos tempo de ver quase nada nos cinemas. Mas agradecemos imensamente por termos podido assistir a O Homem Invisível. Escrito e dirigido por Leigh Whannel, o filme dá motivos para o terror existir, não é gratuito. Muito mais do que um filme de monstro – o que irá agradar a parcela adulta do público –, o longa finca sua trama em um realismo identificável, o que apenas soma à substância da obra. Na trama, a sempre ótima Elisabeth Moss protagoniza como Cecilia Kass, uma mulher vítima do abuso doméstico de seu poderoso companheiro, o empreendedor do ramo tecnológico Adrian Griffin (papel de Oliver Jackson-Cohen, da série da Netflix A Maldição da Residência Hill). O Homem Invisível é o melhor dos dois mundos: consegue fazer gelar a espinha e inserir de forma exata todos os seus sustos (sem abusar deles) como os melhores filmes de “terror de shopping”, ao mesmo tempo em que entrega profundidade, análise comportamental e grandes personagens parecendo saídos diretamente dos chamados “terror de arte”.
Bônus: Soul
Lançado nos 45 do segundo tempo em 2020, esta animação da Disney/Pixar pegou todo mundo de surpresa, fazendo os cinéfilos e críticos reavaliarem suas listas dos melhores, a fim de incluir este belíssimo longa – que tem tudo para se tornar uma das obras atemporais do estúdio. Alinhada com as mudanças mundiais, a Pixar encerra a década anunciando os novos ventos que vão conduzir suas produções: animações com narrativas variadas, atenta às individualidades e às identidades distintas dos povos. Não à toa, em ‘Soul’ o protagonista é um homem preto, a maioria dos dubladores em inglês são artistas pretos, o tipo de música que Joe mais se identifica é de origem preta (o jazz e o soul – e o trocadilho do título não é por acaso) e a verdadeira alma de origem zulu é o seu grande ensinamento: o Ubuntu, que ensina que “uma pessoa é através de outras pessoas”.
Listas Individuais:
Renato Marafon – Editor-Chefe
01. 1971
02. Um Lugar Silencioso – Parte 2
03. SOUL
04. Mulher-Maravilha 1984
05. O Homem Invisível
06. A Ligação
07. Destruição Final: O Último Refúgio
08. O Que Ficou para Trás
09. Aves de Rapina
10. Galeria dos Corações Partidos
Rafa Gomes – Redatora e Crítica
01. One Night in Miami
02. 1917
03. Hamilton
04. Jojo Rabbit
05. A Assistente
06. Destacamento Blood
07. A Voz Suprema do Blues
08. Estou Pensando em Acabar com Tudo
09. O Que Ficou para Trás
10. The Forty-year-old Version
Letícia Alassë – Crítica
01. Estou Pensando em Acabar com Tudo
02. O Que Ficou para Trás
03. O Homem Invisível
04. Ninguém Sabe que Estou Aqui
05. A Voz Suprema do Blues
06. Viveiro
07. Os 7 de Chicago
08. Babenco: Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou
09. A Vastidão da Noite
10. #Alive
Thiago Nolla – Redator e Crítico
01. Black is King
02. A Voz Suprema do Blues
03. Destacamento Blood
04. Adoráveis Mulheres
05. Jojo Rabbit
06. Mulher-Maravilha 1984
07. Emma.
08. The Boys in the Band
09. Mank
10. Aves de Rapina
Lucas Salgado – Crítico
01. Hamilton
02. Mank
03. Nunca, Raramente, às Vezes, Sempre
04. Sertânia
05. Estou Pensando em Acabar com Tudo
06. O Som do Silêncio
07. O Homem Invisível
08. AmarElo
09. A Vastidão da Noite
10. Destacamento Blood
Janda Montenegro – Crítica
01. Black is King
02. O Poço
03. 1917
04. O Homem Invisível
05. Remédio Amargo
06. Soul
07. AmarElo
08. Pacarrete
09. Milagre na Cela 7
10. Amor com Data Marcada
Miguel Morales – Crítico
01. Howard – Sonos de um Gênio
02. Nunca, Raramente, às Vezes, Sempre
03. The Forty-year-old Version
04. O Homem Invisível
05. Destacamento Blood
06. Má Educação
07. Os 7 de Chicago
08. On the Rocks
09. Galeria dos Corações Partidos
10. Soul