Quando a piada perde a graça
Em minha infância e parte da adolescência consumia inúmeros títulos de aventura, ação e ficção. Por ter um grupo de amigos mais velhos, que apreciavam tais gêneros, logo fui apresentado a mimos como Duro de Matar, Máquina Mortífera, Rambo, Guerra nas Estrelas, O Exterminador do Futuro, RoboCop, etc. Obviamente adorava tudo aquilo pela simples ideia da figura do herói e seus incansáveis combates – ainda que, naturalmente, me pegava aflito e comprava o drama de figurões como John McClane e Martin Riggs. E, mesmo com o passar dos anos, conhecendo grandes obras da sétima arte, nunca deixei de lado os filmes que me formaram cinéfilo. Pelo contrário, foi aí que comecei a entender porque eles marcaram a vida de tanta gente. Notei os backgrounds riquíssimos em temas, compreendi os roteiros ousados, atuações poderosas e o peso dramático que carregavam. Ter acesso, logo cedo, a essas pérolas é para mim motivo de orgulho.
De modo que comemorei bastante quando soube do que se tratava o projeto The Expendables, afinal seria uma realização ver artistas que admiro reunidos num só filme. Ao mesmo tempo aparece como uma homenagem a esses atores que foram descartados (daí o título em sua forma literal, já que expendables vem de descartáveis) do mainstream hollywoodiano e marginalizados ao home-video. E quando conferi Os Mercenários (2010), gostei bastante do que vi, pois, mesmo que pouco ousasse, o longa tinha um roteiro heterógeno, apresentava bem seus personagens, possuía gags hilárias e ainda emplacava diversas tomadas de impacto. Cumpriu bem o papel que se propôs. Por outro lado, com Os Mercenários 2 (2012), fiquei com um gosto de guarda-chuva na boca. Adicionando duas lendas vivas, Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris, e finalmente trazendo para luta os ídolos Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, além de contar com a direção do experiente no gênero, Simon West (Con Air – A Rota da Fuga), o troço simplesmente não funcionou. Talvez algumas piadas e poucos momentos de entraves surtam efeito, mas não tem a energia do primeiro.
E agora chega aos cinemas Os Mercenários 3, com novos/velhos nomes e elementos para a franquia, apostando dessa vez num elenco também juvenil – uma ideia de Sylvester Stallone, que não dirige, mas assume o roteiro. Este, que de tão simplório acaba sendo tolo, se inicia com Barney (Stallone) e sua trupe resgatando o preso Doc (Snipes), um dos membros originais do bando. Após o feito, logo na missão seguinte, o grupo dá de cara com um antigo inimigo que Barney acreditava ter matado, Conrad Stonebanks (Gibson), que por assim também já foi um mercenário. A partir daí começa um jogo de gato e rato. Nessas investidas, um dos sujeitos acaba se ferindo gravemente, deixando o líder preocupado com o futuro dos demais, assim resolvendo acabar a facção. Imediatamente, Barney decide chamar um grupo de jovens, escolhidos a dedo, para formar uma nova equipe e ir à atrás de Stonebanks.
O primeiro ato se revela deveras empolgante, principalmente no andamento em que Doc é resgatado, onde, além da ótima cena sob um trem em movimento (ignorem os pavorosos efeitos em CGI), somos brindados por diálogos sinistros, piadas racistas e trocadilhos pessoais do próprio Wesley Snipes (que é o grande destaque) – por exemplo, quando seu personagem diz ter sido preso por evasão de impostos e não pelos assassinatos que cometeu. Pena que, da franquia, este é o que menos investe em gracejos. E, após alguns fatos, por muito insistir em batalhas sem sentido, a fita acaba perdendo o um pouco da atenção do público e se tornando aborrecida. Na segunda etapa, com a chegada do novo grupo (que em sua maioria os atores apresentem performances medíocres ou necessitam de carisma), já não se aguenta mais ouvir explosões. Nesse aspecto, o regular cineasta Patrick Hughes concebe bons planos, mas falha miseravelmente na total construção narrativa.
É redundante dizer que o vilão Stonebanks, interpretado por Mel Gibson, seja extremamente caricato e pouco amedrontador, ainda que se sobressaia em relação à Vilain (Van Damme). Numa cena quando tem a chance de matar um suposto inimigo, prefere atirar na perna do sujeito. Aliás, a classificação indicativa acaba se tornando aqui a grande antagonista. Não temos sangue ou cenas de impacto, é um PG-13 muito mal aplicado que exclui impressões narrativas importantes. Voltando aos personagens, outro que passa uma enorme vergonha alheia é Antonio Banderas, com o intrépido Galgo, fazendo quase uma versão live-action do Gato de Botas. Intencionalmente chato, ele pouco funciona como alivio cômico. Talvez o Drummer de Harrison Ford faça alguns puristas vibrarem por veem o nosso eterno Han Solo como piloto de uma aeronave. Ou se divirtam com a dupla homoafetiva, Schwarzenegger e Jet Li.
Com uma conclusão literalmente explosiva, mas pouco tocante, além da somar com mais personagens e deixar, de certo modo, um legado, este Os Mercenários 3 parece ser mesmo o fechamento da franquia. Até porque o desgaste é evidente. A piada já não funciona. E se pretendem continuar com isso, que façam algo relativamente novo, não apenas chamem grandes nomes para um reencontro que tem sido absolutamente estéril. Muito se fala em fazer uma versão feminina dos Expendables, seria no mínimo curioso.
Eu pago um dólar por isso.